Desculpem qualquer erro tosco de português, mas nesse computador aqui tô sem o pacote com língua portuguesa não deu pro Word corrigir.
Capítulo 2 - Antenas Para o Paraíso
Era uma sala quadrada e bem ampla. Se fazia difícil enxergar o que estava no outro extremo devido à iluminação deficiente. Só havia uma lâmpada fosca no centro do cômodo e dali se expandia a única fonte de luz. No corredor apenas as sombras pairavam, ameaçando entrar pela porta e engolir o único homem que ali estava. Sentando numa modesta cadeira, ele batia os pés chatos no chão ritmadamente. Os cabelos encaracolados cobriam quase totalmente os fones de ouvido mergulhados nas orelhas.
Em volta de si estavam mais de duzentos armários, todos lotados. Escapavam pelas frestas um odor repugnante. Talvez da coisa mais nojenta que já pisou na face da Terra. Elas estavam aprisionadas nessa condição para sempre, essa era a forma de pagarem por sua estadia. E embora cada uma delas tenha nascido e vivido diferente, no fim, morrem igualzinho a todas as outras criaturas. Me imploram perdão e pedem permissão para entrar em meus jardins. Pobres seres inocentes.
O homem sentando na cadeira sentia-se sozinho e tinha medo. Não havia ninguém para trocar algumas palavras. No mundo todo, jazia apenas ele e os últimos minutos da bateria de seu Ipod. Minutos que ele deliciaria como o trago em um cigarro Marlboro ou um passeio numa BMW. Para este homem aquele aparelho era como a família que nunca tivera, um alguém que estaria para ele no momento de redenção, enquanto contava as horas para encontrar o fim da linha.
Naquele momento, o disco de folk soava como uma despedida. Daquelas mais ríspidas do que confortantes. Mas para ele ao menos era uma despedida. Sabia que o agora não existia mais e o relógio não mais regulava a hora de levantar e de deitar. Os ponteiros não contavam mais nada, a não ser seu próprio tempo.
A bateria estava quase no fim.
Uma lágrima desceu pelo rosto cheio de espinhas do homem. Ele olhou para a tela estática do Ipod e quase pediu para que ele trocasse algumas sílabas com ele. Seria pedir demais para um amigo leal e sincero. O que ele poderia dizer? “Adeus, você se fudeu”. Era o que eu teria dito. Aposto que a própria mãe do infeliz teria dito o mesmo. Um pouco mais doce, mas no fim estaria dizendo a mesma coisa. Aliás, eu nunca entendi para quê tanta alegoria com as palavras, afinal de contas, não importa quem escrevia com mais brios, na minha hora, todos foram embora. E é assim que tem que ser.
Eu tenho um pouco de vergonha e pesar sobre tudo isso. Podia ter sido tudo tão bonito, sem essas companhias de táxi e pastas de amendoim. Qual é o problema de um amendoim natural? Tem muita gente me questionando, mas eu não estou nem ai. Nunca disse que ia ser para sempre, ficam colocando palavras na minha boca. Desculpem, mas não encontrei palavras melhores: é foda.
Finalmente acabou a bateria do rapaz. Agora chegou a hora, vai chorar ainda mais e vai me pedir ajuda, vai pedir para não sofrer. O cara batia carteira, comia Fandangos e nunca parou para me agradecer pela mulherona que eu botei na vida dele. Feio para burro, vivia falando que tinha sorte. Sorte. Eles acreditam em cada coisa.
Coitado também, é só um homem. Deve estar realmente arrependido de toda a porcaria que fez. E talvez abrisse mão daquele último disco por um dia a mais. O que é que eu vou fazer? Todo mundo teve sua hora, chegou a vez dele. Só falta ele.
A luz da sala falhou duas vezes e depois apagou-se. O homem limpou o nariz sujo e passou a mão suada sobre a face. Agora na escuridão, o cheiro de morte o incomodava. Tinha se decidido, enfim. Não iria implorar para mim. Ótimo, pelo menos o sujeito é justo e viu que não fui eu que fiz besteira.
De súbito, levantou os dois magros punhos ao teto. As mangas da camiseta escorregaram e depois ficaram presas nos cotovelos. O pranto cessou. Sorte minha. Assim mesmo ele esperou sua vez, tremendo sobre os calcanhares. Eu sou justo. Sempre. Então vou ao menos dar mais um minuto para ele curtir o ar que entra pelas narinas.
Finalmente, ele pulou e balançou os braços alucinadamente. Dançava cantarolando, bêbado de pavor. Saltitava quase flutuando e já parecia livre do corpo que tinham lhe dado. Ainda não tinha aceitado o fim iminente, sem mais nem menos. Contudo, estava debochando de mim e daquele minuto adicional. Eu tive que rir.
Deus te abençoe, rapaz. E a mim também.
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