Olhos de Faroeste
Apatia - apesar de não ser a palavra que procuro - é a que melhor definiria meu estado emocional. Indiferença e indolência são cruéis meios-termos, protagonistas de inúmeros momentos insignificantes. Naquela manhã, pensava que nada poderia me abalar profundamente.
Submerso em redemoinho interno, ignorava todas as vozes e movimentos ao redor. Esclareço que meu “redemoinho interno” é constituído de estranhas ideias e desejos incompreensíveis, estando mais para ócio improdutivo do que para ponderação sobre assuntos sólidos e relevantes. Enfim, estava sonhando acordado.
Mãos inquietas, expressão opaca, coçando por dentro. Era aquele constante desejo de não estar em lugar nenhum e, ao mesmo tempo, fazer parte de algo maior. Talvez alguém tenha reparado minha frieza e distância, mas o que poderiam pensar realmente não importava.
O alarme estridente soou pelos corredores e compartimentos, dando início à típica algazarra que tanto me incomodava. “Absurdos me fariam feliz”, pensei, enquanto meus olhos passeavam pelo recinto e constatavam que tudo estava nos devidos conformes.
Apenas para passar o tempo, conferi o horário no celular, reli antigas mensagens e ouvi duas ou três músicas que combinavam com meu estado de espírito. Enquanto distraia-me, enrolando e desenrolando o fio dos fones auriculares, escutei um chamado que partia da outra extremidade do recinto.
Passei grande parte da minha existência esperando por um incrível acontecimento, mas nunca imaginei que seria tão simples e súbito. Belos olhos negros encaravam-me de maneira encantadora e misteriosa. Travamos breve batalha visual e, chegando à conclusão de que não estávamos dispostos a ceder, saudamo-nos com sorrisos sinceros.
Lentamente, a inércia era afogada pela excitação. Ajeitei-me na cadeira, visivelmente interessado, enquanto seu olhar me media desavergonhadamente. Eram esferas penetrantes, melodiosas e delicadas. Existia um enigma sedutor naquele virar e revirar compassado.
Aproximou-se e disse qualquer coisa. Não lembro, pois palavras não são importantes. Minha concentração estava focada em pensamentos intuitivos sobre nosso futuro. Os olhos de faroeste me chamavam para dançar.
Levemente inspirado na música Western Eyes do Portishead.
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