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Tópico: Concurso Roleplay Telling - 2009

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  1. #1
    Avatar de Wu Cheng
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    Padrão Vertigo - O Bardo Sortudo

    Vertigo
    O Bardo Sortudo



    É preciso ver a cidade de cima. Esta é a única maneira de se ter uma noção do que de fato acontece, perceber cada prédio constituindo o horizonte de concreto. As ruas não parecem tão sinuosas e sujas quando vistas de baixo, os outdoors de néon são apenas vaga-lumes piscando incessantemente. Bares, hotéis, casas, mercados, todos parecem a mesma coisa quando vistos de cima, não passam de cópias.
    E no meio disso tudo – os humanos passeavam pelas avenidas em busca da “diversão”, se achavam o máximo, donos de si. Mas daquela minha posição do vigésimo primeiro andar eu os via com olhos diferentes: pareciam nada mais que ratos de laboratório, percorrendo apenas uma pequena parte do labirinto, mas ainda achando que são superiores a todos, bando de ratos. Não conseguiam enxergar as ruas laterais das avenidas, apenas uma grande visão reta, uma visão de bebidas, drogas, prédios e ainda mais outdoors. A avenida era peculiar, no começo haviam apenas lojas de brinquedos e alguns playgrounds, um lugar até agradável. Mas depois tudo desandava, era no meio que estava a sujeira nauseante: bares, lojas de roupa, perfumarias, igrejas, escolas, faculdades, traficantes, boates, “12x sem juros” mostrava um anúncio. Eu tinha nojo daquele lugar e de lá de cima eu sabia bem o porquê dessa posição agressiva: eu não conseguia distinguir uns dos outros. Se vestiam igual, cheiravam igual e o pior de tudo, pensavam igual. Não tinham personalidade fixa, tudo era orquestrado pelas opiniões das celebridades, malditas sejam. Em alguns momentos eu poderia jurar por tudo que me é mais importante que eu podia ver em seus ombros cordas, cordas estas que se estendiam até o topo do mais alto arranha-céu, e era lá que o show de marionetes era controlado. Um homem invisível para a platéia, porém este era o verdadeiro show. Os sussurros e conselhos do bonequeiro eram irresistíveis, quase que impossível de não se seguir à risca as sugestões dadas por ele. E a culpa é de quem você pode se perguntar. E eu te digo: dos próprios jovens que estão lá embaixo. Se recusam a olhar para o alto das construções, para os becos escuros que são transversais à avenida e até mesmo para trás, não ligam para o passado, só para a próxima sugestão do Mestre dos Bonecos.
    De uma das boates, o som da chamada “música moderna” se elevava até aonde eu estava, sufocava as suaves notas do jazz que cantava pela minha vitrola. Era impressionante que até eu que estava tão longe de tudo aquilo ainda conseguia ser alcançado pela influência da avenida. E eu já estava puto com isso. Tentei ser mais um rosto na multidão do nível do solo. Fui gentilmente convidado a me retirar “você não é legal o suficiente para andar conosco, vá embora” disseram eles. E foi justamente isso que me fez pensar à respeito da necessidade de ser aceito por eles, e eu não precisava. Tudo o que eu queria era ficar sossegado, brindar à noite e sentir o vento batendo no meu rosto. Aquela ocasião me fez lembrar de uma frase: “Por favor aceite a minha desistência, não quero fazer parte de um grupo que aceite eu como membro.”
    Essas pessoas me davam pena, sua visão era reta como a avenida, pré-decidida do jeito que o bonequeiro queriam. E depois de tudo isto vem a terceira parte da estrada de concreto. O lugar onde os malditos ficam, eles são os verdadeiros culpados por tudo. Educam suas crianças à maneira como foram criados, não tem expressão, temem qualquer mudança de hábito ou pensamento. Foram criado do mesmo modo que seus pais, e não vai ser agora que vão mudar isto. A maioria tenta mostrar seus modos conservadores e comemoram com aparente alegria o natal, dia das mães, dia dos pais. Mas no fundo sentem remorso, porque sentem que desperdiçaram cada segundo de suas vidas como estão desperdiçando os seus filhos. E eles se sentem mal por isso.
    Minhas elucubrações chegaram a um ponto crítico. Me equilibrei de pé no parapeito da varanda, quando olhei para baixo uma sensação de vertigem me tomou de assalto. Lembrei do meu passado e minhas realizações. Não eram mais que ganchos frágeis que se serviriam para eu me equilibrar na vida, até que ele se quebrasse e eu caísse sem ter o poder de decisão. Se ia acontecer isto comigo, era melhor que eu decidisse quando e como fazer. O jazz começava a tocar suas notas finais, o saxofonista perdia seu fôlego.
    Pulei.

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  2. #2
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    Padrão A Banshee - O Bardo Frustrado

    A Banshee
    O Bardo Frustrado


    “A juventude é plena, repleta de alegria serena,
    Mesmo que venha a trazer tempo,
    Oro aos pés do anjo que me trás sofrimento”.


    Num período antes de nós ou eles que aqui vivem, antes do antes do que conhecemos e sabemos, a família burguesa denominada filha de Thais pregava as estacas do regimento ao rei, a majestade soberana das terras do continente.

    Uma composta árvore de ramificações entrelaçadas que se cruzavam num bosque de sombras – o céu negro de Thais – e pingos d’ouro prateado, morta, vivia em frente da casa de uma família nobre cujo nome não importa.

    Tão entrelaçada era a árvore dos genes da nobreza de Thais quanto à própria árvore que vivia no espelho a sua frente. Havia um pai que zelava em diálogo diplomático, havia uma mãe que cantava os instrumentos com as mãos, e havia um filho que apreciava o nós do espelho da frente de sua família. Numa noite mais escura que empoeirada no cotidiano ascendente dos ferreiros da cidade dos reinos, cantarolava a árvore morta no espelho perplexo da janela do garoto. Ele fitava os troncos que balançavam sem soltar-se e gemiam num canto sombrio, sem som. Era o som das árvores, aquele fervor que sentia quando o vento corria.

