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Tópico: [J.L] 9ª Justa Literária, Dard Drak x Arwen Luna, Cat. Fênix

  1. #1
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    Padrão [J.L] 9ª Justa Literária, Dard Drak x Arwen Luna, Cat. Fênix

    A pergunta dessa justa é simples: você gosta de ler? Pois são as maiores obras aqui vistas até então!

    A disputa está entre o veterano Dard Drak e nossa caloura Arwen Luna. O tema em questão é Casamento. Vamos aos contos:

    Casamento Casual


    Fábio irritado xingava a gravata, o nó não saia, se saia era mal feito. Precisava de um espelho, foi até o quarto, porta fechada, Lís se arrumando demorava como de costume. Perguntou se estava pronta, ouviu um não, disse que queria entrar, ouviu um pode entrar, Fábio não quis, não podia vê-la antes da hora, Lís replicou que deixasse de frescura e entrasse logo, Fábio deu de ombros e abriu a porta.

    Vestido caído, ela vestia, não caído por estilo mas sim por velhice; era da mãe, antes da avó, no meio dessas foi de uma prima também, agora seria dela não por tradição e sim porque dinheiro para vestido novo não tinham. Um branco quase que amarelado cobria seu corpo quase que de menina ainda. A mãe nos últimos detalhes ajudava, e Fábio admirado vendo mais do que realmente existia elogiou Lís banalmente, e Lís encabulada porém fingindo indiferença mas no fim mostrando rispidez mandou que se apressasse, estavam atrasados.

    Em minutos ficaram prontos, mãe se adiantou e saiu para avisar a chegada do casal. Deixaram o quarto, desceram as escadas de puro concreto, Lís na frente Fábio atrás porque o espaço era pequeno. Duas menininhas ajudavam a noiva erguendo o vestido conforme desciam; uma delas um passo falso deu e caiu três, quatro degraus, se machucou, choro alto e escandaloso fez e a atenção de todos chamou. Para a casa foi levada por uma tia, criança chorona só em aniversários, casamentos não.

    Lís vasculhou o local, perguntou pelo seu pai que a levaria ao altar, responderam que saíra, a cerveja acabara, na adega próxima foi comprar mais, Lís impaciente não quis esperar. Agarrou pelo braço um primo qualquer como substituto, mal sabia quem era, de outra cidade vinha, não importava, era bonito, bastava. Fábio foi conduzido pela sogra. Não havia música de entrada.

    O altar era uma mesa baixa de escritório do irmão, irmão padre que ali faria o seu ofício, diria as frases habituais, os votos gerais, você aceita ele/ela como legítimo esposo/ esposa na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe e etc e etc. Trajava uma batina preta e mostrava-se solene, sério, perfumado no início; contudo depois suado e entediado ficou por conta do local abafado e do casal que se atrasou demais. Era padre, reclamar não devia, segurava um sorriso no rosto enquanto os via atravessar o salão, Lís parando de metro em metro nos poucos metros do trajeto cumprimentando a parentela em pé porque cadeira não tinha a não ser para os velhos, Fábio calado o caminho todo para ninguém olhava, não conhecia uma só pessoa, parentes seus sequer um veio, pois é, fazer o que. Pararam na frente do padre, a noiva de repente se lembrou e perguntou pelas alianças, Fábio um rapaz comum as esquecera, foram pegar para ele. Perguntou em seguida do buquê, entregaram a ela um ramalhete miúdo de não mais de dez flores amarelas miúdas que ironicamente combinava com o vestido, cochichavam primas e tias e amigas ao fundo, pronto, agora sim, tudo em ordem. Começava a cerimônia. Lís a irmão/padre pedia que fosse rápido, antes das seis deveriam eles estar casados e todos fora dali.

    ...

    Procurando ela emprego qualquer mesmo sem experiência nenhuma acabou por cair numa empresa de telemarketing, era o jeito, se contentava, por ora servia. Usando a roupa menos feia que tinha, no primeiro dia lhe apresentaram um rapaz experiente no ramo, que na empresa trabalhava há seis anos – não bem muito se orgulhava disso o rapaz, nada de melhor conseguia achar. Se por pensar que tal tempo de serviço lhe dava esse direito ou se simplesmente era o fato de não ter gostado dela à primeira vista, ao deparar-se com uma jovenzinha mal vestida de cabelos espessos emaranhados arruivados repleta de espinhas, tanto faz; mas Fábio nada bem a tratou desde o início. E fora incumbido de ensina-la as noções básicas do trabalho, pobre da Lís.

    Lís nada viu nele de muita nota; razoável, mediano, ordinário, normal, com uma dessas palavras o tachou. A indolência com a qual foi recebida por ele a impediu de analisa-lo com maior esmero e cuidado e imparcialidade. Em poucas ocasiões mexera em um computador, e muito custava a aprender. Fábio rude, áspero, conduta rara encarnada somente nos momentos de serviço, com ela perdia clientes e comissões, e a todo instante por esse motivo unicamente aproveitava e a criticava e a desdenhava;

    - Até você digitar o nome do cliente ele já desligou o telefone. Por que não foi trabalhar numa lanchonete?

