Depois de muuuuito tempo, retomei a história! Espero que curtam!
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O Mal Gelado
Capítulo IV - Palavras Estranhas
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O som era quase um grunhido. O chão tremeu com o que parecia ser um passo da criatura. “Utevo Lux”. E, num clarão vindo das mãos de Norberto, pudemos enxergar nosso inimigo. Não era uma visão agradável e no próximo segundo que tivemos, eu levantei meu escudo dos anōes e recebi o golpe que, provavelmente, quebraria umas três de minhas costelas esquerdas. Fui arremessada ao chão.
Sentindo o impacto em meu braço que segurava o escudo soltei um gemido, mas estava bem. Olhei para o inimigo que já havia recebido uma flechada de Charlotte eu seu braço direito que segurava um enorme machado de duas lâminas, porém nem parecia ter sentido a "pequena ferroada". Seu corpo enorme, quente e cinzento estava se aproximando da arqueira, quando me levantei e parti para cima dele com uma estocada de espada. Foi o suficiente para surpreender o enorme minotauro, mas não cheguei nem perto de ferir ele.
Os minotauros são criaturas magníficas. São fortes, resistentes e excelentes lutadores, porém a grande maioria carece de inteligência. E, para nossa sorte, nosso inimigo havia ficado confuso com minha pequena investida e agora não sabia se atacava Charlotte ou a mim. Os poucos segundos de indecisão foram o suficiente para Charlotte atingi-lo mais duas vezes, e então ele tomou a decisão de atacar ela.
Seu corpo era tão pesado que o chão tremia a cada passo. Então, antes que nossa arqueiro pudesse reagir, o minotauro a golpeou com um poderoso soco com sua mão esquerda, jogando-a contra a parede. Ao ouvir o barulho do impacto tive certeza de que ela tinha quebrado alguns ossos. Não tive tempo de pensar muito nisso, nosso inimigo partiu para cima de Charlotte que estava jogada no chão, e tive que reagir rapidamente, fui para cima dele e me joguei em sua perna esquerda tentando parar seu corpo musculoso, mas meu esforço foi em vão, e ele me jogou longe com seu braço esquerdo.
E tudo que pude fazer foi gritar: NÃAAAO!
Eu havia simpatizado com Charlotte, uma mulher digna das patrulhas de Carlin. Não queria presenciar sua morte de maneira tão brutal. O minotauro ergueu seu enorme machado, com uma fúria que nenhum orc que combati havia demonstrado. E começou a baixar, apesar de meu treinamento para batalhas, o medo falou mais forte e fechei os olhos. Foi quando ouvi as estranhas palavras da boca de Norberto: "exori frigo".
Percebi um clarão azul muito forte e quando abri os olhos vi o braço direito, que empunhava o enorme machado, do minotauro congelar. Olhei para meu irmão e ele parecia estar muito concentrado, porém um pouco exausto. Muito se fala em Carlin sobre os poderosos druidas, Padreia é uma das principais que habitam a cidade, mas não imaginava que pessoas tão pacíficas e animadas poderiam evocar magias tão poderosas. Quando vi meu irmão, percebi que sua afeição havia mudado, qualquer semelhança com um enorme urso polar não seria mera coincidência, não havia medo em seus olhos e isso me deu forças para me levantar.
O minotauro, antes aterrorizante, agora apresentava um semblante de pânico. E isso bastou, senti a força interior tomar meu corpo por completo e, percorridos os poucos passos que tinha de distância entre mim e o poderoso inimigo eu o golpeei com minha espada de maneira brutal. Meu esforço foi enorme, mas antes de cair no chão de exaustão eu ouvi o grito do minotauro e vi o enorme buraco que fiz eu seu abdômen. Ele estava muito ferido, porém ainda não completamente derrotado.
De repente, senti o chão começar a tremer. O medo tomou conta de novo, "será que são mais minotauros?" Me perguntei. Antes que pudesse ser completamente tomada por esse pensamento, eu ouvi meu irmão gritar mais palavras estranhas: "exori tera!"
E vi a terra formar um punho e arremessar o pesado corpo do nosso inimigo para longe. O barulho pareceu pedra batendo em pedra. E foi perceptível o momento em que o minotauro parou de respirar. O ambiente voltou a ficar mais frio e nosso inimigo estava derrotado.
Meu irmão correu para o corpo de Charlotte, e depois de investigar um pouco disse que ela estava viva. Nesse momento eu me levantei e vi pequenos brilhos saírem das mãos de Norberto em direção ao corpo da arqueira. Então, aos poucos, ela foi recobrando a consciência. Meu irmão havia feito alguns milagres hoje, mas eu não tinha forças para falar com ele sobre isso e muito menos ele para responder minhas perguntas. Estávamos exaustos.
Me aproximei do grande corpo do nosso inimigo e vi seu machado enorme largado ao lado. Peguei ele com certa dificuldade, era muito pesado, apesar de parecer tão leve nas mãos do minotauro. Meu irmão se aproximou e com uma faca de metal negro e muito estranho cortou um pouco do couro do inimigo derrotado. Olhou para mim e disse que seria a prova do que enfrentamos, tanto para os senjianos, tanto para nosso pedido de socorro.
Nos viramos, ajudamos Charlotte a se levantar e saímos da caverna. Nosso caminho de volta ao vilarejo foi tranquilo, apesar de lento, e voltamos com poucas respostas e mais perguntas. "Como um minotauro guardião estava em Senja?"; "De onde ele teria vindo?"; "Por que?"; "O que era o gás verde e sua origem?".
Pensaríamos nisso depois, agora precisávamos cuidar uns dos outros e manter o vilarejo calmo e em segurança.
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Spoiler do Capítulo V: Era possível ouvir passos na neve, porém não conseguíamos enxergar cinco palmos adiante. Estávamos perdidos.
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Até o próximo!