Bom, não revelarei o nome dos autores.
Aqui está os textos dos dois concorrente. Caso sintam alguma dúvida, leiam as regras. Como não revelarei os nomes, votem a partir de "Texto 1" e "Texto 2"
Tema: Invasão de Firestartes
Spoiler: Texto 1Um Elfo Fiel
Ziel era apenas um jovem elfo de Shadowthorn. Ele vivia com seu avô na única loja de música do vilarejo. A maior parte do seu tempo ele usava para ajudar na loja. Ele era o responsável por consertar e afinar os instrumentos, para isso, ele utilizava um Diapasão, uma ferramenta que produz os sons necessários para se afinar algum instrumento musical. Por essa razão, ele sempre carregava o Diapasão no seu bolso. Quando não estava trabalhando, ele ia orar no templo do deus Bog, a quem ele agradecia e fazia pedidos. Pelo menos três vezes ao dia ele ia para o templo rezar. Ziel não entendia porque alguns elfos se rebelaram contra o deus Bog. Ele ouvia histórias sobre um grupo de elfos que um dia se revoltou e começou a tacar fogo na vila, felizmente, os guardas conseguiram detê-los a tempo de salvar Shadowthorn. Foi naquele dia que os pais de Ziel morreram, ele estava escondido embaixo da cama e viu as costas de elfo com tatuagens negras que os acertou com sua espada. Aquele elfo era um dos dois líderes do grupo de rebeldes, seu nome seria Kentaru e ele estaria preso nos calabouços da cidade, ninguém sabe o nome do outro líder, mas contam que ele teria sido morto durante a rebelião.
***
Certo dia, Ziel estava indo para a loja, voltando do templo, quando esbarrou em um elfo alto vestido com uma manta marrom. O Elfo o olhou no fundo dos olhos, transparecendo toda a sua raiva, e em seguida, continuou andando. Ziel sentiu muito medo e ficou acompanhando o andar daquele sujeito. Ele viu o elfo alto entrar na delegacia da vila, puxar uma espada e matar o xerife. Sem saber direito o que fazer, Ziel correu de volta para o templo, ajoelhou-se em frente a um pequeno lago e começou a implorar por ajuda, pois, com o xerife morto, ele não sabia o que poderia ocorrer na cidade. Depois de alguns minutos, ele escutou uma voz.
- Liberte-o...
Ziel se levantou e ficou procurando quem teria dito aquilo. Ele encontrou um elfo sacerdote a alguns metros, se aproximou e perguntou:
- O que você disse senhor? Quem pediu para eu libertar?
- Eu não disse nada jovem, você deve ter se enganado – respondeu o sacerdote.
- Não, eu ouvi mesmo alguém falando, deve ter sido outra pessoa.
- Só estamos nós dois aqui e eu não falei nada, então, se você realmente ouvir alguém falando novamente, simplesmente responda – disse novamente o sacerdote.
- Tudo bem, obrigado – respondeu Ziel.
Ele pensou em contar para aquele sacerdote sobre o que viu na delegacia, mas o medo era tanto que ele simplesmente resolveu voltar a orar e pedir ajuda ao deus Bog. Até que ouviu uma voz novamente.
- Liberte-o...
Ziel se concentrou e tremendo, perguntou.
- Libertar quem?
- Liberte Kentaru – respondeu a voz, que concluiu - e seja rápido.
Tremendo ainda mais, Ziel abriu os olhos e olhou ao redor, não havia ninguém, nem mesmo o sacerdote estava perto. E então ele concluiu, aquele era um pedido do próprio deus Bog.
Ziel levantou e começou a andar para delegacia, ele estava decidido, se Bog pediu, ele deveria libertar Kentaru. No caminho ele ficou se perguntando, como libertar o assassino de seus pais, o principal líder da revolta contra o seu deus poderia ajudar a cidade. Nada fazia sentido, mas ele confiava e decidiu fazer mesmo sem entender.
