Como comemoração de 20º capítulo, trago um dos melhores que eu já escrevi. Espero que gostem.
E também, troquei os underlines por "travessinhos". Melhor? Vou fazer essas trocas nos capítulos que eu já escrevi também assim que tiver tempo.
Divirtam-se!
Capítulo 20 – Sir Geoffrey de Pont Blanc.
A primavera estava esverdeando a terra, dando uma imprecisão às árvores e enchendo os serpenteantes caminhos de flores vistosas. Um novo musgo verde crescia no sapé, havia plantas exóticas nas fileiras de cercas vivas, e um pequeno grupo de goblins que pescavam a algumas centenas de metros de La Roche-Ogre, à margem de Sula. Os homens de Farz tinham de se afastar mais de La Roche-Ogre para encontrar novos espólios, e suas longas cavalgadas os levavam perigosamente perto de pequenas aldeias de criaturas ou guerreiros rebeldes de Carlin que tentavam enfrentar os cavaleiros do diabo. Carlin estava ao sudeste e Northport ao leste, enquanto a oeste ficava o porto que levava às ilhas geladas. Com grandes muralhas e uma pequena guarnição muito mais beligerante inspirada por Sir Geoffrey de Pont Blanc, um cavaleiro que havia jurado que levaria os atacantes de Farz de volta a Carlin presos em correntes. Ele anunciou que os thaisenses seriam queimados no mercado de Carlin porque eram hereges, homens do diabo.
Vince Farz não estava preocupado com aquela ameaça.
- Eu poderia perder uma fração de sono se o idiota bastardo tivesse arqueiros adequados – disse ele a Argos –, mas não tem, e por isso pode falar de forma irrefletida o quanto quiser. O nome dele é esse mesmo?
- Geoffrey da Ponte Branca.
- Que bastardo maluco. Ele é batalhês, ou carliniano?
- Me disseram que é carliniano.
- Neste caso, temos que lhe dar uma lição, não temos?
Sir Geoffrey mostrou-se um aluno relutante. Vince Farz estendeu seu manto cada vez mais perto do porto, incendiando casas que podiam ser vistas de seus muros, numa tentativa de atrair Sir Geoffrey para uma emboscada de arqueiros, mas Sir Geoffrey tinha visto o que as flechas thaisenses podiam fazer com cavaleiros montados, e por isso recusava-se a liderar seus homens numa carga alucinada que inevitavelmente acabaria com uma pilha de cavalos berrando e homens sangrando. Em vez disso, ele se aproximava sorrateiro de Farz, procurando um lugar em que pudesse emboscar os thaisenses, mas Farz não era mais tolo do que Sir Geoffrey, e por três semanas os dois bandos de guerreiros rodearam e circundaram um ao outro. As duas forças se entrechocaram duas vezes, e em ambas Sir Geoffrey despachou seus besteiros a pé, na esperança de que pudessem liquidar os arqueiros de Farz, mas em ambas as ocasiões as flechas mais longas venceram e Sir Geoffrey retirou-se sem forçar uma luta que ele sabia que iria perder. Depois do segundo embate inconclusivo, ele até tentou apelar para a honra de Vince Farz. Avançou a cavalo, sozinho, vestindo uma armadura tão bonita e dourada quanto a de Sir Simon Skeat, embora o elmo de Sir Geoffrey aparentasse toda sua nobreza real e sua devoção à rainha de Carlin, com traços dourados e penugens vermelhas no seu topo. Seu casaco e a capa protetora de seu cavalo eram de cor azul-marinho, nos quais pontes brancas estavam bordadas, e o mesmo tema aparecia em seu escudo que também era azul-marinho, raramente encontrado pelas terras de Tibia, um metal raro que só seres das trevas conseguem controlar. Ele levava uma lança pintada de azul, na qual pendurara um lenço branco para mostrar que ia em paz. Farz avançou, a cavalo, para ir ao encontro dele, com Argos servindo como intérprete. Sir Geoffrey tirou o elmo e passou uma das mãos pelos cabelos achatados pelo suor. Ela jovem, de cabelos dourados e olhos azuis, com um rosto largo e bem-humorado, e Argos achou que talvez gostasse dele se ele não fosse seu inimigo. Sir Geoffrey sorriu quando os dois thaisenses detiveram os cavalos.
