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Tópico: Ela é minha.

Visão do Encadeamento

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    Padrão Ela é minha.

    "Ela é minha" é um conto que eu escrevi um tempo atrás, não possui relação com Tibia, mas pelo que eu vi, histórias em "off" não dão problema aqui.
    ----------------------------------------------------------------------------


    Ela é minha


    Eu a vi durante as minhas primeiras férias em outro país, nos Estados Unidos, mais precisamente em Rochester, no estado de Nova Iorque, a grande maçã.
    Demorou até que eu descobrisse seu nome, Josephine Atwin, uma promissora artista plástica de 25 anos nascida no dia 25 de novembro de 1978, sua mãe quase morreu após dar a luz a esta fabulosa criatura, de cabelos dourados e olhos intensamente verdes, que conseguiram hipnotizar até mesmo a mim. Não foi da primeira vez que a vi que estabeleci contato, não até cinco anos depois, quando voltei ao país, desta vez visitando apenas Rochester. Ela tinha 30, estava para fazer 31, estava casada com um homem na faixa de 35 anos, chamava Ellis Goodman, tinha dois filhos não nascidos, ou seja, gêmeos.
    Ela nunca descobriu meu nome, ela nunca soube quem eu sou, talvez ela tenha me sentido uma vez ou duas, quando eu realmente estive perto dela, dentro de sua casa, vendo ela preparar uma omelete que não me pareceu apetitosa, para seu amado marido Ellis. Sempre achei que Ellis era um nome feminino demais para um homem daquelas proporções, gordo e forte, mais forte do que gordo, daquele tipo que jogou por muitos anos aquele esporte famoso nos Estados Unidos, como se chamava mesmo? Ah, futebol americano. Prefiro o bom e velho futebol jogado em meu país natal, a Inglaterra, aquilo sim é um esporte másculo. Bom, talvez eu goste de baseball um pouco mais do que de futebol americano, mas nada se compara ao meu futebol.
    Era 20 de novembro, faltavam cinco dias até seu aniversário, o sol não saía e a temperatura não passava de 35.7Fº, como marcava o termômetro em sua casa, ao lado do quarto do bebê, que ainda tinha apenas um berço velho, mas o bom casal Goodman estava fazendo as contas para comprarem o novo berço e alguns outros acessórios. Era um casal que estava dentro do ventre da bela Josephine Atwin, agora Goodman. Josephine Goodman, que nome idiota. Ela poderia ter sido Josephine Westminter se tivesse se casado comigo, soa bem melhor do que esse nome ridiculamente americano.
    Que rude da minha parte, não me apresentei à vocês, perdoem-me, isso não foi britânico da minha parte. Me chamo Lorde Joseph Westminster, e por enquanto isso é tudo o que vocês precisam saber.

    Agora faziam cinco anos desde que me apaixonei por Josephine, mas não desistiria até que ela fosse minha, porém, não consigo me aproximar dela mais do que uns cinco metros. Ela às vezes olha na minha direção, mas tenho certeza de que não me vê. Já passei por algo parecido quando viajei para Suíça no verão passado, e também para a Rússia no outono de 2001, mas nunca foi tão forte quanto agora.
    Como já disse, era dia 20 de novembro de 2008, decidi meu primeiro contato no dia de seu aniversário. Até lá, ia apenas olhar de longe a beleza ímpia de Josephine.
    Tentei descobrir mais sobre sua vida, tempo para mim não é um problema, então dediquei umas boas horas à isso, e descobri algumas coisas que poderiam servir de algum bem à mim. Seu pai, August Atwin, morreu em um acidente de carro no dia 23 de Setembro de 1992 e sua mãe, Caroline Atwin, sofreu um derrame no dia 21 de Janeiro de 2005, falecendo cinco dias depois, deixando Josephine oficialmente órfã aos 27 anos. Nesse dia eu estava no Egito, visitando as pirâmides e conversando com alguns amigos.
    Josephine ainda pintava quadros, e tinha uma exposição prestes à inaugurar no dia 23 de novembro em uma pequena galeria no centro da cidade.
    Já disse que havia decidido estabelecer contato com Josephine em seu aniversário, mas isso não quer dizer que antes do dia 20 eu não estava em Rochester. Fiquei em Rochester o ano inteiro.
    Josephine estava linda no festival de música em Abril, e perfeita, de um modo estranho, durante o Lilac Time no final de maio. As flores ressaltavam o verde de seus olhos, e sua pele branca como a neve a deixava mais próxima de uma deusa grega. Eu acompanhei todos os seus passo até o final do ano, todas as visitas aos Finger Lakes para dar pequenas voltas de barco, e uma ou duas mergulhadas, até decidirem que encerrariam o dia.
    Alguns de vocês podem pensar que sou um tarado, um depravado maníaco que gosta de perseguir os objetos de sua afeição, mas estão errados, prometo que contarei a minha história daqui a alguns instantes, sinto que ainda há mais coisas a se falar sobre Josephine Atwin, não Goodman.

