Segue um texto de minha autoria. Críticas, elogios, sugestões... É só postar =)
Espero que gostem. Ah, contém algumas palavras de baixo calão, inevitáveis para o momento.
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O atirador
Seu nome era Floyd. Floyd Banks. Tinha vinte anos. Quando estava com dezoito, fora recrutado pelo Exército. Não pôde mais ser engenheiro. Uma vida inteira de planos arruinada com uma notícia.
Nos últimos dois anos, o jovem havia sido preparado para uma guerra. E agora lá estava ele, com a M16A4 em mãos, o rosto suado, a cara pálida. Um tenente havia tentado conversar com Floyd, mas ele já estava nervoso demais para dar ouvidos.
E então aquele grandão do Bruce gritou que iam pular do furgão. Lá fora, a guerra.
E Floyd pulou. Junto com os outros 40 amontoados naquele espaço. De início, a calma desértica que se espalhava pelas imensas areias. Logo, os primeiros borrões de luz brilhando no horizonte escuro, junto com o barulho dos tiros.
Mais dois caminhões se juntaram ao que largara os primeiros atiradores. E deles saíram mais várias pessoas.
O tempo parecia se arrastar. A ansiedade começava a dar lugar a uma formal monotonia e cansaço se instalando sobre os guerreiros. O frio agora castigava a cabeça seminua de todos os que ali seguravam armas, impondo um cansaço anormal. A barricada estava sendo montada. Mais proteções adicionais foram postas para soldados que ficariam em outros lugares.
Floyd fizera amigos, claro. Em dois anos militares, seria impossível agüentar sem pessoas o apoiando. Mas naquele momento, ninguém importava para o homenzinho. Assim como para todos os outros. Exceto alguns poucos, não tinha amigos que já haviam participado de alguma guerra. Mas, ao invés de buscarem confortos um nos outros, aquele momento os tornava frios. Algo natural, como é natural que durante o risco de vida, os problemas sejam deixados de lado.
E então, quando todos pareceram se dar conta pela primeira vez, os primeiros vultos começaram a cruzar o horizonte, segurando suas também potentes armas. Três homens montaram espécies de tripés, onde colocaram suas armas. Eram atiradores de elite. Snipers.
Os caminhões deram meia-volta e partiram. Lá ao longe, um dos soldados atirou, com o que parecia uma Dragunov. Floyd fez o sinal-da-cruz quando o tiro acertou no meio da testa do atirador de elite à sua frente. A guerra já tinha começado.
Jogou-se ao chão e rastejou para uma pequena proteção na areia, feita por causa da duna à frente. Rapidamente pegaram o lugar do morto e as rajadas de tiros começaram a serem disparadas. Logo, os rifles de assalto já conseguiam acertar os corpos dos inimigos. Floyd se sentia mal, protegido naquele buraco, enquanto dois ou três companheiros caíam. O barulho era infernal.
Primeiro, o barulho vazio do helicóptero. Depois, o físico se projetando no céu. Soltando rajadas de tiros para o que pareciam todos os lados, mas para os lados certos, na verdade. Um chiado estridente cortou o céu e atingiu o helicóptero, que começou a girar sem rumo e a cair para o lado. Pela fumaça branca e pelo estrago, deveria ser um míssil.
Segurou o fuzil com mais força e colocou o olho na mira telescópia. Com cuidado rastejou na areia fofa e expôs o mínimo possível do seu corpo. Seu traje militar o deixava mais camuflado na areia, e sua arma não era tão chamativa no meio da troca de tiros.
Quando avistou um dos inimigos, finalmente notou que não tinha idéia de qual nação o inimigo era e tampouco em qual país estava gastando sua vida. Com raiva, deu um puxão no gatilho e o manteve pressionado por alguns segundos, vendo o inimigo cair no chão, o sangue molhando a roupa branca. Pareciam não ter nem ao menos dinheiro para comprar camuflagens.
Bruce levantou-se e correndo foi atirando seu rifle, até que se jogou no chão. Uma rajada de balas acertou logo ao lado de sua coxa, errando por pouco e vindo a acertar um soldado atrás dele. Estava perto da duna. Floyd se atirou para frente e envolveu a cintura do soldado com suas mãos, rapidamente puxando-o para a segurança provisória da elevação.
- Eles vão tacar granadas, já que eles sabem que estamos aqui.
- Foda-se. Quem são eles, Bruce?
- Não sei, porra. Que pergunta é essa? - sussurrou ele enquanto recarregava a arma, limpando o suor da cara.
- Porque estamos aqui lutando? Contra quem?
Bruce não respondeu. Correu para fora e atirou-se para a barricada. Como dito, uma granada caiu na duna. Floyd notou que a pegou e atirou-a de volta por puro reflexo, conseguindo por questão de milésimos não perder a vida.
Se ia morrer, que morresse com dignidade. Outro helicóptero se aproximava.
- Preciso de algumas granadas e de toda a escolta possível - Banks gritou.