    - Se eu deixa-la sozinha por cinco minutos ainda estará no emprego quando eu voltar?

    - Ainda bem que sua família não depende do seu salário.

    Isso foi há cinco meses, para seis faltavam alguns dias. Passado o espanto de verem que um começo tão cheio de farpas resultou num final tão cheio de juras de amor, de precipitados os chamavam por tudo ter sido tão rápido. Ignoravam a trama de fundo.

    Lís nessas piadinhas quieta permanecia e segurava choro; tentava transparecer imagem de moça forte sendo menina frágil, não aguentava pressão. Mas tinha de trabalhar, ultimato do pai.

    ...

    Este chegou quando estavam quase em metade da cerimônia; engradados de cerveja com outros dois amigos trazia, transpirando de suor mais do que o filho de batina naquele espaço tão pequeno onde trinta e tantas pessoas se abanavam como podiam. Ressentido ficou ao ver que casamento já havia começado, olhou feio para o casal que de costas não o notou, cruzaria o salão e faria cena se a esposa não fosse em sua direção para tira-lo dali. Ela segredou algo em seu ouvido, ele se acalmou um pouco, para a casa foi com ela, briga entre familiares só em aniversários, casamentos não. Ainda assim pai e filha resolveriam isso e as pazes fariam apenas quatro meses depois, porém pai ficaria remoendo essa lembrança para sempre. Única filha mulher entre vários filhos homens, há de se entender e relevar.

    ...

    A garota aprendia a passos lentos, culpa nem tanto de sua inteligência, mas sim da má vontade de Fábio, que a ensinava mal mal. Deixava claro que fazia aquilo por obrigação e não por bondade, e Lís o odiava com um ódio infantil e sem força; via no rapaz franzino um tirano que se achava superior somente porque trabalhava há mais tempo do que ela. Era-lhe isso insuportável e do emprego desistiria sem pensar com sua volubilidade típica de moça-menina, mas pai estava dessa vez muito sério em relação à filha ser independente financeiramente.

    Aconteceu assim, em um dia, durante o intervalo do almoço. Moça orgulhosa menina teimosa não admitia ter levado mais um sermão, por um erro que na sua visão nada tinha de grave – travara uma máquina por quase meia hora. Pegou o prato, sentou-se, pelo local passou o olhar por passar e achou Fábio mesas adiante, com três colegas. Lís desviou os olhos rapidamente, raiva aumentada, um segundo olhar fugaz deu, mais calma ficou, um terceiro furtivo, virou o rosto e fechou os olhos brevemente; na quarta vez o observou sem pudor, ignorando o risco de ser flagrada. Ele ria, riso tímido contido honesto. Fora do serviço sem fone na cabeça nem cara amarrada nem palavras duras ele se tornava em alguns segundos na sua visão um rapaz interessante, aturável, seria o termo mais literário e romântico; porém na realidade ela pensava no adjetivo “bonito” e não mais do que isso. Inexperiente ingênua inocente que era, nunca avançou muito além desse termo. Bonito, ele era e fim, nada tentava ou insinuava.

    A Fábio torna-se mais fácil e curto explicar. Seis horas por dia ao lado de uma garota que, quando olhou melhor, não parecia assim tão ruim na aparência, concluiu como homem. Agia grosseiro primeiro por grosseria mesmo; agia grosseiro depois por vontade que tinha de vê-la irritada e perdida, bonita ficava a seu ver. Bobo não era.

    Certa tarde hora extra fizeram e foram os últimos a saírem, sozinhos. Lís no último corredor antes da porta de saída apressou seu andar a querer distância de Fábio; dava uma de caprichosa sem perceber, lado mulher aflorando e aprendendo. Fábio hesitou, hesitou, bobo não era mas tímido sim, gritou por seu nome, grito aumentado pelo eco do local, ela virou a contragosto, cara amarrada aprendida justamente com ele, esperava nova reclamação, perguntou um mero o quê. Convidou-a nem sabe ele até hoje como para ir num bar próximo, dois colegas de serviço lá o esperavam. Lís ou se pega muito de surpresa pela proposta ou se encantada por ver o rosto de Fábio vermelhando não sabe até hoje também, porém aceitou, assim, indiferente, ou fingindo indiferença na verdade, salientando que não tinha nada para fazer naquele dia mesmo, melhor aquilo do que ficar em casa. E foram. Era uma sexta-feira, Lís voltou para casa sábado de manhã. Pai não gostou.

    ...

