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Categoria Off
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_______________________________________Desesperar-te
Sentado em sua mesa, diante de uma folha de papel em branco, o escritor olha para o reflexo do vazio de sua mente. Precisa escrever o conto perfeito, a história que mudará para sempre a maneira da humanidade ver o mundo.
Este texto revolucionário irá celebrar o artista em estado bruto, esta verdadeira antena universal que catalisa todo o poder da história de milhares e milhares de civilizações passadas numa única linha, numa mera vírgula, num soluço, numa pausa.
Alguém já disse que a música é construída pelas pausas. Pensou, naquela hora avançada da noite, que toda a arte, e aí incluía sem falsa modéstia seu texto, também deveria ser feita de pausas, momentos de expiração para se ganhar fôlego para nova e revigorante inspiração.
Quando tomara a decisão de se dar uma pausa e abandonar o febril exercício de associação de ideias, adormeceu...
Acordou assustado, a folha de papel em branco ainda estava lá, imaculada como a Santa Maria. Isso o aterrorizava, tanto a folha em branco quanto a ideia de violar a Virgem Maria com sua caneta.
Então se tranquilizou e lembrou que havia sonhado uma história incrível, o conto perfeito, a história que mudaria para sempre a maneira da humanidade ver o mundo.
E começou um conto assim:
Este texto revolucionário irá celebrar o artista em estado bruto, esta verdadeira antena universal que catalisa todo o poder da história de milhares e milhares de civilizações passadas numa única linha, numa mera vírgula, num soluço, numa pausa.
Alguém já disse que a música é construída pelas pausas. Penso, nesta hora avançada da noite, que toda a arte, e aí incluo sem falsa modéstia meu texto, também deve ser feita de pausas, momentos de expiração para se ganhar fôlego para nova e revigorante inspiração.
Decido conscientemente me dar uma pausa e abandonar este febril exercício de associação de ideias... Adormeceu.
Acordou assustado, a folha de papel em branco ainda estava lá, imaculada como a Santa Maria. Isso o aterrorizava, tanto a folha em branco, que se recusara a fixar suas memórias, quanto a ideia de ter violado a Virgem Maria com sua caneta.
Então se tranquilizou e lembrou que havia sonhado uma história incrível, o conto perfeito, a história de milhares e milhares de civilizações passadas numa única linha, numa mera vírgula, num soluço, numa pausa.
E começou um conto assim:
Sentado em sua mesa, diante de uma folha de papel em branco, o escritor olha para o reflexo do vazio de sua mente. Precisa escrever o conto perfeito, a história que mudará para sempre a maneira da humanidade ver o mundo.
Este texto revolucionário irá celebrar o artista em estado bruto, verdadeira antena universal que catalisa todo o poder da arte, que alguém já disse que é construída pelas pausas. Pensou, naquela hora avançada da noite, que a boa arte, e aí incluía sem falsa modéstia seu texto, deveria ser feita de momentos de expiração para se ganhar fôlego para nova e revigorante inspiração.
Quando tomara a decisão de se dar uma pausa e abandonar o febril exercício de associação de ideias, adormeceu...
Acordou assustado, a folha de papel em branco ainda estava lá, testemunha de seu desespero, contudo o que o aterrorizava era a lembrança real de ter violado a Virgem Maria com sua caneta.
Mas sua cabeça se recusava a fixar suas memórias e logo se tranquilizou, lembrando que havia sonhado uma história incrível, o conto perfeito, a história que mudaria para sempre a maneira da humanidade ver o mundo.
E começou um conto assim:
A imaculada Santa Maria é a verdadeira antena universal que catalisa todo o poder da história de milhares e milhares de civilizações passadas.
Desenhou estas linhas caprichosamente na folha de papel em branco e adormeceu, exausto com o febril exercício de associação de ideias.
Acordou assustado, não havia certeza maior do que a alvura daquela página invicta, que refletia o vazio de sua mente.
Desistiu de tentar escrever sua obra-prima e resolveu deixar seus pensamentos divagarem, rabiscando pequenos fragmentos de texto na folha de papel em branco, imaculada como a Santa Maria. Isso o aterrorizava, tanto a folha em branco quanto a ideia de violar a Virgem Maria com sua caneta. Mesmo assim, começou:
Alguém já disse que a música é construída pelas pausas. Penso, nesta hora avançada da noite, que toda a arte, e aí incluo sem falsa modéstia meu texto, também deve ser feita de pausas, momentos de expiração para se ganhar fôlego para nova e revigorante inspiração.
Decido conscientemente me dar uma pausa e abandonar a busca pelo conto perfeito, a história que mudará para sempre a maneira da humanidade ver o mundo.
Renego o texto revolucionário que pretende celebrar o artista em estado bruto, verdadeira antena universal que catalisa todo o poder da história de milhares e milhares de civilizações passadas numa única linha, numa mera vírgula, num soluço, numa pausa.
Sentado em minha mesa, diante de uma folha de papel em branco, olho para o reflexo do vazio de minha mente. Não preciso mais escrever o conto perfeito, nem a história que mudará para sempre a maneira da humanidade ver o mundo.
_______________________________________Fogo
As crianças se reuniam ao redor do velho. Fazia muito frio. Sentavam-se perto de uma fogueira, estendendo suas mãos para se aquecer.
O velho era chamado de Asíedes. A velhice lhe ensinara várias coisas, e tudo o que tinha a fazer era contar histórias. Olhou para o rosto ansioso de uns. A face denunciava que estavam esperando por aquele momento por dias.
Abafou o vento com a mão, cobrindo o cigarro que estava entre seus lábios. Acendeu um fósforo. Tragou e soltou a fumaça no meio do fogo, querendo dar um ar teatral para a história. Ia a contar enquanto fumava. Já virara um hábito.
- Minha história, como usual, deve ser levada a sério... Mas eu conto para vocês, crianças, pois a faísca de imaginação e impossibilidade já foi há muito tempo apagada do coração dos adultos. – Asíedes começou com um discurso, não saindo da rotina que mantinha há anos.
Uma das crianças, mais velha, riu. Poucas acreditariam em sua história. A maioria eventualmente esqueceria, é claro. Mas gostava de saber que ainda existiam pessoas que não estavam cansadas de ouvir seus ensinamentos. Ensinamentos do Céos, na verdade. Mas essa não é a história que o velho contaria esta noite.
Se contasse, teria que ter um grupo fixo de ouvintes. Havia meia-dúzia que sempre participava dos encontros, mas era só. Não gostava de contar o que acontecera há tantos anos. Um dia contaria, é claro. Um dia.
- Tudo começou quando o ferreiro da cidade, Elídio, começou a falir:
“Elídio fazia as melhores ferraduras que a cidade já conhecera. Trabalhava duro, o pobre homem. Lucrava pouco; frequentemente a polícia gostava de pegar algumas ferraduras emprestadas e se esquecer de devolver. Foi aí que ele começou a me visitar.
Não me lembro há quantos anos isso aconteceu, mas foi há muito tempo atrás. Eu morava no topo das colinas, e as pessoas me visitavam para receber conselhos. Muitas vezes eu as desapontava, pois tudo que tinha a oferecer eram histórias; muitas vezes elas eram inúteis.
Ia lhe contar algo que eu já era familiar com, porém meu instinto me disse para lhe contar uma história diferente... Faz muito tempo, mas a história foi mais ou menos assim:
O corvo pisa na planície aquecida, o sol ardendo no ponto mais alto do céu. Está ali a carniça de um homem.
O animal se dirige até o morto e começa a bicar a carne. Não sente remorso; é uma ave. Não sente pena nem se arrepende, pois não tem uma alma. Com isso, destrói o último homem de uma civilização extinta há muitos anos.
O corvo não tem culpa, só quis se alimentar. Alguns dias depois, algum caçador acerta-o com uma flecha.
Nunca entendi essa história, e acho que nem Elídio. Contei-a por que tinha sonhado com algo naquele dia. No meu sonho, um ferreiro olhava para um corvo e esperava que algo acontecesse. Parecia que esperava por aquilo há muito tempo, mas só descobrira alguma utilidade para o corvo agora. Só esperaria o corvo fazer o passo certo e o mataria.