    Cantava. Cantava a árvore do outro lado da casa. Dormiam. Dormiam os pais da criança que escutava com os olhos aquela canção do silêncio. Ele olhou com as orelhas, e sentiu o cheiro do vento que corria. Desceu. Desceu até a porta que levava ao espelho do lado de fora. O pijama azulado escorava em seu corpo como garras em carne, como o vento que entrava aos muitos na casa dos nobres de Thais – depois que abrira a porta.

    O som parecia mais intenso para o garoto, os galhos pareciam cantar a melodia que escutava com os olhos quando olhava para o vento, sentia as cores em suas pequenas orelhas e cabelos. Sem mais sonhar ou estar acordado, escutara o chamado cantarolado da árvore que gemia na voz de uma velha janela. Opinou sem pensar pelos passos gelados que passavam por sobre as pedras escamosas das ruas, aproximando-se do curvo tronco acinzentado.

    Ali, seus cabelos de cor castanha já vinham a assumir a cor do preto das sombras – a árvore chamava –, ali, seus olhos de cor do fruto das abelhas já semeava o escuro de um abismo – a árvore chamava –, ali, seus dedos gordos de fartura que já não desejavam tocar já sentiam o prazer da áspera árvore que roncava – o ronronar gélido da voz do silêncio enfim chamava. Sua face não mais se ocultava.

    Antes que a consciência voltasse a tocar a mente desabilitada do garoto, a voz do frio dos ventos tomara forma, atrás da árvore que cantava todas as noites havia uma janela que roncava, era uma janela morta de cabelos de crepúsculo e olhos de alvorada, um mar rasgado que descia por seus ombros num vestido em cortinas era negro de sujo. O som cessou e a árvore estremeceu. A janela que tinha aparência medonha abaixava a lira que escorria por todo o braço esquerdo – esbranquiçado como sem veias –, mostrava o sorriso em torno de um beijo violeta. Não roncava. A lira não roncava, não tinha cordas ou entranhas. A lira não cantava.

    Sem pés a criatura era, suas vestes que recobriam as pernas não apresentavam volume ou o movimento. A aparência monstruosa aproximou-se do garoto flutuando como sua própria canção vazia. Um beijo dera ao garoto, um toque violento de suave nos lábios já congelados da criança. Dois gritos de desespero em ecos profundos tomaram conta dos ares durante alguns segundos. Ela adormeceu durante a noite estrelada – mesmo não estando acordada –, abaixo do manto corrente do negro que borbulha o prateado das estrelas.

    Um suspiro em forma de bocejo descera pela garganta do garoto e permaneceu preso durante algum tempo até que pudesse abrir os olhos para que um mar de cores invadisse seus pensamentos entrevistos. Levantara-se da cama em sentado, ficando apoiado usando o braço como coluna numa ligação das pernas à cabeça. Bocejara tremendo as mãos. A alvorada reluzia trêmulo pelo vitral da janela como orvalho em laranja. A preocupação tapara seus ouvidos por alguns segundos enquanto lembrava-se da canção das árvores tortas e o que se escondiam atrás delas – as fadas negras, as banshees.

    Um frio desalmado correra por toda a extensão de sua espinha quando levantara os braços lentamente tentando apanhar algo que não estava lá. Uma melodia invadira seus pensamentos assim que a sensação do silêncio dolorido escapara. Era sua mãe cantando com as mãos, puxando as cordas de um alaúde para que a canção soasse divina como o próprio canto do rouxinol. Descera o garoto pelas escadas soando velhas e estalando com a poeira formada acima de sua extensão escura de madeira, quanto mais descia, maior era a sombra da falta de janelas e mais relevante era a canção das mãos de sua mãe.

    Lá estavam – ao lado do par de mesas e cadeiras feitas pelas mãos de um exímio carpinteiro – três malas cor-de-musgo, surradas como o próprio mar abatido. A portadora das mãos cantantes estava escorada na mesa redonda pela parte da cintura, sem se importar com a sujeira invadindo a parte posterior de seu vestido verde como a própria floresta. Carregava o instrumento velho de cordas tortas em frente aos seios, usando as mãos lentamente para escolher cada uma das notas. Sorriu. Lá estavam as malas, lá estava sua mãe. Logo atrás da imagem melódica haviam duas portas adornadas pela sujeira dos tempos por onde a alvorada laranja podia passar e tocar o piso gélido, refletindo para as paredes escuras de encardidas, e lá estava seu pai, carregando livros e papel.

    Onde iremos? Perguntara o garoto apoiando-se com os cotovelos em uma das mesas, prestando atenção aos movimentos exatos de sua mãe. Ao novo mundo. Iremos em nome de nosso senhor. Os finos lábios da mulher se abriram lentamente como imãs de um mesmo pólo, revelando os dentes esbranquiçados como a própria neve. Ao novo mundo? A cidade dos pântanos? Reformulara a pergunta enquanto passava lentamente a mão pela nuca. Sim, Venore.

    Diplomatas era a família, estudiosos pelo rei – corrupto ou não, certo ou errado –, estavam no grupo definido pelas ramificações da escala real. Iriam eles para Venore – a terra recém descoberta de rei Tibianus – em uma missão como qualificados eram, definir os acordos da diplomacia entre os dois povos. Até a embarcação recém limpa caminharam, cães vagavam como perdidos apanhando com os dentes pardos a carne suja das aves que decaiam os céus, alimentando-se dos restos de lixo daqueles que o ateavam no decorrer das ruas, imploravam por comida, rastejando as pernas com uma imensa vontade de desistir da vida enquanto as moscas rodeavam seus olhos. O garoto se estremeceu enquanto subia a bordo da embarcação, ele olhou para o horizonte tentando entrever sua casa mais alta que a maioria. Lá estava a banshee, observando por aqueles que iriam consigo.

