Bem, prepare-se que o comentário vai ser longo. :)
Em primeiro lugar, não dá pra ler o prólogo sem pensar no Ferumbras. Mau sinal. A tua história não deve fazer com que o leitor a ache parecida com outras, dentro do possível - isso tira a atenção dele do teu texto, e transporta para a citada outra história. Como tu espera prender o teu leitor na tua história, esse é um dos motivos para evitar clichês. (e existem muitos outros)
Bem, falando sobre o primeiro capítulo, dá pra resumí-lo ao que o Drasty falou, a palavra chave: Determinismo. Tal pai tal filho, e todos querem ser guerreiros que combatem o mal, etc. Isso empobrece o enredo, na mesma medida em que o torna simples e fácil de explicar. Veja só: "Pergunta: Por quê o garoto queria ser arqueiro? Resposta: Porque seu pai era, e para combater os malvados." Uma relação entre pai e filho pode sim fazer com que um filho queira seguir os passos do pai, e isso é comum. Mas não simplifique demais as coisas. Além do que, se é comum, geralmente é melhor evitar colocar na história - caso contrário fica aquela sensação em quem lê de "isso eu já vi antes".
E cuidado ao falar "Idade média", pois tu ta falando de um espaço de tempo de aproximadamente mil anos, e de toda a extensão da europa desde o oeste do que hoje é a China até a costa de Portugal. Lamento, mas falar "Idade Média" não significa absolutamente nada. Nesses mil anos muita coisa mudou, as diferenças entre territórios adjacentes era às vezes gritante e sociedades inteiras se transformaram. Não havia um padrão. Ou seja, discordo de você quando fala que o determinismo direcionado para a guerra era majoritário. Havia cidades para onde as pessoas poderiam ir, dependendo do lugar e da época onde estavam, e elas poderiam ficar no campo, colocar-se à disposição de um senhor, fazer comércio, entrar para uma ordem religiosa, pro clero, etc etc. Havia muito mais atividades para se fazer do que parece. Isso sem contar que, se tu está te baseando no dito "período medieval", tu só ia pra guerra se fosse: Um nobre que não possui terras e se torna vassalo de alguém, ou um servo de um nobre que deve soldados a um outro senhor. Não existia isso de "eu quero ser guerreiro como o meu pai". Isso depende muito do estamento da sociedade a qual o dito "pai" pertence, e isso não ficou claro na tua história. (E como vou mostrar à seguir, armaduras inteiras de metal são coisa do início da idade contemporânea, não da medieval.)
Se você quer falar sobre "Idade Medieval", esqueça tudo o que aprendeu no colégio e nos livros didáticos, ou quase tudo. Não é um período nem de longe homogêneo, sobre o qual se pode dizer algumas frases simples. Muito do que se acredita que foi esse período, como por exemplo acreditar que foi uma "era das trevas" é uma mentira deslavada, que ja foi pisoteada pelos recentes estudos de medievalistas por todo o mundo, inclusive no Brasil.
Passando pro segundo capítulo, vou citar o teu próprio texto e comentar. Isso pode se tornar cansativo, mas o seu texto não está um mar de rosas, como alguns usuários deram a entender, e eu acho que esses comentários são do teu interesse:
Citação:
Nunca gostou de violência, porém era uma forte druidisa que estava sempre pronta a ajudar quem precisasse.
Nessa parte, tu simplesmente descreveu arbitrariamente a personalidade dessa personagem através de um narrador onisciente. Uma dica: Deixe a própria personagem mostrar como é a sua personalidade, através das suas ações e aos poucos. O narrador iria fazendo comentários sobre essas ações, naturalmente, mas sem dar informações demais, o que acaba sendo um "spoil" totalmente desnecessário para a história, que além de tudo torna a narrativa artificial.
Citação:
Fora uma grande armação; o pai levou o filho cedo para caçar com o intuito de ficar o máximo possível fora de casa, enquanto Lyndis fazia os preparativos da festa do garoto, que fazia 12 anos naquele dia.
Leia o parágrafo anterio à essa citação, e você vai ver como essa informação foi totalmente redundante. Ela apenas repete sem necessidade a informação que já havia ficado clara um pouco antes.
Citação:
sempre com suas duas maças guardadas na cintura
Bem, se você quis dizer "maças" mesmo, ficou estranho. Agora, se você tentou dizer que era uma daquelas maças com duas ou mais extremidades, presas ao cabo por uma corrente, a palavra certa ceria "Mangual", ou "Mangual de guerra".
Citação:
Usava uma armadura azul, com detalhes em ouro, muito parecida com a de seu filho, Sig
Nenhum cavaleiro usa armaduras se não está em combate ou numa cerimônia muito importante onde ele representa uma parte da milícia. É desconfortável, pesado e além de tudo restringe os movimentos. Ou seja, de maneira nenhuma seria usada numa festa surpresa de aniversário. Outra coisa: Se ele é velho, ainda são menores as chances dele usar a armadura.