De qualquer modo, depois de eu acabar a narrativa, o homem voltou para a ferraria viver sua vida. Depois de uma semana, ao sair para fumar, me deparei com algo inusitado. Havia um corvo morto na entrada da minha humilde casa.
Fiquei por muitos dias de sobreaviso, totalmente assustado. Recusei-me a sair da casa por algum tempo, até que me acalmei. Fui dar uma volta, caçar algum bicho. Havia outro corvo na porta. Tomei coragem e desci até o vilarejo.
Bati na porta da ferraria. Não obtive respostas. Puxei o facão que levava junto comigo, pois tinha medo. Muito medo. Acendi um cigarro e fui para a tecedeira para obter alguma informação. Ela gostava muito de fofocar e sempre me visitava para escutar histórias, então tinha algum débito comigo.
Naquela época, as coisas não eram tão difíceis. Eu vivia do que caçava, vez ou outra trocando histórias por favores. Se precisava de alguma calha consertada, contava uma longa história para os filhos de José. Quando passava fome, o padeiro me dava um pouco de pão, e por assim sobrevivia.
De vez em quando participava de alguma construção, caçada ou qualquer coisa que me desse algum dinheiro. Guardava a maioria, para quando ficasse velho. Do resto eu comprava algum queijo na mercearia.
Mas bem, visitei a tecedeira. Cumprimentei-a, escutei alguns elogios e tudo o mais. Me demorei um pouco. Saí da casa da mulher sabendo tanto quanto eu entrara.
Os dias passaram-se. Quase me esqueci do episódio, e já havia seguido vida. Certo dia, estava dando um raro conselho para José, quando Elídio entrou em minha casa. Estava com olheiras, o cabelo para lavar. O rosto estava oleoso e barrento. As suas unhas haviam crescido mais, suas roupas estavam em farrapos. Segurou-me pelo pescoço e ignorou meu ouvinte, arrastando-me morro abaixo.
Sinto vergonha que não consegui pará-lo, muito menos atingi-lo. Ele era forte, enquanto eu, já na época, tinha força o suficiente para levantar uma arma e só. Eu passava a maior parte do tempo sentado, se não procurando por bichos na floresta, principalmente do outro lado do rio, onde havia cervos deliciosos; lá acabava a pequena cidade e começava outro vilarejo.
Fui, sob protestos, levado para o meio da floresta. Arrastou-me até uma clareira. Havia penas de diversos animais espalhadas, esvoaçando. Uma teia de aranha se estendia sob dois carvalhos. Um crânio de abutre aberto estava caído em cima de um formigueiro. Uma poça de um líquido enrubescido prendia minha visão; perguntava-me se o sangue fazia aquele efeito corrosivo que estava acontecendo no buraco. Restos de comida e plantas medicinais também chamaram a atenção.
Ele pegou um dos ossos que estava no chão. Aproximou-se, estendeu a mão. Bateu-me na face com tacadas letais. A minha visão foi escurecendo e perdi a consciência
Uma luz veio de encontro a mim. Estendi os braços, pronto a me entregar à Eternidade humana. Naquele momento, jurei ver algumas pessoas as quais não estavam mais entre nós, por assim dizer, quando vi-me vivo. Um pouco difícil de explicar.
Era como se assistisse tudo do alto. Meu corpo, ali, com um corte no supercílio, escorrendo sangue. Uma versão pitoresca de Elídio me segurando e levando-me consigo... Escutei-o murmurar algo que não pude decifrar.
Estava louco, tive certeza. Mas tudo agora deixara de ser estável... Eu estava morto e ao mesmo tempo vivo, preso em uma dimensão entre o humano e o divino... Ou era isso que acontecia quando se morria? Divaguei.
O homem deixou um bilhete no bolso do meu eu que estava lá embaixo. Caminhou diversos minutos, embrenhando-se na mata. Onde estava, as árvores rareavam. Colocou-me do lado de um rio, meu corpo quase caindo na água. Tirou uma garrafa de bebida e pacientemente respingou em várias árvores em um trajeto de vários metros; achei no momento que ele queria fazer alguma oferenda aos deuses. Ou demônios. Olhou para trás e atravessou o leito do rio a nado. Não voltou atrás.
Senti-me sendo sugado, e com um rodopio acordei com a cabeça doída. Estava lá eu, com o nariz quase se encostando à água corrente. De tão nervoso, não conseguia parar de tremer. Quis acalmar-me. Comecei o caminho de volta para o vilarejo.
Um rugido veio da floresta. Uma face assombrosa mostrou-se pelas árvores, através da sombra. Eu ouvi o farfalhar das folhas, mesmo que não visse ninguém, e parei. Uma das árvores começou a balançar violentamente, mesmo que não houvesse vento. Acendi um fósforo. O larguei no meio de uma árvore molhada pelos respingos de álcool. Corri enquanto o fogo consumia o mato, e fiz o mesmo percurso que Elídio.
Lembrei-me do bilhete. Dei-me conta que o conhecimento enlouquecia, enquanto a cidade ardia em chamas e um uivo estrondoso se propagava. Abri o bilhete. “O fogo ardente do Sol vai acabar com todos.”.
Por alguns segundos, achei entender o significado da história que eu contara para Elídio, mas percebi que foi só uma especulação boba. Afinal, eu não havia extinguido uma civilização inteira. Acho que eu sou o corvo e que Elídio é o caçador. Mas não me preocupo tanto, afinal, o conhecimento enlouquece...”
O velho não conseguiu terminar a frase. Uma sombra parecia se estender e mostrar as mandíbulas antes de soltar um urro.
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Medieval
O cheiro perfumado do vale preenchia o local. Estavam ao oeste, onde as encostas ficavam mais íngremes e as montanhas Greor se aproximavam. Riachos afluíam para Flinfime, o rio principal que cortava o vale ao meio. Os pinheiros balançavam tristemente sob o vento leste. Seus galhos secos indicavam que o inverno não tardaria a chegar. O frio cortante também não deixava os vinte e nove homens à vontade.
Eles estavam no meio da encosta norte, perto de um rio. Um estreito caminho levava a leste e uma fenda na montanha ao norte levava a Grande Estrada, perto da entrada do vale. Era uma estrada muito pouco usada, somente na primavera ou no verão alguns fazendeiros ousavam passar por ali. No inverno, ficava intransitável.
A cena parecia inadequada, como se eles não devessem estar ali. A lua minguante iluminava parcamente o ambiente, mas o grupo não usava tochas. Estavam todos paramentados para guerra. Tinham escudos oblongos, que se afinavam na parte de baixo. Eles estavam cobertos por panos pretos, cobrindo o brasão do senhor deles. Todos tinham malha metálica, que cobria boa parte do corpo. Os elmos negros eram emplumados com penas de corvo, com protetores nasais e das bochechas. E, tanto a malha quanto a capa que todos usavam eram negras.
A maioria portava espadas, embainhadas com cuidado. Dois ou três empunhavam grandes arcos, também negros. O maior de todos, duas cabeças acima dos demais, tinha um grande machado de guerra amarrado nas costas. Pareciam tranqüilos e calmos, como se estivessem numa noite a passeio. Conversavam em voz baixa, olhando para as luzes no vale.
Por que havia luzes no vale. Fogueiras tinham sido acendidas, para aquecer os aldeões e suas famílias. As moradias se agrupavam em volta do solar de pedra, perto do rio Flinfime. A torre principal do castelo estava visível também, pois os vigias tinham acendido uma grande fogueira nas ameias, para facilitar a visualização nos campos cultivados ao redor.
Os homens pararam de conversar quando uma figura pequena apareceu ao luar, vindo correndo. Quando se aproximou, o grupo relaxou. A figura era um homem baixo, de barba cerrada, que trajava negro. Seus olhos escuros estavam brilhantes, maliciosos. Assim que chegou mais perto, um dos homens do grupo foi falar com ele.