    As palavras do padre/irmão se interrompiam em exatos a cada cinco minutos e meio; era esse o intervalo dos ônibus que passavam no ponto bem em frente, na mesma calçada. O motor potente dos veículos cobria a voz melíflua e serena de padre que o padre ostentava, e este se via obrigado a parar de falar por alguns segundos ou minutos inteiros. Vá lá, que isso não ocorra, claro, não mesmo, porém vá lá se ocorresse de um dos dois trair o outro futuramente, um engraçadinho poderia aproveitar o ensejo e dizer que isso aconteceu porque o noivo ou noiva não ouviu direito os votos solenes, para piadas assim parentes há muitos. As pessoas desciam dos coletivos e presenciavam de súbito casamento em local tão inusitado; e olhavam curiosas, olhavam risonhas de risos variados, de incrédulos a sarcásticos ou sardônicos, olhavam só por ver, mas todos olhavam, casal e testemunhas do casório partilhavam uma vergonha alheia geral. Passados quatro ônibus um garoto, ninguém sabia filho de quem, na rua ficou a vigiar e avisava de longe com um gesto de mão ao padre quando deveria parar com seu discurso. Às vezes um caminhão aparecia e quebrava ainda mais a cerimônia em pequenos pedaços, e com isso as seis horas chegavam.

    ...

    Tão rápido quanto esse casamento não está indo foi o desenlace daquela noite. Os colegas deduraram o que viram e ouviram por pura fofoca e malícia e a história chegou à direção, que advertiu os dois; não permitiriam funcionários se relacionarem assim, não mesmo, proibido. Que saísse um deles, se decidissem qual, e entre um dedicado empregado e uma novata, Lís se martirizou e pediu demissão. Pior hora que essa impossível; estava grávida. Azar por ter sido tão fácil ou sorte por igual motivo, levou ela alguns meses entre um pensamento e outro.

    Pai dele odiou, pai dela também todavia não muito poderia dizer, com ele aconteceu semelhante coisa em idade jovem, e sem titubear sugeriu aconselhou obrigou que se fizesse o mesmo a que ele foi sugerido, aconselhado obrigado a fazer na época; que se casassem. Gostavam um do outro? Se sim, casavam logo. Se não, casavam do mesmo modo porque filha sua solteira com filho jamais. De casa seria expulsa e que se virassem, filha e neto ou neta. Fábio aceitou conformado, homem direito responsável que se sentia pelo ocorrido, e sem querer muito admitir gostava de Lís sim; ademais, ela teve de ser demitida para poupá-lo, e tal fato pesava enormemente na decisão. Lís sem escolha sequer protestou, apaixonada tola que estava pelo seu primeiro namorado – no pequeno período de semanas juntos não houve espaço para que se diminuísse a atração original que sentia por ele -, e se tal paixão não se mostrava suficiente para tal união, paciência, aprenderia a gostar mais e mais do marido com o tempo. E que se casassem rapidamente, antes da barriga crescer demais, vergonhoso casar-se gorda de grávida. Como castigo penitência por sua imprudência, pai sentenciou que nem um centavo ao menos gastaria para o casamento, do aluguel de uma igreja a decoração, bolo então nem pensar, vestido fora de questão. Pai na verdade não poderia pagar de pobre que era, se endividaria para isso caso quisesse. Pobre também mãe de Lís, dependente do esposo. Irmão padre, explica tudo. Pais de Fábio, pior, mal podiam ver sua futura nora sem sentir um profundo desprezo, filho deles não tinha culpa nisso, não, pensavam, culpa alguma. Pegar dinheiro emprestado de parentes nunca, pai não permitia.

    No final, o que era piada de mau gosto do pai se concretizou e decidiram usar a garagem de casa, salão de nove por quatro metros modestamente revestido que um dia abrigou uma lojinha da mãe, falida no espaço de um ano, não por causa dela. Lís detestou, fez-se de criança birrenta e moça ofendida, bateu pé, reclamou bastante, não adiantou, ou isso ou ter somente casamento chato em cartório, resignou-se. Com os dias se distraiu e se confortou ao participar dos preparativos da humilde festa – que se resumiam a comes e bebes caseiros singelos e convites igualmente simples.

    ...

    Quase terminada a cerimônia, padre/irmão se aproximava do momento último, Lís agitada olhou o relógio e se assustou; dez minutos faltavam para as seis. Aproveitou a passagem de outro ônibus que interrompia o discurso e ao irmão lhe pediu baixinho próximo aos ouvidos para que seguisse direto à parte das alianças.

    - Por quê? Falta um pouco ainda.

    - Já vai dar seis horas.

    - E daí?

    - Os caminhões de lixo, esqueceu?

    - Droga. É só baixar a porta.

    - Tonto, e como vai ficar todo mundo aqui dentro se não tem luz? Vai, vai logo.

    Padre/irmão abobado levou alguns segundos a se recompor, e por fim começou a ditar a última parte do ritual; testemunhas estranharam, alguns franziram as sobrancelhas, pelo menos as mulheres porque os homens pouco ou nada de atenção prestavam, ué, já está aí? se perguntavam sozinhas ou a quem estivesse do lado. Lís e Fábio pegaram suas alianças, fizeram os juramentos, ela atropelando as palavras na parte das perguntas e respondendo “sins” impacientes na parte das respostas. Não deixou com isso de ser menina, emocionada olhos e faces vermelhos ficaram quando percebeu a gravidade do momento, Fábio esse Fábio demonstrar sentimentos em público lhe era complicado nem noivo parecia por fora porém por dentro estava pior do que ela. Casados, finalmente. O padre mais irmão foi e pronunciou a frase final;

    - Pronto, estão casados.