    Foi no dia 12 de Outubro que seu marido, Ellis, recebeu uma ligação importante do serviço que o fez viajar para Syracuse. Josephine ficou em Rochester e uma amiga foi passar os dias com ela caso acontecesse algo. Foi quando agi pela primeira vez.
    Era outono, as árvores não estavam mais frondosas, mas continuavam com sua beleza, assim como Josephine. O tempo havia deixado marcas no belo rosto de Josephine, afinal de contas, a vi pela primeira vez no ano de 2003, há cinco anos atrás. Mas seus olhos, seus olhos continuavam lindos.
    Ellis deu um beijo de despedida em Josephine e seguiu seu caminho. Desta vez não fiquei com Josephine. Desta vez segui Ellis.
    Não que eu desconfiasse de algo, a ligação era realmente sobre trabalho, e Ellis jamais trairia Josephine. Ellis era o marido perfeito, o que tornava o meu trabalho um tanto quanto mais difícil, porém não o tornava impossível.
    Ellis entrou em seu Toyota e seguiu para Syracuse, e eu atrás. Quando digo atrás, não quero dizer que estava seguindo o Toyota de ellis, eu estava dentro do Toyota, sentado no banco de passageiro, apenas vendo Ellis sentir os calafrios que a minha presença causava. Ele deveria ser mais supersticioso.
    Trinta minutos depois que saímos da casa de Josephine, fiz o carro de Ellis sair da estrada e ir de encontro à uma árvore. Ellis morreu na hora, eu fiquei ali por muito tempo, pensando sobre o que havia feito, se havia ido longe demais. Concluí que era tudo parte de um plano maior, Josephine seria minha e nada iria me impedir.

    “Como isso é possível?” Você deve estar se perguntando. Primeiramente, sou imaterial, não passo de um espectro, um espírito, um fantasma. Lorde Joseph Westminster morreu há 158 anos atrás e decidiu vagar pelo mundo, conhecendo todas as suas maravilhas e encantos. E eu não sou o único, conheci muitos que decidiram vagar pelo mundo pelo mesmo motivo, ou simplesmente por medo de deixar para trás as coisas de sua vida, como é o caso dos meus amigos do Egito.
    Independente de sua crença, religião, fé, seja lá como gosta de chamar, vou falar o que sei.
    Deus não existe, muito menos Satã. O que existe é o ceifador, nós chamamos de “o primeiro”. Veja bem, o mundo que vocês chamam de imaterial é, na verdade, material demais, e assim como há o problema de lotação no mundo de vocês, há também no nosso.
    Quando um humano morre, seu espírito sai do seu corpo, até aí vocês acertaram. Nós existimos de fato. Porém, temos dois destinos, que não são céu ou inferno: vagar pelo mundo ou desaparecer. Os espíritos que possuem uma energia mais forte podem ficar por aqui, os mais fracos desaparecem.
    E por favor, não me venham comparar “energia” com “bem/mau”, por favor. Há um tempo atrás tive uma conversa longa demais com Hitler, e chegamos à esta conclusão: espíritos fortes são os espíritos que vão ser para sempre lembrados, até mesmo depois que seus corpos já viraram restos de ossos, mas Hitler teve o que merecia. Toda quinta-feira, quando o sol se põe, há uma partida quase interminável de poker com os espíritos judeus. Hitler sempre perde.

