Vamos começar a primeira disputa das Semifinais!
Lembrando que os textos são postados de forma anônima. Os escritores não podem dizer qual é seu texto!
Para votar, basta identificar qual a disputa e qual o texto escolhido. Todos usuários podem votar, mas apenas aqueles com uma justificativa plausível serão levados em conta. Votos de usuários fantasmas também serão desconsiderados. E lembrando que a votação popular será apenas um dos pesos da nota dos textos, e o vencedor final será decidido por membros da Equipe TibiaBR. Por último (e talvez o mais importante):
Agora, dito isso, vamos aos textos!
Luinil x kilua paladino
Tema: Goshnar
Spoiler: Texto 1O Necromante-Rei ressurge
Prólogo
Desde que Zathroth aprendeu a controlar o poder da criação, o continente sempre viveu em guerra. Alguns homens corruptos, seguindo a vontade de Zathroth, criaram a Irmandade dos Ossos, grupo que almejava a destruição. Com a criação dos Cavaleiros Pesadelo, uma ordem repleta dos guerreiros mais corajosos, a balança equilibrou-se novamente. Mas tal equilíbrio era instável, e, a qualquer momento, podia romper-se.
E foi justamente o que ocorreu quando Falnus, um dos membros dessa ordem, se corrompeu. Apesar de bravo cavaleiro, frustrava ao guerreiro ver que, mesmo com todos seus esforços, as legiões demoníacas nunca cessavam seus ataques. Decidido em acabar com quaisquer resistências que as hordas do Destruidor pudessem oferecer, Falnus infiltrou-se entre as tropas inimigas, a fim de conhecer suas fraquezas e aprender como eliminá-los completamente.
E a desgraça ocorreu quando Zathroth descobriu a trama. Irado com sua audácia, o Deus preparou uma terrível vingança. Em segredo, ordenou que Porgol, aprendiz de Arcian, assassinasse seu tutor, o Necromante-Rei e criador da Casa do Necromante. Após a alma do mago ser separada do corpo, anexou-a ao de Falnus. Com a habilidade física do guerreiro e al capacidade mágica do feiticeiro, surgiria uma figura nunca antes vista. Um combatente com enorme destreza tanto nas artes físicas quanto nas espirituais.
Dividido entre um espírito justo, e outro mal, o guerreiro passou por infindáveis torturas, ao ver que já não mais conseguia cumprir seus ideais. Incapaz de admitir a derrota, continuou a lutar contra o antigo líder da Irmandade dos Ossos, e, eventualmente, foi vencido.
Quando o espírito de Falnus entrou em estado de torpor, Goshnar surgiu. Com um corpo perfeito e uma mente ainda melhor, o novo membro da Irmandade galgou rapidamente até os cargos mais altos, ocupando, novamente, o posto de Necromante-Rei. Aliado a demônios, o necromante criou uma tropa forte o bastante para aniquilar os Cavaleiros Pesadelo. Marchando pelas Planícies Vazias, a Irmandade dos Ossos entrou em um duelo nunca antes imaginado contra os Cavaleiros Pesadelo e, após dias de batalha, com incontáveis mortes, parecia que o mal subjugaria o bem. Foi quando, em seu último ato, Falnus conseguiu recuperar o controle de seu corpo e, em meio às lutas, aniquilou vários demônios que lhe serviam e permitiu que, aos poucos, sua antiga sociedade ganhasse terreno. Covardes e ardilosas como são as forças do mal, ao verem que suas vidas estavam ameaçadas vários demônios debandaram e, como consequência, Goshnar foi morto por seus antigos companheiros.
Com o fim da batalha, o nome do local foi alterado, de modo a lembrar a todos a tragédia que ali ocorreu. As Planícies Vazias tornaram-se as Planícies do Desespero e, temerosos de que um dia o Rei retornasse, os Cavaleiros uniram-se para enterrar o caixão embaixo da Casa do Necromante e, então, selar a sala para sempre. Assim, evitariam um novo confronto contra o humano mais poderoso que já existiu. Ou ao menos era o que desejavam.