    “A morte sempre é bem vinda aos cantos do poeta,
    Mas é cruel quando se pode ver na ponta de uma flecha”.

    Um som estrondoso ecoou em conjunto de uma corneta quando a embarcação fora parando contra a areia escura das terras de Venore. Estavam no porto das pedras mal posicionadas onde o calor era quase insuportável. Comerciantes estavam por todas as partes vendendo objetos de todos os tipos. Ainda era possível prestar atenção aos ruídos de armas atrás da grande cortina de sons da multidão, os guardas de Thais estavam presentes na tentativa de conter um ataque dos comerciantes que apenas entregariam seu reino de moedas depois de mortos.

    A mão pesada do pai da criança ocupava seu ombro direito enquanto passava apressado em meio das diversas faces que ali estavam presentes. Foi quando quase involuntariamente, um grito assustador atravessou todos os outros sons como um machado, cortando tudo num decadente silêncio até que um homem de longa barba marrom se deixara cair pelas pernas curvas. Uma flecha atravessava suas costas como uma bandeira da morte. O garoto lembrou-se do grito da banshee no mesmo instante. Dois dias, dois gritos. Talvez a lenda surtisse efeito.

    Três homens de aparência jovem e rugosa saltaram de trás do gigante abatido, caminhando por sobre mesas improvisadas e bancadas quebradas apanhando adagas e machados feitos de madeira molhada, quase quebradiços. Vão embora, homens de Thais! Esta terra é nossa, e nunca venderemos nossos costumes! Foram as palavras do rapaz que estava à frente dos outros, tinha o nariz longo como as orelhas, enquanto seus olhos amendoados eram menores que um morango. Os nobres soldados do povo dos reinos sacaram espadas, lanças e escudos um a um lentamente, preocupados visivelmente. Grande parte dos homens era jovem e tinham medo de lutar num combate fechado como o que estava se armando aos poucos enquanto a multidão reagia com passos curtos.

    Não havia muito que decidir após a manifestação. A defesa fora inevitável. Correram os pais e a criança que buscavam por uma planície sem corpos ou flechas cravadas na terra amontoada. Correram e correram em meio das cores cinzentas e avermelhadas que rabiscavam os giros de imagem da criança. Não chorava, mas não podia deixar de sentir um temor terrível. Jogado então contra a parede fora, seu pai o obrigara a sentar-se ao lado de uma casa de tijolos esverdeados, tapando seus olhos com as mãos grandes que tinha. Não via. Não veja nada, meu filho. Não veja. As palavras de seu pai com o tempo foram se apagando, o som dos gritos foram sendo trocados por grunhidos de aves e gotas caíam sobre sua cabeça o tempo todo. O som todo cessou, mas não sua respiração redundante.

    Os olhos do garoto já formigavam e causavam uma sensação de desconforto em torno da face quando ele resolveu retirar as grandes vendas que cobriam seu ponto de visão. Ao voltar a cabeça para entrever o pai, notara que o toque gelado que tocava constantemente sua cabeça era sangue. Sangue que corria pela flecha atravessada no pescoço de seu pai. Ficara pasmo, fitando a cena durante minutos a fim, até que um pássaro voasse atrás de si ecoando o som do alaúde de sua mãe. Fora com os quatro membros de suporte do corpo até o instrumento ateado no chão ao lado de vários cadáveres degolados ou mutilados. Ele o apanhou com as lágrimas presas no brilho de seus olhos e caminhou. Caminhou com o alaúde entre as mãos em busca de algo que não imaginava. As pessoas não estavam em lugar nenhum, as poucas que surgiam estavam correndo para suas casas com itens roubados em mãos. Fora um verdadeiro massacre.

    Horas depois, sentado aos pés de uma estátua angelical de mármore forrado com pedras negras, implorara. Oh, estátua do anjo, oráculo. Imploro-lhe! Não permita que o som do silêncio venha a me matar. Afaste-me da banshee, oh, oráculo. E durante horas ele seguiu ajoelhado diante da figura esculpida, até que por sonho ou não, a estátua respondera. Pobre, pobre criança. Posso impedir que morra, mas não posso impedir que o matem. Dá-me tua morte como tributo, e nunca terá direito ao descanso eterno. Desesperado, aceitara. Entregar a morte e não a vida parecia ser um trato que o favoreceria. Parecia.

    Depois do segundo grito, a banshee nunca cessou a procura por aquele que marcara com um beijo, e o garoto nunca pôde entregar sua vida aos deuses que o amaldiçoaram com a vida eterna, perseguida pela dor da janela que gemia. Pobre garoto, todas as noites podia escutar o chamado da fada por trás das árvores, escorado em quartos de taverna por mundo a fora em busca de algo que o livrasse da maldição da banshe. O que fazer?

    Hoje, já velho de imortal, o homem ainda procura por alguém que o livrasse da maldição, matando-o ou arrancando o beijo da fada, procurando por uma cura nas florestas de Ab’Dendriel ou na ilha de Rookgaard.

    Seria alguém capaz de ajudar um amaldiçoado?

  3. #3
    Avatar de Wu Cheng
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    Padrão A sociedade de Rookgaard - Professor Girafales

    A sociedade de Rookgaard
    Professor Girafales


    Olá leitores! Meu nome é Ananias e eu vou contar para vocês uma história. Espero que gostem, pois os fatos que narrarei mudaram os rumos de minha vida.