- É enfadonho – disse ele – atirar flechas contra as sombras uns dos outros. Eu sugiro que vocês tragam seus soldados para o centro do campo e nos enfrentem lá em condições idênticas.
Argos nem se preocupou em traduzir, porque sabia qual seria a resposta de Farz.
- Eu tenho uma idéia melhor – disse ele. – Vocês tragam seus soldados e nós traremos nossos arqueiros.
Sir Geoffrey ficou surpreso.
- Você está no comando? – perguntou ele a Argos. Ele pensara que o mais velho e grisalho Farz fosse o capitão, mas Farz ficou calado.
- Ele perdeu a língua lutando contra batalhenses – disse Argos – e por isso eu falo por ele.
- Então diga a ele que eu quero uma luta honrosa – disse Sir Geoffrey, animado. – Deixe que eu oponha meus soldados aos seus.
Ele sorriu como que para indicar que sua sugestão era tão razoável quanto cavalheiresca e ridícula.
Argos traduziu para Farz, que se retorceu na sela e cuspiu no trevo.
- Ele está dizendo – disse Argos – que os nossos arqueiros irão enfrentar os seus homens. Uma dúzia de nossos arqueiros contra vinte de seus soldados.
Sir Geoffrey balançou a cabeça, triste.
- Vocês, de Thais, não tem espírito esportivo – disse ele, e depois tornou a colocar na cabeça o elmo real e afastou-se. Argos disse a Farz o que se passara entre os dois.
- Que bastardo imbecil – disse Farz. – O que é que ele queria? Um torneio? Quem ele pensa que nós somos? Os cavaleiros sagrados, malucos e bonitinhos da ordem de Banor? Eu não sei o que acontece com algumas pessoas. Eles colocam um “sir” diante do nome e os cérebros ficam perturbados. Lutar de maneira limpa! Quem já ouviu falar numa coisa tão maluca? Se você luta limpo, você perde. Imbecil.
Sir Geoffrey da Ponte Branca continuou a perseguir os cavaleiros do diabo, mas Farz não lhe deu chance de um combate. Havia sempre um grande bando de arqueiros vigiando as forças do carliniano, e sempre que homens do porto ficavam ousados demais, o mais provável era que vissem as flechas com penas brancas penetrando em seus cavalos. Assim, Sir Geoffrey ficou reduzido a uma sombra, mas era uma sombra irritante e insistente, seguindo os homens de Farz quase até de volta às portas de La Roche-Ogre.
O problema surgiu na terceira vez em que ele foi atrás de Farz e, por isso, chegou perto da cidade. Sir Simon Skeat tinha ouvido falar em Sir Geoffrey e, avisado por uma sentinela que estava na mais alta torre de que homens de Farz haviam sido avistados, dirigiu uns vinte soldados da guarnição para receber os cavaleiros do diabo. Farz estava a pouco mais de um quilômetro e meio da cidade e Sir Geoffrey, com cinqüenta soldados e outros tantos besteiros montados, seguia a apenas uns outros quinhentos metros atrás. O carliniano não tinha criado nenhum problema sério para Farz, e se Sir Geoffrey queria voltar para o porto e alegar que tinha perseguido os cavaleiros do diabo de volta à cova deles, Farz teria o maior prazer em proporcionar ao carliniano aquela satisfação.