    Mas voltando ao que interessa.
    Ellis estava morto e era um espírito fraco, eu fiquei até o ceifador aparecer, tivemos uma pequena discussão, o ceifador achava que eu tinha acelerado a data da morte de Ellis, mas concluímos que não havia feito nada de errado, eu apenas estava lá na hora que aconteceu.
    A última coisa que disse para o espírito de Ellis Goodman, antes de ser jogado ao oblívio, foi “Ela é minha”.

    Eu não fui uma pessoa boa em vida, se bem que comparado à outros que conheci, deveria ser um santo. Eu matei pessoas demais, zombei demais dos pobres e cometi diversos outros atos que não gostaria de revelar, então vou falar dos que eu gosto de comentar.
    Matei crianças, velhos, homens, mulheres, gente de todo o tipo, por fim, fui assassinado por um parente vingativo de uma dessas crianças. Sinceramente, entre eu e vocês, eu deixei ele me matar. A vida parecia tão... sem graça. Quanto à minha vida após a morte, eu tive sorte, tive sorte de ser um espírito forte, que vai ser lembrado, por bem ou por mau, já que também fiz alguns atos bons.
    Graças à mim, a Inglaterra ficou livre de alguns mendigos que infestavam a cidade com sua imundice. Me chame de sádico, de vilão, de seja lá o que for, eu não me importo.
    Não, eu não fui casado e nem tive filhos, odeio essas coisas, mas depois de morto comecei a me perguntar se tudo valia a pena. 158 anos andando pelo mundo podem mudar uma pessoa como eu, e eu mudei, jamais repetiria aqueles atos, pelo menos não todos eles. E quando disse que aqueles são os casos que gosto de comentar, é porque fazem despertar em mim um dos únicos sentimentos humanos que gosto de me lembrar: Nostalgia. O outro é paixão, um que só veio a despertar em mim depois de morto.

    Novamente, voltando ao que interessa: Josephine.
    A notícia só veio uns dois dias depois, no final do dia 14 de Outubro, e Josephine não aguentou muito bem a notícia, ficou tão mal que abortou os gêmeos que estavam em sua barriga. Eu estava lá e assisti a todo aquele melodrama de gente viva. Foi a primeira vez que ela sentiu a minha presença, e seus olhos verdes continuaram lindos, mesmo no mais puro sofrimento. Sua amiga também sentiu, porém numa intensidade menor. Mulheres grávidas sentem mais coisas do que as que não carregam bebês nas barrigas.
    Josephine ficou internada por quase um mês, saiu do hospital apenas no dia 5 de Novembro, vinte dias antes de seu aniversário de 31 anos. E ela só saiu porque decidi me afastar de seu leito por um tempo, mas continuei em Rochester, dentro de sua casa, no quarto dos bebês. Não era parte do meu plano fazê-la passar pelo sofrimento de perder um filho, quer dizer, dois filhos. Mas aconteceu, não devia me preocupar tanto, eles iriam morrer em algum ponto da vida deles.
    Quando voltei para o hospital, vi que o leito de Josephine estava ocupado por uma outra pessoa, um senhor de idade, com câncer. Não tinha isso na minha época, mas parece ser algo bem difícil de ser tratado, saí de lá para não piorar as coisas.
    Eu não sabia onde Josephine estava, não sabia para onde tinha ido. Tentei visitar a casa de sua amiga, mas ela também não estava lá. A segui por uns dias para tentar descobrir onde minha amada Josephine estava. Foi no dia 20 que finalmente descobri: Josephine estava na casa de sua tia, no Upper East Side em Nova Iorque. Uma tia muito rica se você me perguntar, talvez mais rica do que eu fui.
    Lá estava ela, eu a vi do outro lado da calçada, seus belos olhos verdes, que agora estavam sem vida, mas ainda tinham o brilho de uma esmeralda, era fascinante.

    Acho que a fiz sofrer demais, não era bem esse o meu plano. Mas eu ainda tinha que concluí-lo.
    Entrei no edifício e subi junto com ela no elevador. Ela chorava, um som que não ouvia há muito tempo, porém ainda tinha a mesma significância do que quando ouvia com freqüência: nenhuma.

