Voilá.
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Capítulo IV – Espreita na Parábola (x)
Duas almas realmente desejadas observavam calmamente a espreita de uma parábola. Era algo abstrato a cerca de dez metros dos dois. As duas tituladas almas eram dois guardas elfos, de rostos sóbrios e cansados. Ao reparar um movimente ao léu, um se vira ao outro e resmunga:
- Vá olhar! - o outro reagindo ao alarde apenas bate continência e confirma:
- Tá.
Sumindo entre as vigas de aço. O que sobra fica a olhar à parábola, sem notar qualquer movimento ao seu redor. Eis que surge um rapazola de um metro e pouco vestido de vermelho, caminhando como um zumbi, sumindo e aparecendo nas sombras, como um assassino. Talvez até fosse um. Escalou com dificuldade a última viga ao lado da parábola, dobrou-se entre a da direita e a da esquerda, e por fim saltou dois metros caindo em cima do alçapão de metal, fazendo um barulho tremendo. “Put* que pariu!” pensou o garoto agora volvendo para sua esquerda com cara de poucos amigos.
O guarda obviamente notou o barulho e correu ao ponto de tal deparando-se com o moleque a zelar por seus pensamentos. O respeitoso elfo desembainhou uma espada de tamanho descomunal, assustando o garoto que agora perdera por completo a noção do que havia feito. Apenas olhava firme ao punhal que tinha ao bolso, lutava entre o pegar e não pegar. Por fim, pegou. Deu um passo rápido e fincou-o no peito do guarda. O atingido por sua vez, largou sua arma e lançou sua mão a junto do peito, olhando para a quantidade de sangue que despejava.
O Assassino colocou seus olhos verdes a contemplar o que havia feito, depois com tremendo nojo do sangue do punhal soltou-o sobre a viga. Movimentou-se agilmente sobre as duas extremidades do alçapão e subiu até a superfície dando de cabeça no teto de ferro.
- Ai! – rapidamente colocou sua mão na cabeça e começou a massagear a nuca – hoje não é mesmo meu dia – chegando ao cume, empurrou a última grade que o separava do telhado.
- Você demorou Gabriel.
- Minhas humildes desculpas...
- Não me venha com seu deboche.
Quem o falava era um de sua espécie. Agora com luz da lua via-se finalmente sua raça. Era um humano. Essa raça dava nomes estranhos a suas crias, tais como o já citado Gabriel. O falante a espera era Namurukak, um meio-elfo famoso por suas grandes “jogadas” – seus saques à meia noite.
Eram trambiques, algo que Namu (chamaremos o assim) havia arrumado aos portos de Ab’dendriel. Era simples fazer aquilo, segundo os mesmo – Fácil até demais – cantava ele, gabando-se da própria habilidade. Namu era filho de elfa prendada, já seus traços paternos eram fracos e sem influência. Desde bem pequeno já apresentara formidável habilidade para enganar pessoas. Começou furtando relógios, depois passou a roubar cargas inteiras. Praticava sua “arte” com Thrsa, amigo e grão-mestre da arte do roubo. Ficavam os dois a praticar por horas, buscavam a perfeição, pois segundo os dois devotos e artesãos da “ladronagem” a perfeição era algo de valor maior que qualquer carga. Acordavam cedo, do meditar, comiam migalhas e corriam para a fonte, ficavam tentando arrancar um do outro um níquel de praxe. Depois, cansados de praticar colocava em ação os treinos. Roubavam uma garrafa de vinho e bebiam até ficarem sóbrios e bêbados. Ao anoitecer, esticavam as pernas e fumavam um cachimbo.
Namurukak estava impaciente naquela noite. Estava ensinando suas práticas ao jovem Gabriel, ambos encarregados de furtar um objeto em questão. Surrados por mantos negros os dois haviam planejado a noite. Providos de adagas, iam tentando adivinhar do que se tratava a parábola. Não era nada de valor grande, mas parecia ser de extrema importância para o encomendador. Namu passou informações a Gabriel, dando prioridade a parábola:
- Não sai da linha, informou calmamente – se tiver que matar, parou fixando o olhar na lua. – Mata sem pena...