- Reporte o que viu, Luis – falou o homem com uma voz mais fria que o vento outonal. Seu elmo tinha penas vermelhas misturadas as negras. Além da espada, portava uma adaga e uma maça de ferro presa às costas. O capacete cobria quase todo seu semblante, mas os protetores ainda não estavam fechados, revelando um nariz adunco e bochechas magras. O cabelo louro caia pelas costas largas, até um pouco depois dos ombros.
- Nenhum batedor, Jean. Nada entre nós e a vila. Eles não estão desconfiados. Se sairmos agora, podemos chegar no solar na hora marcada. Eu achei vaus para atravessarmos os três rios e há uma pequena floresta de carvalhos, muito perto das plantações, onde os camponeses levam os porcos para comer bolotas. Podemos nos reagrupar lá – informou Luis, enquanto vestia sua armadura e pegava seu escudo e seu elmo. Depois de estar pronto, sorriu, como sempre fazia.
Jean assentiu com a cabeça e levantou o braço direito. Todos os homens se calaram. Tinham um respeito imenso por ele. Assim que o comandante abaixou o braço, todos se puseram em movimento, silenciosamente.
Rapidamente, desceram da encosta norte pela estrada, atravessando o primeiro riacho no sopé da montanha. Apesar da trilha estar em más condições, Luis ia à frente, guiando o grupo. Os minutos iam e viam, e os soldados continuavam a andar. Seus passos eram abafados pelas botas de couro, mas mesmo assim fazia um som estranho na noite silenciosa.
Pouco depois, cruzaram os dois outros rios, que eram pequenos e próximos. As botas ficaram enlameadas, assim como as calças de malha. Logo avistaram a floresta de carvalhos, que escondia as luzes da aldeia e da lua. Para não se perderem, Luis começou a cantar baixinho, indicando aos amigos a direção certa.
Após pouco tempo, chegaram na orla da floresta e Luis parou de cantar. Todos se agruparam em volta do comandante, esperando este fazer algo. O silêncio ainda pairava no ar. Não fazia mais de duas horas que tinham descido a trilha. A lua ficou envolta numa nuvem e deixou de competir com as luzes da torre de principal.
Jean ia falar algo quando um grande clarão foi avistado. Parecia que uma estrela tinha caído na aldeia que cercava o solar. O clarão foi seguido de dois outros. Fogos irrompiam a leste. O comandante fechou os protetores e respirou fundo. Tinha começado. Virou-se para seus soldados e encarou-os.
- Vamos homens! O Senhor conta com vocês! DIEU LE VOULT! – berrou. “DIEU LE VOULT” berraram seus homens de volta. Viraram-se para o leste e correram, pulando arbustos. Eram mais que guerreiros profissionais. Eram soldados de Deus. E naquela noite, iam trazer o Inferno para Terra.
Prosa Surpresa
Certo dia, nem lembro exatamente quando, precisava me locomover para não sei exatamente onde a fim de não sei o quê. Na verdade, não lembro de praticamente nada daquele dia, o que tenho certeza é que eu precisava e iria pegar um ônibus. Porém, algo um pouco mais nobre estava destinado a mim...
_ Porto da Pedra... Shopping! - dizia a voz da buzina, uma gravação tosca e universal por aquelas bandas - Heliogás, Praça do Gradim, Pontal!
Era o transporte dos apressados destemidos. E estava me chamando:
_ Porto da Pedra... Shopping! Heliogás, Praça do Gradim, Pontal!
Pelo menos a Kombi tinha itinerário, o ruim é que eu tinha que descer perto do final da linha. Mas eu acho que não tinha problema, eu sou um cara paciente, tinha que ser.
Entrei no carro dando bom dia e não recebi resposta, no máximo um grunhido do motorista e um ronco da caixa de marcha. Tudo bem, não era problema, convenhamos que trabalhar por várias horas, enfrentando trânsito num carro tremiliquento, debaixo de um sol de verão carioca e ter bom humor para falar com um "playboyzinho" bem arrumado e de cabelo molhado é muito para qualquer um.
O que me impressiona nesse tipo de cara é que, mesmo sem saco para responder, eles tem a paciência para andar a 20 por hora, repetindo loucamente aquela buzina anormal, só para te convencer de que o ônibus vai demorar e que ele é a sua última, e melhor, opção. E se você fizer jogo duro, relutar em entrar, eles percebem. Param a maldita Kombi na sua frente e ainda falam:
_ E ai, Patrão? Shopping?!
De qualquer forma, como eu fui o primeiro a entrar no carro, fiquei fadado a acompanhar o motorista na sua jornada por mais passageiros. Partimos lentamente e, depois de longos minutos, o próximo ponto estava chegando:
_ Porto da Pedra... Shopping! Heliogás, Praça do Gradim, Pontal!
E o motorista se arrastava em direção ao ponto.
_ Porto da Pedra... Shopping! Heliogás, Praça do Gradim, Pontal!
E já tinha gente esperando a Kombi - impaciente por sinal - quando ela finalmente chegou.
_ Porto da Pedra... Shopping! - e uma velinha bunduda sentou do meu lado. - Heliogás, Praça do Gradim, Pontal! - e uma garota com três crianças encheu o banco de trás.
Ainda ficamos uns cinco minutos no segundo ponto, esperando que uma caravana brotasse do chão e enchesse o carro, mas nada ocorreu e o motorista partiu lentamente, como sempre.
_ Moço, as crianças não pagam, né? - perguntou a adolescente depois da Kombi ter se afastado bastante do ponto em que entrara.
_ Quê?! Ah! Não! - gritou o motorista, meio surdo talvez. - Só que se lotar você coloca eles no colo, tá bom, princesa?
_ Tá...
Depois de alguns pontos de ônibus percorridos, a velinha e a menina, com suas crianças, sairam, um casal entrou e logo depois saiu e, no shopping, a Kombi finalmente lotou. Oito pessoas, sem incluir o motorista. Pra completar tinha gente com compra do mês, e eu, para ser educado, ajudei a segurar as sacolas... Maldita boa educação. Segurar sacola plástica debaixo de sol e no aperto de um carro é horrível. A mão sua, o braço fica dormente, as pernas esquentam e não bate nenhuma leve e empoeirada brisa para refrescar.
Continuamos a viagem e a cada cabeçada do vidro, me arrependia mais e mais de achar que seria mais rápido, de ser educado e em ter que aguentar o funk no celular do infeliz atrás de mim. Mas a merda já estava feita e eu já estava em Boa Vista, perto do Heliogás, um bairro onde só passa transporte ilegal.
Andamos por mais um tempo e o chato do funk pediu pra descer. Com ele, os dois garotos que estavam no banco da frente desceram e um sujeito barrigudo entrou na van, sentando ao lado do motorista.
_ E ai, Claudinho?!
_ Ih! Iai Betão, o que tu manda? - replicou o motorista já com um sorriso na cara.
_ Nada de mais não. Normal né, trabalhando. Sabe como é, né. Tem que trabalhar.
_ É, tem que trabalhar.
_ É foda. Eu fico falando com meu filho isso... Sabe meu filho, né?
_ Sei, sei.
_ Então, o moleque já tá grande, mas não quer saber de nada. Esses dias levou uma garota ai lá para casa e ficou reclamando que eu não quis sair de casa...
_ Qual foi, Betão, cortou ele?!
_ O viado nem grana pra onibus tem e quer usar minha casa de motel! Que vá para a rua...
_ Você não era assim... Tem que respeitar essas coisas. E se fosse um marmanjo do lado dele?!
_ Se fosse um marmanjo com dinheiro... – e começaram a rir da piada.
_ Mas sério, - continuou o Betão – tem que ser linha dura com esses moleques de hoje. Mas tirando essas coisas pequenas, eu fico orgulhoso em ver que nenhum filho meu entrou nessa bandidagem ai. Num to certo?!
_ Verdade...
_ Então! Esses dias encontrei Capitão. Lembra do Capitão?
_ Lembro! Claro que lembro!
_ Então, não tratou os filhos dele direito e hoje estão ai, largados. Fiquei sabendo que um foi até preso...