    Antes de começar com a história, devo introduzir um personagem muito importante. Trata-se do "mendigo". Chamo-o assim por não saber seu nome. Apesar de eu ter descoberto que ele não era realmente um mendigo, no início eu achava que ele era um. Sempre o via no centro de Rookgaard, onde ficava pedindo esmolas aos passantes. Ele andava com vestimentas maltrapilhas, estava sempre sujo e tinha um cabelo grande e desgrenhado. A sua enorme barba parecia mais uma continuação de seu cabelo. Eu nem conversava com ele, o conhecia apenas de vista, por ser uma figura muito peculiar.

    Agora finalmente posso começar...

    O início de tudo foi em um dia ensolarado e tranquilo - pelo menos aparentemente. Eu estava com vontade de explorar e resolvi ir à casa abandonada ao norte da cidade. As ruínas logo depois da ponte sempre foram um lugar amedrontador para qualquer explorador. Vez ou outra, alguns tolos se aventuravam nas partes mais profundas, e nesse dia eu fui um deles.

    Os primeiros andares eram um lugar mais úmido e até aquecido. Seria tomado pela escuridão não fossem as inúmeras tochas de aventureiros que lá ficavam, enfrentando os trasgos numa guerra infinita. Parecia haver um fluxo infinito de monstros, e os humanos mortos eram prontamente ressuscitados pelos deuses em troca de um pequeno sacrifício. Já aconteceu comigo e é uma experiência difícil de explicar então não entrarei no assunto.

    Bem... voltando a história... como eu havia dito, nesse dia resolvi ir aos andares inferiores. Rumores diziam que minotauros haviam estabelecido uma base nas profundezas da caverna e o local sempre foi evitado pelos guerreiros. Eu tinha muitos elixires de cura e estava bem equipado. Ao contrário do andar dos trasgos, o ar era um pouco mais seco, e o frio era cortante. Eu acendi uma de minhas tochas e fui explorando o sistema de cavernas, sempre alerta para qualquer movimentação estranha.

    Foi quando vi o mendigo. Ele vinha do local para onde eu ia, e se dirigia para o andar dos trasgos. Eu não estranharia se tivesse visto um guerreiro com armaduras apropriadas, que estivesse preparado para um local tão perigoso. No entanto, o mendigo estava vestido exatamente como usual, maltrapilho, sujo, e um tanto quanto fedorento. Percebendo que eu olhava em sua direção com uma expressão de surpresa, ele apenas retornou um sorriso, e continuou seu caminho.

    Após o ocorrido, continuei meu caminho por alguns minutos. Andava por algo que parecia ser um labirinto, e estava com a impressão de andar em círculos, minha caminhada não dava em lugar nenhum! Foi quando vi um corredor curto. Em seu fim havia um alçapão iluminado por uma chama trepidante que estava no andar inferior. Eu andava em direção ao alçapão quando fui surpreendido!

    Um minotauro e um lobo começaram a me atacar. Com sua maça o minutauro desferiu um golpe em meu braço esquerdo. O lobo veio correndo e saltou em minha direção, mas eu consegui me esquivar. Saquei minha espada, protegi meu corpo com o escudo, e me virei em direção aos inimigos. O minotauro apenas observava enquanto o lobo veio novamente correndo. Esperei o animal pular e consegui golpeá-lo. Ele latiu esganiçadamente, um grito sofrido de dor. Ficou caído ali mesmo. Uma poça de sangue se formou envolta de seu corpo, ele estava fora de combate. O minotauro então gritou em uma língua estranha. O som estranho parecia algo como "kaplar".

    Após o grito ele veio em minha direção, balançando a maça em golpes poderosos. Eu me desviei duas vezes, e da terceira usei o escudo. O monstro ficou desestabilizado, e foi quando aproveitei para golpeá-lo. Ao contrário do que eu esperava, o golpe não foi tão efetivo quanto contra o lobo. A batalha se seguiu, equilibrada, "lá e cá". Após alguns minutos, consegui furar a defesa e golpeá-lo. Dessa vez sim de forma efetiva. O minotauro agonizante gritou o estranho som mais uma vez, caiu de joelhos no chão e morreu.

    Cansado pela batalha, com todo o corpo dolorido, tomei um elixir de cura. Eles dão uma ótima sensação de alívio. Todas as dores cessaram e eu me sentia como novo. Ainda assim, vacilei um pouco. Seguiria em frente ou voltava para a segurança da cidade?

    Resolvi seguir em frente, e desci o alçapão. Ele dava numa sala ampla, iluminada por vários focos de fogo em sua parte central, ela era mais aconchegante que o labirinto na sala anterior. O fogo ajudava também a ver que o local era seguro, sem minotauros, lobos, ou qualquer outro ser hostil. O alívio foi grande. Vi uma escada de mármore no final da sala e fui em sua direção. Desci a escada com pouco cuidado e fui novamente surpreendido, dessa vez por uma emboscada de muitos minotauros. Sem tempo para reagir, fui fortemente golpeado inúmeras vezes, por golpes de maça e machado. Caí no chão e por lá fiquei. Por sorte não morri, apesar dos minotauros acharem que eu tinha de fato morrido. Muita gente preferiria a morte, para poderem experimentar a estranha sensação de sair do corpo e ir ao encontro dos deuses. Mas o que se seguiu valeu mais a pena... Achando que eu estava morto, os minotauros começaram a conversar em sua estranha língua nativa.

    Um deles deu um grito estranho, e, de uma porta ao fundo, saiu um minotauro diferente. Esse tinha cabelo, meio ruivo. Usava um robe azul e segurava um cajado mágico. Certamente era o líder dos minotauros. Eles seguiram conversando, até que, pela escada veio outro humano. Não era um humano qualquer, mas o mendigo. Observei atentamente esperando que ele fosse atacado, para que eu pudesse ajudar. Mas, estranhamente, ele não foi... pelo contrário... ele e o minotauro líder começaram a conversar, em língua humana!

