Oi pessoal, segue um texto que EU escrevi. Pra quê? Pra nada. Só pra mudar um pouco a cara do Off mesmo.
Por que disso tudo? Bem, eu sou uma pessoa que encara quatro ônibus por dia, cruzo mais de 15 bairros cariocas, fico em média uma hora e meia por percurso (ida ou volta).
Tá, vamos começar...
-----
Rio de Janeiro, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2006.
É o primeiro dia de aula, as férias acabaram, o colégio é novo. Minha ansiedade se mistura com o meu nervosismo (menor agora, já que eu descobri que minha turma será composta de calouros) e eu fico pensando se devo mesmo ir para aula.
O colégio é bom, minha mãe falou tão bem dele, os amigos dela também, de fato o lugar parece ser ótimo. Com tanta fama, já me enxergo nas provas finais desse ano, mas enfim, não custa tentar. Bem, passando de ano ou não, sendo bom ou não, o colégio é longe demais!
Para se ter noção, são 5:10 da manhã e eu não sei o que eu faço acordado, imagina se for assim durante todos os meses de aula... E ainda tem o segundo e o terceiro ano. De todos os pensamentos possíveis, o mais gritante era: "Porra, tô fudido...".
Eu tinha acabo de me mudar e sabe o que isso significa? Que não tem água quente... O chuveiro é de água FRIA! GÉLIDA! Para minha sorte não faz tanto frio assim, a brisa da madrugada é fria, mas o calor do verão carioca não permite tanto assim.
Tomei meu banho, acordei. Não tomei café, bem, detesto café da manhã. Meu pai fala que eu vou cair desmaiado um dia na rua, pode até ser, mas detesto café da manhã e não tomarei.
Primeiro dia, não sei que horas sair e não sei como chegar lá. Meu irmão vai comigo. Na verdade, ele nunca foi por aquelas bandas, mas meu irmão é do tipo que acha qualquer canto da cidade, era melhor ir com ele mesmo, pelo menos ele conhecia metade do trajeto...
Saímos às 6 da manhã, eu fui caminhando com ele, conversando, mas sempre com aquele frio na barriga. Eu também achava que iria me ferrar, pois eu vinha de uma escola não tão conhecida assim, nem era escola, era uma casa. Na minha sala estudavam 7ª e 8ª série juntas, um pouco (pouco?) confuso. Eu sabia que a base não era tão boa assim, em compensação, até minha 6ª série eu tinha estudado no melhor colégio do Rio de Janeiro, mas eu sempre fui vagabundo, não sei se consegui pegar a matéria, de fato.
Bem, embarquei no primeiro ônibus, uma viagem tranqüila... Zona sul da cidade, bairros bonitos, tudo bonito, até o trânsito era bonito. Em 15 minutos eu cheguei à Praça XV, um dos principais terminais de ônibus do Rio de Janeiro, lá eu teria que fazer a baldeação e embarcar para o meu colégio.
Quando eu cheguei e avistei o ônibus eu pensei: "Puta, olha isso, eu sempre jurei que nunca pegaria um ônibus desse... Achava que o negócio era tão longe que nunca pisaria por lá... É, a vida dá voltas!".
Meu irmão estava puxando conversa comigo, mas eu dava pouca atenção, estava nervoso. Era o ponto final do ônibus, então era comum o motorista descer, tomar um café, a cobradora descer, fazer lá suas necessidades naqueles banheiros químicos que fedem que nem o diabo.
Sem lavar as mãos e ainda ajeitando as calças, fui girando a catraca e fiz uma pergunta:
- Esse ônibus passa pelo Colégio (...), não passa?
- Passa sim, sinhô - Respondeu a cobradora.
- Me avisa quando a gente estiver lá?
- Tá bom, senta aqui na frente se não eu esqueço, hehe!
Pior que esquece mesmo. Quantas vezes não peguei ônibus para lugares que não conhecia e fui depender do cobrador e acabei me ferrando?
Meu irmão estava parecendo um guia turístico. Ele já conhecia bastante o centro da cidade, eu conhecia pouco, só ia lá para visitar meu pai no trabalho ou ir no médico, mas nunca precisei ir além dele.
Ele ia apontando tudo. Enfim chegamos à Central. Cara, quem assiste o filme não sabe o inferno que é aquel muquifo. A Central é um terminal gigante de ônibus (sério, tem pra todo canto) além de ser o ponto final de um dos ramais ferroviários do Rio de Janeiro. Todo e qualquer tipo de gente pode ser encontrado por lá.