Ele entrou na delegacia e viu o corpo do xerife morto, percebeu também que o alçapão que dava acesso ao calabouço estava aberto. Sem hesitar, ele entrou no calabouço. Apesar da escuridão, seus olhos de elfo lhe permitiam enxergar o caminho, ele ainda podia escutar algum tipo de música élfica vindo do final do corredor. Após alguns minutos, a música parou e Ziel começou a escutar passos em sua direção. Ele percebeu que eram muitos e que estavam correndo. Então, ele procurou um canto mais escuro e rapidamente se encostou na parede, tentando não ser visto. Um grupo de rebeldes passou correndo por ele, eram aqueles que haviam se revoltado contra o deus Bog, e que agora, estariam livres. Ziel ficou imaginando o que aqueles elfos fariam quando chegasse lá em cima, no vilarejo. Ele pensou em começar a rezar, mas lembrou-se das palavras “Seja rápido” que ele ouviu no templo. Assim, ele começou a correr na direção das celas. Quando chegou, ele reparou que todas estavam abertas, Ziel foi olhando uma a uma para ver se todas estavam vazias. Naquele momento ele se perguntou por que ele teria que libertar Kentaru, se àquela altura, ele já deveria estar livre. Seus pensamentos foram interrompidos por algumas vozes, havia alguém na última cela. Ziel se aproximou devagar e entrou na cela anterior, para poder ouvir a conversa.
- Vamos logo Kentaru, acabar com essa vila ingrata – disse a voz de um elfo.
- Eu já disse que não, e essa é minha última palavra – respondeu o outro elfo.
Ziel escutou alguns passos e tentou se esconder, mas um deles saiu da cela e o viu, era o elfo alto que vestia um manto marrom, que ele havia esbarrado na cidade. Novamente, o elfo o olhou com olhar de ódio, deixando Ziel com muito medo, e em seguida, o elfo começou a andar na direção da saída.
Novamente, Ziel começou a escutar uma música, ele reconheceu aqueles sons, era uma tradicional música élfica, apesar de parecer não estar sendo bem executada. Então, ele entrou na última cela e viu um elfo, também alto, com muitas tatuagens negras pelo corpo, tocando uma pequena Lyra. Pelas tatuagens, aquele deveria ser o temível Kentaru, o assassino de seus pais. Ao vê-lo, Kentaru parou de tocar e se dirigiu a Ziel:
- Vá embora, eu já disse que não vou sair daqui – disse Kentaru.
- Eu vim aqui para libertá-lo e não vou sair até cumprir a minha missão – respondeu Ziel.
- Você é algum tipo de idiota? Não vê que eu já estou livre? – ironizou Kentaru.
- Sinceramente, não. Eu vejo que você pode sair, mas algo ainda lhe prende aqui. – respondeu Ziel.
Kentaru fez uma expressão séria e então voltou a falar.
- Eu matei muitos elfos e devo ficar aqui, agora vá embora, e me deixe tocar minha Lyra.
Sem dar tempo para alguma resposta, ele voltou a tocar a mesma música. Ao vê-lo tocando, Ziel percebeu que a música estava sendo bem executada, apesar de os sons não saírem como deveriam. E assim, ele resolveu interromper.
- Por favor, me deixe ver esse instrumento – disse Ziel.
Kentaru o olhou com uma expressão de raiva, mas lhe entregou a sua Lyra. Ziel sacou o seu Diapasão e o usou para afinar o instrumento, e em seguida, o devolveu. Kentaru pegou sua Lyra e voltou a tocar, mas agora, os sons eram perfeitos e a melodia fluía, como uma verdadeira música élfica. O elfo sorria enquanto tocava, após algumas notas, ele parou e falou.
- Muito Obrigado, como você se chama? – disse Kentaru ainda sorrindo.
- Meu nome é Ziel.
- Meu nome é Kentaru. Você parece ser um bom elfo. Mas por que você quer destruir essa vila?
- Eu não quero destruí-la, quero salvá-la. – respondeu Ziel.
- Mas então por que você quer me libertar? Não sabe que eu fui um dos responsáveis pela última revolta?
- Eu sei sim – ele hesitou um instante - você matou os meus pais.
- E você ainda vem me libertar? Depois do que eu fiz?
- Eu tive que vir. – ele hesitou novamente - Foi o deus Bog que me mandou te libertar.
- O deus Bog? Depois de tudo que eu fiz contra ele? Ele vem pedir a minha ajuda?
- Parece que sim – respondeu Ziel com um tom de dúvida.
Kentaru colocou sua Lyra ao lado, olhou para Ziel e disse,
- Então está certo. Eu sei que não mereço o perdão de ninguém, mas ele está me dando uma chance para me redimir por tudo que eu fiz. Ele é muito bondoso, farei o que for possível. Vamos, seja rápido.