    - Não vai falar para eu beijar a noiva?

    - Não sendo a noiva a minha irmã. Trocaram as alianças, está bom.

    Sussurrou, riso complacente de cristão no rosto que escondia a seriedade da sentença. Fábio abriu a boca e som algum saiu, recuou, com padre não deveria discutir, principalmente padre irmão da noiva mais alto e forte do que o noivo e com quem pouco conversara. Olhou para Lís com um olhar de apoio, virou-se para ela, Lís olhou para o irmão com um olhar de receio quase de perdão, voltou-se para Fábio e o beijou breve e seco, selinho sem sal nem graça. Pegou-o pela mão e foram andando, todos pedindo um beijo de verdade mas a noiva sorrindo sorriso de criança pelo salão passou puxando o noivo sem dar ouvidos. Irmão contrariado apenas resmungou algo e em seguida como padre pediu para que todos subissem as escadas em direção a casa, onde continuaria a festa. Se por preguiça ou porque novo ônibus encobriu sua fala, não importa, mas a maioria não se mexeu para sair, a cerveja estava cá em baixo, era o bastante.

    Em minutos quatro, cinco, seis, sete caminhões de lixo passeavam pela rua, barulhentos, fedorentos, vagarosos. Existia um lixão próximo e aquele caminho era o de acesso mais rápido para ele – reclamações com a prefeitura houve muitas, em nada resolveram. Desprevenidos e enjoados, os convidados todos que sobraram na garagem subiram as escadas, com narizes tapados e cerveja em mãos.
    Até que a morte nos una



    Joseph vivera grande parte de sua vida na capital com todos os excessos que tal existência exigia. Por muito tempo foi feliz, porém se cansou. Começou a ter verdadeiro asco da modernização. Cinema, rádio, telefone, romances ruins: tudo o cansava de tal forma que decidiu se mudar. Escolheu Little Undednian, um pequeno povoado ao sul que o fazia lembrar de sua infância na casa dos avós do lugarejo vizinho.

    Little Undednian era um lugar incomum. Seus habitantes pareciam ter parado no tempo e se isolado, espontaneamente, do mundo “exterior”. Automóveis havia poucos, e o ápice tecnológico era a energia elétrica - embora alguns ainda preferissem os tradicionais lampiões a querosene. Por tudo isso Joseph achou aquele lugar ideal e encantador.

    Sua chegada ao povoado gerou verdadeiro rebuliço: um moço “da cidade” havia vindo morar ali. “Deve ser advogado ou médico, libertino com certeza”, comentavam. Mas apesar da agitação que aquela chegada causava, receberam-no bem e com amabilidade, como é o costume daqueles que moram no interior.

    Sua primeira semana na vila fora toda tomada pela mudança, os preparativos da casa, e alguns convites sociais que recebera.

    Ao fim de duas semanas cansara-se também de toda aquela agitação “inesperada”; mas como o próprio prefeito o havia chamado para jantar em sua casa, ele aceitou o convite.

    Após o jantar extremamente monótono, resolveu passear pela cidade. Haviam-no mencionado um monte de onde se tinha visão de todo o vale.

    Já estava um pouco tarde e como os moradores possuíam o costume de se recolher cedo, não havia uma alma viva na rua. Julgou isso um ponto positivo, pois viera para aquele lugar justamente pela calmaria e a paz: tudo o que não conseguira encontrar até aquele momento, mesmo em um lugar como aquele.

    Depois de quase 30 min de caminhada, estava exausto. Apesar de seus 20 e poucos anos, a vida que levara até então havia sugado boa parte de sua vitalidade, e o trajeto era bastante exaustivo. Quando já estava retornando por onde havia vindo, decidido a retomar a caminhada no dia seguinte, avistou uma moça parada ao longe.

    Ela parecia profundamente concentrada ao mirar o horizonte, mal se virando quando um galho partido pelos sapatos de seu inesperado visitante produziu um forte estalo.

    - O que uma moça como você está fazendo em um lugar como este uma hora dessas? – ele não conseguiu conter o tom de surpresa quase exigente de sua voz.
    Só então ela pareceu notar sua presença, e quando se virou, Joseph ficou atônito: aquela era a mulher mais bonita que já havia visto em toda sua vida. Um mar de cabelos negros escorria sobre suas costas; a pele alva, quase translúcida, possuía um brilho perolado à luz do luar, o que se encaixava perfeitamente com seus traços delicados e seus olhos de um tom de verde extraordinário. Usava um vestido longo, bege, que arrastava no solo e que em várias partes, pedaços de folhas e gravetos haviam grudado ao tecido.

    - Eu sempre venho a este lugar.

    - Mas não pensa que este é um local incomum para uma donzela como você?

    - “Uma donzela como eu” – ela repetiu com um meio sorriso de escárnio e calou-se.

