Pra quem pedia mais rapidez, aqui está!
Capítulo 10 - Extremamente Confidencial.
Ali começava uma história que se mesclava com a de cada um de nós; a da Valheru.
Hesperides ficou responsável por escrever formalmente para os convocados, marcando uma reunião dali a sete luas.
Minha cabeça estava bagunçada e confusa. Ainda não havia tomado coragem para denunciar Pepelu, mas com a viagem do Rei, poderia usar sua ausência como desculpa pela demora. Tibianus, entretanto, não deveria se manter longe por muito tempo, em sua inusitada viagem, que foi marcada com urgência em prol de motivos confidenciais.
Resolvi que não ficaria parado nesse período de sete luas, já que isso só iria me prejudicar mentalmente ainda mais. Fui com Acanthurus para o Monte Sternum, onde aliviei minhas tensões aniquilando uma horda de ciclopes que queria proliferar-se além do Golfo do Rei. Avançamos um pouco mais, e avistamos, bem ao longe, as montanhas que formavam a colônia dos anões, Kazordoon. Naquela época, toda aquela região fazia parte das Planícies de Havoc, mas em decorrer de um fato de incomensurável importância, essa nomenclatura mudaria. Aquelas caçadas me ajudaram a esquecer Pepelu, e eu agradecia no momento, mas quando pensava que estava sendo conivente com o seu erro, minha angústia voltava, e eu ia atrás de mais ciclopes.
Para a única noite que dormiríamos lá, fizemos uma cabana no ponto do monte mais elevado que conseguimos escalar, a fim de impedir que as criaturas nos seguissem.
Antes de dormirmos, ficamos conversando sob a luz da lua. Falávamos sobre nossa infância; eu tinha sido criado pelos meus pais, que mesmo não sendo nobres burgueses, nunca deixaram meu prato sem comida. Vivi num lar que prezava muito a família; meu pai era um cavaleiro sem muita importância, minha mãe trabalhava como vendedora de uma pequena loja, o que fazia com que conhecesse muitas pessoas. Tinha alguns tios por parte de mãe, mas apenas um por parte de pai, apesar de nunca tê-lo conhecido.
Fui para o exército real com dezenove anos, onde conheci Sebastian Lightbringer. Fui passando de patente em patente, até chegar ao cobiçado cargo de Guerreiro da Corte. Era uma história vitoriosa, mas a melhor parte dela estava sendo construída bem naquele momento, e eu não tinha a menor noção disso.
Depois de algum tempo falando, olhei diretamente para meu companheiro. Tudo bem que queríamos apenas jogar conversa fora, para pegarmos logo no sono, mas percebi que Acanthurus estava meio distante.
- O que foi que houve, Acanthurus? – perguntei.
- Fogo? – ele olhava fixo para um ponto atrás de mim – Uma fogueira?
Virei-me para localizar o que ele estava falando. Haviam vários navios aportados na baía ao lado.
- São da Guarda de Thais. Eu sei que é estranho, mas estão aí desde que chegamos.
- Não, Arieswar. Mais para trás.
Ao longe vi um rastro de fumaça e um ponto brilhante na floresta fechada. Havia uma fogueira ali, e algo que parecia um acampamento bem grande. Estava numa terra na qual eu nunca havia ido, muito longe.
- O que será aquilo?
- Será que é Ferumbras? – perguntou, com um pouco de medo.
- Não. Acho que ele não se esconde por aqui. Ele deve ir para algum lugar fechado, que seja um esconderijo no qual ele possa fazer seus planos.
- Acha que pode ser em cavernas subterrâneas?
- É possível. Só que, na verdade, o que eu mais queria saber é se ele é de fato a criatura, ou se a tem sob comando.
- Eu sinceramente espero que seja a segunda opção. Se ele a tiver sob controle, é apenas um homem bem protegido. Se ele for a criatura, pode ser algo que não consigamos derrotar.
- Não há nada que não possa derrotar com a minha espada e a proteção de Banor, Acanthurus.
Ele parou um pouco e disse sombrio:
- Só vejo a espada.
Antes que pudesse falar alguma coisa, avistei uma cobra rastejando ao seu lado. Levantei e chutei-a monte abaixo. Sentei de novo e admirei as estrelas.
- Será que Zathroth aprontou uma conosco?
- Que ele mande um sinal para nós, então!
Explosões aconteceram.
Um a um, os navios ao nosso lado iam sendo bombardeados por alguma coisa que não podíamos ver. O fogo ia se alastrando pela madeira, e corpos queimados voavam para todos os lados. Quando o fogo baixou, vi a silhueta de um demônio, estava de costas para nós.