Kentaru começou a correr e Ziel foi o seguindo, aquela última frase o fez ter certeza de que estava fazendo o que era certo, “seja rápido”, foram as mesmas palavras que ele ouviu no templo.
Quando subiram e chegaram na delegacia, Kentaru abriu todos os baús que viu, até encontrar uma espada, Ziel reconheceu aquela espada, era a mesma que foi usada para matar os seus pais.
- Ainda bem que minha espada ainda está aqui – disse Kentaru sorrindo.
Ziel ficou se perguntando, como aquele elfo que parecia bondoso poderia ter matado seus pais e feito tantas outras maldades. Ele reparou também que as manchas nas costas de Kentaru estavam um pouco diferente das que ele lembrava de ter visto no dia em que seus pais morreram.
- Vamos Ziel, não vejo a hora de lutar do lado certo da batalha - disse Kentaru ainda sorrindo.
Eles saíram da delegacia a tempo de ver o último guarda sendo morto pelos rebeldes. Kentaru correu e começou a lutar com eles, ele derrubou o primeiro, cortou o braço do segundo e estava prestes a derrotar o terceiro, quando uma voz o interrompeu.
- Já chega Kentaru. Se você não vai ficar do nosso lado, então não se meta nos nossos assuntos.
Todos pararam de lutar e olharam para aquele elfo alto com manto marrom que se aproximava. Era o mesmo elfo que Ziel tinha visto matando o delegado e tentado convencer Kentaru a sair de sua cela.
- Gororu, vá embora. Não vou deixar você destruir essa vila – disse Kentaru.
- Por que você está fazendo isso? Lembra da última vez? Você se arrependeu e tentou me deter. Então quando eu fui embora eles lhe prenderam nos calabouços durante anos. E você ainda vai protegê-los?
- Eu mereci. Fiz muita coisa errada antes de ver o que era certo. Mas o deus Bog me deu uma segunda chance e não vou desapontá-lo.
- Tudo bem, se é isso que você quer. Mas já aviso que você não irá conseguir salvar essa cidade sozinho.
Gororu puxou uma espada, era idêntica a de Kentaru, em seguida, ele retirou o seu manto marrom, deixando visíveis manchas negras pelo corpo. Naquele momento, Ziel concluiu, eles são irmãos gêmeos.
Gorgoru começou a caminhar na direção deles, olhou para Ziel e disse:
- Foi esse inútil que lhe convenceu a lutar contra mim? Pois saiba que eu o conheço, eu me lembro do dia em que matei os pais dele, e ele ficou escondido em baixo da cama, como um rato. Eu julguei que não valia a pena matar alguém como ele. Agora vejo que me enganei, e por isso, matarei todos dessa cidade.
Agora tudo fazia sentido para Ziel, não foi Kentaru que matou seus pais, foi seu irmão.
– Rebeldes, chegou a hora de dar um pouco de fogo para esse deus Bog – gritou Gorgoru, que em seguida começou a lutar contra Kentaru.
Enquanto os dois elfos lutavam, os rebeldes começaram a atirar flechas de fogo para todos os cantos da cidade. Ziel ficou alguns segundos olhando aquela cena, totalmente perdido, até ouvir Kentaru gritar enquanto lutava.
- Ziel, faça alguma coisa – disse Kentaru ofegante.
Sem saber direito o que fazer, o jovem elfo correu o mais rápido que pode para o templo, caiu de joelhos em frente ao lago sagrado. Quando fez isso, seu diapasão acabou caindo do seu bolso e mergulhando na água. Ele não deu bola para o seu instrumento e começou a rezar, pedindo ajuda. Após alguns segundos ele ouviu a resposta.
- Use a água sagrada.
Sem hesitar, ele pegou um balde próximo, encheu com água do lago sagrado e correu de volta para o centro do vilarejo.
O fogo já havia consumido quase toda a vila e a luta continuava a todo vapor, Kentaru tinha tido algumas oportunidades de vencer, mas não queria matar o seu irmão.
Um balde seria como um grão de areia no mar, mas mesmo assim, Ziel o arremessou sobre um fogo próximo. Assim que saíram do balde, aqueles litros de água se multiplicaram e tomaram o formato de uma tromba dágua, que apagou aproximadamente metade do incêndio. Ao ver aquilo, Ziel ficou maravilhado e começou a correr de volta para o templo, para encher novamente o balde.
