
Postado originalmente por
Ozco
De fato o desempenho do Chile é bom, no estudo que coloquei já mostra que eles são melhores tanto em volume quanto em CNCI, que basicamente é um indicador de impacto em pesquisa. Não achei realmente a informação do "20 vezes mais", acredito que seja uma hipérbole. Mas se você olhar lá, não é só o Chile que ganha da gente em relação a essas métricas na América Latina: Argentina, Colômbia e México também tem mais relevância, mesmo produzindo menos.
Como eu coloquei ali em cima, é preciso analisar e entender o que esse pessoal faz diferente da gente. E aí as causas são múltiplas, podemos discutir diversas. Alguns dos pontos apontados no segundo texto que você colocou são pontos centrais da discussão, entre outros. Posso levantar outros motivos, que giram em torno dos pontos colocados por ele:
1) o fato de produzirmos mais só que com fator de impacto menor provém da política atual do CNPq que só analisa a quantidade, sem levar em conta a qualidade.
2) o Brasil não possui uma carreira pública de Estado para pesquisador. Professores universitários são obrigados a cumprir carga de aula, mesmo tendo entrado apenas para pesquisa. O que cria uma massa de funcionários públicos que pesquisam mal e não dão aula direito. O ideal era que existissem professores e pesquisadores com cargas dedicadas. Essa era um dos pontos que o nosso ministro astronauta falava sobre antes de entrar para esse governo mas simplesmente esqueceu (decepção total).
3) sem contar as tarefas de gestão, que os professores de carreira também são forçados a ocupar.
4) a avaliação periódica em carreiras universitárias é BEM ruim.
5) não existe ajuda do Estado para parcerias público-privadas. Na verdade, ao invés de ser um ponto, o Estado atua como uma barreira para que isso aconteça.
Posso citar aqui mais uns 10. Pode ver que o negócio é complexo.
Lendo seu post, acho que você fez um confusão entre o que eu estava falando para o Legiao e o seu ponto. A pergunta dele foi se o fato dos pesquisadores brasileiros terem ideologia X ou Y era o principal motivo para a pesquisa no Brasil ser ruim. A resposta para isso é não, já que não existe qualquer indicativo que mostre que pesquisadores produzem menos por ter tal ideologia ou de que a ideologia impede pesquisas em áreas estratégicas. Uma boa parte dessa ideia, como te mostrei, vem de um preconceito que gera um falso fato, que seria "as universidades brasileiras só produzem artigos de humanas sobre pautas identitárias". Isso é mentira e é preciso ser honesto nesse ponto, até para que a gente ataque o inimigo certo.
Mas se a pergunta fosse "a falta de liberdade econômica atrapalha a pesquisa no Brasil", a minha resposta seria um óbvio sim. Se a pergunta fosse "a organização burocrática e estatal das universidades atrapalha a pesquisa no Brasil", também seria sim. Mas ainda assim, existem múltiplos fatores que precisariam compor uma política de expansão dessa área que não depende exclusivamente do Brasil se transformar na Suíça ou em Taiwan.

Postado originalmente por
Ozco
Você mesmo falou que os alunos são ruins e a mentalidade atual de ensino é terrível. Se culpa não é da influência ideológica atual então não consigo ver outra alternativa a não ser culpar o brasileiro por ser ineficiente de natureza.
Como professor, eu consigo citar uns 10 motivos para que os alunos brasileiros sejam ruins. Alguns desses eu vivenciei. O maior problema de todos é discussão frequente para quem trabalha com ensino no país, que é a
evasão e insucesso escolar. Ou seja, reprovações e abandonos. E os motivos em geral são sociais.
Por exemplo, você tem ideia de que um dos maiores motivos de evasão no ensino básico é alimentação? Aluno sem ter dinheiro para
comer durante o período de aula larga a escola! Aluno que precisa trabalhar pra sustentar a família também. Aluno que precisa trabalhar tem alto índice de reprovação. A pobreza em geral, inclusive, é o maior motivo de evasão e insucesso de alunos no Brasil. Nós temos o terceiro maior índice de evasão escolar entre os 100 países mais ricos, pelos dados do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
Dá para citar outras deficiências em escolas brasileiras, que estão ligadas tanto ao sistema de investimento, quanto à gestão. É preciso entender que estamos no Brasil, mesmo que os números de investimentos sejam expressivos, o que chega nas escolas básicas é o que resta no trajeto político do dinheiro da educação. Tem escola que falta giz, tem escola que falta funcionário, tem escola que falta carteira. O negócio é tão precário que é até ilusão imaginar que o problema pode ser algum método pedagógico. Não existe método quando o professor não consegue nem dar aula direito. Como você calibra uma métrica de alfabetização se parte dos seus professores não tem giz pra escrever no quadro?
Ou seja, nenhum desses motivos que coloquei aí é ideológico. A gente pode até concordar em dizer que um Estado menor, mais enxuto e mais eficiente poderia ajudar. Talvez, nesse cenário dos sonhos, nós nem precisaríamos dessa conversa. Mas o Brasil tem problemas socioculturais que não serão corrigidos da noite para o dia, nós não vamos acordar um dia e ter um paraíso liberal sem qualquer custo (o Chile mesmo precisou de um ditador pedófilo e sanguinário para virar esse "
mezzo mezzo" liberal/bem estar social, não sei você mas eu não acho essa uma boa perspectiva).
É preciso de trabalhar mais e idealizar menos. A eterna utopia de que "o Brasil só vai melhorar se virar a Suíça", me lembra a ideia de todo partido comunista que concorre a eleição, de que as coisas só vão funcionar com a revolução proletária. A gente tem que fazer o que dá com o que temos, senão não vamos fazer nunca.
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P.S.: existe também uma questão histórico-cultural de pouca valorização da educação formal no país, que esqueci de mencionar. Mas essa é uma métrica tão obscura e complexa pra mim que eu não arrisco dizer em qual nível de grandeza isso influencia em todo o processo.
Eu ainda chuto que esse problema está se agravando com a internet, apesar de termos agora uma das primeiras gerações de pais quem tem o percentual de graud de escolaridade mais alto em toda a história do país.