Atualmente
Local: Planícies do Desespero
Hora: 15:24
Um grupo de três amigos cavalgava seus corséis nas Planícies do Desespero, marchando impiedosamente sobre algumas Aranhas Gigantes que naquele local fizeram ninho quando, de repente, um deles percebeu uma súbita mudança na cor azul do céu para o tom rubro, ao mesmo tempo que um forte estrondo sacudiu-o de sua montaria. No instante seguinte, porém, tudo havia retornado ao normal.
— Vocês viram isso?
Perguntou Umariel. Para sua tristeza, viu Imala e Uzrim balançarem a cabeça. O elfo, apesar de não pertencer à mesma raça que Imala e outros humanos, havia se unido aos Cavaleiros Pesadelo e dominado a arte da Caminhada dos Sonhos. O fato de só ele ter percebido tal alteração foi um sinal de alerta para o jovem que, rapidamente, girou seu corcel para a direção leste, dizendo a seus amigos.
— Saiam daqui e vão para o norte! Não contem para ninguém que estive aqui e escondam-se!
Apesar de não entenderem tamanha preocupação, ambos notaram o transtorno de Umariel e imediatamente obedeceram. O elfo passou a acelerar cada vez mais e, em poucas horas, estava na Torre de Vigia dos Cavaleiros, ponto que servia de transporte entre os membros da Ordem para outros locais, por meio da Caminhada. Entrou na Torre e, usando os Portais dos Sonhos, foi encontrar-se com os líderes da ordem.
— Mestre dos Sonhos, desculpe chegar assim de repente, mas acabei de voltar das Planícies do Desespero, e acredito que Goshnar tenha ressurgido!
— Por que acredita nisso, Umariel?
— Eu estava caçando algumas criaturas malignas nas Planícies quando me deparei com alguns eventos que considero sinais. O céu enrusbeceu e um som forte parecendo um trovão ecoou. O mais estranho foi que somente eu vi o que houve, quando outros dois amigos meus encontravam-se próximos a mim.
Após ouvir tais palavras, o líder da Ordem assentiu brevemente, e, então, ordenou ao seu subcomandante
— Reúna todos os Cavaleiros o mais rápido possível. O que já havíamos previsto em sonho parece que está para tornar-se realidade. Não temos tempo a perder!
Local: Subsolo da Casa do Necromante
Hora: 15:24
— Finalmente! Aqueles malditos adoradores de Uman conseguiram prender-me por muito tempo! Mas consegui agora anular o selo que impedia minha ressurreição!
Goshnar finalmente ressurgia, com seu corpo cadavérico emergindo de seu caixão. No instante em que o selo fora rompido, o céu tornou-se rubro e o barulho de sua quebra ecoou fortemente por todos os arredores da Casa do Necromante. Mas ainda havia uma tranca a ser quebrada.
— Malditos! Não querem que eu siga para a superfície? Pois bem! Irei para os Abismos!
Gargalhava alucinadamente o insano necromante. A segunda prisão de Goshnar impedia-o de retornar à superfície do mundo mortal e, por isso, o velho mago reabriu um antigo portal que havia construído em sua casa. O portal levava aos Abismos do Inferno e, uma vez aberto, o necromante não exitou em adentrá-lo.
Local: Abismos do Inferno
Hora: 15:30
Os Sete Impiedosos, demônios arcanos que seguiam as ordens de Zathroth, encontravam-se reunidos no salão que dava acesso a seus tronos. Juntos, discutiam uma nova forma de expandir seu reino, a mando do Destruidor.
— Não sei pra que tanta discussão! Só deveríamos chegar lá queimando tudo!
— Acalma-se, Infernatil. Você é cabeça quente demais. Já fomos derrotados várias vezes por não levar os humanos a sério demais. Precisamos de um plano que engane a todos.
Disse Bazir, o Senhor das Mentiras. Naquele exato instante, uma figura decrépita surgia próximo aos Sete, relatando
— Se um plano é o que querem, é isso que vão ter. Sei como aniquilar os Cavaleiros Pesadelo de uma vez por todas.
Era Goshnar, que surgia para executar sua terrível vingança.
— E por que deveríamos te ouvir, humano?