    Josephine chegou no apartamento de sua Tia, Erica Baxter, uma velha rica e enrugada, com uma pele de aparência asquerosa e nojenta, seu marido, Howard Baxter, um velho corpulento e careca, com mais de cem ternos iguais em seu armário. As pessoas se vestiam muito melhor na minha época, hoje todo mundo usa o mesmo tipo de terno, só muda a cor. É ridículo.
    Apesar da aparência nojenta, os Baxters eram pessoas boas e decentes, uma surpresa para mim, mas uma surpresa boa.
    Doavam para instituições de caridade, sempre em anonimato, sabiam viver com estilo e apreciavam as artes, principalmente os quadros que Josephine pintava. Seus materiais de pintura estavam no quarto de hóspedes, e de vez em quando Josephine tentava pintar um quadro, mas sempre caía aos prantos e desistia.
    Meu plano não estava muito longe de ser concluído, de um jeito ou de outro, o sofrimento que causei à Josephine seria útil.
    Cinco dias depois, no dia de seu aniversário, Josephine tomou quase um frasco inteiro de comprimidos e foi achada morta deitada sobre a cama, em sua tela de pintura, havia um recado em tinta a óleo vermelha, que dizia: “Desculpe”. Não minto que tive uma certa influência sobre ela, mas ela ia fazer isso de qualquer modo, estava nos olhos dela, nos pensamentos dela.
    Eu fiquei ao lado do seu corpo até seu espírito sair, e quando saiu, ela olhou para mim, sem dizer nada, e sentou na cama, cobrindo a cara, como se fosse chorar. Eu avisei que não ia adiantar, mas ela continuou derramando lágrimas de fantasmas pelo chão.
    O ceifador apareceu para levá-la. Meu plano era fazer ela passar por todas as coisas que deixariam o espírito dela mais forte, os gêmeos iam ser a última coisa que eu ia tirar dela, mas parece que eu me esqueci das fraquezas dos humanos.
    Tentei convencer o ceifador a fazer ela ficar, mas não parecia dar certo. Espíritos suicidas são os mais fracos. Eu sabia e ele também, não havia jeito de mascarar a situação, os outros espíritos se perguntariam sobre o fato e poderiam se rebelar, isso seria chato, o ceifador não queria dizimar todos os espíritos fortes que havia deixado andarem pelo mundo, é tudo uma questão de equilíbrio.

    Eu sei que já disse algo sobre isso antes, mas um espírito forte não é necessariamente um espírito bom, é um espírito que vai ser lembrado em grandes escalas. É óbvio que os pais e mães se lembram dos filhos que morreram, e vice-versa, mas isso é comum demais. Espíritos fortes são lembrados por pessoas que sequer os conheceram, como Poe, Lovecraft, e os nomes nos livros de história. Esses livros são a sua passagem para a eternidade. Eu conheci um cara, um espírito muito forte, que me disse que a chave para ser imortal, era viver uma vida digna de ser lembrada, algo assim. E isso se aplica às escolhas do ceifador.
    Quanto à Josephine, ela foi esquecida, dizimada pela foice do ceifador, seu espírito não tinha aqueles olhos verdes que me fascinavam tanto, portanto era inútil para mim.
    Não é a primeira vez que me desiludo com essas coisas. Lembro dos cabelos daquela loura em Berlim, dos olhos azuis daquela ucraniana, dos seios fartos de pelo menos cinco holandesas. São coisas que a gente aprende a se acostumar com o tempo, Josephine tinha lindos olhos verdes, mas eles perderam o brilho após sua morte, era só mais uma na lista de decepções. Odeio quando as pessoas me decepcionam tanto assim.
    Mas sempre fico com uma dúvida quando vejo um espírito fraco ser dizimado, nunca vou saber se os esquecidos vão para algum lugar. Eu acho que vão para algum outro corpo, é uma questão de equilíbrio. Essa é a maldição de ser eterno, você existirá para sempre como um espírito, esqueça a sensação de um abraço, de um beijo, de um soco na cara do seu inimigo, ou uma bebida com os amigos.
    Mas por mim, sinceramente, tanto faz.

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    Última edição por AbdulAlHazred; 23-12-2009 às 16:05.



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