Cara, a respeito da habilidade, eu sempre foco em deixar o imaginativo do leitor trabalhar em certas cenas, os diálogos são onde isso está mais evidente. Embora eu goste de descrever tudo, as vezes é bom deixar o leitor imaginar, de forma que ele consiga imergir com mais facilidade na história.
Redeater ficará algum tempo no manicômio, mas acredito que logo ele o deixará. E como eu disse, essa história terá um caráter mais investigativo, então não acho interessante esperar ação e sangue jorrando em breve como na história anterior. Só espero que isso não a comprometa.
E eu ainda vou ver você reclamando de personagens morrendo assim muitas vezes
Agradeço a presença irmão, tamo junto.
Vamos seguindo com o mistério de St. Olias. Esse capítulo está um pouco mais curto que os demais, mas isso é apenas um teste. Quero que digam suas impressões sobre, se devo continuar dessa forma.
Espero que gostem!
No capítulo anterior:
Redeater encontra a mulher peculiar de cabelos negros e conversa com ela. Ele tenta conseguir mais informações sobre ela com o gerente, apenas pra perceber que nem ele conhece muito a respeito dela. Quando ele decide ir atrás dela, acaba a encontrando num quarto sendo despedaçada por uma criatura estranha.
Capítulo 3 – Akumonogatari
Parte 2
O detetive se vê em dúvida.
Ele está agora no pátio do manicômio, no fundo deste, reunido com vários outros pacientes mais moderados. No dia anterior, ele entrou numa sala e viu o que parecia ser Lana sendo devorada por uma criatura enorme, mas ao invés de entrar lá, sua mente pareceu ter sido controlada, e ele foi dirigido até o seu quarto sem que ele percebesse. Quando recuperou o controle do seu corpo, ele foi até lá de novo, mas não encontrou a sala.
Desde então, ele esteve pensando no que viu. Aquilo é certamente incomum pro que ele tem lidado nos últimos anos. Parece mais um caso de um manicômio cheio de anormalidades e bizarrices, com fantasmas e ilusões esquisitas por toda parte, e não um caso envolvendo o Credo de Sangue.
Com tantas dúvidas, não resta opção senão ir ver Uldin novamente e perguntar sobre pacientes semelhantes à Lana. Ele não considera explicar o que aconteceu, entretanto.
Ao chegar na sala, ele sente uma energia estranha devorar seu corpo por apenas um segundo. No seguinte, ele percebe algo diferente lá dentro.
Uldin não está na sua cadeira atrás da escrivaninha. Ao invés disso, há um homem peculiar logo ao lado dela. Negro, de idade avançada, possui uma barba branca pra fazer, cabelo há muito vitimado pela calvície, mas mantendo-se de pé, e usa uma camisa do campo simples, junto de uma calça com suspensórios, ambos escurecidos pelo tempo. Parece um trabalhador comum do campo, mas não há motivo para alguém assim estar ali.
O detetive mantém sua aparência de Joseph, e agradece a coisa misteriosa que o fez pensar que era melhor esperar chegar na sala antes de despir-se do seu disfarce.
— Você não é o gerente Uldin. — Dispara sem rodeios Joseph, com um olhar inquisitivo.
O velho vira a cabeça à sua direção com uma expressão desinteressada.
— Talvez eu tenha me perdido um pouco.
Joseph nota seus olhos. O homem é cego.
— E você também não parece ser daqui.
— Como eu disse, me perdi um pouco.
— Um pouco? Tem certeza?
— Sim. Assim como você.
Joseph não entende direito o significado dessa resposta e decide ignorá-la.
— Onde está Uldin?
— Clark Uldin... Ele é meu amigo. Disse que ia visitá-lo hoje, mas ele saiu para a cidade. Não apareceu nenhum funcionário aqui desde então.
— Você chegou aqui sem ninguém te acompanhando?
— Conheço o caminho.
O velho começa a parecer mais estranho ainda.
— E você... É um paciente, certo? Sinto o cheiro de ervas medicinais em você. É normal aqui, já que há tantos druidas trabalhando nas redondezas.
Joseph não responde. Pensa apenas em sair dali, mas há algo de errado com o velho.
— Devo dizer que os pacientes daqui são curiosos... Eu já ouvi e senti tantas coisas estranhas vindo deles. Sussurros, lamentos, múrmuros. Pessoas sofrendo com suas próprias mentes, caçadas por fantasmas criados por suas imaginações, por devoradores de homens, e as vezes sendo pegos por esses...
O final da frase chama a atenção do detetive.
— Devoradores de homens...?
— Oh. Falei um pouco demais. — Disse o idoso, começando a caminhar até a janela, com um riso fraco e triste. Redeater se aproxima mais dele em contrapartida.
— Velho. O que quer dizer com isso?
O homem põe o dedo indicador sobre a janela, olhando para baixo.
— Devoradores... Não sei de onde me veio essa palavra. Mas sim, Joseph Kamina, há algo de podre em São Olias. O próprio Olias vomitaria ao saber o que é. Ele fundou esse lugar e morreu pouco depois, mas se tivesse sobrevivido, teria evitado as tragédias que vieram depois.
— Mas que inferno. Fale de uma vez o que você sabe, agora!
— Pra quê? Você é um detetive. É o seu dever descobrir por conta própria.