Perguntou Pumin, Senhor do Desespero. Não era do feitio dos Arcanos negociar com meros mortais, mas a audácia daquele ser em aparecer calmamente e conversar com os Sete os havia feito esperar. Ou quase todos.
— Eu era o líder da Irmandade dos Ossos e tive minha alma presa no corpo de um antigo Cavaleiro Pesadelo. Com o conflito de nossos espíritos, subjuguei-o e consegui uma força muito maior. Mas, além disso, consegui uma importante fonte de informações: sua memória. Com isso, descobri que o centro de poder da Ordem é a Câmara dos Sonhos, local em que haviam prendido Hugo, o coelho-demônio. Se conseguirmos tomar de assalto essa prisão, eles perderão a comunicação entre eles e ficarão separados nos Salões dos Sonhos. Sem a união habitual, cairão sob nossos pés rapidamente. E eu sei onde encontra-se tal cela no plano físico.
Todos os sete mostraram-se surpresos com as revelações feitas por Goshnar. Não era novidade alguma que os Cavaleiros Pesadelo eram praticamente invencíveis juntos. Mas se suas tropas fossem separadas, seria muito mais fácil erradicá-los.
— O plano realmente parece bom. Todos concordam?
Disse Pumin, e, com a aprovação dos Sete, o Necromante assentiu, brevemente, antes de dizer:
— Sendo assim, reúnam suas tropas e preparem-se! Vamos sair em sete horas!
— Espere um pouco, humano. Qual o seu interesse em nos ajudar? O que quer em troca? Não confio em você.
Bazir, por ser o Senhor das Mentiras, era um tanto paranóico e desconfiado. Qualquer um que dissesse algo a ele provavelmente acabaria esmagado pelo Lorde acreditar que era apenas uma mentira que lhe estava sendo contada.
— Assim como vocês, sou um servo de Zathroth e quero a destruição dos Cavaleiros tanto quanto vocês. O único prazer que pretendo obter é o de aniquilar pessoalmente o Mestre dos Sonhos pessoalmente.
— Ainda não acredito em você, mas por hora aceitarei essa palavra. Ficarei de olho em ti, entretanto, humano. Não ouse nos trair!
E, com essas palavras, os Sete retiraram-se, cada um em seu respectivo trono, convocando suas hordas para o ataque.
Local: Plano dos Sonhos
Hora: 23:00
— Agora que estamos todos aqui, é hora de vos falar. Goshnar vive mais uma vez entre nós! Aquilo que havíamos esperado, enfim chegou.
— Mas Mestre… Tem certeza? Quero dizer, estamos esperando por isso há décadas! Por que logo agora?
— Não sei dizer o porquê, mas sei que assim o é. Umariel, o Elfo, notou os sinais e me avisou imediatamente. O MOMENTO QUE ESPERÁVAMOS CHEGOU! É HORA DE ANIQUILAR O NECROMANTE-REI DE UMA VEZ POR TODAS!
Exclamava o líder, gritando as últimas palavras. Incitando os colegas, logo ouviu vários urras em resposta. Quando o barulho finalmente esgotou-se, Umariel perguntou finalmente:
— Senhor, então devemos executar o Plano?
— Sim, meu jovem amigo. É a hora de fazer o que nos preparamos nas últimas décadas para realizar. Sinto que tenha que ser assim, mas trabalhamos para o bem de Uman.
E, com o fim da rápida reunião, cada um dos doze membros da Ordem que ainda viviam saíram, dirigindo-se cada um a seu próprio Salão dos Sonhos.
Local: Planícies do Desespero
Hora: 23:00
As hordas demoníacas enfim estavam reunidas na região que cerca a Casa do Necromante. À frente delas, os Sete Arcanos marchavam, com Goshnar na liderança. Com o antigo líder da Irmandade comandando o grupo, em poucas horas chegaram à entrada da caverna onde Hugo havia sido preso.
— Me aguarde, Mestre dos Sonhos! Em breve, tudo pelo que lutou estará perdido.
Dizia o Necromante a si mesmo, em voz alta. Haviam chegado rapidamente à entrada do calabouço, mas para colocar todas as tropas dentro daqueles corredores estreitos, que mais pareciam um labirinto, seriam necessárias várias horas. Após prontas, caminharam rapidamente pelos acessos retirados da memória de Falnus, chegando em seu destino final.