Então Sir Simon chegou e de repente tudo virou exibição e arrogância. As lanças thaisenses ergueram-se, os visores dos elmos fecharam-se com o estalo característico, e os cavalos empinaram-se. Sir Simon cavalgou em direção aos cavalarianos carlinianos e batalhenses, gritando um desafio. Vince Farz foi atrás de Sir Simon e aconselhou-o a deixar os bastardos em paz, mas acabara de gastar saliva à toa.
Os soldados de Farz estavam na frente da coluna, escoltado o gado capturado e três carroças cheias de espólios, enquanto a retaguarda era formada por sessenta arqueiros montados. Estes sessenta homens tinham acabado de chegar ao grande bosque onde o exército acampara durante o cerco a La Roche-Ogre e, a um sinal de Farz, dividiram-se em dois grupos e meteram-se por entre as árvores de ambos os lados da estrada. Desmontaram no bosque, amarraram as rédeas dos cavalos em galhos, e depois levaram seus arcos para a beira do bosque. A estrada passava entre os dois grupos, margeada por largas bordas cobertas de grama.
Sir Simon manobrou seu cavalo para ficar de frente para Vince Farz.
- Eu quero trinta de seus soldados, Farz – exigiu ele, veemente.
- Pode querer – disse Vince Farz – mas não vai levar.
- Mas Banor, homem, eu sou mais graduado que você! – Sir Simon estava incrédulo diante da recusa de Farz. – Eu sou mais graduado que você, Farz! Seu maluco, eu não estou pedindo, estou mandando.
Farz ergueu os olhos para o céu.
- Parece que vai chover, o senhor não acha? E umas gotas bem que seriam bem-vindas. Os campos estão secos e os rios estão baixos.
Sir Simon estendeu o braço e agarrou o braço de Farz, obrigando o homem mais velho a voltar-se para ele.
- Ele tem cinqüenta cavaleiros – Sir Simon falava de Sir Geoffrey de Pont Blanc – e eu tenho vinte. Dê-me trinta homens e eu o farei prisioneiro. Basta me dar trinta!
Ele estava implorando, toda a arrogância posta de lado, porque aquela era uma chance para Sir Simon ter uma escaramuça de fato, cavaleiro contra cavaleiro, e o vencedor teria fama e o prêmio de homens e cavalos capturados.
Mas Vince Farz sabia tudo a respeito de homens, cavalos e fama.
- Eu não estou aqui para disputar jogos – disse ele, sacudindo o braço para livrá-lo – e o senhor pode ficar me dando ordens até as vacas criarem asas, mas não vai ter um homem meu.
Sir Simon pareceu angustiado, mas foi então que Sir Geoffrey de Pont Blanc resolveu o caso. Ele viu que seus soldados estavam em vantagem numérica sobre os cavaleiros thaisenses, e por isso mandou que tinha de seus seguidores recuassem e se juntassem aos besteiros. Agora, as duas tropas de cavalarianos estavam em igualdade numérica e Sir Geoffrey avançou em seu grande garanhão preto envolto em seus arreios azuis e brancos e tinha uma máscara de couro fervido a título de armadura para o rosto, uma testeira. Sir Simon o enfrentou vestindo sua armadura nova, mas seu cavalo não tinha arreios forrados nem testeira, e ele queria as duas coisas, tal como queria aquela luta. O inverno todo ele suportara miséria de uma guerra de camponeses, só lama e assassinato, e agora o inimigo estava oferecendo honra, glória e a chance de capturar uns belos cavalos, armaduras e boas armas. Os dois homens saudaram-se abaixando as lanças, e depois trocaram nomes e cumprimentos.
Vince Farz havia se juntado a Argos no bosque.
- Você pode ser doido de pedra, Argos – disse Farz –, mas tem gente muito mais maluca do que você. Olhe só os bastardos! Não há um pingo de inteligência entre os dois. A gente poderia sacudi-los pelos calcanhares e não cairia nada das orelhas deles, a não ser lama seca. – Ele cuspiu.
