Nem tem nada demais pra falar.
Espero que gostem
Capítulo III
Profundo Silêncio
O mundo parecia ter se tornado algo bizarro. Tudo, naquele momento, se resumia em uma escuridão; gelada, infernal, e até mesmo surreal. O negro se misturava com o roxo, e não havia muitas outras cores naquele ambiente. O Universo parecia girar, em todos os sentidos possíveis, criando uma horrível sensação de enjôo.Mas não era só enjôo que a princesa sentia naquele momento, eram também outras terríveis sensações; como medo, misturado com raiva e angústia, porém de uma forma bastante sutil. Sutil e dolorosa, pois ia aumentando gradativamente.
Aquilo definitivamente não era o estreito beco em que ela tinha entrado.
- E Deus disse : “Faça-se a luz!" – disse a voz fria da pessoa que estava a agarrando um tempo antes, e uma clara e fraca luz acendeu-se nos confins daquela realidade paralela, revelando a face de alguém medonho, careca, que vestia um manto negro. – Você agora percebe porque Deus pensou que a luz era boa? – perguntou ele, e seu olhar, que antes parecia distante, se aproximou absurdamente do olhar da princesa, o fixando.
- Si...Sim... – respondeu ela, rapidamente, assustada e incerta.
- Apenas com a luz nós podemos ver a expressão de medo das pessoas. Se estivesse escuro, aqui, agora, eu não estaria tendo a satisfação de lhe ver morrendo de medo. – e a luz então se apagou.
- Não adianta – continuou ele – Eu posso ler seus pensamentos, minha jovem. – o Universo estava novamente completamente confuso, e não se distinguia mais de onde vinha sua voz – Aonde eu quero chegar?... Quero chegar no ponto de aonde você encontrou esse anel de pedra branca que você usa em sua mão esquerda.
A respiração dela ficou extremamente ofegante nesse momento. O tom de voz dele fora tão serio e intimidador quanto a princesa nunca tinha ouvido em toda sua vida. Recuperou a respiração aos poucos. - Howard... Howard Albert... É o seu nome... Ele me deu... O anel... Por que você... Quer saber?..
- Fique calma, querida, não vou matá-lo. – continuou ele, com sua voz se sobressaindo completamente sobre a da mulher amedrontada a sua frente. – Bem, para falar a verdade, disso eu não sei. – fez uma pausa – É esse mesmo seu nome?
- Sim...
- Estranho... Eu posso jurar já ter ouvido esse nome em algum lugar... Não que isso venha ao caso, claro. – O estranho homem careca parou de falar por minutos que mais pareceram séculos. O ambiente negro arroxeado continuava completamente surreal, girando, psicodélico. A princesa estava com náuseas, parada, esperando vagarosamente o tempo passar e ela talvez sair daquele insano lugar.
- Vamos deixar as coisas bem claras – recomeçou o homem – Meu nome é Fenricien, e essa não foi a última vez em que nos encontramos. Agora, se me permite, vou ter um encontro com um certo Howard Albert. Até, senhorita.
Tudo ficou escuro novamente, mas agora não era um escuro surreal, e a princesa conhecia bem aquele tipo de sensação. Estava simplesmente desacordada no meio de um beco sem saída.
###
O coronel estava em seu escritório, arrumando a papelada da semana. Ao seu redor todos estavam trabalhando normalmente, inclusive o novo jornalista David, que parecia ser extremamente experiente nesse tipo de coisa. Mas, por algum motivo, se sentia extremamente preocupado.
Alguém bateu à sua porta.
- Pode entrar – disse ele, com sua voz rouca e vacilante.
- Ora, ora... – disse o careca que acabara de entrar no escritório, se dirigindo ao velho homem, transformando assustadoramente a aura do lugar – Coronel Howard Albert, am? Bonito nome.
Howard tomou um susto, fixou um duro olhar em Fenricien e o encarou – A que lhe devo a honra, meu caro?
- Não sou nem nunca fui seu caro, desculpe. – retrucou, se sentando em frente ao coronel – Não vai me oferecer um chá?
- Não.
- Que pena.
- Pois é.
O estranho careca de manto negro e o coronel um pouco menos careca de roupa social ficaram se encarando por alguns minutos, até que um teve de interromper o silêncio.
- O que anda fazendo? – perguntou o coronel, sem demonstrar nenhuma emoção, e sem nem ao menos piscar o olho.
- O de sempre.
- E porque diabos veio me visitar, mesmo depois de tantos anos?
- Deixou a barba crescer?
- Ora, não mude de assunto!
- Você está mesmo ficando velho...
- Porque não é direto ao menos uma vez na vida?
Novamente silêncio. Profundo, vago, estarrecedor, e nem um pouco confortante para ambas as partes.
- Porque deu o anel para a garota? – perguntou Fenricien, do modo mais direto possível.
- Ela tem potencial.
- Não, não tem. – retrucou – É apenas mais uma a fazer parte do vicioso ciclo sem fim.
- Talvez. – respondeu o velho, sereno, sem a voz vacilante que a princesa ouvira esta manhã – É o que veremos.
Silêncio...