[Silvio Santos style] Mah oeeee! [/Silvio Santos] Aqui vai um conto de minha autoria, um tanto quanto de terror. Ao terminar, leia minhas notas finais, por favor
Bom, espero que curtam. Abraços.
Crônicas de Fanor I
O Renascer do Maldito; o passado como deveria ser
O fio ligado entre as paredes, de uma cor empoeirada e cinzenta, produziu um pequeno choque quando o envolveu entre os dedos ossudos e asquerosos. Riu com uma voz esganiçada, irregular.
Passou a língua bifurcada pelos olhos, que se dividia em dois tão precitadamente que pareciam duas línguas ao invés de uma só, cada ponta encostando em uma órbita esbranquiçada diferente. Não fazia diferença, ficara cego fazia muitos anos.
Podia sentir-se vivo; cada vez que o homem dava um passo, a criatura - que se autodenominava Fanor¹ - podia ter o prazer humano mais uma vez. Sentiu um arrepio em seu cérebro em sua quase totalidade exposto no topo da sua face esquelética.
Lembrou-se de sua própria história e de como chegara naquele nicho fétido e grotesco, paredes cobertas de teias de um material parecido com nylon, esburacadas, sujas; ratos tão magros que mal conseguiam fugir de Fanor enquanto andava passeavam pela casa, tentando em vão achar algo para comer: Mas Fanor não comia o mesmo que ratos comiam.
Mas esta é outra história.
(¹Pronuncia-se o A como hã. Fãnôr é a pronúncia correta. )
Ω Ω Ω
Eric Valentine acordou com os olhos pesados e a cabeça doendo. Por vezes quase caiu no sono, mas aos poucos conseguiu - apesar do sono ainda estar bastante acentuado - levantar-se. A pilha de feno em que dormira estava parcialmente molhada. Passou a manga da camiseta nos olhos, limpando os resquícios de lágrimas que ainda sobravam.
Mais pelos acontecimentos passados do que pelo seu estado momentâneo, atrapalhou-se ao tirar os farrapos com que dormira, trocando-os por roupas não suficientemente bonitas, mas confortáveis e próprias para a ocasião.
Onde deixara as mudas de roupas boas, agora jaziam as ruins. Sua barba fora preservada desde há alguns dias atrás, o suficiente para fazer com que pinicasse constantemente. Suas costeletas, estas com longos anos de cultivo, davam um aspecto sujo ao seu rosto, e a falta de sono combinada com o tempo em que sua barba ficara sem corte nenhum o deixava parecendo um mendigo.
Prendeu os cabelos longos e negros em um rabo-de-cavalo, que ostentava ainda mais sua face e o deixava ainda mais feio. Frustrado, teve um ataque de fúria e chutou o apoio do celeiro com força formidável, fazendo com que a construção toda tremesse antes de voltar para seu local original.
Ele amaldiçoou seu pai por ter tantos pêlos faciais e fazer com que seu filho os herdasse, ainda que não sentisse absolutamente nada quanto a isso. Os olhos cor de mel lacrimejaram. O leão dentro do seu peito rugiu. Conseguiu abafar a primeira palavra, mas não o resto:
- Seu filho-da-puta-desgraçado-bastardo-cretino!
O garoto ouviu passos rápidos retumbando enquanto desciam a escada de madeira, que protestava rangendo. Uma mulata alta, de feições delicadas, tinha uma expressão assustada, os lábios exageradamente vermelhos prontos para falarem o que fosse preciso, mas a mulher relaxou ao enxergar Eric, parado e sozinho.
- Não me mata de susto, garoto! Achei que fossem... eles...você sabe. De novo.
Dessa vez, o garoto não chorou, mas Mina se virou com velocidade ao encarar nos olhos de Eric, que não era idiota o suficiente para não perceber que sua tia estava chorando. Todos ficaram muito entristecidos desde que, há dois dias, nazistas haviam levado o pai de Eric - que era também irmão de Mina.
O que era mais intrigante na história era que Hitler em pessoa visitara-os, sozinho; e seu pai, de boa vontade, o acompanhara.
