Eu tardo mas não falho. Ficou curto e sem muita informação, mas o próximo vai terminar o ciclo número de três que a história tem. Esse primeiro cilco é o ciclo da caverna da Katana. Alguém sabe o que tá acontecendo com os links no post 1?
Capítulo XVI
Perante o Mago
- Só se for pra você! - Disse Crossfox, sacando a katana em resposta ao argumento de Sheng. Era de praxe que ele respondesse com a força. Sheng torceu a face e recuou um ou dois passos, escondendo-se na asa do dragão.
- Idem - Respondeu Sheng com vitalidade - Dilacere-o Draco!
Como era de se esperar, o enorme dragão chiou e partiu contra seu alvo. Crossfox não moveu um músculo. Talvez por estar paralisado de medo, ou por estar calculando friamente a hora do ataque. Certamente nenhuma das opções. Ele aguardou e aguardou o dragão estar a uns dois metros dele e pulou pra baixo da barriga do réptil gigante, rolando por entre as patas e saindo por baixo da cauda. Nesse momento, ergueu a espada e raspou o alongamento da fera, que chiou alto ao perder escamas. Mas não passou disso.
- Seu dragão burro, taca fogo! - Urrou seu mestre. Este estava absurdamente alterado. Draco virou-se e tomou um forte impulso no solo, investindo contra Crossfox. Tiher já não estava mais encolhido, apenas observava. Crossfox jogou-se no chão ao lado oposto ao da fera, escapando da investida. Tiher achou que era hora de agir. Ergueu-se meio vacilante, cambaleando a cada novo passo, com dores intensas que o faziam fraquejar. Mas estava determinado e não iria desistir tão fácil. Sempre fora um medroso ridículo, mas era hora de encarar a verdade e erguer a cabeça. Pegou sua maça e avançou contra Sheng, que viu o ataque bem a tempo de esquivar-se - Estas louco reles mortal? Que achas que estas fazendo?
- Te impedindo de agir! - Tiher gritou e avançou contra o pasmo minotauro, que foi arremessado ao outro lado da sala. Ele capotou e aterrissou sobre um montinho fofo de terra. Tiher ergueu a maça do ar e golpeou a parede atrás do humanóide - o maldito saiu do monte na hora. Sheng pulou sobre a terra e pairou no ar por breves momentos antes de chutar as costas de Tiher com tudo. Um som de estalos foi ouvido vindo do alvo e Tiher caiu, abandonando a arma cravada na parede. Sheng riu, mas calou-se quando Ulizin surgiu a suas costas, prendendo-lhe o pescoço com seus braços. O jovem forçava cada vez mais, e a sensação da falta de ar era crescente no aprendiz. Este arregalou os olhos e sentiu os brônquios¹ fecharem-se abruptamente, impedindo a chegada de ar aos pulmões. Tentou libertar-se com as patas, mas estas estavam desnorteadas pela falta de oxigênio no cérebro. Seu corpo clamava por ar, mas ele já não podia mais fornece-lo. Sheng tentou gritar, mas a voz não vinha. Não ia esperar a morte, ia lutar debilmente ate escapar. Tentou fincar suas garras na carne do humano, mas não conseguia. Quis soca-lo, chuta-lo, mas não dava. Era o fim.
***
Um homem alto e ligeiramente velho ergueu-se entre as árvores, com as mãos nas costas latejantes e a cara fechada, momento a momento soltando uma exclamação de dor. Dava passos vacilantes, mal consegui seguir um rumo. Baixou os olhos para as vestes rasgadas e sujas de sangue. Pegou seu chapéu caído ao chão e postou-o em sua cabeça. Ainda desajeitado, seguiu sua trilha rumo a uma muralha de pedra que erguia-se imponente em meio à ilha. Mas a única coisa que estava em sua cabeça era uma pergunta. Onde estaria sua acompanhante?
***
Os olhos de Sheng já saltavam das órbitas. O ar lhe faltava a muito, o corpo tremia absurdamente, estando em um estado mole e semelhante a uma borracha. Sons abafados e abruptos saíam de sua boca entreaberta e mal eram ouvidos. Ainda tentava lutar, mas já não conseguia mais. Tentou lembrar da fogueira, de Mintwallin, do sol... Mas todas suas lembranças estavam mortas, assim como ele estaria em instantes. Esperava pela luz, por um vestígio de esperança, mas estava tudo acabado.
- EXORI VIS! - Ecoou uma voz rouca pela sala. Todos se viraram - menos Sheng, que permanecia preso por Ulizin - para ver um velho minotauro, praticamente gêmeo de Sheng entrar, apontando uma varinha contra Ulizin. Atrás dele, uns dez outros minotauros estavam em posição de ataque, empunhando espadas, machados curtos e maças. Uma espiral de energia arroxeada iluminou por milésimos a sala e voou contra o jovem. Este jogou Sheng de lado e atirou-se para baixo do monte de terra, esquivando-se do disparo de energia que explodiu contra uma parede, desmoronando-a com um estrondo e erguendo uma alta nuvem de fumaça.