    Fiquei completamente perplexo. Pensei em me levantar e sair dali o mais rápido possível, mas preferi ficar deitado e que todos achassem que eu estava morto. A conversa dos dois foi realmente reveladora... Havia uma associação chamada de "Sociedade de Rookgaard". Unidos aos minotauros essa associação visava a proteger inúmeros segredos da ilha, eles citaram a espada da fúria, como os minotauros tinham chegado ali, de quem eram os túmulos estranhos espalhados pela ilha, e porque havia um dragão morto em um túnel desmoronado.

    Para proteger todos esses segredos, a associação plantava pistas falsas, desviando a atenção dos exploradores. Aprendi que o "labirinto da fúria" e a placa falando da humildade eram apenas distrações que desviavam os exploradores do verdadeiro caminho para a espada da fúria.

    Após discutirem longamente, os minotauros e o mendigo entraram na porta de onde o minotauro líder saiu. Aproveitei a deixa e saí dali, correndo, o mais rápido que podia, voltando pela caverna. Pouco a pouco foram ficando para trás os andares mais profundos do calabouço, fui me aproximando da superfície. Ao perceber que eu estava novamente no andar dos tragos, senti uma sensação de alívio. Estive frente a frente com a morte e escapei. De quebra descobri muitas coisas novas, e nunca mais iria ver os segredos de Rookgaard, bem como seus habitantes, com os mesmos olhos.

    Voltei para a cidade. Já estava anoitecendo, e, logo, os animais selvagens sairiam para a caça. O dia havia sido muito longo, cansativo. O melhor seria descansar... Fui para a taverna da Norma, pedi uma caneca da melhor cerveja e me sentei perto do balcão. Uma cerveja nunca havia sido tão gostosa.

  4. #4
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    Padrão Aventura em Fibula - Zuranno

