Livro 1
Capítulo II
O pequeno Artorios correu pelo chão quente das ruas de Tir’Rafer. Sua sorte era que estava com os pés molhados ou seu pé estaria fritado. Ele cheirava a peixe e queijo e as pessoas reclamavam disso quando ele esbarrava nelas.
E agora? – pensou Artorios –
Estou perdido.
Não ia voltar a Vânia de jeito algum. Seu pai o mataria por ter fugido. Lembrou-se da sua cama quente, o chocolate, a música...
NÃO! Não posso voltar!
Então cansado de tanto correr bateu com as costas em uma parede de tijolos e se deixou escorregar até sentar. Era fresco ali. A marquise produzia uma sombra sobre ele. Examinou ao redor. Tudo igual.
Várias casas de tijolos vermelhos com teto ou de palha, ou de argila. Via-se solto na paisagem uma casa de mármore branca bem cuidada. Um portal aberto em forma de arco exibia uma placa pendurada escrito:
Bem Protegido
E o símbolo gravado abaixo:
Dava-se para ver dentro da loja e Artorios constatou que era loja de armaduras. Viu uma fonte a pouca distância exibindo um homem cuspindo água segurando uma bolsa. Uma placa de metal tinha gravado:
Fonte dos Mercadores
Erguida em 400 d.L
Erguida por Brandor Luin homenageando
Os mercadores ricos de Tir’Rafer
Salve, salve Luin!!!
Droga! – pensou –
Até aqui veneram a minha família...
As siglas “d.L” significavam “Depois de Luin”.
Antes de Luin havia tido uma época de trevas. Os servos de Lúcifer estavam espalhados por cada canto do mundo de Nionda. Pessoas eram obrigadas a trabalhar sem motivo. Simplesmente para a diversão de Lúcifer.
Então chegou o grande cavaleiro: Brandor Luin, o homem de Cristal. Ele exilou Lúcifer em local que os religiosos de Nionda chamam de “Inferno”, e assim restaurando a paz no mundo em nome de “Deus”.
E assim a família Luin é venerada a cada geração com o título de “Salvadores”. E Artorios... Artorios era um “Salvador”, defensor de Nionda em nome de Deus.
***
Altar retirou a faca do crânio do Nojentinho e limpou nas vestes do morto, e tirou a sacola de moedas do bolso dele. Olhou para a garota e retirou as correntes. Ela continuou no mesmo lugar.
- Diga-me belezinha... – disse Altar - Qual seu nome?
- Não tenho... – respondeu a voz feminina mas determinada da garota
- Não tem?
- Nunca tive o prazer de ter minha mãe para me chamar pelo nome.
- Hm... Então seu nome a partir de agora será... “Prilore”.
- Sim.
Altar a agarrou e apoiou no ombro fazendo questão de segurar a intimidade da garota. Levou até uma banheira no fim da sala e a banhou.
Com o corpo já limpo Altar pode ver como a garota era realmente linda.
Seu corpo tinha curvas perfeitas pelo seu corpo branco. Quadris largos, mas nem tanto. Tinha uma ínfima pinta preta do lado de seu umbigo perfeito. Seus seios eram fartos, redondos e corados parecidos com pêssegos, destacando seu bico rosa.
Seu cabelo era negro como a escuridão da floresta, começando liso pela raiz e indo até o meio de suas costas, onde encaracolavam. Seus olhos eram verde brilhante como uma esmeralda iluminada pela luz do Sol e seus cílios eram bem curvos. Seu nariz era a perfeição: fino, mas não tanto, e também era pequenino, mas não tanto. Sua boca era rosa; antes devia ser vermelho, mas por ter passado fome, ficaram pálidos.
Impossível essa garota ter sido de rua... – disse Altar excitado
Prilore – como agora se chamava – olhava para o lado evitando o olhar sádico de Altar
Altar saiu de perto da banheira e foi ao mercado de Tir’Rafer buscar comida. Voltou e encontrou Prilore dormindo com a cabeça repousada nos ombros, ainda dentro da banheira. Altar a acordou de leve e deu a comida para ela, que comeu como se não comesse há dias.
Rapidamente a cor de seus lábios se tornou vermelho sangue. Altar não agüentou a excitação.
Agarrou-a bruscamente e a jogou em uma cama. Desafivelou se cinto e arriou a calça e forçou Prilore a fazer sexo com ele.
***
Araell chegou até a Fonte dos Mercadores. A pessoa perto do porto disse que se chegasse a Fonte ele já tinha passado, mas não viu nada que se parecesse com uma base da Ordem. Olhou a sua volta e só viu as construções costumeiras de Tir’Rafer, e o garoto do barco dividindo um pedaço de queijo com um mendigo raquítico. O instinto de Guarda da Ordem, dizia para ir lá e cortar a mão do garoto, mas viu que o garoto era bom, por isso o deixou em paz.
Logo em frente ao garoto, tinha uma casa diferente das outras. Viu uma placa:
Bem Protegido
De inicio achou que era uma simples loja de armaduras, mas depois se concentrou no símbolo.
A Ordem é terrível... – pensou rindo
Os quatro diamantes negros era o símbolo secreto da Ordem, usado na época em que Brandor Luin fundou secretamente uma sociedade de rebeldes para lutar contra as trevas. Descobertos por um traidor, a sociedade foi quase dizimada, mas não deixou de existir. Brandor arrumou um jeito da sociedade ainda existir criando esse símbolo secreto. Todos os membros gravavam esse símbolo em algum lugar: detalhes de lareiras, enfeites, maçanetas, portas... nada chamativo.