Local: Câmara dos Sonhos
Hora: 10:15 do dia seguinte
— Enfim chegamos! Observem como não há ninguém vigiando os portais de acesso aos Salões dos Sonhos. Há somente doze salões ativos atualmente, pelo que posso notar com minhas habilidades. Isso quer dizer que somente há uma dúzia de membros de rank superior. Entrem em cada um dos portais e, se acharam o Mestre, lembre-se! Ele é meu!
E, com essa frase, as tropas começaram a invadir os Salões e a aniquilar cada um dos oponentes. Por fim, sobrou apenas um Salão. Goshnar respondeu aos Arcanos:
— Esperem por aqui e vigiem. Caso algum membro de rank inferior apareça, sintam-se à vontade Eu irei terminar o que comecei trinta anos atrás!
Mergulhou no último portal. Após andar um pouco, encontrou com seu maior oponente.
— Enfim de volta, Talnus. Eu deveria te congratular por chegar tão longe, mas já sabia que você viria.
— Sabia, é? Então por que não nos deteve? Ou já sabia que seu fim era inevitável?
— Sim, eu sabia que viria. E sim, eu sabia que nosso fim era inevitável. Talvez agora que se corrompeu não se lembre mais, mas costumamos ter previsões por meio dos sonhos e, assim, sabemos nos preparar para o que vier.
— Eu não sou mais Talnus, imbecil. Seu antigo aliado nada mais é que um corpo físico putreficado. Eu sou Goshnar, o Rei-Necromante. E prepare-se para cair.
A voz do servo de Zathroth estava um pouco temerosa agora. Simplesmente não conseguia entender como seu adversário mantinha-se tão calmo, sabendo que seu fim já estava previsto.
— Sim, eu cairei, Goshnar! Mas não será sozinho! Você virá comigo!
O Mestre dos Sonhos exclamou uma fórmula mágica, fazendo todo o Salão brilhar.
— Já sabendo que viria aqui com os Sete e nos derrotaria, viemos estudando um modo de impedir que suas ambições fossem concretizadas. Há, nesse instante, um selamento que requer a vida dos nossos membros de elite, mas que irá banir os Arcanos e nos prenderá aqui. Sabe o que acontece com quem morre no Plano dos Sonhos? Sua consciência vagará para a eternidade, impossível de achar a paz.
No momento que seu oponente começou a pronunciar a fórmula, o Necromante reagiu, atacando-o de volta. Mas o feitiço já começava a agir e os poderes mágicos do feiticeiro não mais funcionavam. Estando em um local imaterial como eram os Salões, danos físicos ali simplesmente não ocorriam.
— Você não me prenderá aqui, é impossível!
— Não, não é! Você já está preso! Estamos presos aqui, e assim ficaremos, para todo o sempre!
Local: Torre de Vigia dos Cavaleiros
Hora: 10:45 do dia seguinte
Um a um, o corpo físico de cada um dos dez membros da ordem dispostos em dois pentagramas invertidos começava a brilhar com uma marca de selamento. Era o sinal de que suas consciências haviam sido obliteradas. No meio dos dois pentagramas estava o corpo físico do Mestre. E, nesse instante, ele começou a emitir um tipo diferente de símbolo. Era o que Umariel esperava.
— Então é chegada a hora. Adeus, meus amigos.
O elfo sentou-se de frente para seu líder, pronunciando o resto da fórmula mágica iniciada pelo seu chefe no Plano dos Sonhos. Uma vez completa, o Salão em que Goshnar e seu rival encontravam-se fragmentou-se. No instante seguinte, toda a energia acumulada dos sonhos de décadas dos Cavaleiros explodiu na Câmara dos Sonhos, obliterando as hordas demoníacas e unindo forças para banir os Sete para outra dimensão. Não voltariam tão cedo a reconstituir seus corpos. E, com toda a vitalidade e energia sugadas pelo feitiço, Umariel encontrou também seu fim.
