Capítulo III - A luta dos julgados (por Fex)
Meu amor, minha vida, nas mãos de um inimigo. “Satiren lute por mim” pensei, lute, pois, também lutarei por você – Estou indo Satiren, disse calmo e cansado – aqui vou – me alcance depois, voltei meu corpo para o norte, para encontrar Arion. Satiren derrubava os anões que me atrapalhavam – nem parecia o Satiren que conheço. No caminho, quando pensava em desistir ele me mostrava o alfinete, que me animava novamente. Já estava banhado em sangue e suor, quando se virou sereno e com aparência leve.
- Fex, arrastou o machado no chão, vá – então ele girou-se num eixo perfeito, como se fosse um tornado matando todos que estavam em volta – aproveitei para fugir, passando por corpos. A batalha era próximo ao correio. Tinha cerca de duzentos metros quadrados, e eram formadas por diversos ladrilhos de cor branca, suas paredes eram cinza com toques de branco, mesclando o cambiante. O teto era vácuo, só uma cor amarela quase sem vida, no lugar ainda havia dezenas de lamparinas, postes, entre outros utensílios de luz.
Revestido o chão de sangue, consegui encontrar Arion, deitado no chão, imóvel. “Está vivo, graças a deus” pensei, mais minha cabeça logo mudou quando vi dois anões vindo em minha direção. Acorde desse sono Arion! Vamos! não quero morrer, disse como pressa, ele não respondia. Coloquei-o em meus braços, em colo, e corri por longos dois minutos, sempre ao norte. Foi inútil, culpa do peso, tropecei e cai, conseqüentemente, deixei Arion cair junto. O bando nos alcançou, logo quando perdi a esperança surgia à salvação.
- Fex, afaste-se.
(Satiren)
Era Satiren, correndo como nunca. Acertando em cheio um dos anões na barriga, que voou metros. Uma luta descomunal, o segundo apresentou-se mostrando seu machado, revestido por dente de seus inimigos mortos, era um sanguinário, “Bem melhor” pensou Satiren. Ele já veio buscando um ataque ao crânio de nosso anão que apenas desviou com habilidade, por fim Satiren deu-lhe o troco, acertando uma martelada na costela, o inimigo desmaiou de dor. - É só isso, ótimo, vamos o tempo é curto, comentou já andando. Colocou seu martelo nas costas, e mostrou-me suas mãos, colocando-as como uma escada – Vai, sobe e passe pela aquela encruzilhada, exclamou apontando para uma enorme curva mais a frente - de lá pule e pegue o inimigo por trás, use a espada que te dei.
Fui caminhando por ali, esgueirando-me pelas paredes, apertado. De lá de cima, via-se o elfos curando seus amigos com poções, e os anões colocavam os companheiros em seus ombros e os carregavam com esforço. Ajudavam no que acreditavam, não podia julgá-los, para ele eu era o vilão. “Triste, eu sempre os julgava, por isso fui castigado” comentei à minha consciência – mais não vou voltar atrás, exclamei quase num susto, obcervei novamente o cenário, já estava atrás deles, só faltava pular. “Pule” me dizia, ande pule! exclamei no clímax. Lancei-me ao chão, jogando meu corpo contra o chão, desabei no chão gelado. O inimigo estava virado, era a chance. Desembainhei minha espada, fui caminhando em passos lentos, para que não fosse percebido.
- Ataque, gritou Satiren.
Ataquei sem pena, matei dezenas de inocentes. Os que ainda conseguiam se virar, desviavam, Satiren vinha com lágrimas em seus olhos e matava os restantes. Matamos todos, era horrível, não era eu, “Não sou eu” disse para ele, que me devolveu, “Seja mais prudente e menos piedoso”, disse chorando. Cravei minha espada entre os olhos do paladino Diocese, que ainda conseguiu me dar uma martelada na nuca. Cai tonto, golfei sobre o solo. Arrisquei uma última espadada, mais não tive força, e joguei meu corpo cansado num desmoronamento, desmaiei.
***
Abri os olhos e me adentrava num quarto muito pequeno. Ainda com os olhos ardidos, analisei o local, que era muito empoeirado. A cama – a qual estava – era mínima, não tinha janelas, estava escuro, havia uma muda de diadelfo¹ sobre a mesinha. Na outra mesa viam-se duas rosas, e uma pessoa de costas. Tinha cabelos loiros e longos, em tranças que quase tocavam o plano. Possuía orelhas pontudas como as minhas, e vestia uma longa veste de seda, com retalhos. Não usava calçados e usava um colar de diamantes, preparava algo parecido com massa de pão, mas era escuro. Eram várias e não possuíam aroma, ela as preparava com muita obstinação. Colocou num prato e as trouxe a mim.
