Capitulo I - Feliz Aniversário, Alex.
Hoje é dia 12, estamos em Abril. Faltam só cinco dias pro meu aniversário. Minha mãe me prometeu que esse ano ela ia comprar umas coisinhas e que eu podia convidar uns amigos, então, vou falar com Roger e Luana no colégio.
Como eu pensei, Roger aceitou e disse que não perderia por nada. Ele estava junto comigo quando eu fui convidar Luana pra aparecer lá em casa. Quando eu cheguei próximo dela pra conversar, eu pude perceber como minha mão tremia de nervosismo, coisa que sempre acontecia quando eu chegava perto dela. Eu me esforcei pra esconder que eu tava nervoso, mas acho que ela percebeu:
- Oi Luana! Tudo bem? –eu fui logo cumprimentando Luana.
- Olá Alex! Tudo e você? –respondeu ela, carinhosamente.
- Tudo bem. Luana, você vai fazer alguma coisa na sexta à noite?
- Não Alex, ainda não tenho nenhum compromisso. Por que?
- É que eu estava pensando se você talvez não quisesse ir lá em casa pra... Bom, sei lá, ir me visitar. O que você acha?
- Bom, eu não sei, eu posso pensar no assunto. Mas muito obrigada pelo convite. Eu te aviso se vou amanhã, está bem?
- Ta bom! Combinado então.
Ela pareceu não saber do que eu estava falando. Eu me senti um nada. Era humilhante convidar uma pessoa pra sua festa, quando ela nem lembra do seu aniversário, ou quando ela não tem a mínima idéia do que você está falando, pensando que você ta ficando louco. Logo que eu fui me sentar, ela chamou Roger:
- Roger, você sabe do que o Alex tava falando?
- Luana! Você não lembra? Sexta é dia 17! É o aniversário dele!
- É mesmo! Tinha me esquecido! Coitadinho! Eu vou ir sim! Pode falar pra ele! Contem comigo.
Eu me senti bem melhor quando Roger me contou que ele iria. O resto da semana eu fiquei ansioso pra que chegasse a sexta-feira. As tardes eram longas, muito mais que o normal, mesmo quando Roger me fazia companhia. Nem mesmo meu cão, um Husky, não me acalmava. Até Roger reparou minha impaciência, me alertou, mas não adiantou. O resto da semana foi aquele sofrimento.
Até que chegou a sexta-feira. Já eram seis horas, os convidados ainda não tinham chegado. A sala não tinha nenhuma faixa de “Feliz Aniversário Alex!”, não tinha um bolo com velinhas, nem chapeuzinhos pra distribuir pros convidados que chegavam, como se via muito nos filmes e desenhos da televisão, mas eu estava todo arrumado, perfumado, sentado no sofá da sala, esperando os convidados chegarem.
O primeiro a chegar foi Roger. Ele passou a tarde inteira me fazendo companhia, e tinha saído pouco antes de eu ter ido tomar banho, mas já estava ali. Ele trazia um pacote, bastante grande até, com um embrulho vermelho, que parecia ser exatamente o que eu queria. Era um livro que eu havia lhe pedido, sobre inferno e esse tipo de coisa (naquela época, eu acredita nessas coisas) e um outro livro, que falava tudo sobre Signos. Particularmente, eu não dava muita atenção pra essas coisas sobre signos e sol, lua, mas eu sabia que Luana era apaixonado por essas coisas, e já que ela viria pra minha festa, eu queria impressioná-la.
Em pouco tempo, começaram a chegar mais e mais convidados, tios, avós, parentes de todos os tipos, mas ninguém da minha idade. Eu já começava a me preocupar com a demora de Luana:
- Será que ela não vai vir cara?
- Claro que vai, Alex! Acontece que Luana é uma garota como todas as outras. Ela deve estar em dúvida de qual sapato usar.
Rimos um pouco, e fomos pro meu quarto jogar um pouco de videogame, enquanto ela não chegava. O volume da TV estava tão alto que eu nem ouvi quando o telefone tocou. A demora estava cada vez me preocupando mais. Até que eu ouvi baterem na porta. Minha alma encheu-se de alegria, meu coração bateu mais forte, ela havia chegado! Eu já tinha começado a tremer...