Quando Brandor ficou conhecido e aclamado com Salvador, esse símbolo acabou deixando de ser visto, pois não era necessário mais ser tudo às escondidas. E a sociedade dos rebeldes virou a Ordem: o exército de Nionda a serviço do Salvador e de Deus.
Entrou na loja de armaduras observando o ambiente. Era uma das poucas casas comercias de comerciantes ricos de Tir’Rafer. Tudo bem limpo e lustrado. As armaduras bem feitas brilhavam de limpas. Chegou perto do balcão e tocou um sino. Enquanto esperava, olhou pelo portal que tinha do outro lado do balcão. Uma porta continha novamente o símbolo da Ordem, e rapidamente ela se abriu.
- Em que posso ajudá-lo? – perguntou um homem baixinho e barbado. Se Araell nunca tivesse visto um dwarf na vida, juraria que ele era um.
Araell apontou para o símbolo na porta e simplesmente disse:
- A Ordem.
O homem pareceu espantado.
- Qual seria seu nome?
- Araell, filho de Kamino.
- General Kamino?
- Sim.
- Com licenças – disse o homem e entrou rapidamente pela porta. Araell ouviu uma escada ranger e depois uma discução abafada. O homenzinho pôs a cabeça pela porta e disse:
- Estão te esperando.
Araell pulou o balcão e caminhou até a porta.
- Me acompanhe por favor – disse o homem e desceu uma escada de madeira em espiral. Estava escuro e úmido quando chegaram ao fundo. Uma porta de pedra estava a gente deles. Araell esticou a mão para abrir.
- Não! – exclamou – Isso é uma armadilha... é por aqui.
Ele se agachou e retirou uma pedra solta do chão e Araell viu uma maçaneta. Ele girou e o chão se abriu em um alçapão imperceptível.
Desceram mais uma pequena escada e Araell viu uma sala mal iluminada. Uma mesa bem detalhada se encontra no centro do cômodo e um homem com a face marcada por cicatrizes comia uma coxa de peru vorazmente.
- Sente-se Araell – disse a voz rouca e grave do homem, que apontava para uma cadeira a sua frente.
Araell se sentou levemente na cadeira almofadada.
- Bom Araell. – disse se levantando e jogando o osso no lixo – Meu nome é General Brontos.
- Prazer senhor – disse Araell estendendo a mão e Brontos a apertou
- Eu que tenho o prazer de conhecer o filho do grande General Kamino, que expulsou os Trolls de nossas terras.
- Eu não tenho orgulho senhor.
- Eu tenho ciência que você foi feito de prisioneiro dos Dwarfs pôr três meses.
- Claro – disse Araell dando um riso – Meu pai ao expulsar os Trolls, fez com que metade deles fossem para Dwacatra.
O general pareceu se divertir e deu um gargalhou como um trovão.
- Como eles foram? Hospitaleiros?
- Me botaram numa cela com um Dwarf com fome.
- E?
- Ficou mordendo minha perna.
Novamente o general riu.
- Deus...! – rugiu limpando as lágrimas dos olhos – Como você saiu de lá?
- O rei maluco lá me botou para lutar com um dos trolls. Eu venci, eles me veneraram e para eles eu sou “Araell, o matador de Trolls”...
Ficaram jogando conversa fora por um tempo. O general mandou o homenzinho servir um copo de cerveja para cada um e então Araell disse:
- General, por que me chamou?
- Eu ia falar disso agora... – disse tornando seu tom de voz mais sério – Está a par da situação do príncipe Artorios?
- Além de ser um privilegiado? Não.
- Ele fugiu de Vânia à uma semana.
- Mas eu acabei de vir de lá... à... uma semana...
- Exatamente. Os guardas dizem ter visto uma corda vinda da janela do quarto da cozinha descendo até o chão.
- Se fosse do quarto dele, imagine o tamanho da corda...
- É... – disse Brontos rindo - ... mas de qualquer forma: o nosso rei; longa vida ao Salvador; ordenou que o achássemos.
- Tem noção dele onde ele possa estar?
- Sim. Aqui em Tir’Rafer. O professor do príncipe disse que o garoto era fascinado por essa cidade, onde se deu origem ao nascimento de Brandor Luin, e que ele queria um dia morar na cidade.
- Nossa... trocar aquela vida por essa é barra...
- Não é. O garoto está na fase de escolher a mulher.
- Mas ele tem apenas 14 anos! – espantou-se Araell
- Ele tem que se casar o mais cedo possível... e diga-se de passagem: as garotas que são escolhidas são... você sabe...
- Incrivelmente lindas.
- É.
- Então o senhor quer que eu o procure e leve de volta a Vânia?
- Exato. Já viu o garoto?
- Nunca senhor... só a sombra dele no alto da torre no Dia da Veneração.
- Aqui tem uma pintura enviada pelo palácio.
Disse isso e tirou um pano de cima de um quadro e segurou para Araell ver.
A pintura mostrava um garoto de aproximadamente 16 anos, com ombros largos e cabelo negro. Seus olhos fitavam o pintor com superioridade que chegava a intimidar. Sua pele era branca bronzeada. O garoto se apoiava em um escudo com o brasão da família Luin: Um grifo segurando dois chifres curvos.
Eu não acredito! – pensou – O garoto do barco!
- Vou buscá-lo senhor.
- Vá com Deus, Araell. Ao encontrá-lo traga-o aqui.
- Sim senhor.
Então Araell foi acompanhado pelo homenzinho até a entrada da loja. Ele saiu e procurou onde ele estava quando entrou. Já tinha ido embora.
Maldita cidade! – pensou e começou a busca