Capítulo 2
-Hora do recreio! – gritou com raiva seu Juvenal, limpando o sangue das mãos enquanto abria a porta branca, logo atrás de Luís. Estava tendo um dia ruim. Carregar mortos dava um cansaço.
Por alguns segundos, houve o silêncio. Porém, um jovem meio hippie, com as calças jeans justas e uma camiseta do Bob Marley se levantou com um baseado em mãos. Seu andar descompromissado até a porta branca, volta e meia cambaleando e cantando um verso contínuo de “Nóis trupica mas num cai” incentivou os executivos a se levantarem.
A porta é branca, murmuraram uns com os outros, então é para lá que devemos ir, e não para a porta preta.
O chefe caminhava até a porta preta, sem parar para checar se estava tudo bem. Seus olhos de águia e, principalmente, seu mercenário com a pistola faziam todos ficarem bem comportados.
Girou a maçaneta e entrou no aposento. Revalaram-se camas com lençóis extremamente brancos organizadas no recinto com luzes fortes e sem um teto – semelhante à uma estufa, o teto era um belo vidro arredondado, quase encostando o céu, com arcos pintados de ouro servindo como vigas.
A seu ver, era uma pena que os lençóis brancos se encontrassem em sua maioria sujas de sangue no momento.
Henrique tirava um cochilo em uma das camas, visivelmente feliz. De resto, pareciam um monte de dorminhocos, mas era apenas preciso chegar mais perto para descobrir que não passavam de defuntos.
Havia um corredor distanciado, no canto, que levava à sua salinha. Em menos de cinco minutos, já se sentava na poltrona reclinável de seu escritório, lendo alguns relatórios.
Naquele momento, o hippie dava um tapinha na sombra da árvore e os executivos conversavam. Alguns olhavam com espanto cúbiculos de ferro estarem cobertos com couro cru. Mas, principalmente, era uma surpresa a todos – fora o menino paz e amor, que nada percebia além de que estava em uma viajem grande – que estivessem em um jardim e ninguém houvesse morrido há mais de vinte minutos.
Assim, as três misteriosas jaulas gigantescas cobertas mostraram sua utilidade: três homens grandes, usando roupas cheias de espinhos e com maças em mãos saíram de lá.
O pânico foi generalizado: Os cinquenta – aliás, pareciam sessenta ou mais, agora – começaram a correr e tentar fugir da fúria dos gladiadores. E os guerreiros seguravam as correntes gigantescas das maças e, girando-nas enquanto corriam, e volta e meia as pontas enguiçavam em um outro infeliz.
Logo, um deles perdeu a cabeça. Literalmente: A arma primeiro prendeu no meio da sua cara, que deformou-se. Caiu no barro, e logo após o gladiador começou a bater freneticamente no pescoço com o cabo da arma até decapitá-lo.
Depois, um ficou com a maça enterrada nas costas e começou a gritar, petrificado pela dor. Caiu sobre os joelhos e levou um chute logo abaixo da nuca para possibilitar a retirada do porrete, com um puxão, do seu corpo.
E, assim que um terceiro morreu de infarto e o gladiador pegou uma pedra e bateu na sua cabeça até que ficasse irreconhecível, um sinal avisou para os homens que o recreio já tinha acabado.
A grande maioria teria ficado nos jardins, para ter alguma possibilidade de vida. Mas um irado zelador veio para o jardim e começou a empurrá-los de volta para a porta preta. Poucos realmente foram empurrados; a visão de Luís escorado na parede do jardim de grama verde e terra manchada de sangue com o cachimbo os incentivou a voltar. Era um homem simpático, afinal de contas. Mas principalmente porque o homem da pistola estava ao seu lado, pronto para atirar em quem ficasse.
O clima era de tensão. Um homem com um jaleco branco sentou-se perto de Luís e lhe demonstrou um sorriso amarelo, sem graça, quase como se encarasse um cachorro.
- Calminha... – falou ele, estendendo a mão. Ouviu-se um estalo e ele estava caído no chão, deslizando. Um taco de beisebol havia acertado em cheio seu nariz, que agora deixava um rastro de ranho e sangue por trinta centímetros até chegar no desnorteado caído.
- Bom trabalho, Juvenal. Mas deixe que os cães cuidem dele.
Dois pitbulls saíram rosnando da porta preta, enraivecidos, os pelos amarronzados e curtos esvoaçando na pressa.
Os latidos esganiçados seguiram-se a uma série de fatos sangrentos dos quais o que merece maior destaque é que um dos cachorros aparentemente confundiu as tripas do defunto com uma mangueira e saiu puxando pela sala.
----------------
Como deve ter dado pra ver, puxou mais para o lado humorístico, sem querer.
Publicidade:
Jogue Tibia sem mensalidades!
Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
https://taleon.online







Curtir: 


Responder com Citação