- Que porra você vai fazer, soldado? EU TE PROÍBO DE SAIR DAQUI! - gritou Ken, o capitão.
- Você manda porra nenhuma aqui, capitão. - Floyd cuspiu. Tom rolou uma granada para ele. Ao pegar, imediatamente se levantou e começou a correr freneticamente, sentindo as pernas moles. Via todos aqueles outros soldados pegos de surpresa, atirando rajadas erradas em direções certas, acertando atrás da barricada.
Ainda correndo e afundando, correndo e afundando, com a mão livre levou a granada à mão e meteu a boca no pino e o arrancou, tacando no grande buraco provido de uma duna em que a maioria dos inimigos parecia estar escondido.
Imediatamente ao tocar no chão, a granada explodiu.
Gritos, gritos. Os inimigos eram vários, escondidos pela areia, talvez receosos com a ameaça iminente que antes era menor. E os gritos eram muitos. Tom gritava que tinha que recarregar, pois as balas estavam acabando. Algum outro americano gritava que o míssil estava pronto para ser jogado. Um dos inimigos gritava, gritava, mas Floyd não entendia nada. E então tropeçou. Contraiu os músculos de imediato, esperando pela morte, mas demorou a sentir o chão fofo. Tinha caído em um buraco. Fundo o suficiente para que não o vissem. Ninguém o tinha enxergado, pois ficava na área mais inclinada para baixo da arena de batalha.
E a guerra continuava, ninguém notando o sumiço repentino de Banks. Os inimigos achavam que algum deles tivera a coragem de se levantar e matar o inimigo deles. Os que estavam escoltando Banks foram os únicos que realmente entenderam o que acontecera.
Floyd, com o coração a mil e a pele branca suada, posicionou a metralhadora. Deu um pulo e se jogou para cima, apoiando os cotovelos na areia e se puxando para fora. Saiu, arfando, quando sentiu uma tontura forte.
Dor. O tiro havia atravessado sua costela. Caiu e rolou até o buraco, salvando-se por pouco. Tossiu com a areia que levantara. O colete, escondido atrás da camiseta, estava perfurado. O sangue manchava a camuflagem. Estava difícil até de respirar. Não poderia continuar sem camuflagem. Ia ser um alvo muito mais fácil. Havia outro buraco proporcionado por uma duna na qual poderia se proteger logo na frente, para a esquerda. Mas correr daquele jeito era quase impossível, fora que ficaria mais visível com o colete ou com a camuflagem sangrenta. Começou a balbuciar o Pai-Nosso enquanto chorava. Tirou a camisa e o colete.
Pulou para fora do buraco, mas ao tentar se levantar para não escorregar e cair de novo, sentiu uma nova pontada de dor no ferimento, escorregando. Finalmente, as tropas inimigas pareciam começar a entender. Floyd começou a se arrastar pelo chão, o peito nu manchando a areia, quando uma granada e depois outra foram jogadas em sua direção, caindo no buraco.
Desesperado, colocou o joelho para frente e fez um enorme esforço para se levantar e começando a correr como se toda sua vida dependesse disso - porque dependia. Quase deixou a metralhadora cair. Quase sentiu um tiro de uma Dragunov atravessar seu coração. Mas corria com fúria enquanto as granadas explodiam atrás de si, jogando fragmentos de si mesmas para o espaço. Atirou-se ao chão, conseguindo por segundos se salvar atrás da duna. Mas os tiros continuavam, agora de várias metralhadoras, perfurando a duna, que começou a desmoronar no topo, lentamente.
E de repente, os tiros pareciam mais pertos. Pasmado, Floyd notou que lá estava Bruce, atrás dele, junto com outros dois soldados, abrindo caminho para outros dez que vinham atrás atirando freneticamente.
E a duna agora era tão inútil quando podia ser. Banks, no meio da fumaça e caos, mirou cuidadosamente e deu um tiro no peito de um inimigo, que respingou sangue e deixou a arma cair. Eles se dissipavam dos esconderijos, porque agora todos estavam explodindo.
Ninguém conhecia o território, ninguém levava vantagem. Mas a numérica com certeza era a do exército americano. E os tiros continuavam. A dor de Floyd não passara, tampouco a tontura que agora se alastrava. Mas não parava de mirar, atirar, recarregar, mirar, atirar. Um dos inimigos começou a correr e disparou cegamente. Bruce cambaleou e caiu, tossindo fortemente. Banks ia parar e ajudar, mas não o fez. E percebeu que viera fazendo o mesmo, ignorando, desde o início do conflito.
Ignorara que destruíra vidas. Ignorara que não sabia por que estava lutando e quais eram seus inimigos. Então, ignorou que sua arma precisava de mais munição. Ignorou quando sentiu a amargura do sangue fluindo na sua boca. Ignorou quando caiu no chão, ignorou que Bruce morrera, ignorou que odiava sua vida, ignorou que, como Bruce, ninguém viria o socorrer.
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