    Aventura em Fibula
    Zuranno


    E lá estava eu, sentado e recostado na parede de nosso quartel-general, na ilha de Fibula. Meu bastão estava apoiado no chão e sua cabeça de mamute na parede, meu escudo jazia aos seus pés.Em minha mão, eu segurava uma coxa de carne de urso, que eu mesmo havia caçado, e ao meu lado uma caneca de cerveja do bar Flagoon’s Landing, onde trabalho.
    Ao meu lado meu amigo Atanvaron bebericava lentamente uma caneca de vinho, enquanto observava o pôr-do-sol e ouvia os primeiros uivares de lobos que saem à noite para caçar.
    -Aahhh! – exclamei - Adoro a ilha de Fibula, mas por aqui não há muitos monstros. Tenho sempre que ir até Thais para treinar.
    -Ah!Você se engana meu amigo – retrucou Atanvaron, tirando uma chave de madeira do bolso e me mostrando - Isso é o nosso passaporte da aventura em Fibula.
    -... Uma chave de madeira?- eu respondi coçando a minha longa barba branca.
    -A chave da caverna de Fibula. Venha-disse puxando-me meu amigo - Vamos dar uma olhada.
    -Certo - disse-me levantando, bocejando e agarrando minhas coisas.
    Caminhamos e passamos perto do bar, indo para a vila de Fibula, pequena, mas que eu, particularmente, sempre achei muito simpática.
    Após cumprimentarmos Eddy, o decorador da vila (que estava vendendo uma caixa enorme pra um senhor), Atanvaron parou perto de um poço e me disse:
    -É aí embaixo. Segure a corda e desça.
    -Aí?
    -Isso. Vai logo!
    Meio desconfiado, desci. Lá embaixo do poço, a corda terminava e uma escada começava, apoiada nas paredes do poço que, surpreendentemente, acabavam.Desci mais, mergulhando na escuridão.
    Surpreendentemente, não havia água no fundo, mas sim terra, que era iluminada com a fraca luz que havia lá em cima. O resto do lugar estava num breu.
    -Utevo gran lux – eu disse, e magicamente, o lugar em volta de mim iluminou-se. – Atan, parece que é uma caverna mesmo!
    -Claro! Não confia em mim, Zuranno? – respondeu descendo e abandonando a escada.
    Entrou na luz então uma aranha. Maior que as comuns, com um tom laranja e manchas verdes no corpo.Seus muitos olhos brilharam refletindo a luz.
    -... Vim aqui pra isso? – eu disse, apontando meu bastão para a aranha.
    Um jorro de luz gélida azul saiu da ponta da tromba do mamute em meu bastão, acertou a aranha no rosto, que bateu contra a parede de terra da caverna e se abriu, soltando seu sangue verde.
    -Isso é o começo, o começo. Paciência cara!
    Continuamos adiante, e mais três aranhas tombaram aos nossos pés.
    Passamos num riozinho dentro da caverna, e paramos numa construção antiga, com uma porta de madeira. Atanvaron introduziu a chave na fechadura e destrancou a porta, abrindo-a.
    Entrei, e vi duas estatuas surpreendentes, de duas criaturas que pareciam dragões.
    Descemos uma escada, e Atanvaron também iluminou o ambiente com a mesma magia que usei anteriormente. Quando descemos, haviam várias portas e esqueletos pelo chão.Um corpo aparentemente morto recentemente jazia ao meu lado esquerdo.
    -Parece que aqui sim teremos um pouco de ação!-disse
    -Venha cá Zuranno.
    Atan abriu a porta ao sul. Entrei e continuamos por um corredor de terá e pedras estreito.
    Quando o corredor se abriu, vi duas escadas levando para o andar inferior, uma de meu lado direito e outra do lado esquerdo. Uma muretinha de madeira estava à minha frente.Coloquei minha mão sobre a madeira e apoiei meu bastão no chão.Meu escudo preso em minhas, olhava tudo ao redor com seu olho, acredito.
    Não conseguia acreditar, ali embaixo, uma cidade destruída e em chamas na minha frente, esqueletos brancos e um vermelho andavam por ali, aparentemente sem notar nossa presença. Ao longe, uma grande bola verde cheia de tentáculos se embrenhava numa casa.Ouvi sua voz gritando, aparentemente contente:
    -Olho por olho!
    -E aí Zuranno – disse Atanvaron – acredita que esse lugar é aventura suficiente para você?
    -Estamos dentro de um poço... – foi tudo que respondi
    -Vê aquele esqueleto vermelho? São os temíveis Esqueletos Demônios, muito fortes. Se algo der errado, corra como nunca.Vamos?
    -Vamos... Utamo Vita – eu disse, e faíscas azuis saltaram do meu corpo, mas aparentemente nada acontecera.
    Descendo a escada, quatro esqueletos nos viram a uns 5 metros dali e vieram para nosso lado.
    Em conjunto, eu e Atanvaron dissemos, olhando para eles:
    -Exevo Frigo Hur! – E de nossas mãos uma enorme tempestade de granizo engolfou e desmontou facilmente os esqueletos.
    -Molinho, molinho! – riu Atanvaron
    -Er... Atan?
    -Que foi?
    -Aquele cara ali parece que não é tão fácil não!
    -Que? – disse ele, mas antes que pudesse responder um jorro de luz verde o atingiu de lado, derrubando-o contra a parede.
    A aparentemente inocente “bola verde” vinha para cima de nós. Em seus 4 tentáculos, haviam 4 olhos, e mais um enorme olho no centro.Disse apenas, com um som que mais parecia uma risada:
    -Deixe-me dar uma olhada em você!
    Eu retirei meu escudo e atingi seu corpo perto do olho com mais um jato de luz gélida. Um dos olhos fez uma expressão de dor, mas ele avançou e soltou mais um jato de luz verde.O jato parou a centímetros do meu corpo e desfez-se em luz azul, deixando o Beholder aparentemente surpreso.
    Apesar de conter aquela magia ter consumido bastante minhas energias, gritei enquanto usava meu bastão mais uma vez:
    -Exevo Frigo Hur!
    -Exevo Frigo Hur!
    O monstro foi engolfado como os esqueletos em duas tempestades de gelo, enquanto Atanvaron ajudava em meu ataque.
    No meio do gelo, a magia do meu bastão acertou o centro do olho do Beholder, que gritou e caiu morto no chão, com seus olhos caídos para fora envoltos em sangue verde.
    -Atanvaron, você está bem? – perguntei
    -Claro. Eu deixei que você o matasse. – ele disse
    - Oh, sim, obrigado. – eu disse com ironia, aparentemente não percebida por ele.
    - Oh, veja! Um dos olhos do Beholder pode ser aproveitado! – disse ele remexendo a sujeira e arrancando (senti náuseas quando ele fez isso) um olho do Beholder e me entregando.
    -Guarde. É caro. – ele disse
    - Errr... Tudo bem – disse-lhe com cara de nojo. Eu envolvi o olho num pano e guardei na minha mochila, tendo o cuidado de afasta-lo de minha comida.
    - Epa! Esqueleto demônio – disse Atan. Ao longe, um esqueleto com os buracos oculares soltando fumaça vermelha, e seus ossos mais vermelhos que sangue, vinha em nossa direção relativamente rápido. – Suba a escada e observe um mestre em ação.
    - Tudo bem.
    Subi e fiquei observando a luta.
    Atanvaron gritou “Eivo Frigo Hur!” novamente, pois esse é um dos poucos feitiços ofensivos que nós dispúnhamos no momento, e acertando a mão do esqueleto com seu bastão. Ele apontou uma runa de Grande Bola de Fogo e tudo em sua volta explodiu, mas o esqueleto não fora avariado, aparentemente.
    O esqueleto acertou a perna de Atanvaron com um chute, e ele gritou de dor. O esqueleto então usou uma magia negra ( literalmente, era uma luz negra ) e antes que acertasse Atanvaron ele gritou “Utamo Vita!” e novamente o feitiço desfez-se em luz azul.Então Atanvaron disse num tom de voz baixo, mas que eu consegui ouvir “Exura Gran” e seus ferimentos desapareceram.
    Ao contrário do Beholder, o esqueleto não deu atenção a esse fato e esmurrou com força aparentemente incomum para um esqueleto, o rosto de Atanvaron, que caiu no chão. O esqueleto foi pisar sobre ele, mas ele defendeu com seu escudo, feito pelos anões de Kazordoon, e derrubou o esqueleto no chão. Ele se levantou e pude ver um filete de sangue no canto de sua boca, que ele limpou com sua mão.
    Com o esqueleto sob seus pés, Atanvaron cravou a ponta de seu bastão no crânio do esqueleto. Um estouro de luz vermelha cegou-me, e quando olhei novamente o esqueleto estava em mil pedaços no chão, e Atanvaron, com ferimentos no corpo, cantava vitória.
    -Certo – disse ele quando o ajudei a subir a escada – Chega por hoje Zuranno. Esse esqueleto aí não foi fácil não.
    -Mas você não é o mestre, Atan? – brinquei
    -Hahaha. Vamos embora tomar uns drinques no bar e voltar.Teremos reunião com o Prince Nuada hoje, esqueceu?
    -Hehe, vamos então. Chega de esqueletos por hoje, disse eu retirando o olho de Beholder da mochila e estudando-o, enquanto nos dirigíamos para a saída.
    Pude jurar que aquele olho piscou para mim.