Eric muito chorara - sabia que o pai não iria voltar. Nunca mais ver o pai com dezoito anos era difícil, e muito mais difícil se sua mãe já estivesse morta há dezesseis anos. Sua tia, tentando não se destacar em nada porque não nascera na Europa - apesar de até aquele momento ninguém tinha desconfiado -, havia ajudado seu irmão a cuidar do pequeno. Na época em que havia chegado, a criança estava quase completando seis anos.
Pela posição do sol, era possível perceber que era o final da tardinha. Chegou mais perto e deu um abraço caloroso em Mina, que se esquivou e se despediu, relutantemente, antes de murmurar ''você não devia passar tanto tempo aí embaixo'' ou um grunhido que se assemelhou a isso.
Ele entrou no casarão bonito e subiu as escadas velhas de madeira.
Deitou-se em sua cama, o cheiro da janta já invadindo o aposento. Passou um tempo parado, indiferente ao sono que aos poucos se extinguia, até que seus olhos bateram na estante e ele vislumbrou a capa de um livro:
O lago. Era o livro preferido do seu pai, e quando menor já o ouvira inúmeras vezes antes dormir. Ainda sabia cada palavra de cor e salteado, apesar de não abrir o livro há mais de dez anos.
Levantou-se o suficiente para sentar e alcançar o livro. Puxou-o e viu o desenho do cisne branco flutuando no lago, ao lado do cadáver de uma moça, afundando. Eric abriu o livro, e apesar de se lembrar dele todo, voltou a lê-lo mais uma vez. Quando a janta estava pronta, o garoto já havia quase terminado o livro, e demorou um pouco mais no quarto, já que não queria que Mina soubesse que andara chorando.
O livro contava a história de um marinheiro que, em uma pesca, perdera a esposa para o mar. Após o ocorrido, entra em grande depressão e toda a noite visita o mesmo lago, em busca do corpo da esposa. Era um livretinho, curto e de leitura rápida, e Eric já estava perto do final. A parte mais marcante para ele, na qual ele havia chorado, fora quando, no livro, o homem achara uma garrafa no lago com um bilhete: Estou em paz. Seguido da frase ”Daquele dia em diante, o homem voltou a viver.”
O choro provocado no garoto não fora por causa do livro em si; Seu pai, quando chegara naquele ponto do livro pelo último dia que contara a história para Eric, chorara.
Ao sair da mesa de janta, já satisfeito, Valentine filho - se é que, agora pai morto, fosse necessário o uso de filho - chutou algo que produziu um som de quebra. Sem saber o que havia atingido, pois estava de cabeça empinada, acocorou-se no chão de uma madeira razoavelmente bonita e dispôs-se a juntar os restos. Alguns cacos no chão e uma garrafa de cerveja (a preferida do seu pai) estavam espalhados. Mas dentro do que sobrara da garrafa, havia um bilhetinho, que Eric desajeitadamente pegou. Após ganhar alguns cortes, ficou com a mão ensangüentada, mas pôde ler.
(Estou em paz)
De início, não compreendeu (não porque não podia, mas porque não queria), mas logo seu maxilar começou a tremer e seus olhos marejaram de lágrimas. Levantou-se para pegar uma vassoura, mas acabou não fazendo nada e ficou parado ali, encostado na parede, a mão pingando sangue, os cacos de vidros no chão perfurando o papelzinho recém-caído.
Ficou tonto e fechou os olhos por um instante. Se pudesse mudar aquela porra, ah, o desgraçado alemão ia morrer, ah, se ia. Quando abriu os olhos novamente, tombou batendo diretamente com o ombro no chão. Não havia parede na qual se escorar. Gemeu baixinho.
''Merda, como que isso aconteceu?'', pensou. Mais uma tontura ocorreu, e não sabendo se havia passado um minuto ou um dia, percebeu que havia um aglomerado de pessoas se juntando ao seu redor. Um tumulto infernal zumbia inconstante.
Percebeu que estava em campo aberto, mas um hospital bloqueava a visão do horizonte. Estava sendo movimentado em uma maca entre sacolejos.