_ Triste né... E pobre ele não era.
_ Quem? Capitão? Capitão tinha dinheiro!
_ Então...
_ Pois é. Por isso sou duro com os de lá de casa. Filho meu tem que ser trabalhador!
_ Certo... E o Rosca? Tem visto ele?
_ Rosca? Rosca tá lá, né.
_ Sei... E o Jurandir?
_ Jurandir casou com Marlice.
_Marlice?
_ É! Aquela morena do Bar do Jorge, a que vivia cantando no karaokê lá.
_ Lembrei, lembrei, Marlice era uma figura... E eles já tão com filho?
_ Não sei, mas quem tá com neto é o Chupeta.
_ Chupeta tá com neto, é?
_ Tá... Ele vive conversando com o João. Lembra de João né?
_ O que vendia carro?
_ É, ele mesmo. Tá sem nada agora. Vive lá no bar bebendo...
_ É mesmo?
_ É... Acho que ele ficou assim quando o Carlinhos morreu. Soube que Carlinhos morreu né?
_ Soube, claro que soube. Rins né?
_ Foi rins não, acho que foi fígado. Só sei que ele tava mal a um bom tempo... Dá pena de João, os dois eram muito juntos.
_ Com certeza. Lembro deles na Praia da Luz. Viviam pescando lá...
_ É... Mas ele melhora.
_ Tem que melhorar, né?
_ É...
A Kombi deu uns tremiliques e terminou uma curva. Numa esquina um vendedor bigodudo de desinfetante caseiro acenou para o carro.
_ Olha o Cueca ai... – comentou o Betão já esticando o pescoço pra gritar. – Olha essa água suja ai, hein!
E um sorriso com alguma frase inaudível de resposta de quem não entendeu nada voltou do tal Cueca.
_ Uma figura esse ai, né.
_ Muito engraçado... – confirmou o motorista, o tal de Claudinho.
_ Claudinho, me deixa ali na farmácia.
_ Vai fazer o que ai na praça?
_ Probleminhas ai... Semana que vem tem churrasco, aparece lá não?
_ Apareco, apareco! Dou um pulo semana que vem pra comer uns lonbinhos.
_ Filha da puta.
A Kombi finalmente parou e o tal do Betão desceu, não antes de falar com todos:
_ Valeu ai, Claudinho! E desculpa pela conversa ai, galera. Boa viagem para vocês!
_ Valeu, Betão! – respondeu o motorista partindo com o carro.
Mais cinco minutos depois, sendo o último ou um dos últimos dos remanescentes daquele carro, pago minha passagem e saiu daquele inferno.
_ Betão... – falo para mim mesmo com um sorriso na cara, pensando numa conversa que nunca mais iria esquecer. – É mole...
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O Samurai
Em um mundo paralelo representando uma das possibilidades do futuro da humanidade, em um bar chamado “O Blundra”, Jack e Dudu conversam com um andróide com Inteligência Artificial. E outras coisas artificiais também.
- ..., aí ela disse: “Eu sou freira!” – disse o andróide com a sua voz nasalada e robótica
- Esse robô é louco, diz aí, Dudu! – disse Jack caindo na gargalhada
- Aff...- suspirou Dudu – Só um droga desse mesmo, para nos divertir!
- É.... ainda mais com o que essa droga de Governo anda fazendo com a gente. – disse Jack alterando seu sorriso bobo para uma carranca – Há um ano e meio, a mineração enchia nossos bolsos de dinheiro, hoje qualquer buraco que fazemos no chão, metade do dinheiro vai “pra” eles! – deu um sorriso malicioso e terminou – Se eu achar fezes de gato farei questão de dividir com eles.
- Qualé bigode! – retrucou Dudu – O expediente acabou. Beba sua cerveja e deixa o robô contar mais sobre suas aventuras sexuais!
E foi o que o andróide fez.
***
Do lado de fora do bar, na rua mal-cuidada e cheia de buracos, O Samurai andava. Estava indo cumprir o dever que tinha com o Governo.
Os Samurais eram os assassinos profissionais, pessoais e secretos do Governo. Claro que depois de, algo entre um século, eles deixaram de ser secretos. Só o Governo e os próprios Samurais acham que ainda são “discretos”.
Ele olhou para o letreiro de neon vermelho escrito “O Blundra”. Só que “L” e o “R” estava com curto circuito, e apagaram em fagulhas.
Ele abriu a porta de madeira e ouviu o Heavy Metal que tocava no volume máximo. A escória do planeta todo estava lá. Os maiores grupos de traficantes e criminosos estavam jogando cartas. O cheiro de maconha era reconhecível. Mas eles não eram seu alvo. Sabia quem eram, mas só fazia o que era mandado. Esse era o grande problema dos samurais.
Aproximou-se e falou com o atendente.
- Barman, procuro por Crowley.
- Sem querer ofender, Samurai, mas aqui não damos informações, agora se quiser uma bebida...
Foi muito rápido. O Samurai tirou de dentro de sua túnica beje sua katana e bateu com a lâmina dela na mesa. Durante o resto dos anos d’O Blundra, o talhado no balcão lembrava este dia. O barman arregalou os olhos e gaguejou:
- C-c-crowley, né? Talvez eu o c-c-conheça...! – estalou os dedos e continuou –Ele aparece por aqui praticamente todos os dias depois das sete, para recolher as apostas.
- Apostas foram declaradas ilegais, mas o Governo não chega até esse bairro e o que o Governo não vê, não pode saber, certo? – berrou baixo o samurai – Engana-se. Estou aqui a serviço do Dookie! Me entregue Crowley e relevarei suas palavras!
- Hãã... bem... – disse o barman olhando para uma mulher ao lado do Samurai - ... ele já deve estar chegando, porque não espera na companhia da Alana aqui?
O Samurai olhou para a bela mulher ao seu lado, que se apresentou como Alana.
***
- ... aí ela disse: “ Ei! Meu nome é Rosário!” – disse o andróide
Dudu começou a rir descontroladamente, mas Jack tinha seus olhos em outro local.
- Dêem uma olhada ali. – disse apontando com o dedão para o balcão – Um maldito Samurai! Esses esnobes nojentos, sempre trazem encrenca.
- Ei relaxe! – disse Dudu ajeitando seu cabelo – O sujeito só quer diversão. Olhe a “profissional” ao lado dele.
- Nunca se divertem. – retrucou Jack. Ninguém nunca mais viu a carranca de Jack como naquele dia – Você é jovem e não lembra, mas eu me lembro como era quando trabalhavam para o Governo. E agora isso ta de volta?
- Eita! Hoje é dia – riu Dudu limpando a espuma de cerveja de sua boca – Primeiro reclamou do Governo, agora dos Samurais, dá um tempo! – apontou para o Samurai que entrava em uma porta junto com a mulher chamada Alana.
- É sexta à noite! Vamos beber, ficar de porre e quem sabe nos divertir com umas cocotas, hein? – disse Dudu cutucando Jack com o cotovelo
- Quem me dera! Se a Claire descobre me mata! – choramingou Jack. Seu olhos já não era mais visíveis, tamanha a carranca que tinha.
- Ela nem precisa saber! Olha, ta vendo aquela garota sentada ali? O nome dela é Annie. Chega junto nela.
- Tá bom.
Jack se levantou e se sentou na mesa praticamente atrás da dele.
- Então... – começou Jack com um sorriso sedutor – Seu nome é Annie? Você sabe quem sou eu?
- Não. – disse batendo seu copo na mesa de madeira
- Sou a fantasia de toda a mulher!
- Fantasia? – riu Annie – E qual é mascara que você tá usando agora?
- Há, há,há...! – riu Dudu – Ela disse isso? Cara, que fora!
- Maluca... tomara que Woso castigue ela!
- Cara... tu é quem não sabe chegar na mulher. Se liga em mim. – disse piscando um olho e pulando na mesa de Annie.
- Você foi muito mal-educada com meu amigo ali. – começou Dudu – Ele até chorando!
- É? E porque você não faz carinho nele?
