Talvez seja tarde demais para me redimir, mas me vejo no dever de vir aqui e assumir que eu estive errado durante todo esse tempo. Da mesma forma como tive o ímpeto de defender minha ideias equivocadas, venho aqui com a humildade e hombridade necessária para assumir os meus erros. E isso tudo graças a uma pessoinha que fez toda a diferença na minha vida.
Um brother meu deu uma festa privada na casa dele e me convidou. Educadamente recusei o convite, mas depois de muita aporrinhação eu cedi. Não bebo, detesto música alta e aglomerações, em outras palavras, tinha tudo para ser uma noite de merda.
A maior parte do tempo fiquei em companhia do anfitrião (meu amigo) e da namorada dele, conversamos sobre trivialidades e outras besteiras até que minha atenção se voltou a uma garota. A garota mais linda que os olhos humanos poderiam contemplar. Em parte fiquei aliviado por não ser um beberrão inveterado porque, cético como sou, começaria a achar que só era mais uma "mulher de 9 skols". Loira, olhos azuis, um sorriso transcendental que se harmonizava graciosamente com seu rosto perfeitamente simétrico, uma singularidade em meio a um mar de heresias.
Perguntei para o meu amigo se ele conhecia a garota, ele disse que era uma advogada de um escritório boutique bem famoso em Brasília. Notando meu súbito interesse pela moça, ele me perguntou se eu queria que ele colocasse ela na minha "fita". A princípio hesitei, mas como tinha tudo a ganhar e nada a perder, concordei. Ele se afastou da mesa em que estávamos, conversou com ela e outras três amigas enquanto eu ficava só de longe olhando. Depois de um tempinho de conversa os olhares se voltam para mim, as meninas com uns risinhos simpáticos e o meu amigo rindo também, mas ele devia estar rindo era da minha cara, sacana como ele é.
Ele conseguiu tirar a menina do grupinho e os dois voltaram para a mesa. Fomos apresentados, eu nervoso pra caramba e ela super simpática. Nós quatro conversamos por um tempo até que o nosso estimado anfitrião decidiu que seria melhor conversar com outros convidados. Levou a namorada junto e eu fiquei a sós com aquela loiraça.
Aí conversamos, ela me disse que advogava no escritório dos pais. Falei sobre casos que aconteceram comigo, restaurantes, comidas, viagens e, pasme, até filosofia. A menina não era só bonita como culta também. Impressionante como a conversa fluía com ela, passamos horas conversando e resolvemos dar uma volta no jardim. Talvez tenha me achado impertinente e disse a ela que ela poderia voltar para as amigas se ela quisesse mas ela disse que me achou um cara diferente e muito maduro. Que os outros caras eram imaturos demais. Ela olhou nos meus olhos, ficou perto de mim, um sorriso que só ela tem... entrei no automático, levei a mão ao lado do rosto dela e aí rolou o beijo. E que beijo, meus amigos. Deu até vontade de chamar ela de meu amor e pedir ela em casamento ali mesmo, mas como eu não queria foder o rolê, deixei quieto.
Andamos de mãos dadas como namorados, continuamos andando até brinquei que com o calor que tava podíamos pular na piscina, uma piada bem merda, mas mesmo assim ela riu e ainda disse que eu precisava da minha boia de patinho para não me afogar e eu disse que "quem precisava de boia quando se tem uma salva vidas como você". Ela fez um "Ounnn!" e me abraçou.
Acabamos trombando com o meu amigo e a namorada dele e o cara me diz "Porra, mas você tá ligeiro hein?". Conversamos nós quatro amenidades até que as amigas dela voltam meio doidas de goró e dizem que precisam ir. E essa gurias me olhavam com um sorrisinho tonto, fiquei até achando que o meu brother tinha dito para essas meninas que eu era o Príncipe de Dubai.
Trocamos telefone, começamos a sair e hoje estamos namorando. Inclusive estamos até planejando uma viagem para Dubai com esse outro casal de amigos.
Ok, então onde nesta história toda está o meu fatídico erro? O equívoco de imaginar que as pessoas são movidas exclusivamente por seus desejos luxuriosos. De acreditar no determinismo genético como senhorio exclusivo da conduta egoísta no ser humano. A vivência me mostrou que a prática pode contrariar a mais pura das teorias. E que sim, existem pessoas que podem ser belas por fora e mais belas ainda por dentro, embora as aparências gritem o contrário.
Você me pergunta com que propriedade eu digo isso? Simples, durante um bom tempo eu vim testando a minha namorada no início do namoro. Dizia que era um classe média, que fui bolsista na faculdade (e fui mesmo), que minha amizade com o anfitrião foi fruto de uma mera compatibilidade de intelectos, que apesar dos meus gastos tudo foi fruto de uma economia regrada e que exigiu muitos sacrifícios, que se ela estava querendo um namorado rico tinha se equivocado... Para ser mais convincente até levava ela para comer nessas lanchonetes vagabundas (num dia quase saí na porrada com um maluco que assediou ela). Tudo mentira. Não sou o Príncipe de Dubai, mas felizmente tenho uma condição financeira razoável. Na verdade, quem tinha se equivocado era eu. Ela disse que me achava bonito, mas que minha inteligência era o que tinha atraído ela.
Ok, discurso que TODAS repetem, pensei eu. Resolvi dar o ultimato e perguntei se ela casaria comigo no regime de separação total de bens, ela disse que fazia questão que assim fosse. Sem falar que os pais delas são sócios do escritório em que ela trabalha, ou seja, ela é bem mais rica que eu.
Eu quebrei a cara. Tive que engolir minha arrogância, disse para ela que achava que só era mais uma interesseira que se aproximou de mim porque achava que eu era mais um playboy numa festa de engomadinhos, mas que agora ela provava em definitivo que o interesse dela não era financeiro e sinceramente, estou longe do perfil típico de um chad para ela ter se atraído por um simples rosto bonitinho ou um shape de maromba.
Desculpem pelo wall of text, mas eu precisava me retratar perante todos vocês, ou pelo menos aos poucos que sobraram. Existem gurias que só querem homens bonitos e com grana? Sim! Mas eu tive o privilégio que encontrar uma mulher sublime que se apaixonou verdadeiramente por quem eu sou e não pelo que tenho. Temos gostos bem diferentes mas o que é gostar ou desgostar de algo quando se está do lado de quem se ama?
Ela não é só minha namorada, mas a maior professora que eu tive.
E me desculpem pela minha asinidade durante todo esse tempo. A vivência me ensinou que devemos ter cautela quando estamos tratando de algo tão complexo como o ser humano. Somos seres biológicos mas isso não nos torna seres robotizados que obedecem cegamente uma programação. A cegueira, na verdade, era minha. Cego por mágoas, rancores, feridas que deixaram cicatrizes. Mas o amor verdadeiro existe, e curou estes males.
Espero que este relato seja de alguma valia e possa ser um norte para quem, assim como eu, achava que o mundo era um poço hediondo de materialidades.
Paz.
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