Gorgoru ficou indignado, mas um balde daqueles e o fogo acabaria, assim, ele resolveu gritar:
- Invoquem o lobo, agora – gritou ele para os rebeldes.
Gorgoru saltou por cima Kentaru e começou a correr na direção de Ziel, ele levantou sua espada e preparava-se para acertar o jovem elfo, quando foi atingido por uma espada igual a sua.
- Sinto muito meu irmão, mas não posso deixar você matar esse elfo – disse Kentaru enquanto retirava a espada do corpo de seu irmão morto.
Sem saber do que estava acontecendo atrás dele, Ziel continuou correndo para o templo, ele encheu o balde com a água sagrada e correu de volta para o centro do vilarejo. Enquanto se aproximava, ele viu que Gorgoru havia sido derrotado, e um lobo coberto de fogo estava avançando contra Kentaru, que tentava desviar das bolas de fogo arremessadas pelo animal. Ao ver o lobo flamejante, Ziel ficou parado e viu quando o lobo acertou uma bola de fogo em Kentaru e em seguida o derrubou com suas patas. A espada de Kentaru foi para longe, ele ainda estava vivo, mas já estava derrotado. Por instinto, Ziel arremessou a água do seu balde sobre o lobo, na esperança de derrota-lo ou pelo menos apagar as suas chamas. Mas algo impressionante aconteceu, as chamas do lobo se transformaram em cristais de gelo. O lobo rosnou para Ziel e começou a andar em sua direção. Vendo o lobo se aproximar, o elfo começou a correr para o templo e só parou quando chegou no lago sagrado. O lobo continuava vindo em sua direção e rosnando. Com medo, ele começou a olhar para os lados, procurando ajuda, quando viu seu diapasão boiando na água ao seu lado. Ziel pensou “Bog quer que eu o utilize”. O elfo pegou o instrumento e ia jogá-lo contra o lobo, mas pensou um pouco e resolveu colidi-lo contra o chão, produzindo sons. O lobo parou de rosnar e começou a andar mais devagar. Ziel continuou batendo com Diapasão no chão, até que o lobo chegou bem perto dele e se abaixou, como se estivesse o cumprimentando. O Elfo ficou olhando o lobo, até que pela última vez em toda sua vida, ele ouviu aquela voz.
- Monte nele.
Ziel não hesitou e subiu no lobo, que começou a correr de volta para o centro da vila. O lobo não soprava mais fogo, mas sim um ar gelado. E guiando o animal, Ziel congelou todos os rebeldes e apagou todas as chamas de fogo pelo vilarejo. Assim, terminou a maior rebelião da história de Shadowthorn.
Kentaru se recuperou, foi inocentado e se tornou o novo xerife da cidade. Ziel continuou ajudando o seu avô na loja e indo rezar no templo, mas quando era necessário, ele também ajudava Kentaru na segurança da cidade. É claro que outras revoltas aconteceram, mas a partir daquele dia, Kentaru e Ziel sempre estariam ali para defender o vilarejo.
Spoiler: Texto 2Dias obscuros, lembranças magníficas.
- Filho, há mais pergaminhos ali, no canto. Tire-os, eu logo vou arrumá-los na ordem correta. –Ordenei a meu filho, Elathriel.
A antiga biblioteca precisava de uma boa limpeza depois de anos esquecida entre as raízes de nossa casa-carvalho em Ab’Dendriel. Ela era pequena, mas bem conservada. Havia dezenas de títulos nas estantes. Cada livro, cada relatório... Todos jaziam ali, como lembranças de minha jornada.
- Pai, estão todos ali em cima da mesa. Subirei pra tomar um ar, aqui é um pouco abafado. – Ele disse, aliviado. – Com licença.
- Tudo bem, daqui a alguns minutos eu subo também, estou quase terminando. – Disse sem saber.
Dirigi-me até uma das cadeiras que rodeava a mesa central do cômodo e sentei-me com um pouco de dificuldade.
- A idade pesa, meu caro. – Gracejei.
Peguei um pergaminho do monte, aparentando um antigo escrito meu. Coloquei meus óculos de leitura, o abri e li seu título:
Diário de Batalha - Shadowthorn, 19 de Nera de 4458.