    Ele esperou dois minutos, os mais longos de sua vida, enquanto aguardava uma resposta da misteriosa mulher.

    - Qual o seu nome?

    - Este é um lugar muito bonito – ela comentou sem parecer ter ouvido a pergunta anterior. Só então Joseph notou que aquele era o monte que procurava, mas tampouco se importou. A única coisa que tomava seus pensamentos naquele momento era a intrigante figura ao seu lado.

    - Realmente muito bonito. Você mora aqui?

    - Costumava morar.

    - Mudou-se?

    - Pode-se dizer assim.

    - Você não vai dizer seu nome?

    Ela novamente não respondeu.

    - Por que evita às minhas perguntas?

    - Porque são demasiado inconvenientes.

    - Posso ao menos fazer-lhe companhia?

    Ela não respondeu e ele entendeu aquilo como um “sim”.

    E a partir daquele dia Joseph ia religiosamente àquele local, sempre no mesmo horário, sempre a encontrando ali: a mesma figura linda, reservada e triste. Com o tempo ela tornou-se um pouco mais suscetível, mas fechava-se toda vez que ele a fazia perguntas pessoais. Conversava de bom grado de tudo: do tempo, daquele local e de seu assunto preferido: os astros. Seus olhos brilhavam quando falava das diversas estrelas, constelações e planetas.

    - Você tem algum planeta preferido?

    - Agrada-me Ceres, como a deusa grega.

    - Mas Ceres não é um planeta.

    - Ah, realmente! Eu... Eu me confundi.

    - Como pode? Faz décadas que se sabe que...

    - Marie.

    - Desculpe?

    - Meu nome é Marie; Marie Elizabeth Taylor.

    E o simples sinal de abertura o impulsionou a continuar suas investidas.

    Desejava que o dia passasse rápido para que à noite pudesse ver Marie. Ah, Marie...

    Marie estava ocupando todo o seu pensamento, e não havia uma ação sequer em sua vida que não se direcionasse àquela mulher. Ela não comia, e raríssimas vezes se encontravam longe daquele monte, mas conversavam muito. Por isso lia quase o dia inteiro para ter o que conversar com ela, e bebia demasiadamente. Bebia em desespero por não descobrir suficientemente rápido quem era aquela mulher, por mais que pesquisasse e a questionasse. Bebia porque estava completamente apaixonado por ela, e bebia mais ainda porque ela se fechava toda vez que ele investia ou atravessava a consciente barreira que ela erguera. Nos dois meses que se seguiram sua vida resumia-se aos livros que lia, às bebidas que tomava, a algumas visitas corriqueiras que fazia à casa do prefeito – a quem tomara apreço -, e principalmente a seus encontros com Marie.

    Um dia bebeu mais que o normal e chegou completamente bêbado ao costumeiro encontro, disposto a falar tudo aquilo que sentia, não se importando em irritá-la ou não.

    - Eu te amo, Marie. Eu te amo mais do que tudo. Eu só penso em você, eu só vivo por você. Não há um livro que leia, uma palavra que pronuncie, uma estrela que veja que não me faça lembrar de você. Casa-se comigo? Promete que se casa?

    - Estás ébrio!

    - Não nego, estou. Mas tudo o qual digo, o faço de coração, com todas as boas intenções. E você só sabe esquivar-se, impedir que eu me aproxime. Você está me deixando louco!

    - Eu já te disse, eu tenho um segredo. Eu não posso contar-lhe! Não sabes que caso o contrário você saberia? Não sabes que sofro também? Não sabes que te amo? Crês que viria a esses encontros, que me exporia de tal forma se não amasses tu?

    - Expor-se? Está louca? Você mal fala sobre você! Eu mal sei onde mora!

    - Vivo aqui perto, já te disse.

    - Isso tampouco é conclusivo. Eu te amo, Marie. Casa-se comigo? Eu já sei que não pode sair de casa, que vem escondida. Não é isso Marie? Case-se comigo e poderemos ficar juntos para sempre!
    - Nós não podemos jamais ficar juntos para sempre! Não da forma que pensas que podemos.

    - Por quê?

    - Porque não! Tu não compreenderias...

    E então de súbito ele a beijou. Esse contato o surpreendeu, não era um beijo como os outros, os lábios de Marie eram demasiadamente frios. Mas estava satisfeito; seu coração jamais, em momento algum, batera tão forte. Parecia que lhe saltaria pela boca.

    Enquanto essa profusão de emoções atravessava-lhe, afrouxou as mãos que apertavam a delicada pele de Marie. Ela aproveitou-se desse momento para soltar-se e sair correndo.

    Bêbado e em choque como estava, Joseph demorou em compreender o que tinha se sucedido. Quando finalmente percebeu que sua amada já não estava mais lá, correu atrás dela. Correu inutilmente, por horas, e não a encontrou. Exausto, voltou para casa prometendo que amanhã a procuraria de qualquer jeito.