- Ele vai ficar bem?
- Doutor, doutor, quem é o sujeito?
- SAIAM DAQUI SEUS INÚTEIS ELE ESTÁ MORRENDO!
Tudo era confusão. Tudo era um borrão. Entre uma tontura e outra, estava sentado na cama do hospital. Apesar de longe do tumulto, ainda escutava muito claramente:
Ele está morrendo.
Não estivera morrendo. Havia se machucado um pouco e só. Ou havia acontecido algo mais durante a tontura? Não, não sentia dores fora a de cabeça. Noutra cama ao seu lado, um garotinho tinha sua barriga cortada por um bisturi, a carne sendo perfurada, o sangue escorrendo. Deveria ser a única chance de vida do menino.
Uma tontura.
Uma mulher de cabelos morenos usando roupas extremamente sujas estava sentada, gritando enquanto o médico realizava o parto ao seu lado. Um homem alto, musculoso, com o cabelo escuro e a pele morena segurava uma câmera fotográfica.
Lembrou-se por uma fotografia publicada no jornal local fazia poucos dias. Ou aconteceria daqui a alguns anos... Um fotógrafo havia tirado a foto, talvez apenas para servir de inspiração para uma pintura ou algo assim, já que naquela época o bebê não era famoso. Com certeza, era o maldito Hitler nascendo; o jornal fora fechado porque Hitler não tolerava que soubessem das suas origens.
Tinha certeza. Não havia como errar. Sentiu que ia perder a consciência mais uma vez, mas agüentou firme. O tempo transcorreu normalmente, apesar da constante agonia de Eric, e aos poucos o cabeção - tal como o corpo - do futuro Führer saíram do corpo de sua mãe. Uma prateleira de ferramentas foi largada ao bidê ao seu lado. O médico nem se deu conta de que o garoto estava acordado.
Trêmulo, Eric notou que o bisturi ainda estava coberto de sangue. A prateleira metálica estava ali, oferecendo-se.
"Merda. Não pensei que realmente poderia matar aquele puto... O que eu vou fazer, porra?! O que eu tô fazendo em um hospital, tonto, com um bebê nazista do meu lado?". O médico saiu da sala.
Olhou para a frágil criatura ao seu lado, com a mãe sorrindo entre choros e a segurando. Será que podia realmente matá-lo? Será que ao menos tudo isso não passava de um sonho? Nada mais fazia sentido.
Tirou o lençol que o tapava - e que ele não sabia que o fazia, de qualquer jeito - e levantou-se, trôpego. A mulher o olhava, desconfiada. O fotógrafo pareceu por um momento que iria enquadrá-lo em outra imagem, mas apenas guardou a máquina.
Eric pensou. Pensou que aquele maldito era o culpado pela morte de seu pai. Não haveria uma Segunda Guerra sem ele; a Alemanha não precisaria ser o palco de um conflito. Não precisou pensar mais.
Pegou o bisturi, e a mãe do garoto puxou o bebê para si e começou a gritar. Após alguns passos nervosos, investiu com o instrumento para cima do bebê, mas acertou o braço da infeliz que o protegia. O recém-nascido começou a chorar. Ela gritava de dor e perdia sangue, mas largara o seu filho do outro lado da cama e segurava a lâmina, impedindo que Eric mudasse de oponente. Aterrorizada, o rosto da mulher estava coberto de suor (o cabelo já grudava no rosto e ela estava cada vez mais fraca), mas tinha uma garra sobre-humana.
O fotógrafo, por sua vez, posicionou-se para tirar mais fotos, mas teve alguns contratempos. Enquanto puxava a lâmina para fora do braço e ia machucando a mão da mulher, já pensava nas manchetes: "Bebê é cruelmente assassinado por um garoto". Com um pouco de ajuda pela raiva, deu um último puxão. A mãe deu um grito alto quando a arma rasgou sua mão e Eric jogou o corpo por cima das pernas dela e pegou o bebê pelo pescoço antes de fincar o bisturi em sua garganta. O choro cessou, mas os flashes da máquina e os berros desesperados da mulher que o estapeava continuavam.