Um detalhe que passa em branco nas histórias medievais: Armaduras, daquelas que nós estamos acostumados a ver em filmes e tal – a de metal, inteira e cobrindo todo o torso – não faz muito sentido antes da invenção da pólvora. Ela é uma invenção que serve principalmente para proteger contra tiros, não lâminas. No tempo das espadas, os guerreiros usavam uma armadura que era uma espécie de camisa feita de argolas de metal, com uma vestimenta de couro com pedaços de madeira por cima – no máximo. Afinal, era um equipamento caro, e qualquer armadura mais restritiva iria impedí-lo de manejar a espada decentemente.
Citação:
Uma fogueira ao centro, afastada dela havia uma grande mesa com muita carne de boi, urso, frango, que alimentaria um exército com plena certeza.
Cruzes! Nem se toda a casa estivesse cheia até o teto com comida não seria suficiente para alimentar um exército. Estamos falando de vários batalhões somando milhares de pessoas... Mesmo se fosse pra alimentar um mísero batalhão, que tem menos gente, ainda não seria suficiente. Seriam centenas de pessoas. Dessa vez exagerou, hein?
Citação:
Obviamente mentira. Inventara um pretexto para ir próximo de onde percebera o estranho acontecimento, onde supostamente estaria o invasor.
Novamente, tu explicou desnecessariamente um fato que estava claro no texto um pouco antes. Parece que você está subestimando a inteligência do leitor, e não se satisfaz em colocar um acontecimento na história sem explicá-lo logo depois, receando que quem leu não tenha entendido.
Citação:
Eric não queria que o intruso escapasse, não sem antes tê-lo para interrogatório,
Deixa eu ver se entendi bem... Ele atirou uma faca numa pessoa sem sequer tentar ver se ela era uma ameaça antes? Como assim, que raciocínio sem noção é esse onde “se tem alguém em cima da árvore, deve ser um intruso hostil que merece ser esfaqueado”? E se fosse uma criança em cima da árvore, ou um macaco? Eles estão na festa de aniversário de uma criança, não numa reunião secreta e confidencial de generais ou reis... Poderia ser alguém fazendo uma brincadeira, ou então pegando uma fruta – As possibilidades são muitas, e a maioria indica que não seria uma ameaça. Em uma ocasião não-hostil como uma festa de criança, me pareceu sem sentido essa desconfiança hostil e ofensiva por parte do personagem, quando no pior dos casos seria uma posição defensiva. Pra mim, parece que você está tentando forçar o enredo, direcionando os personagens para atitudes artificiais, não se importando com a verossimilhança desde que sirva para o fim que você esperava para a história. Cuide com isso, ou teus personagens serão meras marionetes sem vida.
Citação:
Então, Eric pegou seu arco e puxou uma flecha da cintura.
Na festa do filho, ele está com um arco, uma aljava com flechas, três facas, e o que mais? Ele está numa comemoração pacífica ou indo pra guerra?
Citação:
após correr muitos metros atrás do suposto espião
Ou seja, ele não tinha certeza. Então como ele esfaqueia o cara antes de sequer perguntar alguma coisa?
Citação:
- Hei homem! –dizia Eric, nervoso-. O que diabos fazia escondido nas árvores observando a minha casa?!
Essa pergunta deveria ter sido dita como primeira reação plausível ao saber que tinha alguém ou algo na árvore, não acha?
Citação:
Era um pequeno bilhete, como se fosse uma ordem para ser cumprida pelo espião
Bah, me desculpe a expressão... Não quero parecer grosso, mas esse recurso que tu usou foi impressionantemente banal. Então, o cara se mata pra não ser forçado a dizer nada, mas guarda na própria roupa o bilhete original onde consta as suas ordens confidenciais, que iriam entregar a natureza da missão com mais facilidade do que se ele estivesse falando, onde ele poderia blefar? Sem comentários, né? Que tipo de espião fajuto ou trapalhão guardaria o bilhete secreto... nas suas roupas? :/
Enfim, depois eu leio o terceiro capítulo. Até agora eu não tinha ficado interessado na história, por achar que se tratava de uma história sobre Tibia. Mas devo dizer, em alguns aspectos ela está dependente demais de jogos de RPG, onde se inclui o citado acima. Vi que no trecho onde tu fala que a esposa do personagem era druidisa, tu incrementou falando que "druidas são pessoas que nascem com o dom mágico da cura", mas veja bem... Essa descrição deixa muito a desejar - continua incompleta, dependente nos conceitos pré-estabelecidos do rpg: Como assim, "dom mágico"? O que é a magia nesse mundo, por que algumas pessoas nascem com esse dom e outras não? como se dá a cura através dessa dita "mágica"?
Viu? Falar que algo é "mágico" parece uma resposta completa, que explica tudo, mas não é. Aliás, usar esse recurso é fácil demais, novamente simplificando demais a explicação para acontecimentos na tua história: "Pergunta: Como ela fez essas coisas extraordinárias, que desafiam a razão? Resposta: Usando magia." - Dê preferência para explicações mais complexas e completas, pois elas enriquecem o mundo onde se passa a tua história, e fazem com que as ações e fenômenos convençam o leitor, fazendo-o acreditar no que está lendo por mais fantástico e surreal que seja. Vou te dizer: esse capítulo não me convenceu, mas estarei acompanhando.
E espero que o que eu falei aqui seja útil de alguma maneira. Se eu não acreditasse que tu pode melhorar, não estaria gastando quase uma hora nesse tópico para escrever tudo isso.
Próximo Capítulo?
A.E. Melgraon I