    No outro dia quando acordou com um martelar insistente na porta, demorou a recobrar-se do que havia acontecido. Então se levantou de súbito e pôs-se a se trocar de roupa até perceber que batiam na porta. Foi atendê-la ainda de ceroulas e viu-se defronte do mensageiro local.

    - Sr. Weastill, o senhor prefeito faleceu. O sepultamento é daqui à uma hora.

    Surpreso com a notícia fechou a porta mecanicamente e deixou-se cair na poltrona. Sua cabeça latejava horrivelmente. Precisava ver Marie o quanto antes, achar sua casa, enfrentar quem é que a prendia. Só podia ser esse o segredo. Não se importava que ela fosse casada, ou qualquer outra coisa do gênero. Ele já não conseguiria viver sem ela e faria de tudo para que isso não acontecesse. Por outro lado, o prefeito fora um bom amigo e deveria comparecer ao funeral mesmo que apenas em consideração à família.

    Depois ele iria imediatamente atrás de Marie, estava decidido.

    Após as palavras finais e os cumprimentos aos familiares ele não se deteve momento algum enquanto passava rapidamente por entre as lápides, até que após tropeçar parou diante de uma em profundo choque. Nela podia-se ler:

    Marie Elizabeth Taylor
    (1830 – 1850)
    “Veja o mundo num grão de areia,
    veja o céu em um campo florido,
    guarde o infinito na palma da mão,
    e a eternidade em uma hora de vida!”

    Ele não conseguia pensar direito. Só poderia ser um engano. Tudo repentinamente se encaixou perfeitamente: a cadência com que se expressava, as evasivas, o receio de revelar seu nome. Como poderia um profundo conhecedor de astronomia pensar que Ceres era um planeta?

    Joseph andava rápido enquanto pensava em tudo isso, quase corria. Como poderia isso ser possível? Estava quase sufocando. “Nós não podemos jamais ficar juntos para sempre! Não da forma que pensas que podemos”. Então ele teve certeza: Marie, de fato, estava morta.

    A essa altura já havia chegado a sua casa. Resoluto, subiu as escadas lentamente, porém sem deter-se por nenhum segundo. Já havia se acalmado e agora tinha o semblante sereno. Só havia um jeito de eles poderem ficar juntos, o único jeito que ele tinha certeza de que Marie seria incapaz de pedir. Mas ela não precisava, ele o faria espontaneamente. Sua vida se resumia naquele momento somente e exclusivamente a ela.

    Abriu a gaveta de sua escrivaninha e retirou de um fundo falso uma caixa, cuidadosamente escondida e então a abriu.

    Ele havia a pedido em casamento na noite anterior e agora estava prestes a tomar um passo infinitamente maior.

    Pegou o revólver e carregou uma única bala.

    Mas era de certa forma um casamento, pensou. E de súbito ocorreu-lhe: “Na saúde ou na doença, até que a morte os separe”.

    - Até que a morte nos una.

    E com um disparo seco caiu no chão.
    Ufa. Caso um dos autores vejam um erro em seus textos, me avisem via MP o mais rápido possível.

    Ah, eu gostaria muito de votar nessa justa... mas, como de costume, tenho de guardar meu voto para casos de empate. O voto será computado até o fim do dia 11, na próxima quinta-feira.

    Um abraço à todos e boa leitura.

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    Última edição por Martiny; 04-08-2011 às 23:48.

  2. #2
    Eu não floodo. Você sim Avatar de Dard Drak
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    Eu e Arwen por ora marcaremos dois recordes das Justas; a disputa com os maiores textos e a - possivelmente - com o menor número de votos =F

    Dard*

  3. #3
    Avatar de Arwen Luna
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    Citação Postado originalmente por Dard Drak Ver Post
    Eu e Arwen por ora marcaremos dois recordes das Justas; a disputa com os maiores textos e a - possivelmente - com o menor número de votos =F

    Dard*
    Até então parece que será assim mesmo
    "Of course it is happening inside your head, Harry, but why on earth should that mean that it is not real?"

  4. #4
    Avatar de fiss
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    Citação Postado originalmente por Martiny Ver Post

    Ah, eu gostaria muito de votar nessa justa... mas, como de costume, tenho de guardar meu voto para casos de empate. O voto será computado até o fim do dia 11, na próxima quinta-feira.

    Um abraço à todos e boa leitura.
    Você vai ter seu voto, vai empatar 0x0.

    AUEIOE, brincadeira, ja vou editar com o meu voto, ja li o primeiro e vou para o segundo... textos grandes são um pouco cansativos, não esperem muito na justificativa. haha

    ----------------

    Bom, vou começar falando do primeiro texto, digasse de passagem, o mais cansativo de ler. haha.

    Notei nele um riqueza de detalhes, mas a grande maioria físicos, o que não me agrada muito nesse tema, "Casamento", esse tema na minha opnião é pra falar mais do emocional mesmo.
    Mas o texto me causou um tristeza, não sei explicar ao certo, me deu pena de perceber que por mais triste que seja, existe isso, existe pior e nem existe pra certos casais. (Isso foi um ponto positivo, textos bons são assim, passam sentimentos.)
    Gostei do modo que o autor fez o texto na questão do tempo, eu curto esse vai e vem.
    A parte que eu gostei mais foi a final, a partir deste trecho "Quase terminada a cerimônia~".