Subiram os dois pelas vigas exteriores, impulsionando um no corpo do outro, até chegar ao telhado, onde Namu sentou-se numa viga e ficou esperando Gabriel. Esperou até ouvir o estalar da cabeça batendo, surgindo posteriormente Gabriel reclamando do dia.
- Vamos, vejamos do que se trata! Gabriel ficou olhando o saco com a parábola, sem mesmo contar nada a Namu. Passou a mão nos cabelos loiros encaracolados e abriu uma lasca do saco.
- Será que devo?
- Ora! Abra logo isso.
Lascou parte por parte até ver o anel. Era um anel comum, de ouro lavado, sem nenhum detalhe em brilhante, porém no cume continha um pedra vermelha, mas não era rubi nem nenhum outro tipo de pedra preciosa.
- Então, o que tem ai?
- Só uma pedra, respondeu entre os dentes.
- Tou falando a verdade... Agilmente Gabriel trocou de lugar uma pedra qualquer e o anel.
- Dê aqui para eu ver.
- Depois tu vê.
Namu agora havia perdido toda a pouca paciência que tinha. Apostou no velho ditado de “ladrão que rouba ladrão tem, 100 anos de perdão”. Arrancou da mão do humano ferozmente, que foi tenaz e retrincou com fúria.
- Agora vou ver se tu falavas a verdade...
Gabriel riu discretamente enquanto o meio-elfo confirmava o objeto.
-Viu! Soltou uma gargalhada como sempre fazia – quebrou a cara - Era comum Gabriel encurtar as palavras e usar termos estranhos. Além de tudo eram normais os humanos em geral fazerem isso.
Gabriel fora conhecido entre os lugares por onde passara como “menino orvalho”. Ganhou o título por causa de sua rotina. Era todo o dia de inverno, a neve branquinha soprava a grama, tomava espaço e Gabriel acordava bem cedo e caminhava por toda cidade, explodindo o chão e as janelas como o orvalho. Os vizinhos ficavam espantados, pois com aquele frio o menino continuava a caminhar. Os mais friorentos teimavam a tirá-lo de lá.
- Saia daí menino, deixe de teimosia. Vai pegar um resfriado.
- Vou não. Sou dura na queda, respondia.
*****
Novamente Namu confirmava o objeto, e franzia a sua grande testa. Pegou a pedra na mão, observou, analisou, concluiu:
- Eu esperava ... calou-se e pensou novamente. Alisou sua pontuda e pitoresca orelha, aquilo significava que Namu estava indeciso e nervoso. “Eu esperava algo de valor maior, algo como um colar ou um anel” pensou. Franziu novamente a testa e levantou a sobrancelha, riu com a ponta da boca. Pensou na ousadia de Gabriel, nas lembranças de Thrsa, e finalmente proseguiu. – Algo como um colar ou um anel, mesmo sendo algo simples – Gabriel concordou com a cabeça.
- Sabe, interrompeu o humano – tu não se preocupa, não. Namu olhou com ternura os cabelos do jovem, mudou naquele instante os seus conceitos sobre aquele pele branca, sobre tudo que já havia acontecido entre eles – que... O problema não é nosso “mermo”, o meio elfo sorriu e fez sinal para descerem.
Os dois andaram espreitando o telhado e desceram até o fim de uma viga, assobiaram bem forte e logo uma escada se deitou a sua frente. Lá em baixo uma figura pitoresca, horrenda havia lançado o caminho. Parecia ter os músculos comprimidos ou atrofiados. Tinha pele verde musgo e era baixo, tentava falar algo, falou soluçando.
*****
Haviam duas almas caminhando floresta adentro, uma maior que a outra. O menor caminha capengando e traz consigo uma lâmina reluzente. O outro propunha uma caminhada mais ágil e com hora marcada. Dizia ao menor “Vamos, aperte o passo!”, que suava para acompanhar o outro.
O que havia acontecido era que Namurukak tinha aborrecido o encomendador que por ventura pedirá o roubo do anel e em troca recebera uma pedra qualquer. A criatura Ilum, um duende campestre (da família dos orcs e dos trasgos), anda dois passos e joga o corpo na frente do outro, como se quisesse pará-lo.
