Capítulo XXV
A Onda de Crimes
Onde se comenta sobre uma onda de crimes em Thais, Druid e Mi armam um plano contra Ele e recebe-se um nome: Exército das Sombras
O tempo voava. Já havia se passado algumas luas desde o ataque ao castelo San Banor e a morte do Rei Tibianus. O corpo fora encontrado pelo guarda Kulag pendurado por cordas no portão norte da cidade. A imagem dos restos carbonizados do rei ainda vagava em minha mente.
O sepultamento ocorreu no mesmo dia. Foi feita uma enorme missa a céu aberto no Templo da Flor Branca. Após isso, oficiais da TBI carregaram o enorme caixão de ouro puro contendo a ossada real nos ombros até o norte de Thais, no cemitério. Lá o corpo foi sepultado. Segundo o Conselho Real, um enorme mausoléu ainda será erguido sobre o túmulo.
Thais passou a ser governada pelo Conselho desde então. Como Tibianus III não deixou herdeiros, alguém teve de ser indicado pelo Conselho. A indicação ocorrera a pouco tempo. Um teocrata anônimo fora coroado o novo regente do trono até que encolhessem alguém melhor. Ele adotara o nome de Telésforo I.
Telésforo I não era um bom rei. Mas também não era ruim. Na verdade, ele não era nada. Nada fazia pelo povo, deixava o Conselho tomar todas as decisões. Só estava sentado no trono pra dizer que alguém estava ali. Mas como ele era apenas um regente, o povo não se dava ao trabalho de tirá-lo do poder. Mas o Conselho nem ouviria qualquer protesto civil contra a monarquia. Ia considerar anarquismo e prender a todos. E apesar de tudo isso, Telésforo I deitava e rolava. Aproveitava todas as mordomias de rei e nem se importava com as críticas.
Como se não fosse o suficiente, logo no dia seguinte ao assassinato o bar do Frodo foi atacado pelos mesmos assassinos responsáveis pelo ataque ao castelo. Eles roubaram todo o dinheiro e prenderam Frodo a uma cadeira de ossada no segundo piso, juntamente com Todd. Ambos foram amordaçados e só foram encontrados no fim do dia, quando a TBI cogitou a hipótese deles ainda estarem vivos.
Nas semanas que se passaram mais ataques ocorreram. A fonte do parque de Crunor recebeu jatos e jatos de limo em suas águas, o bueiro foi infestado de insetos, os quatro guardas que protegem e vigiam os portões de acesso a Thais foram torturados e Walter até foi morto! Chester Khas também disse ter sido atacado. No dia seguinte apareceu morto. A única sobrevivente dos ataques até o momento era Lynda, a sacerdotisa. Ela foi atacada na própria igreja, mas se escondeu em um caixão no subsolo. A TBI colocou agentes de segurança para vigiá-la.
Desde então Druid nos obriga a patrulhar as ruas da cidade por turnos. A cada oficio do dia a cidade é vasculhada de cima a baixo por duplas em cada área. Isso para garantir a segurança de todos os habitantes, como Hailux fez questão de prometer no dia que criou a guilda. O trabalho era muito tedioso, mas era importante.
As completas já se aproximavam. Nesse oficio eu e Ama deveríamos patrulhar toda baixa Thais. A pior área para se trabalhar. Mas Druid nos colocou lá na esperança de conseguir encontrar Zivrid. Até agora não tínhamos encontrado nem vestígio dele. O lado bom dessa história toda era que enfim havíamos descoberto porque Ele queria tantas guildas ao seu lado. Para realizar toda essa onda absurda de crimes. Druid estava animadíssimo com essa novidade, mas era o único.
Eu e Ama estávamos pegando alguns sacos de runas de mísseis mágicos pesados e cura máxima, apenas por precaução. Quando a outra dupla voltasse deveríamos partir. Já estávamos sentados na cozinha quando Druid e Mi chegaram. Logo vieram ao nosso encontro e sentaram-se.
- Mudança nos planos – Disse Druid animado, esfregando as palmas das mãos uma na outra – Não vão patrulhar a baixa Thais agora.
- Como? – Ama pediu se recuperando do golpe – Explica isso direito!
- Druid bolou um plano infalível para capturar Ele! – Mi falou sorrindo enquanto se acomodava na cadeira de madeira – Credo que móvel ruim!
- Druid, é verdade? – Eu pedi levantando com um salto.
- Não diria que o plano é infalível, mas sim – Disse Druid sorrindo de orelha a orelha – Acho que dessa vez vamos conseguir desmascarar esse cretino!
- Como pretende encontrá-lo? – Ama pediu se animando.