    Agora vou falar do segundo texto, menos cansativo, acho que foi pelo autor ter posto mais quebras de linhas.
    No inicio do texto eu acheu/deu a entender que seria um contraste com o primeiro, falando de amor, cidade grande, casamento bonito. Mas eu sabia que a informação era falsa, na minha opnião o titulo do texto, "Até que a morte nos una", falou MUITOO sobre o texto, só lendo o titulo ja se pode imaginar o que acontece e não errar.

    Foi ficando interessante depois que ele se muda, achei a descrição da Taylor muito boa, fiquei imaginando como ela seria, achei os dialogos ótimos, sem falar muito, mas falando algo.

    Adoro textos que falam sobre bebidas e mulheres e dependencia de ambos, isso me atraiu bastante.


    Os pontos que eu mais gostei foram o sentimento que o Casamento Casual me passou e a tematica geral do Até que a morte nos una.

    Meu voto foi decidido pela minha afinidade ao texto , achei o texto um mais rico em detalhes e mais elaborado, porém, cansativo.

    Vou votar no Até que a morte nos una, vou votar porque tem que votar, quase deixei meu voto em branco.

    meu voto, minha opnião, pode não ser igual as outras.

    Casamento Casual [0]x[1] Até que a morte nos una
    Última edição por fiss; 05-08-2011 às 21:18.
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  5. #5
    Avatar de Pedro Patrulheiro
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    Achei o segundo texto muito forçado, muito falso, não parece ser natural. A história não tem ritmo. Primeiro tá lá o rapaz andando, depois ele conhece uma moça num morro e já tá se perdendo na bebida. Fora que não gosto de toda essa aura de AH OS AMORES! OH CEUS, O QUE FAÇO SEM VOCÊ?
    Aliás, final óbvio.

    O primeiro texto é muito mais bem escrito, discurso indireto livre chuta bundas. Vai num ritmo certo, sem forçar a barra, achei meio sem sal, mas mesmo assim muito superior ao segundo.

    Casamento Casual [1]x[1] Até que a morte nos una




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    Última edição por Pedro Patrulheiro; 06-08-2011 às 16:28.

  6. #6
    Avatar de Cavaleiro Calmo
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    Bom Martiny, você não vai votar, o desempate por enquanto é meu :p

    Uau. Dois textos grandes mans que não pecam em qualidade.
    Vou até sair de perto do computadorpor olhar demais pra tela.

    Mas falando sobre os textos:

    Casamento Casual: Fez uma narrativa cômica mas pecou em alguns trechos no uso de vírgulas. Tirando isso foi muito bom e conseguiu prender a atenção do leitor.

    Até que a morte nos una: Teve uma narrativa também boa, mas eu achei que podia descrever melhor o protagonista.

    Casamento Casual [2]x[1] Até que a morte nos una

  7. #7
    Avatar de Ashirogi Muto
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    Casamento Casual: Não gostei dele de início. A narração descompromissada que repetia muito os nomes e pontuação confusa me fez parar duas vezes antes de finalmente engrenar até o fim. Porém, o desenvolvimento dele foi muito bom, garantindo vários risos das situações tão inusitadas, por isso mereceu o meu voto.

    Até que a morte nos una: Texto bom, me prendeu do início ao fim, parecendo mais curto do que o primeiro. Só tem um problema: muito previsível. Só pelo nome da cidade eu já imaginei que a mulher que ele encontrou estava morta. Minha sorte é que eu não havia lido os títulos antes de começar a ler, ou eu já saberia isso desde o início. Um ótimo texto que poderia ter sido melhor trabalhado.

    Casamento Casual [3]x[1] Até que a morte nos una

  8. #8
    Avatar de Ldm
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    O primeiro conto é difícil de engolir; o ritmo é quebrado, o vocabulário não flui, enfim, é uma série de questões que torna "Casamento casual" um texto maçante, não apenas pelo tamanho, mas pela forma como é narrado.

    Ainda assim, o texto segue um padrão, e isso é bom. Lá pelo meio do texto, a falta de vírgulas (que, no início, é chata) acaba sendo incorporada pela narrativa, justamente pela agilidade e pelo dinamismo. Por isso, não considerei-o monótono; quando peguei o ritmo, continuei até o fim, justamente pela "safadeza" do narrador. Eu diria que é um conto tipicamente brasileiro.

    Me amarrei na ideia; é genuína, provavelmente uma das mais originais que já li, e cada gota de excelência literária foi tirada dessa ideia. São personagens simpáticos, porque são familiares, palpáveis, do tipo que poderia se encontrar na vida real; aliás, o conto inteiro poderia ter realmente acontecido. Essa verossimilhança transformada em literatura realmente me fascina, porque a trama é construída com vários elementos que culminam num texto muito bem amarrado, sem pontas soltas; é simplesmente o motivo pelo qual eu ainda dedico meu tempo aos livros.