Sir Geoffrey e Sir Simon entraram num acordo sobre as regras do combate. Na verdade, regras de torneio, só que com a morte para dar um tempero ao esporte. Um homem derrubado do cavalo estaria fora da luta, concordaram eles, e teria a vida poupada, embora pudesse ser feito prisioneiro. Os dois se desejaram felicidades, giraram e voltaram para perto de seus homens.
Farz amarrou seu cavalo numa árvore e colocou a corda no arco.
- Há um lugar em Venore – disse ele – onde se pode ver os loucos. Eles são mantidos em jaulas e a gente paga três moedas de ouro para rir deles. Deveria colocar esses dois malucos bastardos junto deles.
- Meu pai ficou louco durante um certo tempo – disse Argos.
- Isso não me surpreende, rapaz, de forma alguma – disse Farz.
Ele prendeu a corda do arco numa haste que tinha sido esculpida com cruzes.
Seus arqueiros vigiavam os soldados da margem do bosque. Como espetáculo, era maravilhoso, tal qual um torneio, só que naquele prado de primavera não havia um mestre-de-cerimônias para salvar a vida de um homem. Os dois grupos de cavaleiros se prepararam. Escudeiros apertaram barrigueiras, homens ergueram lanças e certificaram-se de que as tiras dos escudos estavam apertadas. Visores fecharam-se com estalidos, transformando o mundo dos cavaleiros em um lugar escuro cortado pela luz do dia que entrava por uma fresta. Largaram as rédeas, porque dali em diante os corcéis, treinados, seriam guiados pelo toque da espora e pela pressão dos joelhos; os cavaleiros precisavam das duas mãos para os escudos e as armas. Alguns homens usavam duas espadas, uma pesada para cortar e uma lâmina mais fina para perfurar, e certificaram-se de que as armas saíam com facilidade das bainhas. Alguns deram suas lanças a escudeiros para deixar uma as mãos livres para fazer um sinal de oração aos deuses, e depois tornaram a pegar as lanças. Os cavalos bateram as patas no pasto, e Sir Geoffrey abaixou a lança num sinal de que estava pronto, e Sir Simon fez o mesmo, e os quarenta homens esporearam seus grandes cavalos para avançar. Estes não eram as éguas e capões de ossos leves que os arqueiros montavam, mas os cavalos de combate, todos garanhões, e grandes o suficiente para levar um homem e sua armadura. Os animais resfolegaram, sacudiram a cabeça e entraram num trote enquanto os cavaleiros abaixaram suas compridas lanças. Um dos homens de Sir Geoffrey cometeu o erro dos inexperientes de abaixar muito a lança, de modo que a ponta atingiu a grama seca e ele teve sorte em não ser desmontado. Ele largou a lança e sacou a espada. Os cavaleiros esporearam os cavalos para um meio galope e um dos homens de Sir Simon desviou-se para a esquerda, provavelmente porque seu cavalo não estava bem treinado, e o animal esbarrou no cavalo seguinte e a marola de cavalos que colidiam percorreu a fila enquanto as esporas voltaram a agir para exigir o galope. E então eles atacaram.
O barulho das lanças de madeira atingindo escudos e cotas de malha era como o de esmagar ossos que se partiam. Dois cavaleiros foram empurrados para trás e arrancados de suas selas, mas a maioria dos golpes de lança foi aparada por escudos e agora os cavaleiros baixavam as armas quebradas enquanto passavam a galope por seus oponentes. Usavam as rédeas com movimentos que davam a ilusão de uma serra e desembainharam as espadas, mas ficou evidente, para os arqueiros que observava, que o inimigo obtivera vantagem. Os dois cavaleiros que tinham sido atirados dos cavalos eram thaisenses, e os homens de Sir Geoffrey estavam alinhados muito mais próximos uns dos outros, de modo que quando se voltaram para levar suas espadas para o corpo-a-corpo, chegaram como um grupo disciplinado que atingiu os homens de Sir Simon num clangor de espada contra espada. Um homem de Thais saiu cambaleando das escaramuça sem uma das mãos. Poeira e grama eram cuspidas pelas patas. Um cavalo sem cavaleiro afastou-se mancando. As espadas chocavam-se como martelos em bigornas. Homens grunhiam enquanto golpeavam. Um enorme batalhês, sem marca alguma em seu escudo liso, brandia um machado de guerreiro, e usava a arma com uma perícia terrível. Um soldado thaisense teve seu elmo aberto em dois, e o crânio com ele, e se afastou oscilante da luta, o sangue escorrendo pela cota de malha. Seu cavalo parou a uns poucos passos do torvelinho e o soldado curvou-se lentamente, muito lentamente, para a frente e depois despencou da sela. Um dos pés ficou preso num estribo quando ele morreu, mas o cavalo pareceu não perceber. Continuou a mordiscar a grama.
