Vou te falar um pouco do livro. No início, ele apresenta três pacientes fictícios. Sr. White, o típico solitário que evita sair e que está desiludido amorosamente depois de ter terminado o namoro; Sra. Green, mãe de três filhas, altamente preocupada com o bem-estar de sua família, ainda mais com a gravidez da filha, ansiosa e se sente pressionada a fazer as coisas de forma "perfeita" com o medo de tudo dar errado; e Srta. Gray, jovem de 26 anos com tendências suicidas, depressão e personalidade borderline e bipolar. Apesar dos pacientes serem fictícios, dá para se entender que são perfis comum no consultório da autora.
O segundo capítulo do livro fala sobre o modelo e teoria cognitivos da psicopatologia (pertubações que ocorrem no pensamento do paciente, segundo a terapia cognitiva, conforme escrito aqui). Descreve a conexão entre pensamentos e emoções de forma bastante breve. Resumidamente, o que pensamos e achamos do mundo e as pessoas influencia as nossas emoções e decisões, e o objetivo da terapia seria mudar esses pensamentos para resultar em emoções mais positivas.
Apresenta as três categorias de perturbação de pensamento em transtornos psicológicos: os pensamentos automáticos, crenças intermediárias e centrais. Todos estão ligados e, quando negativas, podem fazer com que o paciente tenha percepções distorcidas sobre a realidade e veja coisas ruins em situações neutras.
Usando o Sr. White como exemplo nas categorias, os pensamentos automáticos podem ser descritos como aqueles que surgem espontaneamente. White passa a maior parte do tempo sozinho. Quando é convidado para sair com os amigos, pensa "Eles sentem pena de mim", fica triste e rejeita o convite. Sr. White também procura atentamente a qualquer sinal de crítica quando numa conversação com um mulher, e qualquer desfoco na atenção por parte dela enquanto fala é interpretado como sinal de que ela "não gosta de mim" ou "ela deve pensar que sou idiota". (nas perturbações psicológicas, os pensamentos automáticos são muitas vezes falsos ou apenas parcialmente verdadeiros, por isso o terapeuta deve instruir o paciente a pensar de forma crítica e racional nesses eventos e levar o paciente a perceber que nem tudo é um sinal desastroso)
Determinando possíveis significados para tal pensamento automático, podemos começar a entender e traçar hipóteses em qual seria a crença principal/central. Pode ser "Eu sou solitário", ou "Eu não mereço amor". No livro está descrito como "Sou incompetente". Essas crenças são como o paciente se define, como ele pensa sobre si mesmo, e isso reflete em suas ações e em suas emoções. E tendo um pensamento "Eles sentem pena de mim" em cada convite recebido resulta na rejeição dos convites, que por sua vez resulta na menor possibilidade de Sr. White ser convidado de novo; e com a falta de novos convites, se fortalece a crença principal de que ele é inútil, incompetente, solitário.
As crenças intermediárias servem, basicamente, como as "regras" que um indivíduo desenvolve com o passar do tempo, que traçam expectativas a seu respeito e a respeito de outras pessoas e orientam o comportamento, geralmente sendo de proteção. Por exemplo, Mr White tem vergonha da aparência física e sente medo de ser criticado (medo de descobrirem que é incompetente), logo opta por manter as pessoas a distância para se proteger desses possíveis sentimentos negativos.
Tais medidas de proteção geralmente levam a perpetuação da crença principal. Por exemplo, um adolescente que tem a crença básica de "sou incompetente" pode optar por não experimentar novas atividades e comportamentos pelo medo de fracassar. O resultado final é que se perde a possibilidade de descobrir que existem coisas que ele pode ser bom e faz com que o adolescente realmente se torne menos efetivo, fortalecendo sua crença que de é um inútil/incompetente.
A dica prática que consigo propor é quebrar padrões de comportamento. Uma crença central negativa pode funcionar como filtro, cegando nosso julgamento e nos levando a pensar que tudo está contra nós e a ignorar informações que apontam ao contrário, fortalecendo nossa crença principal. Quando alguém te convida para sair, não interprete isso como algo que fortalece seu estado de solidão ("eles sentem pena de mim"), e vá sair. Quando você conversa com alguma menina e ela olha no celular por alguns segundos, isso não é necessariamente sinal de que você é um desinteressante, mas talvez ela tivesse que desligar algo. Quando você dá oi para alguém e tal pessoa não responde da forma alegre que você fantasiava, isso não quer dizer que você é o culpado e que tal pessoa te odeia, mas talvez que tal pessoa esteja num dia ruim. E assim vai. Vamos tentar nos ver com olhos em terceira pessoa.
(Tinha mais para se falar, se aprofundando um pouco nos exemplos e tal, mas ia ficar muito grande e me sugaria mais tempo e dedicação).