O ônibus parou em seu ponto da Central e meu Deus, cada tipo de gente! Tinha aquele que pintava o bigode de loiro, usava uma camisa da Nike da Uruguaiana escrito "Total 90", um boné da Cyclone, uma bermuda de alguma marca de surfwear (falsificada, sempre) e uma mochila jeans. Tinha também a mulher sacoleira, aquelas gordinhas baixinhas que trazem um monte de sacolas enormes e mal conseguem girar a catraca.
Tipos de gente, demais. Os trabalhadores, os sonolentos, os mal-humorados e os conhecidos do cobrador.
É, talvez esse seja o pior tipo. Uma mulher entra, senta lá na frente e começa a conversar com a cobradora:
- Minha filha, trouxe esse bolinho lá da festa que a gente tivemos nesse último domingo, tá uma dilícia!
- É?! Depois eu quero ver as fotos!
- Claro, aqui tão elas, deixa eu te amostrar, olha só que chique! Essa daqui é a minha sobrinha, esse daqui é meu genro e esse daqui é meu primo.
- Esse seu primo tá solteiro?!
- Tá nada boba! Homem bonito não fica solteiro por muito tempo.
Eu nem estava ligando muito, sério, mas quando elas começaram a debater os assuntos sociais eu quase vomitei:
- Menina, essa violência do Rio tá fogo, né? - A cobradora indaga.
- Nem me fala, lá na minha região o bicho tá pegando. A gente já não tem tranqüilidade lá!
- Sabe o que eu acho? Eu acho que deveriam matar um por um...
- Você acha?
- Claro, o governo precisa atacar com a mesma moeda, precisa chegar, invadir e não ter pena... Se eu fosse a governadora eu já tinha botado tudo na cadeia, um absurdo a gente viver assim!
Isso porque ainda não viram a conversa sobre doenças:
- Olha, minha prima tá com um problema de garganta... Não sei mais o que fazer...
- Minha mãe dizia que chá de erva forte resolve. Ela fazia sempre que eu era pequena, sabe?
- Verdade?
-Ihhh, tiro e queda! Sério mesmo!
Chegou por volta de um bairro e a moça desceu. Ufa, não agüentava mais, sério.
O ônibus lotava, lotava, lotava e o colégio parecia não chegar. Eu entrava 7:00 (na verdade, entrava 7:15, mas eu não sabia) e já eram 6:43. Eu estava começando a ficar mais nervoso por saber que a hora estava chegando.
Quando deu 7 horas, eu cheguei a perguntar pra cobradora:
- Estamos chegando?
- Onde você vai descer mesmo, hein?!
- No colégio...
- Ah sim, falta um bocado ainda, uns 20 minutos.
Porra... 20 minutos?! Chegar atrasado no primeiro dia não deve ser legal. Sabe o que significa? Acordar mais cedo ainda!
Passado alguns minutos nervosos, olhando para o relógio sem parar, quando dá 7:07 a cobradora me avisa:
- Moço, é o próximo.
Nossa, já estava com náuseas, não queria mais ver esse ônibus... Pior que na volta ia ter mais.
Cheguei no colégio correndo, despedi-me do meu irmão (coitado, teria que voltar num horário de fluxo alto), entrei no colégio e vi os porteiros todos engravatados, achei que eram os seguranças para impedir dos alunos fugirem. O inspetor já gritava para todos subirem e eu perguntei afobadamente onde eram as salas do 1º ano do ensino médio:
- Olha na parede lá - Falou o inspetor.
Nossa, cheguei na sala e todo mundo já estava sentado, que merda, primeiro dia e geral olhando pra você. Alguns já conversavam, outros repetentes ficavam zoando uns aos outros, enfim, só pensei em sentar atrás.
Cheguei e sentei. Na última não, na penúltima, pra que a impressão não seja tão ruim assim. Tinha um metaleiro atrás de mim, cabeludo, um magrelo feioso e uma garota muito bonita. Depois de mim chegou um garoto com um black power enorme com colares de semente de açaí. Sentou-se do meu lado.
A professora chegou, era aula de Química, bem, vamos à aula.
-------
Galera, essa é só a primeira parte. Depois eu escrevo mais. E sim, vou dar detalhes do ônibus e do colégio, como me pediram. Querem mais? Ou não?
Índice:
Parte 2: http://forums.tibiabr.com/showthread...=1#post2976678
Parte 3: http://forums.tibiabr.com/showthread...=1#post2977733
Parte 4: http://forums.tibiabr.com/showthread...=1#post2994908
Parte 5: http://forums.tibiabr.com/showthread...83#post3011083
Publicidade:
Jogue Tibia sem mensalidades!
Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
https://taleon.online







Curtir: 




Responder com Citação