Capítulo 10 – Conhecendo o Inimigo
Droga, onde estou? Meu corpo se contorce em dor... Ai, lembrei..Invadiram minha casa, me pegaram... Eles... Gustavo! Onde está? Davi! Onde estão? Não enxergo nada, esta escuro como o breu. Tento me levantar, mas... Meus braços, minhas pernas, estão presos! Estou amarrada, numa cadeira... Onde eles me colocaram? O que fizeram comigo?
- Minha cabeça, como dói... Vanessa, é você?
- Gustavo! Meu amor, você está bem? Cadê Davi?
- Eu não consigo vê-lo, mas sinto-o aqui do meu lado, desacordado.
- Ai, graças a Deus, estão todos bem...
- Por enquanto senhora Vanessa, por enquanto...
Alguém adentra no lugar. Não reconheço a voz, não sei quem é... No instante seguinte, a luz do recinto é acesa, e vejo o sujeito: Pela aparência, não conheço mesmo. Segurava uma arma, prateada e pequena, em sua mão direita, mas a manuseava como se fosse de brinquedo, a girando e fazendo manobras em sua mão, e depois a prendendo na cintura, dentro da calça... O lugar que estávamos não era dos mais bonitos: Não tinha nenhum móvel nele, a não ser as velhas cadeiras em que eu e Gustavo nos situávamos, era sujo, com paredes descascadas e cheias de manchas. A única saída daquele lugar disforme era a porta por qual passara o tal homem da arma. Estávamos enclausurados, como animais... MEU FILHO! Davi, minha criança, estava do lado de Gustavo, dormindo, desmaiado, não sei. Parecia calmo, parecia que, para ele, era mais um dia normal...
- O que fez com Davi?
- Seu filho? Nada, não sou um monstro, como aparento ser. Só passamos um pouco de clorofórmio nele, estava chorando e esperneando demais, e isso irrita, sabe? Daqui a duas horas ou mais ele irá acordar, Vanessa...
- Seu cretino...
- Doutor Gustavo, ninguém lhe chamou na conversa. Porém, sua cabeça ainda dói? Nem deve ter visto o sujeito que te acertou, Rodrigo. Um homem de atos rudes, exagerados, igual ao irmão... Logo, terá o
“prazer” em conhecê-lo melhor.
Meu marido fica quieto, não diz mais nada. Porém, nessas horas, é bom, e também inteligente, ficar calado, sentir medo... Mas, eu não queria ficar quieta, queria explicações:
- Mas, o que vocês querem? Quem são vocês? – Mas, sei quem são, sei o que querem...
- Senhora Vanessa, sem fingimentos. Sei que você conhecia, mesmo que vagamente, o Rafael, ex-companheiro seu de serviço. E agora você está no lugar dele, e tem parte da senha de um cofre cheio de dinheiro das mais diversas nacionalidades. Pensa um pouco Vanessa, pensa: Por que queremos você?
- Rafael...
- O que o senhor murmurou aí, doutor Gustavo?
- Hã? Nada, não foi nada...
- Hum... Bem, continuando, antes de seu querido marido nos interromper novamente, queremos que você, Vanessa, nos “ajude”. E se não...
- Vou ajudar... – Cedo, que escolha eu tinha, afinal?
- Mas, você foi muito rápida em sua decisão... Mas esperta. Ao contrário de Rafael. Rapaz ingênuo, achou que poderia nos enganar...
- O que ele fez? – Como se eu já não soubesse, também...
- Bem, poderia dizer tudo o que houve, mas não é da sua conta. Rafael é passado. Mas, por que tantas preocupações com alguém que você mal conhecia? Por que essa curiosidade com uma pessoa que você sempre ignorava no serviço? Ignorava-o porquê? Inveja por ele possuir um emprego melhor que o seu? Inveja da vida dele? Por que, Vanessa?
Realmente, nunca parei para falar com ele. Só o cumprimentava, friamente, porém...
- Isso... Isso não é da sua conta também. – E nisso ele dá uma risada forçada, idiota, ridícula...
- Ah, Vanessa, gostei mais de você do que de Rafael. Você não demonstra medo, nem parece ter, mesmo estando amarrada numa cadeira em um lugar que desconhece totalmente. Está calma, até demais... Será que sabe de algo que eu deveria saber?
- Não, não sei de nada...
- Vanessa, não me desafie, não me desafie... Bem, preciso falar a sós com você, então seu marido e o pirralho irão para outro lugar. RODRIGO ! JÚLIO!
Entram no quarto dois gêmeos, musculosos. Estavam no carro em que me trouxeram pra cá; Um deles pega Davi, ainda desacordado, e o carrega no colo. O outro vai em direção a Gustavo, o desamarra da cadeira e o pega pelo braço, perto do ombro, o levando para fora da sala:
- Meu bem...
- Fique calma querida, vai dar tudo certo...
- Não pode prometer o que não tem certeza se irá cumprir, doutor Gustavo.
- Não falei com você, seu desgraçado!
Por que foi falar isso meu bem, por quê? Vejo o homem da arma prateada tirar a mesma da cintura, a destravando, e apontando em direção a Gustavo... Não pode ser...
- NÃO!
**********
- Bem, e isso é tudo, policial.
- Hum, isso é tudo o que tem a dizer, senhor João Carlos? Não tem mais nada a falar, não escondeu nenhuma informação, novamente? – Ajo com ignorância na pergunta, eu sei, mas ele merece, ocultar informações assim, tão importantes...
- Sim, mas... Eu já tinha vindo aqui uma vez, mas recusaram o bilhete que trouxe e também o depoimento que dei...