Juntos, os Cavaleiros Pesadelo trabalharam para combater as forças de Zathroth. E juntos, pela última vez, os líderes da irmandade sacrificaram suas vidas para eliminar o mal. A outra parte do feitiço feita deslocou a prisão de Hugo, colocando armadilhas para que somente os que dominassem a arte da Caminhada dos Sonhos passassem. Assim poderiam chegar ao novo local de acesso à Câmara dos Sonhos, onde o Mestre dos Sonhos e Goshnar estariam esperando o visitante. O local tornou-se uma zona de proteção, incapaz de haver danos físicos ou mágicos. E, assim, o Necromante-Rei e seu rival poderiam convencer novas almas a juntarem-se à sua causa, revivendo a eterna guerra entre a Irmandade dos Ossos e os Cavaleiros Pesadelo.Spoiler: Texto 2A sombra de Zathroth
Lungelen lembra com amargura quando, aos cinco anos, ouviu da boca de Oldrak as palavras que a marcaram para sempre: “ele está morto”. Ah! A morte. Triste é o destino daqueles que, em devaneio, tentam buscar uma resposta, um sinal, um chamado. Viver à sombra de fantasmas, mentiras e ilusões tornou-se um ofício para Lungelen. Hoje, em seus plenos 36 anos, e ocupada com a liderança dos magos de Thais, ela continua receosa e arredia, confinada em sua biblioteca. Sua luta por respostas é o que restou de seus sonhos. E, como nos sonhos, na vida, acordamos quando menos esperamos.
— Lungelen, correio para você! — gritou Muriel, do primeiro andar. De mau gosto, Lungelen dirigiu-se ao primeiro andar. Estava terminando suas pesquisas a respeito da ligação dos periódicos ataques de orcs com a essência de Zathroth. Muriel não media esforços para atormentá-la.
— Dê-me logo isto, Muriel — disse Lungelen, irritadíssima. — Já é segunda vez só nesta tarde! Ou você toma jeito, e para de me interromper, ou contarei à Lynda que as aulas particulares dadas a ela possuem segundas intençõ...
— Desculpem-me por interromper a discussão calorosa — disse o carteiro, um anão com expressão rude —, mas Oldrak pediu que esta carta fosse dada somente em suas mãos, senhorita Lungelen. Não, você não precisa se desculpar — antecipou o anão, vendo a expressão envergonhada de Lungelen, e entregando a carta. — Tenham uma boa tarde!
— Que cena deplorável, Lungelen! Educação é o mínimo que se espera de uma senhora solteira, solitária, ciumenta... — disse Muriel, sorrindo maliciosamente.
— Cale-se! Voltarei à biblioteca e espero não ser incomodada.
Lungelen voltou apressada à biblioteca, sentou em sua escrivaninha e, com excitação, abriu o envelope contendo a carta de Oldrak. E leu o seguinte:
“Querida, Lungelen. Há mais de 30 anos não nos vemos. A terra está diferente, eu estou diferente, os sonhos tornaram-se pesadelos e os campos — secos pelo sol e pela falta de lágrimas — são um tormento para as belas borboletas que outrora as planícies — que hoje são sinônimo de destruição — recebiam em sua bem-aventurança. Mas não é sobre eu ou sobre o mundo que venho lhe contar, é sobre você. O céu está escuro, Lungelen, o sonho está acabando, e nós, emissários do conhecimento dos anciões, somos os poucos que, em meio à um universo sem respostas, buscam entender, questionar. Ele está morto, era o que pensávamos, mas nos enganamos. O amanhã pode não chegar, ou nem existir, mas o hoje, querida, está encoberto por sombras, por um vazio gigantesco. Não tema a falta de respostas, tema a falta de vida, de realidade. O tempo está passando e nossos pés nunca estiveram mais longe do chão como estão hoje. Não demore. — Oldrak”.
As respostas para tantos enigmas e questionamentos sobrevieram à Lungelen como um choque. Sua incansável busca por soluções palpáveis era um caminho sem horizontes. Não havia alternativa, Lungelen precisaria voltar às Planícies da Destruição e reencontrar seus fantasmas. Descendo apressada para os alojamentos e assuntando Muriel com a pressa, Lungelen recolheu seus poucos pertences e algumas roupas. A viagem deveria ser rápida, e o fim, incerto.