- Eu tive uma idéia melhor: porque você não faz um carinho nele? – retrucou Dudu e saiu emburrado da mesa – Que mulher malcriada – disse para Jack
- Odeio esse tipo de mulher.
- Dois. – bebeu metade da cerveja e continuou – É tudo jogo duro.
- Mulher não faz jogo duro. – disse Jack confuso. Pelo menos com a Claire não fora...
- Claro que faz! Tem umas que pagam um pau danado e quando a gente chega junto ela dá o fora. Acho que é pelo prazer de sentir homens ao seu pés! Vem.
Terminaram a cerveja e os dois foram na mesa de Annie.
- Oh não! Os dois? – perguntou ela massageando a testa
- É isso aí! Eu não desisto! – disse Dudu piscando
- Da minha parte, só quero ver se ele consegue. Hehehe...
- Você é durona, mas sei que está interessada em mim.
- Cai fora! – disse Annie
Jack puxou um lenço, jogou no chão e disse:
- Ei, Dudu, caiu aqui.
Eles se abaixaram e Jack falou:
- Dudu, deixa ela pra lá, tem várias mulheres aqui no bar!
- Nada disso, cara! Agora é uma questão de honra!
***
O Samurai fechou a porta atrás de si, e se encaminhou ao barman novamente.
- Onde está o Crowley? - perguntou
- E-ele ainda não chegou, senhor, mas já tá pra chegar.
- Torça por isso, homem, ou voltarei minha atenção para as ilegalidades em seu bar!
***
- Vamos, admita! – ficou dizendo Dudu
- Eu não vou admitir nada! Você já tá me enchendo o saco!
- Sério? – disse rindo
- Tá certo! Eu admito, gostei de você e daí?
- Então por que o jogo duro com a gente? – perguntou Jack novamente confuso
- Com você não, Mané! Só com ele... Queria ver ele lambendo minhas botas.
- Não falei que ela era desse tipo? – disse Dudu radiante – Venci pela insistência! – passou o braço pelos ombros de Annie e disse – Vamos para um lugar mais sossegado?
- Tá certo. – respondeu Annie
***
- Ahn...? – resmungou o Samurai olhando para trás – Crowley? Grrrr...
***
- Falou! – disse Jack com seu sorriso bobo novamente – Até amanhã, Dudu!
- Falou, Jack!
No momento seguinte, ouviu um barulho cortando o ar e uma fisgada nas costas. O bar começou a girar. Pessoas se levantando, gritando, chorando...
“Da próxima vez, tomem mais cuidado!”. Essa foi a desculpa do Samurai ao perceber seu engano.
_____________________________________Sem título - Raito Shiroi
Raito Shiroi nasceu em Chiba, ele usa técnica baseada em Hyoho Niten Ichi Ryu e kenjutsu que precisa do controle da mente e do corpo.
Raito Shiroi é bem rápido, shiroi não tem família; pai dele foi morto em campo de batalha e a mãe dele foi morta por seqüestradores. Shiroi geralmente vive sozinho e obedecendo as ordens de seu mestre, mas não se importa em trabalhar em equipe, msm ele sabendo que trabalhando em equipe ele terá mais risco de morrer, pq o maior defeito dele é proteger os mais fracos. Shiroi geralmente é neutro, mas sempre protege os mais fracos msm que custe a vida dele, e de vez enquando ele poupa a vida de seu oponente por acredita q um dia ele será mais forte e eles se enfrentaram um dia...
Mas não ousem abusar da sorte Shiroi tbm ama mandar as almas de seus oponentes pro outro mundo e economiza o Maximo possível de atacar, sempre tentando acabar com os oponentes com o mínimo de ataque possível, mas sempre ataques certeiros e sempre q possível Shiroi leva a cabeça de seus oponentes como troféu para seu mestre.
Mas não se engane ele tbm é uma pessoa boa, mas prefere não demonstrar isso, principalmente em campo de combate. Aos 18 anos depois de oito anos das mortes de seus pais Shiroi foi seqüestrado pelo msm grupo que seqüestrou sua mãe, La ele descobriu que o seqüestro de sua mãe não foi exatamente para matá-la e sim para um ritual (coitado já tinha pensando coisas e mais coisas) aplicaram o msm ritual que usaram em sua mãe, mas em Shiroi, Shiroi sobreviveu ao ritual, tal ritual era pra misturar o DNA de humano com de monstro, sendo assim um “semi-demônio”.
Apos esse ritual ele se dirigiu a procura de um mestre que poderia ensiná-lo a controlar seus poderes de demônio,colocar todos seus poderes oculto pra fora e ajuda ele e seu fenrir a usar seus poderes em conjunto.A família Shiroi é especialista em controle de monstro principalmente em fenrir ou qualquer monstro q seja rápido e forte,o fenrir de Shiroi se chama ShiroiKiba,Shiroi e Kiba cresceram juntos o garoto é apenas 1 ano mais velho que seu fenrir. Depois de 2 anos de treinamento intensivo ele conseguiu a se controlar e liberar seus poderes mais oculto e habilidade que seu pai ainda não tinha trabalhado com ele e usar sua habilidade em conjunto com seu fenrir.
Depois de conseguir passar de seus treinamento com seu velho mestre, Shiroi foi dispensado por seu mestre fazendo dois pedido para Shiroi, os pedidos era:conquistar uma das 13 laminas e achar um dojo que pudesse ser do nível dele,o garoto não quis obedecer as ordem do velho mestre e ficou mais 2 anos treinando com o mestre msm já tendo aprendido tudo que o mestre poderia ensiná-lo menos uma coisa: lealdade,honestidade,caráter e habilidade de inverter o luxo da correnteza,msm assim o garoto ficou La.
Passou-se os 2 anos e o garoto já tava com 22 anos já tava na hora de obedecer seu velho mestre,logo que ele saiu pra procurar as tais laminas que seu mestre não tinha conseguido conquistar quando era mais jovem,recebeu a noticia que seu mestre havia sido assassinado...o garoto foi atrás das pistas que tinha recebido e conseguiu chegar nos assassinos,com um pouco de facilitar conseguiu vingar a morte de seu mestre e jurou realizar os pedidos de seu mestre,sendo assim foi logo procurar o dojo,depois de 2 semana de procura o garoto encontrou e foi aceito,La viveu com seu fenrir dos seus 22 anos ate agora com seus 28 anos e seu fenrir com 27 anos.La o garoto obteve mais informações das 13 laminas lendária,agora o garoto foca seu objetivo em conquistar
informações das 13 laminas lendária,agora o garoto foca seu objetivo em conquistar uma dessas 13 laminas que seu mestre não conseguiu conquistar.
Todos os Nossos Pecados
O homem de meia-idade encontrava-se sentado displicentemente na janela de um prédio residencial, sentindo a brisa acariciar sua face descolorada. A perna direita estava em contato com o carpete do apartamento e a outra balançava perigosamente do lado de fora – muitos metros acima da calçada.
Já fazia alguns minutos que segurava uma garrafa de vinho com a mão trêmula e a observava com os olhos semicerrados, como se estivesse com raiva da bebida que balançava dentro do recipiente. Cansado das lembranças que o atormentavam, grunhiu brevemente e atirou o objeto na avenida. A garrafa sumiu na noite e espatifou-se estridentemente ao encontrar o chão.
– Fez muito bem, Vitor – comentou uma voz doce e melodiosa. – Causaria um terrível mal-estar.
A garota que falara aproximava-se morosamente, envolta em mistério, trazendo um largo sorriso estampado no rosto pálido e ossudo. Enquanto observava suas pernas longas e finas desfilando hipnoticamente em sua direção, lembrou-se do dia em que se conheceram – o terrível encontro que mudou sua vida.
Ela não tocou a campainha. Quando o proprietário abriu a porta com a única intenção de levar o lixo para fora, encontrou-a em frente à residência, sob a chuva, esfregando as mãos e tremendo levemente.
– Meu Deus! – exclamou, largando os sacos de lixo no tapete de entrada.