    No desfecho, a situação chega a ser cômica; só que não é um humor pastelão, que nos faz gargalhar. É o tipo de comicidade que não traz risos, mas traz uma sensação boa, de leveza, uma leve pitada de maluquisse ao texto simplesmente pela situação bizarra (e bem possível) que é apresentada.

    É uma literatura madura, diferente do que estou acostumado a ver aqui no fórum. Ah, não poderia deixar de elogiar a escolha do título.

    Já o segundo texto não me conquistou por uma série de fatores.

    A começar pelos personagens: não são brasileiros. Se quiserem me chamar de tapado que só quer ler histórias sobre Eduardos e Mônicas, fiquem à vontade, mas eu não sou flexível quanto a isso. Simplesmente porque não é criado um vínculo entre leitor e personagem; muitos discordarão, dirão que a profundidade de um personagem não é definida pela sua nacionalidade, mas eu não consigo ler a história do Bob e me emocionar tanto quanto com a do João. Não há identificação; eu fico com aquele sentimento de "eu não conheço esse cara". Mas, é claro, não é a nacionalidade dos personagens que vai me fazer desgostar de um texto; se não, eu não gostaria tanto de Pangloss, Yuri, Gregor e tantos outros.

    A premissa do conto é clichê; talvez fosse a intenção do autor dar a "resposta" ao leitor desde o primeiro encontro entre os protagonistas, mas ficou algo muito batido, principalmente porque não há muita inovação. Antes da metade do conto, o leitor atento já sabe o que vai acontecer e o autor não faz nada para mudar esse desfecho, de modo que não houve impacto algum, pelo menos em mim.

    E essa narrativa morna é o pano de fundo de "Até que a morte nos una". Faltou algo mais vivo, uma ideia mais ousada, um pouco mais de malícia.

    Ainda assim, o conto fluiu muito bem; e isso é importante. O autor soube conduzir a narrativa de forma bem leve, quase imperceptível; só que talvez esse tenha sido justamente esse o problema. Foi algo tão ameno que chega a ser indiferente. Às vezes, a fluência é preferível à selvageria (vide o conto Princesa); só que não é regra. No caso desse conto, eu teria preferido algo mais chulo, mais marginal, menos certinho.

    Para textos grandes, resenhas grandes. Faz sentido? Acho que não.

    Meu voto vai para "Casamento casual".


    "Este tem sido o problema dos místicos. Alcançam o Definitivo, mas não podem relatar aos que lhes vêm após. Não podem relatá-lo a outros, que gostariam de ter essa compreensão intelectual. Tornaram-se um com o Definitivo. Todo o seu ser o relata, mas a comunicação intelectual é impossível. Poderão dá-lo a ti, se estiveres pronto para recebê-lo, poderão permitir que o alcances, se também o permitires, se fores receptivo e aberto. Mas as palavras não farão isso, os símbolos não ajudarão, teorias e doutrinas não serão de uso algum."

  9. #9
    Avatar de Bela~
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    Estava protelando meu voto, mas aqui vou eu!

    Lendo o primeiro, achei bem legal a repetição, desta vez não me pareceu acidental e deixou bonito:
    Para a casa foi levada por uma tia, criança chorona só em aniversários, casamentos não. (...) briga entre familiares só em aniversários, casamentos não.
    Foi interessante a forma como o(a) autor(a) construiu Casamento casual, contando duas partes da história simultaneamente. Um detalhe que não me agradou neste texto foi o uso de verbos no final das orações, como nestes trechos:
    "mais calma ficou"; "hora extra fizeram"
    Quero deixar claro que é apenas uma preferência minha em oposição a um traço da escrita do autor e não há erro nisso. Só que, particularmente, prefiro construções assim para poesia, em prosa acho meio forçado.
    Uma outra observação é a do "Padre/irmão". Achei que o uso da barra não foi favorável. Talvez o autor ou autora pudesse usar uma dessas palavras por vez. Inclusive, evita repetições.

    Confesso que não vi fluidez no primeiro trabalho. Pecou-se muito na pontuação e isso contribuiu para que eu gostasse menos do conto, muito embora a história tenha me agradado.

    Quanto ao segundo, digo que logo senti certa simpatia por ele. Sim, já pelo título. Uma irreverência como essa já conta pontos positivos comigo.
    Lendo-o, preferi de longe sua forma. Muito mais organizada, agradável. Senti os olhos deslizarem pelas linhas facilmente.

    Final até certo ponto previsível, mas, para mim, isso não atrapalhou nem um pouco minha resolução. Parabéns a quem escreveu Até que a morte nos una, achei uma narrativa muito bonita e merecedora de um voto a mais:

    Casamento Casual [4]x[2] Até que a morte nos una
    Última edição por Bela~; 12-08-2011 às 18:21.

  10. #10
    Keep farming Avatar de Martiny
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    Votação encerrada, Dard Drak sai vencedor.

    Parabéns.

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