— Para onde você vai, Lungelen? — indagou Muriel, observando Lungelen por suas botas de viagem. — Não me diga que você para as Planícies da Destruição... Sei que Oldrak mora lá.
— Não é dá sua conta, Muriel — retrucou Lungelen, secamente. — Não espere por mim.
Ver a contida líder dos magos correndo pelas ruas de Thais impressionou os cidadãos e comerciantes da cidade. Lungelen sabia que não tinha tempo e, sobretudo, sabia o que tudo aquilo envolvia. Precisava empreender sua tarefa sozinha, sem alarde. Correndo para os estábulos, pegou um dos cavalos, amarrou seus pertences e correu para o seu destino.
~ ~ * ~ ~
— Rei Tibianus — disse Muriel, ajoelhando-se aos pés do rei. —Lungelen já começou sua viagem. Está tudo correndo como havíamos combinado.
— Obrigado, Muriel. Fico triste pelo fato de não termos outra saída para este impasse. A vida de Lungelen põe em risco todo o nosso continente e, por mais que eu admire sua competência, não posso arriscar a vida de meu povo — disse Tibianus, triste.
— Mande que avisem a Rainha Eloise e o Imperador Kruzak. Oldrak dará continuidade aos nossos planos. Estamos todos no mesmo barco.
~ ~ * ~ ~
Já passara da meia e Oldrak continuava impaciente. Não conseguia dormir. O templo era um refúgio seguro, mas as grandes aranhas que circulavam naquela região o tropel de seus pés provocavam um barulho que assustava até os mais corajosos dos aventureiros. A águia com a resposta do Rei Tibianus chegara há cinco dias, confirmando a vinda de Lungelen. E, pelas contas de Oldrak, ela chegaria hoje. A chuva, que incessantemente açoitava as portas do templo, abafava a conversa sussurrante e audível de Zoltan, o líder dos magos de Edron, e Avar Tar, um renomado guerreiro e herói, também de Edron.
— Eu não consigo compreender, Zoltan — disse Avar Tar, curioso. — Como a senhora Lungelen pode ser filha de Goshnar? Por que precisamos fazer isso com ela?
— Fermuba, Avar. Este é o nome verdadeiro de Lungelen — respondeu Zoltan, com seriedade. — Quando Goshnar foi derrotado e aprisionado, Fermuba foi resguardada pela Fraternidade dos Ossos, em Carlin. Lá, esconderam-na do mundo e mantiveram sua integridade física e mental. Oldrak, compadecido pelo sofrimento da menina, e sabendo do ocorrido, foi umas das últimas pessoas a visitá-la, dando-lhe a notícia da morte de seu pai. A pobre menina, que estava iniciando sua jornada, não compreendia o que tudo aquilo queria dizer, mas existem marcas que transpassam os limites da inocência, e ficam para sempre em nossos corações. Oldrak sabia o a menina carregava; o fato de ser filha de Goshnar tornava-a uma potencial inimiga dos povos livres de Tibia. Convocando as lideranças do continente, Oldrak clamou pela vida de Fermuda e, conscientes da inocência da menina frente à loucura do pai, nossos líderes deixaram-na aos cuidados do Rei Tibianus, que descobriu sua capacidade nata para a magia e instruiu-a para melhor canalizar o seu uso.
— Você ainda não me deu todas as respostas, Zoltan — disse Avar, com os olhos fixos no mago.
— Você sabe o porquê dos Guerreiros do Pesadelo lacrarem o túmulo de Goshnar, Avar? Eles queriam por fim a uma maldição que assola todo o continente tibiano desde que Goshnar veio ao mundo: descobriu-se, após a derrocada de Goshnar, que ele era a própria encarnação de Zathroth em Tibia. Isso foi descoberto devido a um dos tomos que foi encontrado em Demona, que descrevia a vinda de um “guerreiro que levantaria aqueles que se foram; que desceria do vazio e, como o mal encarnado, levaria o mundo às trevas”. E este era Goshnar, o necromante que dava vida aos mortos para que eles o servissem.
— E Fermuba, Zoltan, qual a relação dela com isso? — perguntou Avar, ainda mais atento.