    FIM

  5. #5
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    Padrão Desgrama - Anônimo (Nouakchott)

    Desgrama
    Anônimo (Nouakchott)


    Troll, troll, Jim o troll. Do pouco que sabia de muito continuava, de quem lhe bem-dizia, pouca gente confirmava. Lá no pântano de Vê vivia, dia após dia, catando mato e cuspindo verde por aí. Pouca gente sabe do que se passou mas eu vou falar agora mesmo.
    - O, o, que que é isso aqui?
    - Mato filho. Tô catando.
    - O, o, tio, que você tá fazendo aí?
    - Mato, filho. Tô catando.
    - O, o, tio, que que isso tio?
    - Vai te catar!
    E matou o moleque. Assim que era com ele. Quem tava na hora viu tudo, pra eles tudo isso é comum. O cara surtar? Surta mesmo, pra você só ficar longe! O troll voltou a catar grama e parou pra pescar alguma coisa. Noite. Nisso que pula um peixe pra fora d'água, sem nem pedir.
    Parecia um peixe normal, mas no que ele foi ver não tinha nada de normal. O peixe brilhava que nem o sol. Cada escama tinha uma cor diferente, quando ele olhava de cada lado virava outra coisa. Azul, rosa, cinza, vermelho, branco, amarelo, e muita cor que nem de peixe era. Deu verde e arco-íris adoidado, e quanto mais o troll olhava mais o peixe ficava estranho... e o peixe sumiu! Depois de brilhar tanto só ficou as escamas ali no chão, parecendo vidro quebrado. Ele foi pra perto ver que diabo era aquilo, e aí ele botou a mão naquele restinho...

    Passou.

    Passou a mão inteira pro outro lado. Atravessou'chão.

    - Mas que... por mas mas que...

    Antes de mais balbuciar, já tinha se destrambelhado de todo pra dentro do espelho. Caiu de olho fechado - se é que caiu, se é que tinha olho fechado, se é que... Ok. Deixe-me explicar. Ufa. Quando ele atravessou, ele "abriu" os "olhos" e "viu" onde estava. Pronto. Mas boto tudo entre aspas porque as coisas estavam muito mudadas. As coisas tinham cores que ele nunca viu antes, nem naquele peixe de lá. Olhou pras suas mãos e elas não tinham mais pêlos. Ele estava rosa e sentia algo estranho na cabeça, e percebeu que estava sentado. Agora: esse é o tipo de situação onde você não pode ficar sentado. Ou você deita ou sai correndo gritando de pânico, e foi isso que ele fez. Saiu correndo pelo pântano.

    Só que agora, nem pântano tinha mais. Ele percebeu que estava enjaulado. Dentro de paredes de concreto, com só uma porta a sua frente. Nessa hora, ele nem lembrava mais do peixe. Pensou que tinham envenenado e armado pra ele. Pensou que tinha morrido, ou que estava sonhando. Uma tela brilhante, um monte de brinquedos, nada daquilo fazia sentido. Lembrou do menino, e aí que a porta se mexeu. Abre abre abre abre...

    - Você tem que superar... se arruma. Tá atrasado. Vamos.

    Falou isso uma mulher muito bonita, tão bonita que troll tinha esquecido de gritar. Nem pensava mais em fugir. Ele só pegou uma mochila que estava por ali, e seguiu a mulher... meio que por instinto. "Isso não é instinto de troll" pensou ele. "Nada aqui é de troll, pra falar a verdade"

    Seguiu a mulher e depois de ter visto tanta coisa estranha só deitou numa cama móvel que ela tinha, pra descansar a vista. Quando acordou, já estava na frente de um lugar bem maior. "Essa deve ser a prisão definitiva" ele pensou. "Jogaram muitos trolls como eu por aqui, eu vejo eles entrando. Mas por quê?" Do lado dele a mulher perguntou "Você está passando bem?" Como assim? Essa era a prisão mais estranha em que ele já tinha ido. Raspam a gente, zoam nossos olhos, e ainda perguntam se a gente está bem...

    Saiu da cama móvel num pulo e entrou no lugar. Seguiu pra onde todo mundo parecia ir. Subiu as escadas e entrou na jaula de uns veteranos, que foram muito simpáticos com ele, assim do nada. Ele sentou ali num canto, e nisso ficou quieto.

    - Oooooi!

    Chegou essa coisa pequena muito feia, já agarrando e se esfregando nele. Aquela prisão era estranha, ele era novato, mas ele não podia virar mulher na cadeia. Já sabia como essas coisas funcionavam. Empurrou a coisinha com tudo, dando uma bicuda no meio da cara. Caiu no chão duro, de barriga pra cima e da boca sangrando. - Rá! Quem mandou!

    Bem, ninguém mandou mas mandaram ele sair da cela, quase que na mesma hora. Muita gente que era rosa ficou branca, e um troll que não perdeu a cor - "sortudo, deve ser o chefe daqui." - começou a gritar um monte de coisas sem sentido. " Como você faz isso com sua namorada? Mas que... vocês brigaram? Cara, isso vai dar cadeia... alguém chama a ambulância! Rápido! Você é louco...". Ele percebeu que tinha que sair rápido de lá: se a cadeia fez isso com a cabeça do cara, imagina o que faria com a dele!

    Então ele saiu da jaula, e ficou ali nos corredores do segundo andar. Estava achando aquilo um saco, e se tivesse percebido que matar um zé mané qualquer ia dar tanto problema só teria respondido: Que desgrama, filho, que desgrama.

    ***

    Ficou sentado ali olhando pro céu, lembrando dos seus tempos de detento nas torres de Venore. Muito melhor. "Pelo menos eles tinham ratos por lá." Viu um pouco de grama ali numa varanda, sem grade sem nada, a uns dez metros do chão. Troll, troll, troll, Jim o troll. O que você fez? Eu lembro de você lá nos pântanos, dia após dia, e olha agora onde você foi parar. Meio que pra descontrair um pouco, ele começou a se equilibrar lá na borda, catando um pouco do mato.