O homem desliza o dedo pelo vidro, e conforme o faz, ele se desmancha em pó, como se voltasse a ser apenas areia. Quando toda a janela desaparece, o homem também some.
Irritado, Redeater percebe que seu disfarce atingiu seu tempo limite e se desfez. Não sabe se aquele ser acabou vendo o que estava por trás do paciente conhecido por Joseph, mas o pior é ele saber que ele é um detetive.
Curioso a respeito do que o velho esteve observando desde que parou na janela, ele anda até onde ele estava posicionado antes, e tenta ver alguma coisa. O que vê é um pouco decepcionante: Trata-se apenas do gerente voltando para o manicômio, passando pelo pátio de entrada. Decide esperá-lo por ali mesmo, mas repõe o disfarce, pra evitar problemas.
No entanto, ele fica esperando por pouco mais de uma hora, chegando ao ponto de simplesmente cochilar na cadeira que pertence ao gerente.
Ao abrir seus olhos novamente, ele se vê num sonho.
Tudo que ele vê adiante é um campo vasto e verde, iluminado pela lua de uma noite intensa e sem estrelas. Há uma mulher um pouco ao topo de uma colina, próximo de onde ele está. Ela observa o horizonte melancolicamente, seus cabelos negros e longos balançando com o vento. Usa um vestido branco e fino e um chapéu de aba larga, simples, com uma rosa fixa nele. Ele não está sendo segurado por suas mãos, mas recusa-se a cair.
A mulher vira-se para a direção do detetive. Seus olhos azuis, sua expressão um pouco vazia e melancólica e sua pele clara fazem seu coração acelerar. O detetive sabe quem ela é.
Ela sorri por um momento para ele.
— Você está perto. Continue.
Redeater acorda num pulo. O por do sol dá um ar sombrio para a sala que não viu ninguém senão o rapaz nela desde o começo da tarde.
Irritado e incomodado, ele levanta-se e sai da sala a passos largos. Direciona-se até o quarto andar mais uma vez, e toma o mesmo caminho que tomou antes para encontrar Lana. Mas ao chegar lá, ele não encontra ninguém no banco, tampouco nos dois caminhos da bifurcação.
Ele tenta procurar a mesma porta de antes. Está determinado em encontrar Lana e fazer várias perguntas, e estava disposto a fazer isso hoje, se não tivesse cometido o erro de dormir em serviço. Sua raiva não o faz pensar direito sobre onde passou, então ele começa a passar pelos mesmos lugares mais de uma vez.
Ele para por um instante e tenta se acalmar. As informações que tem são escassas, e ele ainda não está conseguindo entender o que está acontecendo no manicômio. Pelo que lembra, Stanni’al mencionou que provavelmente há membros do Credo ali, mas até agora ele não detectou um sinal sequer de que eles estão por perto. Dessa forma, ele decide pensar como escapou tantas vezes dos vermelhos.
E, de repente, ele lembra-se do quinto andar.
Andando rápido pelos corredores, ele vai direto para a escada branca que leva ao quinto andar. Não encontra nada de diferente. Os corredores são os mesmos. Mas o que o detetive consegue sentir de diferente é a atmosfera, que é estranhamente pesada.
Caminhando adiante, ele toma um caminho aleatório, checando algumas portas. Encontrou alguns pacientes perturbados, que decidiu não incomodar. Havia muitos consultórios e depósitos. Achou também uma sala de reunião. Mas nada incomum.
Exceto por uma porta dupla de correr de bambu.
Vinte minutos perambulando pelo andar deram em algo. Ele encontrou o lugar próximo do extremo daquele andar, na direção norte. Não fica no final do corredor, mas é possível fitar o por do sol sombrio por trás da janela ao fundo, que ilumina vagamente o lugar. Com isso, ele se desfaz do seu disfarce outra vez e puxa a porta.
Um. Dois. Quatro. Seis.
Dezesseis. Dezenove. Vinte e três.
Trinta e oito. Cinquenta e seis.
Corpos.
Redeater engole em seco e dá alguns passos pra trás. Nunca viu cena igual. O quarto está recheado de mortos pelo chão, com uma incontável quantidade de sangue ao redor. A pouca iluminação só torna a cena mais terrível de se ver.
A vontade de botar o almoço sem gosto do manicômio pra fora surge, mas ele resiste. Ele começa a olhar para os lados, tomado por sentimentos caóticos, buscando apoio. Algo pra voltar a ser o que ele é. Um detetive frio e calculista, que não se importa com esse tipo de coisa e que pensará em como aquele quarto tem tanta gente morta e Uldin nem mesmo reparou em algo tão estranho.
Ele olha pra sua direita mais uma vez. O que vê era esperado, no fundo.
Lana, com as mãos juntas nas costas, fita-o com preocupação.
— Moço... Você está no lugar certo? Tem roupas tão peculiares que parece um nobre um pouco excêntrico. — Disse Lana, gentil e serena, disfarçando um riso.
Redeater olha pra direção do quarto e vê apenas uma porta de madeira marrom no lugar.
Ele a abre, mas vê apenas um armário de limpeza.
— Aí é o armário de limpeza... Os funcionários estão organizando algo hoje? Sua fantasia é muito legal!
Mais uma vez, Redeater respira fundo.
Próximo: Capítulo 3 – Akumonogatari III
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