Já tinha vindo? Mas não soube de nada, e eu que comando o caso! Eu que estou no encalço desses malditos há longos dois anos! Eu que deveria saber de tudo que ocorre! EU! Quem foi à pessoa desinformada que fez isso?
- Mesmo assim, seu João Carlos, mesmo assim... Além disso, cadê essa tal Vanessa? O senhor disse que ela já viria com o marido...
- É, ela falou que ia passar aqui, mas, não sei o que houve, tão demorando demais...
- Bem, de qualquer modo, com Vanessa ou não aqui, o senhor ficará detido até encontrarmos esse Rafael. E reze para que isso aconteça, senão ficará preso por um bom tempo por um ato tão tolo...
- Preso? POR QUÊ?
- SENHOR JOÃO CARLOS! Não grite, ou posso incluir na sua ficha também desacato à autoridade! O senhor está, a partir de agora, e até a resolução do caso ou fechamento do mesmo, preso por ocultação de informações de possível seqüestro e assalto a banco!
- Mas, Rafael me fez prometer...
- Que amigo esse, por causa dele ficará preso – Pego um par de algemas da gaveta de minha escrivaninha e coloco nos pulsos desse homem, que mesmo sendo inocente, que, mesmo que tenha feito algo errado para ajudar um amigo seu, para o próprio bem dele, tem que ser preso. É a lei, coisa que muitos esqueceram por aqui...
- Bruno, leve-o para alguma cela...Vazia. Depois, fale com aquela garota que não pára de chorar, Paula, deve ser esse o nome, e diga para ela ir pra casa, deixar seu número de telefone e qualquer coisa entraremos em contato. E, em seguida, volte aqui.
- Sim capitão...
Espero ele sair. Ligo para a casa dessa Vanessa, João Carlos me fornecera o número, mas ninguém atende, droga. Terei que ir ao banco onde ela trabalha para conseguir informações. Seis horas já, e ele fecha às sete. Meu Deus, já não basta os problemas que já tinha, agora mais esse. Desgraçados, dessa vez não escapam!
- Capitão?
- Sim? – Absorto nos dilemas de minha vida miserável, mal vejo o jovem Bruno entrar no escritório...
- É que o senhor falou pra eu voltar pra cá e...
- Ahh... Vamos no banco Santander, onde Vanessa trabalha. E você, pare de me chamar de senhor, não sou tão velho, e já trabalhamos juntos à quase seis meses.
- Sim se... Cláudio.
- Isso mesmo...
Antes de sairmos, pego dois de meus mais valiosos acessórios: Meu belo distintivo, na qual me sinto honrado em ter, e que faço muito esforço para merecer usa-lo, enquanto muitos não são dignos de nem por os pés nesse lixo de departamento... E minha fiel escudeira, protetora, guardiã... Minha glock 19, pistola padrão da polícia usada para combates de curto alcance. Já foi minha “heroína” diversas vezes.
Entramos em nossa viatura, uma lataria, para ser sincero. Mas, não podemos reclamar... Ligo o carro e partimos em direção ao banco. Malditos, voltaram à ativa, justo agora... Tenho que ligar para Ivone, ver se tem alguma novidade sobre Sophia. Miseráveis, já roubaram quatro bancos, quando será que ficarão satisfeitos? Quantas vidas ainda irão prejudicar? Droga, cem mil reais, meu Deus, como arrumarei tudo isso? Quantos problemas, são tantos, mas nenhuma solução, nada...
- Ca... Cláudio, ta tudo bem? Está estranho hoje...
- Ah sim, normal, só estava pensando... – Arranjo um assunto qualquer, não quero envolver Bruno em meus problemas pessoais – Em quem poderia ter recusado provas de um assalto e até seqüestro, em nosso departamento. Não se pode ignorar provas, assim, por mais que pareçam fúteis...
- Foi Guilherme...
- O Q... O que?
- Foi Guilherme quem falou com aquele homem na primeira vez que esse João Carlos veio, há alguns dias atrás. Você estava fora, patrulhando o bairro de Santo Amaro... Ele disse que poderia ser apenas trote de algum vagabundo. Por quê?
- Ah, nada não, apenas curiosidade. – Maldito...
**********
Um barulho ensurdecedor repercute por todo o quarto. O tiro foi disparado. Havia fechado os olhos, não vi nada. Abro-os, com medo do que poderia ser visto. Olho em direção ao lugar onde Gustavo estava, com o coração palpitando: Ufa... Está bem, sem ferimentos, com os braços escondendo o rosto, em pânico. O desgraçado havia atirado na parede, a poucos centímetros do abdome de meu marido. Meu Deus...
- Que fique bem claro que eu mando aqui! EU! Mais um desrespeito desses e não errarei o próximo tiro!
- O que houve aqui? Quem atirou? – Repentinamente entra no quarto um rapaz franzino, de óculos. Deveria ser o tal Ícaro.
- Foi o Marcos. – Responde um dor irmãos gêmeos. Ahh, então esse é Marcos, líder do grupo...
- É, mas foi na parede. – Replica o outro irmão, se intrometendo.
- Marcos, por que fez isso? – Pergunta novamente Ícaro. Pareciam crianças discutindo...
- Mas que MERDA! Chega de conversa, e não devo satisfações a você, Ícaro. Continue lá fora vigiando! E vocês dois, levem logo o garoto e o doutor para o outro quarto. Vão!
Todos obedecem, como se fossem cães treinados. Ficam apenas eu e Marcos no local, sendo que eu ainda permanecia amarrada na cadeira, com meus braços e pernas pulsando de dor...
- Bem, senhora Vanessa, finalmente estamos a sós. Vamos conversar sobre a “ajuda” que dará...
Tentei melhorar esse, mas não consegui...Sei que devem estar de saco cheio de só diálogos e talz, mas, acalmem-se x)
Dard*