- Eu farejo medo.
Uma voz rouca e áspera foi lançada ao vento. Ela congelava meu coração, mesmo não sendo tão fria. Era a iminente rouquidão que me dava a sensação de meu corpo virar pedra, mesmo com tão poucas palavras terem sido proferidas.
Postamos-nos a correr monte abaixo. Pulávamos as pedras e corríamos pelas pequenas trilhas e elevações. Enquanto mergulhava para a terra firme, podia sentir uma baforada quente atrás de mim. O fogo era intenso, e o cheiro de carne queimada era insuportável. Não conseguia ver onde a criatura se encontrava, mas onde quer que estivesse, estava atrás de nós.
“Maldito! Como sabia que estávamos aqui?” Enquanto corria, sentia um calafrio, o coração palpitava forte, e o sexto sentido indicava que estaríamos correndo para nossa morte. Esse homem havia jurado que nos assassinaria perante todos, e ele não parecia ser do tipo que falhava com suas promessas.
A saída estava próxima, mas para onde iríamos depois? Thais ficava a uma distância considerável para se ir correndo de um bicho daqueles. Não havia abrigos por perto, e o lugar teoricamente mais seguro, a Baía, estava servindo de depósito de madeira e corpos queimados.
Com o coração batendo forte, e as idéias atrapalhadas pelo pânico, eu avistei a criatura ao longe. Não vi nenhum humano perto dela, o que favoreceu a teoria de Pepelu. Mas, droga! Aquela não era hora de pensar em Pepelu. Olhei a minha volta para ver se escotrava algum esconderijo, algum abrigo, alguma coisa!
O Rio! Havia um rio atrás do Monte Sternum, e não pensei duas vezes antes de me atirar nele; Acanthurus me seguiu. Nadamos a favor da correnteza, e depois de um tempo desemborcamos no Golfo do Rei. Havíamos deixado Ferumbras para trás; havia escapado do monstro pela minha segunda vez; havia deixado ele sozinho naquela baía, que por causa daquele fato, se chamaria Baía do Sangue.
- Então, obrigado por virem e concordarem com tudo, colegas de Valheru.
Hesperides encerrava a reunião de convocação da nossa nova guilda. Eu e Acanthurus víamos aquele grupo com ainda mais importância, pois há poucas luas tínhamos escapados do segundo atentado de Ferumbras às nossas vidas. Eu ia apertando a mão de cada novo companheiro, feliz em saber que aquelas pessoas haviam concordado com nossos ideais, e sabia que podíamos contar com elas.
- Pronto! – disse Hesperides, ao sair do último de nossos novos colegas – Agora só preciso que alguém separe os papéis para mim, que hoje mesmo eu posso ir registrar a guilda.
- Pode deixar. – eu falei – Eu faço isso.
- Então amanhã começaremos nossa parte, certo Dragonslayer? – perguntou Acanthurus.
- Perfeitamente. – respondeu o paladino. A parte deles era uma das mais importantes; tinham que contatar os líderes das principais guildas thaienses, a fim de assinar tratados diplomáticos de paz.
- O único problema é que precisamos da assinatura do Rei. – eu lembrei – Vamos ter que esperar ele voltar.
- É...e isso pode demorar. - disse Hesperides – Os pântanos ficam longe.
- Pântanos? – eu perguntei.
- Sim, os pântanos. – disse ele surpreso com minha desinformação – Eu ouvi falar que ele ia para a grande área pantanosa, depois de Kazordoon.
- Fazer o que? – perguntou Acanthurus, também surpreso.
- Não sei, mas ouvi falar que é assunto de importância extrema.
- Quem te disse isso? – eu perguntei incrédulo – Aliás, quem disse que aquele pequeno pântano que vi de Kazordoon é uma grande área pantanosa?
- O Conselheiro Real, Kahn. Mas não pôde falar mais nada. Esse parece ser um assunto extremamente confidencial.
- Espere um momento! – eu havia me recordado - Acanthurus, lembra que vimos um acampamento no meio da floresta ainda inexplorada? Será que pode ter alguma ligação com isso?
- Creio que não, Arieswar. – me respondeu o mago – O Rei não dormiria no meio da selva, numa região inexplorada.
- Nunca se sabe. – disse Dragonslayer – Se esse projeto for realmente de extrema importância...
- O que é de extrema importância é que esses papéis sejam organizados logo. – eu disse, com um plano nada pequeno sendo formulado em minha mente – Tenho muito a fazer.
··Hail the prince of Saiyans··