A garota sorriu pelo canto da boca, mas permaneceu na mesma posição. Estava completamente nua e encharcada, sua pele imaculadamente branca contrastava com os cabelos lisos e escuros que desciam até seus ombros.
– Convide-me para entrar – pediu, enquanto caminhava em direção a porta.
– Entre, entre – disse o homem, ao mesmo tempo em que a puxava.
O interior do aposento era iluminado por um antigo candelabro de seis braços, preso ao teto por uma grossa corrente prateada. No centro da sala, ocupando grande parte do espaço, encontrava-se uma mesa redonda de madeira escura e quatro cadeiras feitas do mesmo material.
A menina foi conduzida até uma das cadeiras – molhando o assoalho durante o percurso –, mas não sentou. O dono da casa resmungou qualquer coisa, ausentou-se durante alguns segundos e retornou trazendo uma toalha azul e uma camisa social listrada.
– Qual é o seu nome? Onde estão seus pais? – perguntou, enquanto a enxugava dos pés à cabeça.
– Lílian. Mortos.
Ele estava tão preocupado em vesti-la que não reparou a rigidez de sua voz ou a forma agressiva como seus olhos castanhos claros o fitavam.
– O que aconteceu? Onde você mora? – prosseguiu com o interrogatório.
– Tire as mãos de mim, seu pedófilo desgraçado – murmurou a garota.
O homem recuou alguns passos, coçando o cavanhaque mal feito e tentando compreender o motivo da acusação. Ela não demorou a desfilar em sua direção com um sorriso perverso.
– Você me acha atraente? – perguntou em tom libidinoso, fazendo menção de desabotoar a camisa que lhe cobria até os joelhos.
– Deus! Você é uma criança... eu tenho filhos... – protestou o homem, verdadeiramente estupefato.
– E eu tenho 286 anos – interpelou com certo desprezo na voz.
Ela saltou sobre o seu interlocutor, derrubando-o facilmente. Enquanto segurava os braços da vítima, seus dentes caninos projetaram-se ameaçadoramente para fora.
– Você acredita em Deus? – sua voz soava pesada. – Comece a rezar – intimou.
O homem tentou levantar, mas aquele corpo aparentemente frágil e delicado exercia forte pressão sobre seu tórax. Estavam a pouquíssimos centímetros de distância, porém seu nervosismo impediu que percebesse um detalhe assustador: ela não respirava.
– REZE! – ordenou a garota, que agora portava aparência animalesca.
Iniciou uma oração ensaiada durante a infância em colégio católico. O desespero falou mais alto, acabou atropelando as próprias palavras e chorando convulsivamente enquanto gritava por socorro.
– Você é patético – sussurrou em seu ouvido.
Lílian ignorou os brados da vítima, mordeu seu pescoço com os dentes afiados e deliciou-se com o sangue que escorria das perfurações. Os últimos sons que ele ouviu, pouco antes de desmaiar, foram os baques surdos de suas pernas debatendo-se no assoalho.
Vitor retornou do breve devaneio e, instintivamente, coçou a região onde fora mordido. Tentando ignorar a presença da garota, fingiu estar interessado por um carro que cruzava a longa e escura avenida. Alguns segundos depois, projetou seu corpo para frente, deixando claro qual era o seu desejo.
– Você morreria na queda – afirmou Lílian, agora muito próxima, também observando a cidade adormecida pela janela.
– Novamente? – resmungou. – Tudo que quero é me livrar dessa maldição...
Lílian riu. É o que costumava fazer para afogar seus problemas ou desprezar os infortúnios alheios, independente da gravidade da situação.
– O que fiz para merecer isso? – perguntou o homem, sem conseguir conter as lágrimas de sangue que vertiam dos olhos e manchavam seu rosto macilento.
– Você não cansa dessa pergunta?
Vitor pigarreou e ficou pensativo durante alguns segundos. Logo depois, mirando o teto iluminado por lâmpadas fluorescentes, desatou a falar:
– Eu passei muitos anos te culpando. No momento, só consigo pensar que, de alguma maneira estranha, o rumo que tomei em minha vida me levou até os seus braços... essa nossa condição... seria algum tipo de castigo imputado à humanidade? – perguntou, aparentemente para si mesmo, enquanto torcia as mãos raivosamente.
– Pois a culpa é minha. Foi minha decisão egoísta – respondeu Lílian, incomumente séria. – Arrependo-me profundamente, pois só me trouxe desgraças – completou, deixando escapar um sorriso contraditório.
Vitor finalmente a fitou. Apesar dela não demonstrar remorso, o olhar do homem era condescendente, como se a estivesse desculpando pelos anos de sofrimento.
– Você é uma boa pessoa. Todos os seus pecados serão perdoados – afirmou a garota com o sarcasmo habitual, ao perceber a intenção daquele olhar complacente.
O homem levantou e enxugou o rosto com as mangas da camisa.
– Todos os nossos pecados serão perdoados – recitou, sorrindo melancolicamente.
Em consenso silencioso, deixaram o apartamento. Não trocaram olhares ou palavras, apenas caminharam pelo corredor deserto e mal iluminado, desceram as escadas em direção ao térreo, atravessaram o saguão de entrada e saíram rua afora.
Após alguns passos pela calçada, avistaram a garrafa de vinho espatifada. A substância escura e proibida – que manchava o chão – acentuou o apetite íntimo e imoral de Lílian e Vitor; naquele momento, ambos tiveram certeza de que nunca conseguiriam controlar seus instintos. A noite só possuía uma cor: vermelho sangue.
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Um jogo de pôquer
Não era supersticioso, mas pela manhã já percebera que aquele dia não seria bom. Chovia desde a noite. Era realmente um dia ruim, sonolento, daqueles que se deveria apagar do calendário e murrinhar empijamado, pés descalços, cabelos em desalinho e barba por fazer... morrer temporariamente. Dias atrás perdera um amigo, companheiro do trabalho e parceiro da mesa semanal de pôquer. As notícias dos jornais não colaboravam a encontrar o otimismo perdido. Guerras, assaltos, tráfico, enchentes, gripe suína, etc. Para aumentar o tédio, um vento frio e irritante insistia em penetrar no ambiente, não obstante os esforços para vedar as frestas das janelas.
Uma cerveja... Pensou, sempre acalma e faz esquecer as chatices das mesmas tarefas, de movimentos monótonos e de enfadonha repetição. Ligou a tevê e logo lembrou de um bordão da mídia: “É isso que o povo gosta... vai começar o jogo”, como se o espetáculo realmente estivesse começando, justo naquele instante. Não estava. Era um vídeo-tape de sua memória. Hoje é terça-feira. Dia da reunião de amigos fissurados numa partida de pôquer. Marcos, Lima, Ody, Freitas e Dorinha. Continuou na introspecção. De repente, sentiu uma tonteira e tudo girando em sua volta, uma luz intensa emergiu esplendida. Parecia vindo de um poderoso refletor. Fechou os olhos e ao abri-los, paradoxalmente, viu-se cego. Naquele exato momento Mathias percebeu que não via, não ouvia nem sentia sabor. Perdera, também, os sentidos do olfato e do tato. Jamais em sua vida fora partícipe de uma cena tão aterrorizante. A situação era, realmente, de desespero. Sem tempo para raciocinar. Queria gritar, e pensava estar a gritar com plenos pulmões, mas não ouvia a sua voz.
Seguiu-se um instante não precisado e, embora lentamente, seus sentidos voltaram ao normal. Sua sala de 30 metros quadrados, talvez mais, talvez menos, transformara-se em uma grande área circular, uma espécie de anfiteatro. Uma arena a céu aberto, como se fora uma enorme concha. Ali bem no centro estava sozinho. Não estava nem sentado nem deitado. Não levitava, mas fazia um leve movimento de lado a lado, como um manômetro. Pressentia-se em tempo infinitésimo e, igualmente, de incalculável infinitude. Parecia-lhe estar num espaço onde não cabia nada, mas era ocupado por tudo ao mesmo instante. Do alto descia uma espécie de chuva que não molhava, seca também de cores e provida de luzes até então desconhecidas. Fenômenos indescritíveis por Mathias que, aparvalhado, testemunhava aquele cromatismo em tempo e espaço não convencionais. Tão irreal e assustosa que era essa vivência, que ocorreu ser personagem de um pesadelo. Sentia uma profunda tristeza, além de total ausência de pensamento e coordenação de idéias. Mas outras reações de seu corpo, muito instigantes induziam-no do contrário, de vez que, perplexo, numa astasia desconfortável, verificava estar plenamente consciente.