De lado, se protegendo dos ataques, o garoto viu uma enfermeira entrar correndo, e ela também começou a gritar feito louca. Novamente, sua visão escureceu, perdeu as forças e tombou, mas não antes sem pensar no seu pai: Estou em paz.
Abriu os olhos. Deu-se por conta de que ainda estava na parede, apoiado. Por um momento quase acreditou que tudo aquilo havia acontecido. Por um simples momento, mas um bom, um grande momento. Sentiu-se um pouco melhor, mas sua raiva e tristeza não diminuíram. A cabeça estava ainda dolorida, mas não sentiu mais sinal da tontura. Cabisbaixo, postou-se reto, mas percebeu: Não havia nenhum papel.
A garrafa estava quebrada. Mas o bilhete não estava ali.
- Filho, você deveria tomar mais cuidado. - Era uma voz feminina. Mas não era a de Mina; por vezes ela o chamava de filho. Virou-se e encarou uma mulher um tanto quanto velha, com longas madeixas morenas e olhos castanho-escuros. Era alta e usava um longo vestido roxo.
- M-mãe? Mãe? - o garoto balbuciou e ficou por alguns instantes com a boca aberta. Ela deu um risinho como se fosse algum tipo de piada e completou:
- Limpe logo essa bagunça.
O que aconteceu em seguida foi algo completamente estranho: Seu pai passou por ali e deu um tapinha em seu ombro. A imagem de seu pai intacto caminhando pelo corredor e de sua mãe sumindo pela porta da cozinha foi o suficiente para deixá-lo completamente surpreso. Tentou ir para o sótão e pegar a vassoura, mas não conseguiu impedir suas pernas de escorregarem lentamente pela parede.
''The closer you get to the meaning
The sooner you'll know that you're dreaming
So it's on and on and on, oh it's on and on and on
It goes on and on and on, Heaven and Hell''
Poderia ter se passado mais de um dia inteiro com Eric imóvel naquela posição, mas menos de trinta minutos depois, com o olhar vago e confuso; a cabeça entre as pernas, Mina o encontrou. Ela perguntou se estava tudo bem e estava realmente preocupada, mas nada que o garoto pudesse falar a lembraria do que estava acontecendo. Ou aquilo não estava acontecendo? Ou os fatos anteriores não haviam acontecido?
O garoto foi levado por sua tia até o quarto onde ele dormia e enquanto ele remoia tudo o que acontecia e se perguntava o que poderia estar acontecendo, Mina retirava os cacos de vidro do chão. Ele achou que levaria horas até conseguir dormir, mas mesmo com a preocupação estava muito cansado e apagou em menos de dez minutos - estes cheios de perguntas jogadas ao alto pelo jovem.
Ω Ω Ω
No dia seguinte, tudo ocorreu estranhamente bem: Apesar de não se lembrar de sua mãe, poderia facilmente se adaptar e além de tudo isso era o que ele sempre quis antes de seu pai ter sido levado: Após aquilo, seu desejo mais profundo era que seu pai voltasse. Duas das coisas que ele mais queria estavam realizadas. No jantar, enquanto comiam um leitão assado, Eric não se conteve. Perguntou sobre o pai o que ele achava de Hitler. A resposta foi um não-esperado "Quem é esse?".
Depois de dar uma resposta convincente de que era um comerciante pouco conhecido por ali, o assunto se encerrou. Ainda um tanto quanto apreensivo, alguns minutos após aquilo, perguntou para sua mãe se conhecia o significado de nazismo e a resposta foi de que ela não conhecia.
Tudo então ficou ainda mais estranho. Se o nazismo não havia recebido Hitler, não havia crescido e então tudo estaria diferente para ele. Os dias que se seguiram confirmaram que não houve uma Segunda Guerra e que não havia nenhuma ameaça para (ou na) Alemanha.