— Você tem acompanhado os dias, Avar? Tem observado a escuridão que vem assolando nosso continente? Está olhando a concomitante destruição de nossa bela natureza? É ela, meu amigo. Enquanto Fermuba viver, Zathroth estará entre nós. Os sinais estão aparecendo. Como nos tempos de Goshnar, o mundo está sendo consumido pelo mal e, se isso continuar, e Fermuba chegar à sua plena estatura espiritual, Zathroth voltará e assumirá o poder.
Avar ficou branco, inexpressivo. De todas as aventuras que ele havia encarado nada havia sido tão terrível e, ao mesmo tempo, tão injusto. Lungelen, que na verdade era Fermuba, estava fadada a um destino infeliz, sem ao menos poder se redimir. Antes que questionamentos maiores tomassem conta da mente de Avar, batidas frenéticas na porta despertam-no do choque.
— Oldrak, abra a porta, sou eu, Lungelen —. As batidas desesperadas na porta eram um mau sinal. Algo estava acontecendo. Zoltan e Avar esconderam-se em um dos aposentos do templo.
— Estou indo, Lungelen — disse Oldrak. Aberta a porta, Oldrak viu Lungelen. Era uma moça bonita, com um olhar profundo, triste e curioso; um turbilhão de emoções. Sem dizer uma palavra, ambos foram ao encontro um do outro e abraçaram-se. Lágrimas caíam na face dos dois.
— Desculpe-me, querida. Eu queria ter podido lhe ajudar antes, ter podido alertara do perigo, mas é tarde demais — disse Oldrak, debulhando-se em lágrimas.
— Como tarde, meu amigo? — indagou Lungelen. — Eu recebi sua carta e entendi o que você quis dizer. Meu pai continua vivo? Onde podemos encontrá-lo?
— Aqui — disse Zoltan, saindo da escuridão e dirigindo-se para a porta. Avar vinha atrás dele, portanto uma espada e um escudo. Os dois estavam prontos para a batalha.
— Mas... —. Lungelen olhava incrédula para a cena. O que estaria acontecendo? O que Zoltan estaria fazendo ali? Antes que ela pudesse perguntar, Oldrak gritou:
— CORRA LUNGELEN! Não olhe para trás! —. Quando Oldrak disse isso, a espada de Avar zuniu e decepou um dos braços de Oldrak. Lungelen pronunciou palavras de ordem, em uma língua estranha, e uma forte explosão de energia jogou Avar e Zoltan para o canto do templo.
— Oldrak, meu amigo... —. Lungelen estava aos prantos. Oldrak respirava fundo, sua alma estava deixando seu corpo, para sempre.
— Lungelen, você é co... como um filha para mim — disse Oldrak, esforçando-se para falar. — Como eu disse na carta, o tempo está passando, e nossos pés estão muito lo... longe do chão. Não tema a escuridão, vá até o túmulo de seu pai e vingue a morte de sua família. Ser bom ou mal não é uma escolha neste momento, mas viver é. Adeus.
Oldrak suspirou pela última vez. Seus olhos estavam fixos nos olhos de Lungelen. Certa do que deveria fazer, Lungelen saiu do templo, montou em seu cavalo e cavalgou para o sul das Planícies da Destruição. Enquanto cavalgava, ouviu o barulho de várias vozes alteradas. Olhando para trás, viu que um grande contingente de homens estava perto do templo. A região nunca vira um exercito tão grande desde que o guerreiro Arieswar, um dos mais renomados aventureiros do continente tibiano, emboscara Ferumbras. Zoltan estava teleportando novos combatentes. Podiam-se ver as tempestades que a ira de Zoltan provocava. O cerco estava se fechando.