Numa sucessão rápida dos acontecimentos, encontrou-se rodeado por seis pessoas amigas, duas já falecidas e quatro ainda vivas. Tudo isto acontecendo com tal rapidez, que o p assado, aquele instante e o porvir eram um só tempo. Ah, o tempo... uma fantasia de matemáticos e astrônomos, sugeriu a mente confusa. Todos os personagens estavam nus, envoltos em névoa transparentes. Translúcidos, os corpos físicos tinham uma visualização imaterial dos sentimentos, do caráter de cada um, exposição de suas próprias vidas, um curriculum vitae inusitado. Todos, sem exceção, gostariam de esconder algo, Mathias inclusive. Despidos das roupagens da mentira, todos portavam os trajes da verdade. O alardeado princípio ético passa a ser mera presunção na vida de mentira. Não cabia explicação de qualquer dos personagens. Nada de espanto, protesto, defesa ou acusação. Estavam todos no paraíso e no inferno a um só tempo. Não há atenuantes no mundo da verdade. O entendimento real dentro do universo irreal da verdade dava a todos esquisita sensação de alívio, como se traição, desamor, egoísmo, inveja, enfim todos os seus males tivessem sido anistiados, já que elas eram práticas comuns. Se ninguém estava isento de males, a praxe redimia a todos.
Passado o constrangimento inicial, um dos presentes propôs um jogo de pôquer. Como? Se ninguém pode blefar. Aqui todos vêem as cartas de todos. Realmente, sem a mentira não se vive, disse o outro. A mentira seria como o oxigênio. Se aqui não existe mentira, a conclusão é de que estamos todos mortos, disse outro alarmado partícipe. Estas observações alteraram o cenário da estranha assembléia, como se um comando mágico assim tivesse ordenado. Os personagens já falecidos desapareceram, e os participantes vivos se reconheceram desprovidos das visões metafísicas. A magia multicolorida havia desaparecido. O espaço ficou opaco. Uma cor fria de tempo fechado, igual a que precede às tempestades. O clima era era tenso e todos procuravam esconder o medo e a ansiedade que os assaltavam. Havia uma aparente cordialidade, constrangimento que não podia ser oculto.
Mathias não se considerava um exemplo de virtudes, mas depois da exposição sem elas, sem amarras e limitações da consciência ética e repressora, participar daquele jogo dava-lhe uma alegria perturbadora e de incitante cumplicidade. Vamos ao jogo, falou. Um jogo jogado dentro das regras, ou seja, um jogo de blefe, de astúcia e artimanhas, porém sem fiscelas. A fiscelagem é comum no jogo da vida, principalmente quando entre políticos. Noite adentro, entrando pela madrugada, a reunião transcorreu animada. Algumas discussões dos parceiros mais rabugentos, sem maiores consequências Em um dado momento, Mathias recebeu suas cartas e, surpreso, verificou: Estavam em suas mãos Ás, Rei, Dama, Valete e Dez em sequência de ouro, o famoso “estrite-flexe” tão sonhado pelas aficionados. Apostas e repiques se sucederam. Mathias se esforçava para dissimular a emoção daquele momento sublime. Nisto algo perturbador aconteceu. Voltou ao jogo o fenômeno da translucidez. Não podia ser melhor, mas nem precisava, pensou. Estou com o jogo invencível, e ainda por cima enho o perfeito conhecimento do jogo do adversário. Restaram dois jogadores em sua oposição. Um com um “flexe” e outro, sem nada, blefando, replicou: Seus 32 mais 32, disse, pondo na mesa R$ 640,00.
À sua frente, impassível, lá estava novamente a mentira como adversária, sem armas a apresentar, que não a dissimulação, sua razão de ser. Ansioso, Mathias esperou como nunca por este lance. Dizer ao antagonista que estava vendo suas cartas, e que ele não tinha jogo para tamanha aposta, certamente ele sorriria, aparentando muita tranquilidade. “Se acha que é blefe, paga para ver” seria sua resposta, um lugar-comum em jogos de pôquer. O certo é que a verdade nua e crua não é aceita. De outra forma, poderia repicar mais uma vez. A consciência justa, vestígios de honradez diziam-lhe: não é correto. Você está vendo o jogo dele, isto é roubo. Tossiu, sentiu a cabeça doer. Vou explodir, pensou.
Como é que é? É pra hoje? Paga ou não paga para ver? Com este atraso, devemos prorrogar o jogo por mais meia hora.
As perguntas irônicas, perturbadores, retiraram Mathias deste mundo imaginário, recompondo seus sentidos. Tudo neste mundo pode ser tão verdadeiro e falso ao mesmo tempo.
Não, respondeu firme e sereno, jogando sobre a mesa as cartas de suas fantasias.
Recebeu uma sonora gargalhada em resposta. Aquilo não estava em jogo. Ou melhor, ele é que não estava em jogo. Sentiu um choque, um calafrio. Estava sentado em frente a uma televisão. O telefone tocava.
“Alô Mathias... Estava dormindo? Vai jogar? Me parece que você está meio sonolento. Passo por aí daqui a meia hora para apanhá-lo. O jogo de hoje é na casa do Marcos.”
Mathias, diria o poeta, “acordou para a mesma vida para que tinha adormecido”.
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Uma surpresa diferente
Mais um dia de colheita para os fazendeiros de Kronan. O sol nascia e os muitos empregados chegavam nas plantações com ferramentas em punho, prontos para mais uma manhã suada de trabalho. O dono da fazenda, Joel, havia percebido que faltava um funcionário. Apenas um. Vestiu-se com seu habitual casaco. Não faria isso por ninguém, mas abriu uma exceção, tinha seus motivos. Não havia ninguém mais divertido e trabalhador como ele naquelas terras próximas.
Joel entrou no seu velho carrinho e pôs-se a seguir a estrada de terra rumo à cidade grande. Encontrou no caminho seu empregado, Marcos, que estava com outros dois homens. Apressou-se a sair do veículo e a falar com ele:
-O que está acontecendo aqui? Quem são esses homens, Marcos?
Marcos tentou fazer um sinal para Joel, mas um dos homens percebeu e o cutucou.
-Tarde demais - Joel escutou a voz grossa de um dos homens. Eram dois. O maior tinha dois metros de altura e uma cara de poucos amigos. O outro tinha somente um metro e setenta, porém estava armado com uma espada curvada, presa nas costas - Você vem conosco - disse o menor agarrando-o pelo braço e arrastando-o pelo matagal em direção à um outro carro. Logo o veículo saiu em disparada pela estrada de terra
Marcos se sentiu inútil, porque aquela pessoa estava fazendo aquilo tudo? Viu o carro de Joel parado no meio da pista. Pensou em avisar alguém, mas estava distante da civilização. Revistou o carro do chefe e encontrou um kit de primeiros socorros no porta-malas. Também encontrou uma pistola.
Sentou no banco do motorista e pisou fundo no acelerador. Conhecia o chefe daqueles homens melhor do que ninguém. Correu por dois quilômetros até entrar numa trilha de terra que ia pela esquerda. Diminuiu a velocidade e desligou o carro. Apanhou a pistola e foi avançando pela vegetação seca. Logo encontrou uma cabana aparentemente abandonada. Na porta o gigante de dois metros apoiado num imenso tacape de madeira, olhava para o vazio. Marcos olhou para a pistola, não pretendia atirar em ninguém. Estava ali para emergências. Deu à volta pelo perímetro da cabana e por uma de suas janelas viu Joel amarrado e outra pessoa muito conhecida de Marcos, que brincava com uma moeda por entre os dedos.