- Tome, são uvas passas, disse de olhos fechados, não a respondi. Esperei sua reação ao ver minha birra – deixe de ser pirracento e coma logo antes que sequem demais, exclamou ainda mantendo a cara de alegria.
- Uvas passas? perguntei com curiosidade.
- Sim, são uvas secas, olhei com repulsa, e puxei meu corpo sentando na cama, onde estava deitado. – está com nojo, pois não devia, são maravilhosas, são secas nos nossos lagos. Coloquei as em minha boca sedenta, saboreei por alguns segundo e engoli.
- Você é uma elfa como eu, reparei comendo com gula.
- Sim, respondeu friamente.
-
Tcs... Olhei novamente analisando o lugar, e finalmente lembrei. “Satiren, Arion”, levantando-me rapidamente da cama, abri a porta de madeira e corri por um enorme corredor. Parecia não ter fim, corri com fúria, em encruzilhadas, móveis me atrapalhavam, apareci ao fim de uma sala, dei de cara com uma porta de estatura mediana, abri-a com minhas garras e senti tocar o chão. Era grama, verde, não tinha flores, nem árvores, era noite e avistei a poucos metros dois vultos – um era baixo e parecia ter dificuldade de subir no cavalo – o outro era alto e tinha orelhas pontudas, possuía um arco e suporte para flechas, estava envolvido por uma capa longa e avermelhada. Sobrava um cavalo que parecia não ter dono, um cavalo branco realmente bonito.
- Fex! ouvi os gritos a distância – Fex, dormiu bem?
- Sim! respondi a criatura sem saber de quem se tratava – quem está ai?
- Sou eu Arion, não te lembras? Tenho ao meu lado o anão Satiren – virou-se para a esquerda e mostrou sua mão indicando a outra criatura – estou vivo, estou vivo, repetia em êxtase, eu e Satiren sobrevivemos. Corri ao encontro deles, dando um abraço em Arion, cai em prantos. Estava triste por não ter lutado com tudo, por ter caído na batalha.
- Vamos Fex! Monte no cavalo temos que ir para Ab’dendriel, olhou para mim e deu dois toques no lombo do animal, eles vem vindo, não podemos esperar! Monte!
- Adeus Efhel, gritou Satiren acenando a elfa que não entedia a ocasião.
Montei-o, ajeitei-me sobre ele, dei duas batidas e ele começou a andar. Joguei meu corpo abatido sobre seu longo pescoço, e fui assim sonolento. Cavalgamos por meio de campos, só via-se montanhas ao leste, com suas neves eternas. Nenhum rio por perto, mas éramos rodeados de muitas árvores, o ar era tão puro quanto o de cidadelas ao norte. Havia passado quatro horas desde a despedida de Efhel, e nem sinal de Ab’dendriel. Paramos em uma hospedaria a oitenta quilômetros de nosso destino.
- Dormiremos aqui pela noite, partimos às duas horas, estejam arrumados – precaveu Satiren mostrando-me o quarto aonde eu dormiria.
Fiquei acordado, olhando o teto esburacado, pensei estar delirando, levantei e fui até o corredor, dei-me conta a frente do anão, a zelar. Olhava com cara dura ao cuco, observava os movimentos, esperando qualquer erro, virou-se com sutileza, dando por minha conta:
- Vá dormir, brandiu, olhou-me com admiração e preocupação. – elfos dormem! disto eu tenho certeza – apontou ao cardeal que dormia estirado ao divã, escorri saliva por seus poros, molhando a mobília – esbocei um sorriso.
- Ah! Sós vossa mercê consegues me serenar com tanta preocupação.
- Que modos! Raios, nunca falaste assim comigo. Vossa mercê? – parecia brincar com isso.
- Devo a você minha vida Satiren, tu és meu salvador.
- Hum... passou a mão sobre sua barba, olhou para o lado depois para o outro – Você é meu amigo, não sou um herói.
- Sim você é! Satiren, o grande! Gargalhamos selando o silêncio do pequeno imóvel.
- Agora vá dormir, precisa descansar, pois irá lutar querendo ou não – recolhi-me a meu dormitório, andando vagarosamente, olhando a minha volta. Adentrei-o e lancei-me sobre o colchão duro, e adormeci. Sonhei. Algo psicodélico; havia cores, muitas. Debrucei-me, sobre uma rocha, era fria, como o homem que olhava a distância, ele ria ou sorriam, não destingi. Era barbudo, mas não era baixo, era horrendo e falava soluçando.
________
Drasty