- Filho, uma amiguinha sua ligou. Uma tal de Luana. Parece que é colega de vocês. Ela ligou avisando que não poderia vir pra cá hoje por que seus pais tinham uma janta importante, e ela tinha que acompanhá-los. Ela pediu que você ligasse pra ela amanhã. Vocês querem alguns docinhos?
Roger foi até a sala com mamãe pegar alguma coisa pra nós, pois ele sabia que eu não sairia cedo dali... Eu não reagi. Fiquei ali, imóvel, sem pensar em nada, sem me mover, sem respirar. Até que Roger chegou, e falou comigo:
- Calma Alex. Ela quer falar com você. Vai ver, ela não podia vir mesmo. A gente mostra o livro pra ela no colégio. Ela vai gostar do mesmo jeito.
Foi aí que eu me dei conta do que mamãe tinha acabado de me dizer. Eu me sentia muito mal. Fui correndo pro banheiro, me tranquei lá por alguma tempo. Segurei o choro. Mas foi por muito pouco. Eu quase vomitei. Quando voltei para o quarto, já mais calmo, e tendo percebido que isso não importava tanto assim, dizendo que estava me sentido bem, enganando a mim mesmo, Roger estava apreensivo. Mas percebendo minha calma, ele me passou o controle, era minha vez de jogar. Eu já não jogava tão bem quanto antes, e Roger percebeu que eu ainda estava perturbado.
-Por que você não a convida pra sair? Talvez nós podemos ir ao cinema não acha? Bem, você sabe que, se convidar ela pra ir sozinho no cinema, ela vai pensar que você quer pedir pra ficar com ela, e ela pode não ir.
-Mas é claro! Ótima idéia, cara! Amanhã, quando eu falar com ela, eu vou pedir isso mesmo. Que filme ta passando mesmo?
-Não faço idéia. Vamos dar uma olhada? Liga o teu computador.
Depois disso, jogamos mais um pouco de videogame, e depois ele foi pra casa.
No dia seguinte, eu resolvi esperar pra ligar á tarde. Eu tinha acabado de sair do banheiro, e tava indo pra sala ligar. Minha tremedeira começou de novo. Eu peguei o telefone, disquei e começou a chamar. E chamou, chamou, chamou umas seis ou sete vezes, até que alguém atendeu:
- Alô! Por favor, a Luana se encontra?
- Ela falando. Quem é?
- Oi Luana! Tudo bem? É o Alex!
- Ah oi Alex! Alex, eu tenho que me desculpar por ontem, mas é que eu realmente não pude ir... Eu não podia faltar naquele jantar...
- Ah, mas você me magoou muito Luana. Eu só vou aceitar suas desculpas com uma condição.
- Que condição?
- Eu quero que você vá comigo e com o Roger no cinema hoje à noite. Você quer ir?
- Siiimm! Claro! Eu quero mesmo ver aquele filme que está em cartaz! Dizem que é muito bom! Eu vou sim! E dessa vez eu não falto! Vamos hoje.
- Ta bom! Então a gente se encontra lá mesmo. Até mais tarde então.
- Ta bom. Tchau!
Meu inexperiente e jovem coração encheu-se novamente de alegria. Tudo parecia mais colorido, mais cheio de vida, mais alegre. Fui correndo para a casa de Roger avisá-lo de nosso compromisso, e ele também se animou muito. Combinamos que horas ele deveria passar lá em casa pra minha mãe levar a gente, e voltei pra casa pra me arrumar.
No horário marcado, Roger chegou lá em casa, e fomos até o cinema. Combinamos que o pai de Roger viria nos buscar na volta. Luana ainda não havia chegado. Eu me senti mal só de pensar no que aconteceria se ela faltasse novamente. Mas dessa vez ela veio, e não demorou muito.
Logo na entrada, Roger ficou para comprar algo pra comer, e Luana e eu fomos escolher alguns bons lugares nas cadeiras de trás. Roger demorou alguns minutos, mas nem percebemos a demora, já que estávamos conversando animadamente, enquanto o filme não chegava. Roger chegou com dois pacotes de pipoca, dois refrigerantes e algumas balas. Como eu e Luana estávamos sem fome, Roger acabaria comendo tudo aquilo sozinho, e certamente passaria mal, mas ele não quis me dar ouvidos. Então o filme começou.