- É simples. Ele tentou matar Lynda duas luas atrás, correto? – Druid falou – Bom, se ele queria ver a cabeça de Lynda empalhada ele devia ter um bom motivo. E certamente se esse motivo é tão bom quanto Ele faz parecer que é, ele vai tentar outro ataque.
- Mas é óbvio! – Eu comemorei.
- Óbvio até demais – Mi disse sério – Mas acredito que pelo menos Zivrid vá aparecer, e já de grande ajuda.
- Concordo. Mas para que tudo dê certo vamos precisar trabalhar duro! – Disse Druid – Já falei com Lynda, ela concordou em atrair Ele para a igreja. Depois, vocês dois, Alia, Zeffyx e alguns amigos meus vão surpreender os assassinos dele com mísseis pesados disparados dos telhados próximos. E por fim eu aguardo a nuvem de poeira se formar e com a ajuda de uma corda mágica o capturo. Se for preciso podemos apelas para runas de morte súbita.
- As chances de falhar são grandes – Eu disse – Mas porque o Mi não fará nada?
- Pode falar Mike – Druid disse sorrindo mais ainda.
- Bom – Mi começou, se levantando – Parece que Carla El’Piri não está morta como esperávamos. Ela está bem vivinha. E pior: se uniu a Bruno. Parece que ambos são amantes ou coisa parecida. Assim Ele conseguiu conquistar mais uma guilda. E com as três que já tem ele formou uma guilda gigante e com muito poder destrutivo: O Exército das Sombras.
- E daí? – Eu pedi.
- Bom, eu vou me infiltrar no Exército para sugerir o ataque à igreja.
- Até porque não tem como nós capturarmos Ele se ele não aparecer, não é mesmo? – Disse Druid.
***
Já era passado das Matinas. Mas ainda estávamos de tocaia no alto da igreja. Eu e Ama esperávamos no teto sacro, Alia estava escondida sobre a palha que era o teto de um prédio residencial próximo. Zynara e Zeffyx estavam o sobre o porto. Druid estava escondido dentro da igreja e Lynda rezava sentada sobre um tapete azul estendido no meio da rua sobre um bueiro. Se fosse preciso, membros da guilda que estavam na cisterna puxariam a tampa do bueiro e Lynda cairia dentro do esgoto, onde seria seguramente resgatada. Mas ainda assim as chances de fracasso eram grandes. Eu suspirei. Onde estaria Mi?
Mas então houve um som. Diversos passos. O ruído de roupas roçando nas paredes se tornava cada vez mais próximo. Então eu pude avistar um grupo de quatro ou cinco assassinos vestidos inteiramente de preto correrem rente à parede do porto. Logo atrás deles vinha um homem vestindo uma batina e segurando uma caixa de chumbo. E ainda atrás vinha um homem alto e musculoso com um grupo de bandidos e guerreiros selvagens.
E o impossível aconteceu: Um grupo nada convencional apareceu do nada em frente ao tapete. Os componentes eram um homem com uma capa preta, dois outros que seguravam arcos, três mulheres e um velho vestidos de branco, dois homens com espadas e mais um levitando acima de todos. O Exército enfim aparecera.
- Olá Lynda – Eu ouvi Ele dizer. Senti uma forte repulsa – Rezando né? Saiba que a última coisa que seu rei fez antes de morrer foi rezar pela minha alma. Gozado não?
- Você merece o inferno desgraçado – Lynda disse. Eu até podia ouvir o coração dela bater mais forte, mas eu sabia que na verdade era o meu.
- Cala-te – Ele disse. Virou-se para falar com Zivrid que se aproximava e riu. Zivrid passou a frente a assumiu a conversa.
- Como pode trair a ordem seu verme! – Lynda vociferou.
- Cale a boca sua prostituta vagabunda de merda! – Zivrid mirou a mão e já ia pronunciar alguma coisa quando Druid gritou direto da igreja.
- AGORA!
Nós nos revelamos nos telhado e miramos as runas de mísseis pesados no Exército e começamos os disparos. Todo o grupo foi atingido por uma saraivada de mísseis. Lynda jogou o tapete para um canto e entrou no esgoto sã e salva como o esperado.
Druid correu na direção do grupo e gritou. Mas Ele saiu da nuvem de fumaça.
- EXEVO MORT HUR! – Ele gritou. Uma enorme onda de energia foi disparada contra Druid, que se abaixou e escapou da morte certa – SEU TONTO, EU SABIA DO PLANO! MEUS ESPIÕES ME INFORMARAM!
- E eu sabia que você sabia seu otário – Druid debochou. Ele ouviu algo e se virou, mas já era tarde. Eu já havia descido do telhado e estava posicionado atrás dele.
- Exani Tera – Eu falei mirando minhas mãos nele. Um grupo de cordas mágicas foi conjurado e prendeu Ele com um nó muito poderoso.