Dois homens de Sir Simon renderam-se e foram mandados de volta a fim de serem levados como prisioneiros pelos escudeiros carlinianos e batalhenses. Sir Simon lutava com selvageria, fazendo seu cavalo girar para derrubar dois adversários. Mandou um deles para fora da luta com um braço inútil, e depois derrubou o outro com cortes rápidos de sua espada roubada. Os carlinianos tinham 15 homens ainda lutando, mas os thaisenses estavam reduzidos a dez quando o grande bruto com o machado decidiu liquidar Sir Simon. Ele rugiu enquanto atacava, e Sir Simon aparou o machado no escudo e mergulho a espada na cota de malha abaixo da axila do batalhês. Retirou a espada com um golpe e viu-se sangue escorrendo do corte na malha e na túnica de couro do inimigo. O grandalhão torceu-se na sela e Sir Simon bateu com a espada na parte de trás da cabeça e voltou o cavalo para defender-se de outro atacante, antes de voltar à posição anterior para impelir sua pesada arma em um golpe esmagador contra o pomo-de-adão do grande batalhês. O homem largou o machado e agarrou a garganta enquanto se afastava.
- Ele é bom, não é? – disse Farz, num tom sem expressão. – Tem sebo no lugar do cérebro, mas sabe lutar.
Mas, apesar da destreza de Sir Simon, o inimigo estava ganhando e Argos queria avançar os arqueiros. Eles só precisariam correr uns trinta passos e ficariam a uma distância fácil dos violentos cavaleiros inimigos, mas Vince Farz abanou a cabeça.
- Nunca mate dois carlinianos quando pode matar doze, Argos – disse ele, em tom de reprovação.
- Nossos homens estão sendo derrotados – protestou Argos.
- Neste caso, isso irá ensiná-los a não bancarem os tolos, não? – disse Farz. Ele sorriu. – Espere, rapaz, espere, e nós iremos pegar a caça como deve ser feito.
Os soldados thaisenses estavam sendo derrotados e só Sir Simon lutava com ânimo. Ele era bom, mesmo. Tinha tirado o grande batalhês da luta e agora enfrentava quatro inimigos, fazia-o com uma perícia feroz, mas o restante de seus homens, vendo que a batalha estava perdia e que não poderiam chegar até Sir Simon porque havia muitos cavaleiros inimigos a seu redor, fizeram meia-volta e fugiram.
- Sam! – gritou Vince do outro lado da estrada. – Quando eu mandar, pegue doze homens e fuja! Está me ouvindo, Sam?
- Eu vou fugir! – gritou Sam em resposta.
Os soldados thaisenses, alguns sangrando e um quase caindo da sela, num barulho trovejante, fugiram pela estrada em direção a La Roche-Ogre.
- Mas o que este maluco está fazendo? – disse Farz, ao tornar a olhar para a luta.
Argos então percebeu que Sir Simon havia escapado por entre os cavaleiros de Carlin e tentava ficar em pé, em cima da sua montaria. A armadura dourada com alguns traços de sangue brilhava assim como sua espada.