Lembrei-me desta data imediatamente. 19 de Nera de 4458. Foi o começo de tudo... O dia da grande invasão.
De repente, minhas velhas mãos deram lugar às mãos que seguravam um brilhoso arco. Aquele ambiente nebuloso da biblioteca deu lugar a um vasto campo abaixo de um sol entre nuvens. O silêncio revirou-se em um falatório geral. Era o dia 19 de Nera de 4458.
Eu era um simples substituto de comandante em Shadowthorn, vivia meus vinte e poucos anos de idade. Um jovem inexperiente com um arco em mãos comandando uma vila élfica inteira.
Naqueles dias, os elfos locais aderiram a uma seita misteriosa que visava Brog como um Deus. Sempre soube que esse semideus maligno era uma ameaça à nossa cultura, mas nunca me expus a tal ponto. Ao leste da vila havia sido construído um templo para adorarem seu Deus, o que pra mim era inaceitável.
Porém, ninguém, absolutamente ninguém sabia o que estava prestes a acontecer.
***
- Comandante Nofhel, está tudo bem na área norte. – Um elfo se dirigiu a mim.
- Tudo bem, pode subir.
Era quase meio-dia e os soldados que terminavam seu turno subiam ao refeitório, na torre central. Eu os aguardava na entrada.
- Comandante Nofhel, seu superior o aguarda na entrada da vila. – Um subcomandante me disse, aparentemente voltando de uma expedição fora de Shadowthorn.
- Certo. Fique aqui e aguarde minha volta. – Disse.
O elfo assentiu e ficou de guarda na entrada da torre.
Encaixei meu arco em minha armadura, às costas, e segui para a entrada da vila.
Mal havia chegado às escadas ao norte, quando meu Comandante veio ao meu encontro.
- Ashari, Nofhel. Como está se saindo no comando?
- Ashari, Bashiel. Nada de errado até agora. E o senhor, como foi sua missão em Ab’Dendriel?
- Tudo ocorreu como esperado. – Ele disse friamente. – Bem, siga-me até meus aposentos. Tenho outra missão para lhe explicar.
- Tudo bem.
Assim, nós adentramos de volta à vila. Meu comandante estava ofegante por sua longa viagem. Fui gentil e carreguei sua bagagem.
Quase chegando à área nobre da vila, algo impressionante estava prestes a acontecer. Ou melhor, algo terrível.
Num estrondo ensurdecedor, a base da torre principal da vila explodiu. Alguns elfos por perto foram jogados para longe com o tremor da terra. As pontes que ligavam os edifícios à torre, nos andares mais altos caíram pela metade, deixando alguns soldados de passagem pendurados por cipós soltos ou galhos firmes, e outros, caíram como pedras jogadas por alguém.
Eu e o comandante nos desequilibramos com o tremor de terra.
O grito de desespero dos elfos resplandeceu no pântano.
De repente, a torre começou a tombar para o lado, vagarosamente. Só não chegou ao seu limite por que as raízes do edifício estavam cravadas profundamente na terra. O subsolo remexeu-se, revirou-se. As raízes se torciam, se rasgavam ao meio. Mas outros braços firmes seguravam nosso prédio principal.
A terra em volta da torre começou a rebaixar-se e enfim, deixou seu subterrâneo aparente. Lá dentro, vários perfis de elfos com a cor laranja destacada em suas roupas e cabelos. Ouviram-se algumas palavras vindas do grupo.
Entre choros e gritos de clemência, uma grande chama vinda do subsolo corroeu as raízes que agarravam a torre, fazendo-a cair num outro grande estouro, no rio que corria ao lado. Após isso, ardeu-se um fogo infernal por todos os lados, seguido de uma explosão que queimou boa parte da torre.
Havia dezenas de pessoas lá.
Tudo foi muito rápido.
Por sorte, alguns elfos escaparam pela parte inundada da torre, a qual não foi alcançada pelo fogo.
Olhei Bashiel de relance e o vi hipnotizado pelo trágico espetáculo.
Rapidamente, o grupo de elfos emergiu do subterrâneo envolto de uma fina áurea flamejante.
- Onde está a Chama? Onde está a Chama? – Eles suplicavam, cuspindo fogo para todos os cantos.
Aquilo me atingiu como a mais afiada flecha élfica cravando meu peito.