Nós próximos dois anos, tudo se seguiu prosperamente e todos estavam felizes: Valentine filho continuava sendo um ferreiro e Valentine pai continuava sendo um influente burguês que vendia os itens produzidos pelo filho e revendia produtos por preços muito mais caros. Apesar de tudo estar mudado - sua mãe agora tomava conta de casa e todos eram muito mais felizes - Eric estava aproveitando a vida muito mais do que antes.
Uma notícia que saíra na Alemanha recentemente chocara a população. Um bebê havia nascido com a pele e os órgãos vitais já velhos. Ele vivia graças a máquinas. Os Valentine não deram muita importância para isso e continuaram com suas vidas. Mas eles não sabiam que esse simples acontecimento mudaria todo o mundo.
Os anos foram se seguindo normalmente. Eric não mais se lembrava de como tudo acontecera; simplesmente, tinha acontecido. Todas as suas preocupações tinham sumido, até que quando estava com quarenta anos, o jornal local publicara que o bebê que nascera velho estava bem, apesar da aparência idosa, e tinha uma idéia revolucionária, que ele intitulara de Nazismo. O jornal radicalmente concordara com todas as idéias da raça ariana propostas pelo bebê - que agora tinha vinte anos e havia recebido o nome de Boris. Eric ficara chocado e aos poucos se distanciara de sua família, mesmo sem perceber.
Para deixar a situação ainda pior, sua mãe falecera completando oitenta anos. Seu pai estava extremamente preocupado com a situação, pois às vezes passar um dia inteiro isolado em seu quarto era normal para Eric. De algum modo que poucos conseguiam entender, aos poucos uma Segunda Guerra foi começando: Praticamente a Alemanha inteira aprovava o predomínio da raça ariana.
Exatamente como antes.
As imagens e fotografias de Boris sempre mostravam um homem baixo, magro e com cicatrizes na face, com um cabelo curto e moreno caindo na testa. A sua ascensão não demorou, e logo era o Ditador da Alemanha. Só que dessa vez, o Eixo contava com apoio dos Estados Unidos também. Era algo em que Boris superava todas as expectativas de Eric. O pai do garoto também parecia preocupado e cada vez mais velho. Era 1970 quando a França e a China foram submetidas à destruição; O pai de Eric faleceu.
No enterro, Eric já estava frio o suficiente para não conseguir derramar sequer uma lágrima. O trabalho desgastava-o fisicamente e cada vez mais tudo ficava pior e seus pesadelos mais acentuados. Sentados ao redor do corpo, havia pessoas que Eric descreveria como interesseiros, pois eram apenas burgueses que seu pai nunca tinha falado sobre; mas havia se distanciado de todos e nos últimos anos suas únicas companhias eram Mina e o homem que agora jazia em um caixão.
Estava sentado, com a cabeça entre as mãos e escutando pêsames de pessoas que nunca sequer havia visto, quando uma voz particularmente familiar o fez levantar a cabeça. Era Boris.
Por algum motivo, sabia que conhecia aquela voz, apesar de os anúncios nazistas nunca serem feitos por Boris e de Eric nunca ter ido a um discurso do Imperador. Passara trinta anos de sua vida desde que acontecera aquela mudança e mesmo assim ele preferia que não tivesse acontecido... Com alguma força, começou a chorar. Levantou-se, e sendo assistido pelas duas dúzias das pessoas presentes no enterro - que também estavam surpresas com a chegada de Boris - socou a face do Ditador, que cambaleou e com o nariz sangrando soltou uma risada.
Eric tentou chutá-lo, mas havia uma diferença de 18 anos entre os dois lutadores. Boris esquivou-se e estapeou a cara do seu alvo.
Tudo estava escurecendo e ele voltou a se lembrar da sensação: A tontura. Sabia o que deveria fazer.
Dessa vez, estava no mesmo campo aberto e o hospital cobria o horizonte. Dessa vez, viu ele próprio no chão, com a mão destroçada e sangrando, enquanto um médico afastava os curiosos e colocava-o na maca com dois homens correndo atrás, perguntando:
- Ele vai ficar bem?
- Doutor, doutor, quem é o sujeito?