- Ele é maluco! – bradou Vince Farz. – Ele é maluco!
Encarando como desaforo a ação de Sir Simon, que agora se equilibrava sobre o cavalo esperando o ataque dos cavaleiros, os carlinianos avançaram e cercaram-no novamente bradando e gritando algo que Vince Farz não entendia.
- Eles estão cantando o hino de Carlin – disse Argos. – Vão matar Sir Simon!
Porém, Argos errara. Sir Simon dobrou o joelho dianteiro e apoiou a ponta afiada de sua espada na cabeça de seu cavalo, observando seis cavaleiros carlinianos que se aproximavam, cantando. Estes gritaram e atacaram em conjunto.
- Exori! – gritou Sir Simon e sua espada brilhou. O pé dianteiro pegou impulso e ele fez um giro completo e em uma velocidade anormal. Três cavaleiros foram lançados ao chão, um sem o braço que empunhava a espada e os outros dois sem a cabeça, que rolou pelo bosque. Dois outros tiveram cortes profundos no ombro e no pescoço e com o pouco de força que restara, esporearam o cavalo que se lançou pelo caminho do bosque. O terceiro ficou parado, em frente ao cavaleiro de Thais, decapitado.
Sir Simon, então, caiu sobre o cavalo. Sua energia se esgotara e seus músculos o puxavam para o chão, mas o nobre cavaleiro se esforçou e se manteve sentado ao ver que mais quatro cavaleiros avançavam, mas Sir Geoffrey da Ponte Branca era um homem romântico e recusou-se a tirar a vida de um bravo adversário, e por isso ordenou a seus homens que poupassem a vida do cavaleiro de Thais.
Sir Simon, suando como um porco sob o couro e placa de ferro, ergueu o visor de seu elmo.
- Eu não me rendo – disse ele a Sir Geoffrey. Sua armadura nova estava arranhada, e a lâmina da espada lascada, mas a qualidade de ambas o havia ajudado na luta. – Eu não me rendo – tornou ele a dizer –, por isso, continuem a luta!
Sir Geoffrey inclinou-se em sua sela.
- Eu saúdo a sua bravura, Sir Simon – disse ele, magnânimo – e o senhor tem liberdade de partir com todas as honras.
Ele abanou o braço para que seus soldados se afastassem e Sir Simon, milagrosamente vivo e livre, afastou-se de cabeça erguida. Havia levado seus homens ao desastre e à morte, mas saíra com honra. Esgotado, se retirou.
Sir Geoffrey podia ver, além de Sir Simon, a longa estrada lotada de soldados que fugiam e, mais além, o gado capturado e as carroças cheias de espólios que estavam sendo escoltadas pelos homens de Farz. Então, Vince Farz berrou para Sam e de repente Sir Geoffrey viu um bando de arqueiros em pânico cavalgando em direção ao norte com a velocidade possível.
- Ele vai cair nessa – disse Farz, experiente. – Olhe só se não vai.
Sir Geoffrey, nas últimas semanas, provara que não era tolo, mas naquele dia perdeu o juízo. Viu uma chance de aniquilar os odiados cavaleiros da morte e recapturar três carroças de espólios, e por isso mandou que seus trinta soldados que restavam juntassem a ele e, deixando seus quatro prisioneiros e nove cavalos capturados aos cuidados dos besteiros, fez o sinal para que seus cavaleiros avançassem. Havia semanas que Vince Farz esperava por isso.
Sir Simon voltou-se, alarmado, ao ouvir o som de patas. Quase cinqüenta homens de armadura, em grandes corcéis, avançavam contra ele e, por um instante, ele pensou que estivessem tentando capturá-lo e por isso esporeou o cavalo em direção ao bosque, só para ver os cavaleiros carlinianos e batalhenses passarem por ele a pleno galope. Sir Simon agachou-se sob galhos e xingou Vince Farz, que o ignorou. Ele estava de olho no inimigo.
