Então vou continuar em posts assim e depois vou editando com um índice...
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A aula começou, todos já estavam sentados, a professora chega com uma cara de muitos amigos e diz que é de Química. Eu imaginava: "Nossa, vou estudar química de verdade esse ano... Ensino MÉDIO, como soa bonito!".
Ela se apresentou e rodou a sala todo perguntando nome e de onde veio. Agora pensa comigo: A sala toda tímida, envergonhada e a mulher roda perguntando seu nome e de onde você veio?! Só me faltava essa.
Tudo bem, ela chegou em mim e perguntou, normalmente:
- E você? Qual seu nome e da onde veio?
- Eu me chamo Stéfano, vim do (...), na Glória, mas já estudei no (...), em Botafogo.
- Nossa, você deve ter uma boa base, esse colégio é ótimo!
Um elogio? Que droga! Eu devo ter ficado vermelho, todo mundo deve ter reparado, mas não falaram nada, primeiro dia, ninguém se conhece, vai que tem um psicopata na sala. E o que devem ter pensado? "Olha o babaca, se mostrando TODO!"
Enfim, preferi ficar calado e ficar observando a sala.
Aula vai, aula vem, ela apenas diz que o colégio é muito bom, pede a opinião dos repetentes e diz que logo logo iríamos nos habituar.
Eis que surge o Coordenador, o Inspetor responsável pelo andar, o Chefe de Disciplina e as duas Orientadoras do colégio. O coordenador era novo, ninguém o conhecia nem nada, muito menos eu, óbvio.
Ele já chega todo apressado (como de costume) e dá as boas-vindas:
- Olá, sejam muito bem-vindos ao colégio, estamos muito felizes que tenham se matriculado aqui. Eu sou o (...), Coordenador desse prédio, aquele é o (...), Chefe de Disciplina, (...) o inspetor desse andar e essas duas são a (...) e a (...), orientadoras. Só para lembrar que no nosso colégio não pode namorar, não pode cantar parabéns dentro de sala de aula, não pode fumar dentro das dependências e quando der a hora do intervalo, esperem o inspetor.
Porra... Fumar?! Que que esse cara tem na cabeça?! Mandem avisar pra ele que também não pode correr pelado pelo colégio.
O colégio, na verdade, tem uma enorme fama devido a sua rigorosidade e etc. Eu ia percebendo que não era assim não. Quando eu me matriculei, fiquei muito irritado em saber que a calça era de lycra, pois eu não sou dos mais magros e essas coisas colando em mim nunca deram certo. A calça até se resolveu, comprei a maior possível e ficou normal (animador de festa), mas o meu maior problema era o maldito tênis.
Botaram na cabeça da minha mãe que o tênis tinha que ser rigorosamente branco. Bem, 25% de detalhes e só! Eu até fui comprar um tênis branco com meu pai e, como não sabia contar 25% em um tênis, comprei um que só tinha a marca de outra cor. Quando fui à casa de minha mãe e mostrei o tênis, ela quase teve um troço. Tá certo que o tênis era da Puma e o logotipo era grande, mas poxa, era bastante aceitável, não?
Não deu outra, tive que sair e comprar outro tênis, dessa vez, totalmente branco, só branco. E fui com ele pro primeiro dia. Nossa, como aquilo apertava, o Puma era tão confortável, queria usá-lo.
Por isso que eu não parava de reparar no pé dos outros. Depois de ver uns 5 Reefs beges eu pensei: "Ah, se isso pra eles é branco, meu Puma também é!".
Os outros deram algumas palavrinhas, mas nada demais, eu já estava com sono, isso sim. Quando eles iam saindo, o inspetor começa a conversar com a orientadora e aponta pra mim. Eis então que ele fala:
- Ei, você! Venha até aqui, por gentileza.
Caraca, nem deu tempo de eu chegar no colégio. Será que meu pai não pagou a taxa de matrícula e já vai voltar aquela rotina de cobranças e nome sujo na reitoria?! Ah não...
- Oi, pois não, o que houve?!
- Não, nada demais, é que seu uniforme está errado. O do ensino médio é azul com mangas cinzas, o seu é cinza com mangas azuis, é do Fundamental.
Eu olhei assim e não acreditei... Pior que eu não tinha reparado, nem ninguém. Só sei que todos estavam me olhando, de novo... Ai ai.
- Mas fica tranqüilo, é normal isso acontecer. Onde você comprou? No colégio?
- Não, comprei ali na Praça, numa autorizada.
- Ah, então vai lá e pede pra trocar, tudo bem?
- Beleza então, valeu.
Eu tinha comprado 4 camisas daquela, sabe o que isso significa? Teria que voltar em casa e depois voltar aqui para trocar, isso é um crime.
Bem, a hora do recreio chegou e o rapaz que estava atrás de mim veio puxar assunto:
- Aí rapaz, onde conseguiu a camisa diferente?
- Hehe, descuido meu, mó problema que arranjei.