- Olha, soluçou, não vamos tão longe seguindo o rastro desse – soluçou – rapaz...
Namu fez que sim com a cabeça. Estira seu corpo no chão e ordena que a criatura faça o mesmo. Ajeita seu corpo e dorme. Lembra das broncas do encomendador:
- O sorrateiro capou.
- Sei...
- Vossa mercê nem mesmo viste o anel?
- Nada. Achei que o Gabriel falava a verdade.
O comendador era um banqueiro bem sucedido, que havia pedido o roubo do anel para dar de consolo aos anões, que raivosos haviam tomado à cidade de Ab’dendriel. Sem tal jóia a ira dos tampos seria tamanha e os elfos continuariam submissos no seu domínio. Como se um simples anel resolve-se tudo...
- Ah... prolongou o banqueiro, Vossa mercê não pode seguir as pegadas desse rato?
- Posso, mas...
- Já sei, queres dinheiro – e Namu confirmou.
E lá estava ele dormindo sob as estrelas. Cada vez era maior o ódio de Gabriel, que havia violado a suprema regra dos ladrões, imagine roubar o próprio companheiro para beneficio próprio. Os pensamentos ruins assolam Namu. Ele pensa em matar o amarelo quando vir-lo novamente. Trama toda a ação, com resgate se possível. Os pensamentos ruins arruínam a cabeça do meio-elfo, a vontade de acabar com uma vida o cobre inteiro. Rola pela grama fresca e bate a cabeça numa árvore, olha o seu topo e vê Gabriel trepado nela, atirando maçãs. Sua raiva some, agora era só alegria, limpa os olhos e não o vê mais. Chora como nunca antes havia chorado.
******
Quando um homem é posto no mundo, é como uma dádiva de Deus. Mulher nem se compara, nem na honra, nem na força. Honra. Aquela palavra: honra. Será que ele havia esquecido dela? Honra. Palavra que sempre tinha impacto, que trazia um significado, abstrato e ao mesmo tempo concreto. Honra, pensa.
- O que isso significa? Pergunta a si mesmo, voltando seu olhar ao mendigo que passa pelo beco. Honrar, honrar o que? Viver pra que? Ser o que? Trair. Pensou nessa palavra. Traição, e novamente golfou sobre o chão. Pega sua adaga, lambe o sangue estancado, e vomita. – Honrar o que? Para, envergonha-se dos ouvintes. Chora, e volta a vomitar. Quer se limpar, da traição. Mas não pode, já está com ela impregnada nele. Estaria ela? Honra. Pra quem, lembra de Namu. De suas histórias, das memórias de Thrsa contadas, dos dias frios de inverno, que clichê. A vida era um clichê, era triste, mas, era. Vomitou com força sobre o solo, queria desenvenenar a honra, que tanto teimava em pensar – Honra pra quem?
Abre um sorriso melancólico no rosto, daqueles falsos que aprendera. Embainha a adaga, joga o anel no chão e cospe. Nojento, venenoso, sem riqueza. Levanta-se, e sorri um sorriso falso. Anda dois passos, e sorri um sorriso falso. Caminha, um caminhar falso, que aprendera. Sorri, um sorriso falso. Venenoso, cospe de novo. O mendigo passa na sua frente novamente, cospe nele. “Venenoso” diz. “Repulsivo, nojento”. Sem rua fica como um estatua, sem saber para onde olhar, o que fazer, o que pensar. Pra que pensar? Gabriel pensou quando roubou o anel? Quando matou o guarda? “Pensei!” responde a si mesmo. “Queria matá-lo, quero matá-lo”. Matar a quem? “Ele”.
- Filho, comenta o mendigo. Vai comer aquilo? Aponta para um saco de camarões que havia no lixo. Gabriel diz que não, e olha com repulsa enquanto o mendigo come aquilo. Desembainha a adaga, coloca a lâmina para baixo, movimenta-se pelas paredes, se apoiando nelas. Mata, devora. Destrói a barriga daquele. O mendigo ri. Um sorriso falso. Gabriel também ri. Um sorriso falso.
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Drasty
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Responder com Citação
....mas a primeira virgula tbm é desnecessária....


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