Após uma hora de cavalgada, Lungelen chegou perto da grande Casa do Necromante. Sua chegada foi saudada por uma imensa horda de mortos-vivos. Todos eles abriram caminho para sua passagem. Lungelen estava assustada, mas firme em seu objetivo. Sabia em que fenda entrar e o que fazer. Desceu do cavalo e, correndo, chegou ao buraco correto. Tendo perícia em magia, fez um gesto displicente com a varinha e abriu o buraco. Ao descer, encontrou outro local, onde marcava a entrada para o túmulo de seu pai. Após usar seu feitiço, desceu o buraco. Lá estava, em meio a uma sala, o túmulo de Goshnar, o Rei dos Necromantes. Lungelen conhecia o “preço” pelo encontro, pois há anos estudava a respeito de todas as vertentes da magia. Pegando um punhal, cortou sua mão e deixou que o seu sangue escorresse na terra em que seu pai fora enterrado. Após alguns segundo, a terra começou a se movimentar e, antes que Lungelen pudesse se defender, uma grande mão tocou seus pés. A dor. A morte. Escuridão.
~ ~ * ~ ~
— Acorde querida — disse uma voz potente e grossa. Lungelen começou a sentir seu corpo, seus pulmões encheram-se de ar. Ela estava viva. Mas o local era estranho, parecia o não ser, o nada, o vácuo, o vazio. Levantando-se com dificuldade, Lungelen olhou para o homem que estava em sua frente. Era um belo homem, aparentava ter 40 anos. Sua capa era enorme e seus trajes eram de um guerreiro.
— Pai? — perguntou Lungelen, assustada.
— Sim — respondeu Goshnar.
— Mas... Onde estamos? Eu estou morta?
— Infelizmente, sim. Precisei salvá-la do pior, da dor, da vergonha, da desgraça. Creio que já tenham lhe encontrado. Há horas você ficou deitada, tentando se adaptar. Estamos nos sonhos, querida. O não ser na verdade é. E Zathroth, o maior entre os deuses, concedeu um destino grandioso para nós.
— Não estou entendendo...
— A morte, querida, é uma provação, um aperfeiçoamento, é a plenitude em seu maior significado. Com a nossa morte, cumprimos nossos desígnios. A cada geração, Zathroth partilha seu poder com um espírito poderoso, para uma missão de construção e aprendizagem. Eu, assim como você, sou instrumento de algo maior, de algo que está por vir. Em breve, Zathroth terá sua forma terrena e corpórea novamente. Quando isto acontecer, teremos o poder, a glória e, sobretudo, a vida. Quando os Guerreiros do Pesadelo mataram sua mãe, sabendo que ela iria gerar o filho que sobrepujaria todo o Tibia às ordens de Zathroth, você já havia nascido. Nós fomos ao mundo para aperfeiçoar nossos espíritos e, como consequência, para deixarmos nosso legado a nossos filhos. Eu sei que você nutriu um relacionamento com Muriel há alguns anos. Sei, também, que ele não sabe da existência do filho que você gerou. Mas, apesar disso, você cumpriu com aquilo que Zathorth propôs e, na essência de seu filho, nascerá uma rebelião, pois nele reside tudo aquilo que foi construído por mim, por você e por nossos ancestrais. Wyda cuidará bem dele, ela é uma servidora fiel aos princípios de Zathroth e conhece nossos ideiais.
— Pai... eu... —. Lungelen correu aos braços de seu pai e, sorrindo, abraçou-o.
— Tudo ficará bem, querida. Tudo ficará bem.
~ ~ * ~ ~
Um mês depois...
— Muriel! — gritou o carteiro, pela segunda vez.
— Já vou! Já vou! — disse Muriel, que acabara de acorda.
— A senhorita Lungelen está? Tenho uma carta endereçada a ela — disse o anão.
— Que... quem? Para Lungelen? — perguntou Muriel, assustado.
— Não, para Ferumbras! — esbravejou o anão. —Já não bastasse ser preguiçoso, você é surdo também? Chame logo a senhorita Lungelen.
— Ela está morta — disse Muriel, secamente.
— Então tome esta carta — disse o anão, sem expressar emoção. — Não sou pago para entregar cartas a defuntos. Tenha um bom dia.
Muriel, curioso, logo abriu a carta e a leu:
“Cara, Lungelen, ele está cada vez mais ágil. Você não vai acreditar, mas ele caçou dois ursos, sozinho. Diferente do pai, seu filho não é preguiçoso. Com carinho, Wyda.”
Muriel engoliu o seco. Seu peito arfava. A noite não havia acabado.
Boa sorte a todos, e que o melhor texto vença!
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