Sir Geoffrey de Pont Blanc chefiava a carga e só via a glória. Ele se esquecera dos arqueiros no bosque, ou acreditara que todos tinham fugido depois da derrota dos homens de Sir Simon. Sir Geoffrey estava no vértice de uma grande vitória. Iria pegar o espólio de volta e, o que era ainda melhor, levar os temíveis cavaleiros do diabo a um destino de fogo na praça do mercado de Carlin.
- Agora! – gritou Farz por entre mãos em forma de concha. – Agora!
Havia arqueiros em ambos os lados da estrada, e eles saíram da nova folhagem primaveril e soltaram as cordas de seus arcos. A segunda flecha de Argos estava no ar antes que a primeira atingisse o alvo. Olhe e solte, pensou ele, não pense, e não era necessário mirar, porque o inimigo era um grupo compacto e tudo o que os arqueiros fizeram foi despejar as longas flechas sobre os cavaleiros, e assim, num piscar de olhos, a carga foi reduzida a uma massa confusa de garanhões empinando, homens derrubados, cavalos berrando e sangue espirrando. O inimigo não teve chance. Uns poucos que estavam na retaguarda conseguiram dar meia-volta e fugir a galope, mas a maioria ficou presa em um anel, que se fechava, de arqueiros que fazia suas flechas penetrarem em cotas de malha e couro. Qualquer homem que simplesmente se mexesse atraía três ou quatro flechas. A pilha de ferro e carne estava espetada de penas, e ainda assim as flechas chegavam, atravessando cotas de malha e penetrando fundo em carne de cavalo. Só os poucos homens da retaguarda e um único homem na frente da carga sobreviveram.
O homem era o próprio Sir Geoffrey. Ele estivera dez passos à frente de seus homens e talvez tenha sido por isso que fora poupado, ou talvez os arqueiros tivessem ficado impressionados pela maneira pela qual ele tratara Sir Simon, mas seja lá por que razão, ele cavalgou à frente da carnificina como um ser encantado. Nem uma única flecha passou por perto, mas ele ouviu os gritos e o barulho atrás dele e reduziu a velocidade de seu cavalo, voltando-se para ver o horror. Por um instante, olhou sem acreditar, e depois voltou com o cavalo a passo lento para a pilha espetada de flechas que tinha sido a sua tropa. Farz gritou para alguns de seus arqueiros para que se voltassem e enfrentassem os besteiros do inimigo, mas estes, vendo o destino de seus soldados, não estavam nada dispostos a enfrentar as flechas de Thais. Recuaram para o oeste.
Houve, então, uma curiosa quietude. Cavalos caídos contorciam-se e alguns batiam na estrada com as patas. Um homem gemia, outro implorava a Fardos e alguns simplesmente choravam. Argos, uma flecha ainda na corda do arco, ouvia o canto dos pássaros e o sussurro do vento nas folhas. Caiu um pingo dágua, levantando a poeira que estava na estrada, mas foi um batedor solitário de uma chuva que foi para o oeste. Sir Geoffrey deteve seu cavalo ao lado de seus homens mortos e moribundos, como que convidando os arqueiros a acrescentar o seu corpo à pilha rajada de sangue e salpicada de penas brancas.
- Entende o que eu quero dizer, Argos? – disse Farz. – Espere o suficiente e os imbecis sempre farão o que você quer. Está bem, rapazes! Acabem com os bastardos.
Homens largaram seus arcos, sacaram as facas e correram para a pilha que tremia, mas Farz deteve Argos.
- Vá dizer àquele idiota da ponte branca para dar o fora daqui.
Argos caminhou até o carliniano, que deve ter pensado que esperavam que ele se rendesse, porque arrancou o elmo e estendeu a espada com o punho para a frente.
- Minha família não pode pagar um grande resgate – disse ele, como que pedindo desculpas.
- O senhor não está preso – disse Argos.