Enquanto circulava o perímetro à procura de uma passagem alternativa, encontrou um galho seco, apanhou umas quatro pedras e se aproximou de uma janela lateral. Essa janela dava de frente para Joel e mostrava as costas do líder do grupo. Porém sentia a falta do homem da espada. Essa era a preocupação de Marcos. Enquanto estava na parede, olhou de fininho pelo canto da janela e seus olhos encontraram o de Joel. Este soube disfarçar bem e imediatamente olhou novamente para uma velha mesa.
Marcos interpretou aquilo como um sinal e sacou duas pedras. Quando tirou a segunda do bolso foi surpreendido por um toque no braço esquerdo. Segurou o grito de surpresa e virou-se para ver o grandalhão de dois metros de altura brandir o tacape. Marcos esquivou-se e começou a correr em direção à vegetação seca. A porta da cabana se abriu e o líder do bando, Onin, apareceu com uma pistola em punho. Marcos rolou pelo chão e sacou a pistola apontando para Onin. O grandalhão parou de correr e olhou de Marcos para o líder.
-O que você acha que está fazendo, garoto? - perguntou Onin sem tirar os olhos de Marcos.
-Não sabia até que ponto você chegaria - respondeu ele - não sabia que era tão ganancioso assim.
-Haha, e o que você sabe sobre isso? Bom... Não importa. Eu sei que você não teria coragem de atirar no seu velho amigo, teria?
-Não me chame de amigo - disse Marcos com os dentes cerrados. Seus joelhos tremiam. Estava esquecendo de algo. Estava, até sentir uma pancada leve nas costas. Era o homem da espada. Marcos pegou o velho pedaço de madeira e desarmou ele. Depois chutou a sua barriga. Apanhou a espada com a mão esquerda e apontou novamente a pistola para Onin - Menos um - provocou ele.
Sem demoras, Onin tentou disparar mas a pistola falhou. Marcos correu ao seu encontro e usou o cabo da espada, derrubando ele. O grandalhão veio correndo com tacape em punho. Marcos esquivou-se e também golpeou-o. Apressou-se a libertar Joel com a espada e lhe entregou a pistola. Joel conferiu a arma e depois apontou-a para Marcos.
-O que está fazendo? - perguntou ele incrédulo.
-O que você poderia ter feito - disse Joel e depois apertou o gatilho - um pedaço de papel apareceu na ponta da arma. Estava escrito "Feliz aniversário".
Marcos coçou a cabeça e tudo começou a fazer sentido. Onin entrou cambaleante na cabana e deu um longo abraço no amigo - Todos esperavam que você usaria a arma - comentou ele.
-Mas isso só mostrou que você não queria machucar a ninguém - disse Joel.
Marcos se desvencilhou do abraço e com lágrimas nos olhos abraçou o chefe.
-Aquela arma lá fora é de brinquedo, assim como a espada de papelão de Kojiro - comentou Joel - Você sempre comentou que queria ser um ator de filme de ação. Pois aí está.
Um outro homem entrou na cabana e se anunciou como diretor profissional e que havia visto a perfomance de Marcos. E que ele participaria do seu próximo filme.
-Gostou do seu presente? - perguntou Joel.
-Muito obrigado - disse Marcos abraçando novamente o seu bom e velho chefe, depois apertou a mão de Onin - desculpe por isso, você sabe que eu nunca ia atirar em você. Nem em Kojiro ou Lorak.
-Claro que sei. Todos esperavam que você usaria a arma. Mas eu sabia que não - dito isso os dois se abraçaram e saíram da cabana, com Joel prometendo que nunca mais daria um susto desses no velho Marcos.
FIM
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Vertigo
É preciso ver a cidade de cima. Esta é a única maneira de se ter uma noção do que de fato acontece, perceber cada prédio constituindo o horizonte de concreto. As ruas não parecem tão sinuosas e sujas quando vistas de baixo, os outdoors de néon são apenas vaga-lumes piscando incessantemente. Bares, hotéis, casas, mercados, todos parecem a mesma coisa quando vistos de cima, não passam de cópias.
E no meio disso tudo – os humanos passeavam pelas avenidas em busca da “diversão”, se achavam o máximo, donos de si. Mas daquela minha posição do vigésimo primeiro andar eu os via com olhos diferentes: pareciam nada mais que ratos de laboratório, percorrendo apenas uma pequena parte do labirinto, mas ainda achando que são superiores a todos, bando de ratos. Não conseguiam enxergar as ruas laterais das avenidas, apenas uma grande visão reta, uma visão de bebidas, drogas, prédios e ainda mais outdoors. A avenida era peculiar, no começo haviam apenas lojas de brinquedos e alguns playgrounds, um lugar até agradável. Mas depois tudo desandava, era no meio que estava a sujeira nauseante: bares, lojas de roupa, perfumarias, igrejas, escolas, faculdades, traficantes, boates, “12x sem juros” mostrava um anúncio. Eu tinha nojo daquele lugar e de lá de cima eu sabia bem o porquê dessa posição agressiva: eu não conseguia distinguir uns dos outros. Se vestiam igual, cheiravam igual e o pior de tudo, pensavam igual. Não tinham personalidade fixa, tudo era orquestrado pelas opiniões das celebridades, malditas sejam. Em alguns momentos eu poderia jurar por tudo que me é mais importante que eu podia ver em seus ombros cordas, cordas estas que se estendiam até o topo do mais alto arranha-céu, e era lá que o show de marionetes era controlado. Um homem invisível para a platéia, porém este era o verdadeiro show. Os sussurros e conselhos do bonequeiro eram irresistíveis, quase que impossível de não se seguir à risca as sugestões dadas por ele. E a culpa é de quem você pode se perguntar. E eu te digo: dos próprios jovens que estão lá embaixo. Se recusam a olhar para o alto das construções, para os becos escuros que são transversais à avenida e até mesmo para trás, não ligam para o passado, só para a próxima sugestão do Mestre dos Bonecos.
De uma das boates, o som da chamada “música moderna” se elevava até aonde eu estava, sufocava as suaves notas do jazz que cantava pela minha vitrola. Era impressionante que até eu que estava tão longe de tudo aquilo ainda conseguia ser alcançado pela influência da avenida. E eu já estava puto com isso. Tentei ser mais um rosto na multidão do nível do solo. Fui gentilmente convidado a me retirar “você não é legal o suficiente para andar conosco, vá embora” disseram eles. E foi justamente isso que me fez pensar à respeito da necessidade de ser aceito por eles, e eu não precisava. Tudo o que eu queria era ficar sossegado, brindar à noite e sentir o vento batendo no meu rosto. Aquela ocasião me fez lembrar de uma frase: “Por favor aceite a minha desistência, não quero fazer parte de um grupo que aceite eu como membro.”
Essas pessoas me davam pena, sua visão era reta como a avenida, pré-decidida do jeito que o bonequeiro queriam. E depois de tudo isto vem a terceira parte da estrada de concreto. O lugar onde os malditos ficam, eles são os verdadeiros culpados por tudo. Educam suas crianças à maneira como foram criados, não tem expressão, temem qualquer mudança de hábito ou pensamento. Foram criado do mesmo modo que seus pais, e não vai ser agora que vão mudar isto. A maioria tenta mostrar seus modos conservadores e comemoram com aparente alegria o natal, dia das mães, dia dos pais. Mas no fundo sentem remorso, porque sentem que desperdiçaram cada segundo de suas vidas como estão desperdiçando os seus filhos. E eles se sentem mal por isso.
Minhas elucubrações chegaram a um ponto crítico. Me equilibrei de pé no parapeito da varanda, quando olhei para baixo uma sensação de vertigem me tomou de assalto. Lembrei do meu passado e minhas realizações. Não eram mais que ganchos frágeis que se serviriam para eu me equilibrar na vida, até que ele se quebrasse e eu caísse sem ter o poder de decisão. Se ia acontecer isto comigo, era melhor que eu decidisse quando e como fazer. O jazz começava a tocar suas notas finais, o saxofonista perdia seu fôlego.
Pulei.







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