Tiher parecia não acreditar. Encarava o minotauro com os olhos bem abertos e o queixo caído. Se lhe contassem jamais iria crer que o legendário minotauro mago saíra de sua sala. E estava perante ele.
***
O minotauro transpirava grandiosidade. Seu porte cortês e queixo levemente erguido davam a entender um ser de alta inteligência e superioridade, que via os demais seres presentes no ambiente - não exclue-se disso o pobre Draco - réles porcarias inúteis, que não mereciam morrer por suas mãos nem sequer pisar por onde ele pisara. Vendo por esse lado, tinha uma personalidade bastante semelhante a Sheng, mas mesmo assim notava-se sua supremacia.
Andava vacilante, provavelmente uma fratura na perna direita, que evitava forçar ao andar pela sala. Apoiava-se sobre um cajado de madeira muito marcado, com a ponta cravada na terra batida. Na mão livre, levava um cajado não curto nem longo, médio. Avermelhado com detalhes em ouro, prata e bronze, possuía um grande adorno em prata em seu término superior, no qual jazia incrustada uma reluzente jóia amarelada, lapidada e octogonal irregular. A jóia quase arrastava no chão enquanto o minotauro fazia sua entrada triunfal, sinal que ele empunhava o tal cajado de modo inverso, como se tivesse algum problema na pata ou preferisse assim por maior agilidade ao ataque. Sim, aquele minotauro parecia querer estar pronto pra matar.
Seu manto fúcsia amarrotado arrastava-se pelo chão da sala, enchendo-se de pó e sujeiras, que o grandioso mago fazia questão em fulminar com o olhar. Se pudesse desintegraria aquelas impurezas. Em seu pescoço, um enorme colar muito brilhante com jóias e outros ornamentos sacolejava do jeito desleixado, mas ao mesmo tempo magnífico de andar dele. Seu ar misterioso e olhos desviantes, com rumos incertos faziam com que cada novo passo dele fosse esperado com muita ânsia, temor e desconfiança. Seus reflexos perfeitos faziam ele inatingível, e ágil o suficiente para um ataque fugaz. Apesar do que aparentava a situação, ele nunca baixava sua guarda.
Os minotauros que finalizavam o cortejo pareciam conhecer perfeitamente o perfil de seu mestre, pois evitavam pisar pelas marcas de seus cascos e andavam enfileirados, perfeitamente enfileirados na verdade, aos lados dele. Tinham seu olhar vago no horizonte, olhar de quem mostra sua força e respeito ao líder, mas ao mesmo tempo olhar de quem clama por uma liberdade. Nenhum deles movia sequer um músculo sem autorização, empunhavam suas espadas de modo transversal, protegendo o peito. Andavam a passos largos, esvoaçando as túnicas vermelhas com detalhes em couro que usavam até os joelhos. Seus curtos rabos também pareciam temer o mago, pois sequer moviam-se, estando, literalmente, entre suas pernas.
Um detalhe ainda pode ser observado. Todos os minotauros soldados ali presentes andavam com a cabeça demasiado abaixada, deixando seus chifres afiados e curvos bem a mostra, como forma de intimidar o oponente. Ninguém ali parecia muito intimidado com aquelas terminações em marfim, mas sim com o poder emanado pelo mago. Este aproximou-se de Sheng e apenas com o olhar indicou-lhe a saída. Com um breve aceno, ordenou que as tropas se virassem para garantir a saída vergonhosa do aprendiz. O mago ponderou por um momento e admirou a destruição causada momentos antes. A jóia amarelada ainda emanava uma energia absurda, chegando a estar rodeada por faíscas azuladas. Ele virou-se para o cortejo e seguiu caminho entre ele, logo atrás de Sheng. Tiher apenas encarava pasmo como a arrogância do mago era superior a seu orgulho. Ao invés de seguir triunfantemente em frente aos seus subordinados, preferiu ficar atrás, para impedir que quaisquer um deles - principalmente Sheng - pisassem em suas pegadas.
Chegando aos restos da porta da sala, o minotauro olhou com nojo para um corpo fétido de uma minhoca recentemente morta, com um corte transversal no pescoço. E quando todo o cortejo passou, virou-se para Crossfox, Tiher, Ulizin e Draco - que apesar de pertencer a Sheng permanecia ali, paralisado. Pode-se ver seu lábio superior tremer levemente quando ele murmurou, apontando a jóia octogonal para eles, as simples e mortais palavras “Exevo Vis Hur”.