Sir Geoffrey pareceu surpreso ao ouvir aquelas palavras.
- O senhor me liberta?
- Nós não queremos o senhor – disse Argos. – O senhor poderia pensar em ir para a Baía da Liberdade – sugeriu ele – ou para Venore. Em nenhum dos dois lugares há muitos cavaleiros do diabo.
Sir Geoffrey embainhou a espada.
- Eu tenho que lutar contra os inimigos de meu rei, e por isso lutarei aqui. Mas eu lhe agradeço.
Ele pegou as rédeas e naquele exato momento Sir Simon Skeat surgiu das árvores, a cavalo, apontando sua espada desembainhada para Sir Geoffrey.
- Ele é meu prisioneiro! – gritou para Argos. – Meu prisioneiro!
- Ele não é prisioneiro de ninguém – disse Argos. – Nós o estamos libertando.
- Vocês o estão libertando? – disse Sir Simon com desprezo. – Você sabe quem comanda aqui?
- O que eu sei – disse Argos – é que esse homem não é prisioneiro coisa nenhuma. – Ele deu um tapa no manto protetor do cavalo de Sir Geoffrey, para mandá-lo embora. – Baía da Liberdade ou Venore! – gritou ele enquanto Sir Geoffrey se afastava.
Sir Simon voltou o cavalo para ir atrás de Sir Geoffrey, e então viu que Vince Farz estava pronto para intervir e impedir qualquer perseguição, de modo que tornou a se voltar para Argos.
- Você não tinha o direito de soltá-lo! Nenhum direito!
- Ele soltou o senhor – disse Argos.
- Pois então foi um idiota. E porque ele é um idiota, eu tenho que ser?
Sir Simon tremia de raiva. Sir Geoffrey podia ter se declarado um homem pobre, dificilmente capaz de levantar um resgate, mas só o cavalo dele valia pelo menos cinqüenta moedas de platina, e Farz e Argos acabavam de mandar aquele dinheiro trotando em direção ao Sul. Sir Simon ficou vendo ele se afastar e depois abaixou a lâmina da espada para que ela ameaçasse a garganta de Argos.
- Desde que eu vi você pela primeira vez – disse ele – você tem sido insolente. Eu sou o homem de berço mais nobre neste campo, e sou eu que decido o destino dos prisioneiros. Está entendendo?
- Ele se rendeu a mim, não ao senhor – disse Argos. – Por isso, não importava em que berço o senhor nasceu.
- Você é um filho de cadela! – disse Sir Simon enfurecido. – Farz! Eu quero uma recompensa por aquele prisioneiro. Está me ouvindo?
Farz ignorou Sir Simon, mas Argos não teve juízo suficiente para fazer o mesmo.
- Banor – disse ele, enojado –, aquele homem poupou a sua vida e o senhor não retribui o favor? O senhor não é um cavaleiro coisa nenhuma, o senhor não passa de um brigão. Vá fritar o seu traseiro!
A espada se ergueu, e o mesmo aconteceu com o arco de Argos. Sir Simon olhou para a brilhante ponta da flecha, as beiradas embranquecidas pelo ato de apontar, e teve juízo bastante para não atacar com sua espada. Em vez disso, ele a embainhou, enfiando com força a lâmina na bainha, e depois fez seu corcel dar meia-volta e esporeou-o para ir embora.
O que deixou os homens de Farz separar os mortos do inimigo. Havia 18 deles, e outros 23 gravemente feridos. Havia, também, 17 cavalos que sangravam e 24 cavalos de combate mortos, e isso, comentou Vince Farz, era uma perda terrível de bons cavalos.
E Sir Geoffrey aprendera sua lição.
Sir Simon Skeat, seu escudeiro e sua nova armadura.
Sem mais;
Asha Thrazi!![]()
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).Muito bom mesmo,e eu achei estranho,me acostumei em ler suas histórias com os underlines xD.