O que eles buscavam era uma pequena caixa de um cristal muito puro e transparente, retirado da mais funda mina de Kazordoon, em que em seu interior havia uma pequena chama negra, inquieta e que não podia ser libertada de seu cárcere, só em casos extremos.
Nossos antepassados, os mesmos que construíram nossa Shadowthorn, foram os criadores dessa chama, com a intenção de proteger a vila. O pântano a nossa volta é altamente inflamável, o que deixava os habitantes da vila preocupados. Shadowthon é feita totalmente de árvores centenárias, o que a deixa em risco de incêndio.
Assim, os elfos criaram com ajuda de alguns humanos, uma chama que seria capaz de controlar todo e qualquer tipo de fogo ou incêndio. Eles a nomearam de “A Chama-Negra”, ou como nós a chamamos; a “Flama-Rei”.
E eu era o guardião dessa maldita chama nesse dia. Aqueles elfos sabiam que com a Chama longe de si, podiam dominar Shadowthorn por completo. Mas... Por que eles queriam a queda de nossa vila? Era uma pergunta sem resposta naquele momento
Os soldados que restaram do desastre fugiram para as imediações da vila. Todos se arriscaram pulando muralha a fora de Shadowthorn.
Eu estava paralisado, pensando nas mil possibilidades daquilo dar errado, mas me veio uma brecha.
- Capitão Bashiel, temos de levar a Flama-Rei para longe de Shadowthorn, rápido! – Eu exclamei.
Nesse momento, os lançadores de fogo vieram ao nosso encontro.
- Corra Nofhel, corra! Eles estão vindo! Eu fico aqui enquanto você busca a Chama. – Ele mais que gritou.
Num salto incrível, corri até a outra entrada para o subsolo da vila, em um pequeno edifício um pouco desconhecido.
Desci as escadas tentando ser o mais sorrateiro possível. Todo cuidado era pouco. Provavelmente os elfos de fogo já estavam no subsolo também.
Estava escuro nos túneis subterrâneos. Corri o mais rápido que pude até o esconderijo da Chama, mas, de súbito, ouvi um estranho ruído numa bifurcação à frente.
- Quem está aí? – Uma voz perguntou.
Eu prendi a respiração e colei-me à parede contrária a voz.
Uma luz ofuscou minha visão de repente.
- Ashari, capitão. Que barulho foi esse há pouco?
- Ashari. Aquilo foi uma invasão dos elfos de fogo. Eles desabaram e queimaram a torre principal.
- Oh meu Deus...
- Não há tempo para lamentações, soldado. Venha comigo e eu lhe explicarei melhor. Há mais alguém com você?
- Não. Todos subiram, senhor... – Ele disse pensativo.
Nós adentramos mais no subterrâneo da vila em busca da Chama. Eu expliquei melhor o que havia acontecido para o soldado, que recebeu todas as informações tristemente.
- Então é isso... As suspeitas estavam certas... – Ele disse, desconfiado.
- Que suspeitas, soldado?
- De que havia uma organização oculta a fim de colocar um fim em nossa crença em Brog.
- Então você é um seguidor dele... Mas enfim, não podemos deixar que por isso a vila toda seja destruída! – Exclamei.
Finalmente havíamos chegado à sala em que a Chama era guardada. Uma enorme parede de pedra maciça. Havia uma tranca de ouro e uma pequena janela, ao alto. No chão, um piso mágico adornado de pedras brancas e azuis.
- Escute-me bem: Fique aqui e me avise sobre qualquer barulho no túnel por esta janela. Eu vou demorar alguns minutos lá dentro.
- Tudo bem, capitão. – Ele afirmou.
Coloquei minha mão esquerda sobre a parede de pedra e anunciei um juramento élfico de séculos atrás.
A fechadura rangeu, e a grande pedra abriu caminho para uma escada escura.
- Veni Lumen. – Sussurrei.
O cômodo se iluminou e deixou aparente uma estante decorada com várias pedras preciosas, e no centro, a caixa de cristal que guardava a chama. Segui em frente e removi um véu quase invisível que caía do alto até o chão, cobrindo o móvel. Peguei a caixa e ouvi um grito sufocado vindo da porta.
A janela da parede de pedra se abriu, e vindo de fora, escorreu um líquido brilhoso e de cor laranja pela escada. Aquilo tomou forma e transformou-se em três elfos de fogo.
