Capítulo X
Um Pouco de Peste
Onde as forças da natureza se mostram minimas perante a vontade do homem, Ele dá as caras e Jack descobre o chão.
- Só me deixe cinco minutos a sós com ele em uma salinha trancada – Falei para Alia, enquanto ela me puxava como se eu estivesse tendo um ataque psicótico – De preferência com um porrete.
- Sério Drago, você está pirando! – Reclamou Jack que nos acompanhava – Mi é um pouco estranho, mas é um cara legal!
- Pois esse cara legal vai morrer e ninguém nunca mais vai achar os restos dele... – Protestei novamente.
Estávamos andando pelos corredores de Venore apressadamente, em direção ao depósito. Alia nos convencera à sair caçar, e íamos pegar nossos equipamentos. Ao chegarmos ao depósito, Alia teve um ataque de histeria ao ver uma garota de sua idade, alta, de cabelos louros e olhos castanhos. Trajava uma saia alaranjada e uma armadura de combate dessa mesma cor.
- Pessoal esta aqui é Zynara! – Falou Alia empolgada ao rever sua melhor amiga.
- Olá – Disse Jack se aproximando de Alia – Sou Jack Sparrew...
- Jack cala a boca – Retruquei ao ver a cara de bobo dele – Sou Drago Aaril, muito prazer.
- Vejo que já conheceu novas pessoas, não é Zynara? Como vai Alia? – Disse um homem atrás de nós. Era alto, tinha cabelos castanhos e parecia ser muito forte. Usava uma manta alaranjada sobre o corpo. Parecia muito sério.
- O-oi Zeffyx... – Gaguejou Alia ao ver o irmão de Zynara. Aparentemente ela não gostava dele apenas como amigo...
- Zé! – Falou Zynara surpresa – Não esperava te ver aqui hoje!
- Até que enfim achei vocês – Falou uma voz atrás de Zeffyx, subindo a escadaria. Viramos-nos para ver Samuca com olhar penetrante – Mi quer ver vocês agora na taverna.
Decididamente, a taverna me chamava nesse dia cheio de surpresas. Desci a escada de mármore junto com os outros até chegarmos ao andar da taverna, que estava bem diferente do normal. Várias cadeiras de madeira comum haviam sido espalhadas pela sala, um grande palco fora armado com um painel atrás. A taverna, lotada de pessoas, mais parecia uma sala de reunião. Sentamos-nos em uma fileira bem no meio.
- Caros irmãos e irmãs – Falou uma voz muito conhecida. Repentinamente, Mi subiu no palco, carregando vários pergaminhos – E com grande desprazer que os chamo aqui hoje. Mas infelizmente, nossa líder, Ders, me enviou uma carta, revelando sua situação em Thais.
Demorei em entender que era uma reunião dos Cavaleiros Sombrios. Mi continuou com um olhar sinistro.
- Segundo essa carta, escrita por aquele que conhecemos como “Druid”, Thais estaria sendo vítima de um ataque. Uma peste, na verdade. Uma peste de ratos.
O salão explodiu em risos. Mi nos chamara para isso? Para sair caçar ratinhos?
- Calem-se! – Gritou Mi – Esses ratos são diferentes de tudo que já vi. Eles parecem ter um estranho veneno poderosíssimo. Ao receber uma mordida, o veneno penetra em sua pele. E não para até você morrer. Ders precisa de ajuda em combate. Peguem suas coisas. Vamos caçar.
Com um grupo de mais de vinte pessoas, partimos em direção à Thais. Levávamos runas, suprimentos, equipamentos, e acima de tudo, medo de morrer. A viagem a pé duraria dias. Poderíamos jamais chegar em tempo. Mas não iríamos desistir.
Depois de três dias de caminhada sem parar, chegamos a Thais. A cidade estava repulsiva. Esgoto por tudo que é lado. Corpos atirados em todas as direções. Sangue na estrada. Estávamos em frente à loja de Xodet, perplexos com o que uma simples invasão de ratos poderia fazer.
Ouvimos um ruído. Pegamos runas de bolas de fogo e nos preparamos para o combate. Dividimos-nos em grupos e saímos analisar a situação. Eu, Alia, Jack, Zeffyx e Zynara caminhávamos em direção ao depósito, quando um grupo de dez ratos saiu das sombras dos prédios e partiram para o ataque. Nos pegaram desprevenidos. Do nada, uma bola de energia azul engoliu os ratos e os desintegrou.
- Se não fosse eu – Disse um homem alto. Usava um robe negro que lhe cobria todo o corpo. Tinha cabelos negros e uma expressão acolhedora.
- Mano! – Disse Jack ao ver Druid, seu irmão – Onde está Ders?
- Na loja de Gamel. Os ratos parecem estar saindo de lá. – Ele disse – Que bom ter reforços. Ei, quem é você? Nunca te vi antes! – Disse Druid olhando pra mim.
- Sou Drago. Drago Aaril. Entrei na guilda... Hoje...
- O druida... Sei. Bom saber que temos mais druidas por aqui... – Ironizou Druid.
Druid era apenas um pseudônimo. Seu nome verdadeiro ninguém sabia. Ele nos levou até a loja de Gamel, que ficava em frente ao depósito. Dentro da loja, estava uma mulher muito bonita. Usava uma armadura roxa e branca, calças rosa e botas cor-de-vinho. Tinha cabelos rosas e uma expressão de cansaço. Ders de Candia, a líder da guilda Cavaleiros Sombrios parecia cansada de tanto lutar.
- Tentei... Parar... Ratos... Fortes... – Falava ela respirando com dificuldade.
- Foi mordida? – Pediu Druid preocupado.
- Claro que não, não sou burra! – Reclamo Ders recuperando o fôlego – Alguém tem que descer e ver a situação!
- Eu vou – Falei instantaneamente. Nem sei porque – Em Rook eu sempre descia primeiro nas cavernas.
- Drago, não sei se é uma boa idéia... – Protestou Alia.
- Alia, eu quero ir. Quero ser útil. Quero fazer a diferença dessa vez...
- Alia – Disse Druid olhando para a escadaria que levava ao subsolo – Ele sabe o que quer. Cuidado Drago. Não deixe que te mordam!
- Ok.
Eu desci a escadaria com um pouco de temor. Acendi uma tocha para iluminar o local, que estava muito escuro. Podia ouvir os ratos caminhando pela escuridão. Se esfregando nas paredes. Esperando o momento certo para pular em cima de mim e dar o bote. Qualquer movimento brusco que eu fizesse, pior seria para mim. Para coroar, pude ouvir passos atrás de mim.
E a pessoa que produzia estes passos falava. Sussurrava. Logo que começou a falar, pude reconhecer aquela voz. O que ele fazia ali? Estava pondo em risco nossas vidas. Ouvi os ratos se aproximarem. Merda! Eles e preparavam. Senti algo roçar em minhas pernas.
Era peludinho e parecia ser macio. No momento seguinte, tudo veio abaixo. Ouvi um som de roupas rasgando. Pude ouvir um grito de dor e senti um jorro quente de sangue voar contra minhas pernas. Girei os calcanhares e gritei antes mesmo de ver Jack cair.
***
Não muito longe dali, na biblioteca de Thais, um homem encapuzado abria a porta que levaria à sacada. Havia outro homem ali. Ambos passaram a olhar o desespero na loja de Gamel.
- Saiu como planejado - Disse o homem que acabara de chegar.
- Suspenda o ataque - Disse o outro.
- Sim, meu senhor.