Eu estava me sentindo muito bem, sentado ao lado da garota amada. E ela também parecia feliz, apesar de que eu sabia que ela era uma ótima atriz. Mas acho que ela estava sendo verdadeira. E isso me satisfazia de tal maneira, que meu coração estava em paz, eu estava tranqüilo e em nenhum momento do filme me veio à cabeça sequer um pensamento ruim. E, como todas as coisas boas dessa vida, o tempo passou rápido demais para que eu pudesse aproveitá-lo o suficiente.
Quando o filme acabou, Luana pediu-nos, com a delicadeza e profundidade de um anjo:
-Desculpem, mas será que vocês se importariam de me acompanharem até em casa? Não é longe daqui, vocês sabem onde fica, eu vim até aqui a pé mesmo. É que meu pai está viajando, e minha mãe ficou sem o carro essa semana. Não é problema pra vocês é?
-Claro que não Lú! –foi a primeira vez que eu a chamei assim, e isso me escapou com uma naturalidade tamanha, que me fez perceber o quão eu estava ficando íntimo dela- Nós vamos com você sim! Não podemos deixar uma dama como você andar sozinha por aí.
-Obrigada pelo elogio, Alex. Você é mesmo um amor.- aquelas palavras me deixaram nas nuvens, eu me senti “leve”, mas esse momento foi quebrado pelas palavras de Roger.
-Me desculpe, pessoal. Mas acho que não vou poder ir a pé. Acho que não tenho condições.- Roger fez uma cara dolorida e levou sua mão a barriga, o que nos fez rapidamente perceber que ele estava com dor de barriga.
Nós rimos um pouco. Então nós esperamos um pouco até que a mãe de Roger chegasse. Então eu fui, com muito prazer, acompanhar Luana até sua casa, o que pra mim não seria problema algum, já que a casa dela ficava no caminho da minha. No caminho, conversamos sobre muita coisa, até que começamos a falar sobre meu aniversário:
-Desculpe Alex, por não poder ter ido a sua festa, mas você sabe que eu tive lá meus motivos.
- Luana! Não precisa se desculpar. Nós já conversamos sobre isso. Além do mais, essa foi a minha festa particular pra você.
Eu só fui perceber o que tinha dito, quando olhei para ela e vi seu rosto vermelho, ela devia estar morrendo de vergonha. Mas era tarde demais pra que eu pudesse pedir desculpas. Já estava dito. Embora ela tenha se mostrado até um pouco aborrecida, eu estava criando coragem pra pedir pra ficar com ela naquela noite mesmo!
- Mas não pense que eu esqueci de você. Eu comprei um presente pra você. Não se preocupe. Só que, se você não se importar, eu vou entregá-lo pra você outro dia.
- Claro que não tem problemas. Eu não me importo. Nada me faria ficar chateado com você agora.
Neste momento eu parei. Ela também parou. Eu estava me aproximando lentamente dela, olhei bem dentro de seus olhos, e pensei que ela também queria. Então, minha boca chegou perto da boca dela, seria uma fração de segundos para o nosso primeiro beijo se eu quisesse, pois eu poderia avançar ainda mais. Mas eu preferi tornar isso mais emocionante e esperar que ela avançasse um pouco. Porém, foi aí que eu quebrei a cara. Ou melhor, ela se afastou e virou-se:
- Bom Alex. Nem tinha percebido o por que de você ter parado, mas agora, olhando bem, eu to vendo que aqui é a minha casa. Hehehehehe! –ela quis se livrar de forma irônica, mas eu não sorri.
-Sim, é verdade. Acho que então, eu vou indo não é mesmo. Bom, nos vemos segunda-feira, na aula não é?
-É, sim. Segunda. Isso. E eu vou levar seu presente heim! Não se esqueça. Tchau.
Depois da decepção, eu parti. Pois agora, ela sabia que eu gostava dela. Mas eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela entenderia o que eu sinto por ela. Simplesmente, essa hora chegou.
Eu me senti desprezado. Foi isso que me aconteceu. Mal podia esperar pra ver a reação de Roger, quando eu contasse aquilo pra ele. Não sei explicar o por que, não tinha nada para comemorar, mas eu estava otimista, pois agora, era questão de tempo até chegar um momento em que eu teria de me declarar para ela, e eu estava otimista quanto a isso. Talvez fosse isso, mas eu não deveria estar...
Mas, eu não estava preparado para o que aconteceria comigo nos próximos minutos. Realmente não estava preparado. Mal sabia eu do terror que me aguardava...