Correu atrás do médico e viu seu eu antigo entrar no hospital, e acompanhou-o. Entrou no local também e seguiu sem ser notado por ninguém. Chegou a uma sala de operações, e ficou olhando pela fechadura sua mão - a mão da pessoa que era e não era ele ao mesmo tempo - ser costurada e enfaixada. Percebeu que o Eric hospitalizado tinha tomado uma injeção para dormir. Depois disso, o médico saiu da sala, e apesar de ter o visto, deixou entrar na sala sem problemas. Foi-se seguindo os acontecimentos: Abriu os olhos, viu ao seu lado a operação no garoto. Eric não foi visto (porque se escondeu) pelo Eric antigo. E a cada momento agonizante que se passava, mais perto se chegava ao parto, até que finalmente um homem entrou com a mãe de Hitler junto com o fotógrafo(o garoto da barriga já havia morrido). O homem afastou Eric atual e foi realizar o parto; era extremamente estranho como ninguém o reconhecia como sendo a mesma pessoa que estava hospitalizada. Respirou fundo e escancarou a porta, enquanto o seu eu antigo pegava o bisturi.
Correu para impedi-lo enquanto tentava falar, mas Valentine antigo ficou abismado e empurrou-o, fazendo com que caísse. Dessa vez, a mãe virou-se para ver o que acontecia com duas pessoas tão semelhantes, que ela considerava pai e filho, e ficou surpresa a ponto de que quando Eric antigo investiu com o bisturi, o máximo que conseguiu fazer foi jogar-se para frente quando largava Hitler, assim levando uma facada na testa. A testa jorrou uma quantidade mínima de sangue antes da cabeça pender para frente.
Ia pegar o bebê quando a sua outra pessoa, a atual, pendeu todo o peso para cima dele e ambos caíram no chão. Dessa vez os flashes da máquina dispararam enquanto os dois travavam uma luta no chão. O Valentine antigo tinha melhores condições físicas e estava levando vantagem. O atual estava com o nariz quebrado e a cara coberta de sangue, e o outro então conseguiu arrastar-se e pegar o bebê, sufocando-o. Valentine atual não percebeu que o bebê já estava morto e levantou-se o mais rápido que pode. Com o bisturi em mãos, fincou-o nas costas do antigo, mas percebeu o terrível erro que cometera.
Eric antigo morreu, ao lado do cadáver de Hitler.
O atual sentiu seus batimentos cardíacos diminuírem e não mais conseguia se mover.
- Se você não existe no passado, não existe no futuro. - escutou. Tinha certeza: Era Boris. Ele ficou de modo que seu corpo caído pudesse olhar diretamente nos seus olhos, porém não era Boris, apesar de ter a mesma voz. Era Hitler adulto. Mas após ele se mover, percebeu que não era. Sua face era muito mais esquelética, a pele havia caído acima da sobrancelha e seu cérebro estava aparecendo. Os lábios abertos deixavam a língua caída. - Sei que você quer perguntar quem eu sou. Mas eu sou Hitler. Eu sou Boris. Eu sou Fanor. Caso eu não cumprisse minha missão como Hitler, teria que cumprir como Boris. Portanto retardaria a minha chegada ao estágio de Fanor: Um morto-vivo. Estou mais forte do que você pode imaginar.
Eric fez um último esforço e gargalhou antes de vomitar o resto de sangue que ainda circulava por seu corpo.
''Ain't it fun when you know that you're gonna die young
It's such fun
[…]
Ain't it fun when you feel like you just gotta get a gun
Ain't it fun when you just can't seem to find your tongue
Cause you stuck it too deep into something that really stung
It's such fun''
________________
Sei que vai parecer meio estranho, mas é o primeiro conto de quatro contos... Todos - pelo que estou planejando - poderão ser lidos separadamente mas só farão sentido juntos.
As coisas ficarão bastante confusas quanto ao que aconteceu, é verdade, mas os três próximos contos devem explicar bastante.
Críticas? Elogios? Sugestões? Xingamentos? Vá em frente :rolleyes:
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