Capítulo II - O Piar da Coruja
Do alto da árvore farol de Ab'dendriel uma coruja, iluminada pelas mesmas fogueiras que alertavam a proximidade do litoral, vigia atenta qualquer misero movimento sobre o solo.
Emprestando seus olhos pode-se ver dois elfos vagando pelas ruas desertas da cidade. O primeiro trajava um majestoso sobretudo azul de mangas compridas característico dos arcanos, exceto pela cor. Não era um Cenath, pois eles repudiam armas rudimentares e este carregava em suas costas um trio de espadas embainhadas, sendo uma maior que as demais. Movia-se rapidamente, até parecia se teletransportar. O segundo era o elfo da biblioteca que deixara os livros no momento que notara o estranho andarilho. Seguiu-o por alguns metros até alcançá-lo.
Iniciaram um diálogo, no qual o andarilho apenas ouvia e o outro falava. Não falou muito, era direto em suas palavras. As sombras estavam inquietas, ansiosas pela resposta. Os olhos até então serenos tornaram-se sérios. Desembainhou a espada maior, e, nesse gesto ameaçador que das sombras inúmeros espectros o atacam. Por mais bravo que fosse não adiantava lutar, eram muitos contra apenas um, sucumbiu. Foi levado às sombras e desapareceu junto com seu perseguidor.
A coruja fecha os olhos, assimila o que viu, questiona-se sobre tudo e com razão entende a realidade. Abre os olhos e voa, sai em busca de mais conhecimento.
Capítulo III - Por debaixo dos Panos
O mundo dos elfos, assim como o nosso, tem um vasto oceano que cobre cerca de dois terços de sua superfície. Nesse palco, sob os holofotes, uma ilha perdida na imensidão de águas salgadas é onde começa a nossa trama. Esse pedaço de terra arredondado e completamente cercado por planalto recebia o nome de Ilha Cauldron, devido ao seu formato semelhante ao de um caldeirão.
Amanhece o dia pós-seguinte ao sequestro do elfo de Ab'dendriel. Atracam na ilha seis embarcações médias, cada uma com onze tripulantes que rapidamente descarregam caixas, troncos, metais e materiais de construção, entram por uma falha na cadeia de planalto e dão início ao seu trabalho. O barulho do silêncio é interrompido pela orquestra de martelos e serrotes. Várias edificações estavam sendo erguidas, mas o que mais se destacava era um grande palácio de mármore branco, semelhante em design e dimensão a nossa Catedral de Milão, mas com um ar mais sombrio, expirado pelos gárgulas que viviam em seu telhado.
Os operários da ilha são de uma raça chamada Orc, humanoides grandes e brutos, de pele verde, ensinados desde a infância a serem bravos guerreiros. Eles até parecem lutar contra a construção, cada martelada enterrava um prego e ainda marcava a madeira com o impacto, sem dúvida a melhor raça operária do mundo.
Pouco tempo antes do anoitecer os orcs abandonam a ilha e partem em suas embarcações rumo à Ulderek's Rock, também conhecida como A Fortaleza Orc.
Sob a luz das estrelas o palácio da Ilha Cauldron ganha vida e ascende em chamas que não o consomem, mas o iluminam e protegem. No subsolo daquele lugar existe um calabouço, nele está Bludika, o elfo andarilho, preso por causa de sua habilidade especial. Preso por ser um Teshial.