- Eu tenho a Chama! Saiam, malignos! – Eu exclamei.
- Nossa destruição é nossa força... – Os três cochicharam em uníssono.
Confiante, em deslacrei a caixa de cristal e abri sua tampa com força. Ela, em uma velocidade incrível, percorreu a sala e parou em frente aos três elfos. Eles foram de encontro a ela, tentando capturá-la, mas, milésimos de segundo antes, eles tiveram sua energia sugada pela Chama.
De repente, explodiu-se uma luz negra pelo recinto que me deixou cego por alguns segundos.
Logo, tentei capturar a Chama, que desta vez, estava mais volumosa. Também mais ágil e arredia, deixando rastros negros por todo o lado.
Tranquei-a na caixa de cristal e subi à superfície. Novamente declarei o juramento em frente à porta e saí. Vi o soldado que há pouco antes estava comigo, morto ao canto do túnel. Prometi fazer preces à Crunor por isso.
O caminho de volta estava todo tomado por fogo, e quase me sufoquei com a fumaça exalada.
Já na superfície, me vi literalmente no inferno.
Tudo, absolutamente tudo, estava em chamas. O calor era insuportável. Aqui não era Shadowthorn. Não era a minha Shadowthorn. Só havia uma saída. Mesmo tendo suas consequências, eu estava no comando aquele dia. Não podia deixar a vila assim!
Fui até o centro de Shadowthorn. Peguei uma trombeta que estava em minhas costas, junto ao arco, e a toquei incessantemente.
Os elfos de fogo começaram a vir em minha direção, não parei de tocar a trombeta até o último elfo aparecer.
- Você é tolo, Nofhel. Todos estão mortos, Shadowthorn está em chamas, o que quer agora? Pedir sua morte em público? – Um deles disse.
- Nada disso, malditos invocadores de fogo. Estou com seu poder em mãos. Vocês não o querem? Sim, a Chama Negra está comigo! Venham pegá-la! – Eu exclamei, engolindo o medo.
Todos vieram, um por cima dos outros em busca da sua destruição. Simplesmente esperei até que todos estivessem perto para que eu abrisse a caixa de cristal.
Dito e feito.
Eu abri a caixa com toda minha força, jogando a Chama no meio dos elfos. Eles pularam atrás dela, e uma maciça onda negra se formou. A Chama ia engolindo tudo e todos, tomando uma proporção inimaginável. Eu me afastei o máximo que pude dali, mas a explosão que viria em seguida seria catastrófica.
Um show de luzes que poderia corroer Shadowthorn inteira.
Mas, diferente do último episódio com os elfos de fogo, a explosão que veio tornou um alvejante branco em destaque. Foi rápido demais para ser descrito.
De repente, cinzas brancas flutuavam por todos os lados, no lugar de onde havia fogo e destruição. Procurei saber o que havia acontecido, mas não havia nenhum rastro da Chama. Tudo era branco como a neve.
Andei até o local em que a chama se expandiu, e lá só restou...
Repentinamente, ouvi uma voz me chamando. Não sabia de onde, mas me chamava incessantemente. Tudo se tornou escuro. E fui puxado pelo braço.
- Pai! Acorde! Ainda há muito trabalho para se fazer!
- Oh, desculpe, acho que eu cochilei um pouco. – Eu disse, confuso.
Levante-me da cadeira e olhei minhas mãos. Estavam enrugadas e calosas novamente. Sim, aquilo foi um sonho, ou melhor, a reconstituição daquele dia de destruição.
Procurei o escrito que estava comigo antes de dormir. Não estava em lugar algum. Revirei o monte de pergaminhos na mesa, nas estantes, e nada se encontrava lá.
- Filho, você veio aqui enquanto estive dormindo?
- Não, não vim. Está com algum problema?
- Nem pensar. Estava procurando... Bem, isso não é de importância.
- Tudo bem... – Ele respondeu confuso.
Corri o olhar pela sala e vi um monte de cinzas brancas, no canto mais escuro do aposento. Seria o diário daquele dia? Eu não sabia... Menos ainda se aquilo foi um sonho, ou uma lembrança.
Mas se é uma coisa que eu sei, é de que aquele dia não estará guardado, nem em livros e nem em escritos, mas sim na minha memória, até quando meus dias aqui durarem.
Ta aí.
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