- Hahahaha, já não bastasse ser aluno novo, agora é diferente também.
- Nem me fala.
Percebi os cabelos longos e não resisti:
- Aí, tu toca violão, cara?
- Pô, nem toco, mas tu curte um Rock é?
- Porra, me amarro... Um metalzinho também... Curte Iron?
- Porra, se curto, cara! E o Led? Tu gosta?
- Ô! Demais também!
- Mas tu toca violão?
- Nem toco, mas devo pedir um de aniversário esse ano...
Não deu outra, conversarmos o recreio todo. Mas também, o que faríamos? Hahahaha.
Aos poucos eu ia percebendo que ele ia conversando com as pessoas ao redor e aos poucos o pessoal em volta de mim já estava conversando. A garota bonita, o rapaz dos cordões de semente de açaí e o magrelo feioso. Depois apareceu mais uma garota morena, um rapazinho magro e baixo e uma garota gordinha também.
Eu estava no meu canto e percebia que eu não ficaria sozinho naquela sala. Chegou a hora da aula de Espanhol e a professora veio com toda vontade. Ela tinha muita energia, a mais nova da equipe, parece.
E quem diria, tinha gente se soltando já. Eu pensava: "Não tenho culhão pra fazer palhaçada pra um monte de desconhecido...".
A aula ia passando, o tempo também. Eu estava doido pra ir embora, mas fiquei animado com as pessoas em volta. Na verdade, nem me preocupava mais com o ambiente escolar, minha preocupação era voltar pra casa.
Terminou a aula, 12:30, despedi-me dos novos conhecidos e fui para o ponto de ônibus. E lá vem o primeiro ônibus, eu dou sinal e só penso em chegar em casa e dormir. E o ônibus passa batido. Eu fiquei puto demais, já sabia que ia demorar, o calor era dos infernos e o ônibus ainda passa batido...
Perguntei a um senhor no ponto se, de fato, o ônibus parava ali. Meio estressado ele até respondeu:
- Passa sim, mas esse daí deveria estar lotado e foi de reto. Safado, né? Daqui a pouco passa outro.
Havia outra linha para voltar para casa, mas nem queria. Pois tinha que descer na Central. Meu irmão dizia que eu só desceria na Central se eu realmente quisesse perder as calças. Fato que futuramente eu já desceria lá normalmente, mas naquele momento eu achava melhor não arriscar.
E passa outro, dou sinal, ele parou! Quando subo as escadas e vejo o ônibus por dentro, só me vem uma coisa na cabeça: "Puta que paril, tá muito lotado!".
Quando cheguei no meio do caminho, o ônibus já tinha umas três fileiras de gente em pé, receber vento seria algo para poucos. Pior do que os gritos de "Aê, piloto! Vai descer, porra!", foi uma mulher extremamente grande querer passar a catraca. Poxa, tá vendo que tá lotado, pra quê passar? Me explica!
Aquela bunda gelatinosa, cheio de celulite, banhada de suor ia se roçando por todos até chegar em mim. Puxou a corda e falou "Pera aí, moço! Eu vou descer aqui!". Aquele suvaco nogento, pingando, mal raspado, estava perto do meu nariz. Os braços mais pareciam gelatinas podres, balançando pra lá e pra cá. Mal conseguia articular a boca, devido ao grande volume das bochechas.
E o motorista era só xingamento: "No meio do carro e vem pedir pra descer aqui, ai ai! Eu tenho horário!".
Depois do roça-roça, ela até que passou rápido por mim, achei uma finalidade para a calça de lycra.
Viagem que segue e eu já sabia que iria demorar e muito. Não conhecia o trajeto, não estava acostumado com o ônibus, seria um tormento, com certeza. Fiquei em pé, na minha.
De manhã, sem trânsito, sem sol, sem passageiros para lotar o ônibus, já foi uma agonia, imagina agora? Eu lembro que fiquei em pé de Vila Valqueire até a Candelária. Depois eu sentei e suspirei. Estava pingando, mais de uma hora de viagem, engarrafamentos pelo Méier, Tijuca, Centro, argh!
Meu pai até chegou a comentar: "Se você não gostar, eu te tiro no meio do ano e te boto num mais perto, ok?"
Na verdade, ele me mudou de um grande colégio para um pequeno por conta de dificuldades financeiras, mas foi bom, até aprendi a ser humilde. Agora ele estava se reestruturando e o filho do meio já tinha saído do colégio, só faltava eu.
Naquele momento eu só pensava em chegar o meio do ano e sair do colégio, meu Deus, que caminho horrível para se fazer todo dia. Estarei ferrado.
Desci na Praça XV, meio perdido, mas percebi que estava no sentido certo. Passou um ônibus, entrei, novamente lotado. Mas tudo bem, era mais tranqüilo.
Cheguei em casa e meu irmão perguntou como havia sido. Só deu tempo de eu falar que o uniforme estava errado e teríamos que voltar lá.
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Como eu voltei lá? Há! Tem mais história, depois eu conto.
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