    - O, o, que que isso aqui filho?
    - Mato. Tô catando.
    - O, o, filho, que você tá fazendo aí?
    - Mato, tio. Tô catando.
    - O, o, tio não! que que isso de "tio"?
    - Vai te catar!

    João, 18 anos. homicídio, suicídio.




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  6. #6
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    Padrão Luzir - Uma pequena epopéia Rookgaardiana - Steve do Borel

    Luzir - Uma pequena epopéia Rookgaardiana
    Steve do Borel



    E uma estrela cadente cruzou o céu.

    Não uma qualquer, mas uma rápida, veloz, com o brilho tão intenso que seria capaz de ofuscar qualquer corpo que tentasse se opor em sua sublime trajetória.

    Uma pena ter desaparecido tão rápido.

    Alguns aventureiros tiveram a honra de quase a ver, mas tudo o que sentiram foi um repentino clarão, e a confundiram com um relâmpago ou qualquer outra coisa.

    No entanto, do cume de uma montanha à nordeste de Rookgaard, talvez um dos pontos mais altos de toda a ilha, o espetáculo pôde ser visto de perto. E o ancião Hyacinth foi o único homem a ser agraciado com a visita da estrela.

    Mesmo sem saber se o que via era real ou não, desejou. Suas palavras foram sinceras, ditas em um tom de voz suave e acolhedor, embora quase inaudível, de forma que apenas as paredes rochosas da montanha puderam ouvir seu mais sincero desejo.

    E então a estrela sumiu.

    ***

    Era uma bela manhã, e Sandro Dalarian acordou com o cântico dos pássaros e o suave farfalhar das folhas que caíam no outono. Era em momentos como aquele que a certeza de que Rookgaard é o lugar mais calmo e aprazível de todo o Tíbia se confirmava.

    Sandro morava em um casebre rústico na parte sudoeste da ilha, um pouco distante de tudo e todos. Fazia parte de um diminuto grupo que podia chamar aquela cidade de lar, e se orgulhava disso, contrariando a opinião pública. Desde que decidiu tornar-se cidadão daquele pacato lugar, sofreu preconceito de diversas partes. Os patriotas, por não servir às potências do Grande Continente. Os aventureiros normais, por ser um tolo que não almeja desfrutar as aventuras que o espera mundo afora. Todos tinham um motivo.

    A verdade é que Rookgaard é uma cidade que desde o princípio é tida como um lugar para se passar, e não para se ficar. Muitos a vêem como um simples treinamento para guerreiros antes que eles possam ingressar nos batalhões das cidades do Grande Continente, onde o real perigo se escondia. Na verdade, todos pensavam assim.

    Todos exceto os rookers, pessoas que a escolheram como morada e não como caminho.

    E Sandro, talvez um dos mais respeitados deles, estava terminando o seu desjejum e se arrumando para sua caminhada diária ao centro da cidade, onde os pequenos eventos costumavam acontecer (até porque Rookgaard não possuía grandes eventos).

    A estrada era singela, de terra, adornada com flores, árvores e arbustos pela própria natureza. A caminhada foi serena, calma, e Sandro passou por alguns animais graciosos e alguns aventureiros perdidos. Como sempre acontecia.

    A Praça Principal era um pouco tumultuada, mas muito mais pela falta de espaço do que pela concentração de pessoas em si. O comércio, as gritarias de Dixi e os sempre presentes aventureiros perdidos (que podiam ser encontrados nos mais inusitados cantos da ilha) contribuíam para isso.

    Sandro passou rapidamente por ali e rumou um pouco para norte, onde se localizava a taverna de Norma, ponto de encontro dele e de seus amigos. Estavam quase todos lá, e saudaram-no com entusiasmo. Suri estava sentado em um banco em frente ao balcão, tomando um pouco de vinho, e entrou em êxtase quando o viu, com seu jeito espalhafatoso. Bradock, ao lado dele, manteve-se sentado, e o recebeu apenas com um sorriso convidativo. Ambos eram habitantes de longa data da ilha, e dificilmente podiam ser vistos tão alegres (cada um à sua maneira).

    - Nossa, gente, tudo isso é alegria por me ver?

    - Sheng está aí – disse Bradock, seco e sem rodeios, enquanto apertava a mão de Sandro.

    - Sheng, o aprendiz? – perguntou ele, espantado.

    - Ele mesmo – respondeu Suri. – Alec acabou de confirmar, mas teve que sair para resolver uns assuntos. – Sheng era um monstro que se auto-denominava aprendiz do poderoso Minotauro Feiticeiro, e aparecia de tempos em tempos em Rookgaard, não se sabe exatamente por quê. Diz que guarda segredos de seu mestre, e que a ilha se tornará deles. Mas sempre acaba derrotado por algum rooker e volta para onde quer que tenha saído.

    - Eu vou até lá – disse Sandro, decidido, esperando alguma negativa.

    - Sim, nós sabemos – disse Suri – E não vamos te impedir.

    - Achamos que você está enfim preparado – completou Bradock.

    Os dois pareciam já ter discutido aquele assunto suficientemente consigo mesmo.

    - Nossa... Então já estava tudo preparado para essa hora e só eu que não sabia?

    - Exato.

    Aquele foi um dos diálogos mais rápidos que os três já tiveram antes de Sandro partir para o norte, fora da cidade, onde se encontrava a caverna que o minotauro habitava. Seus amigos não o acompanharam, e ele preferiu assim. Na verdade, ambos já sabiam que ele preferiria assim. Queria matar o monstro sozinho, sem ninguém por perto, e viver a solitária glória.

    Desejaria apenas a presença de uma pessoa, mas que infelizmente não poderia estar lá.

    Passou pela ponte que separava a cidade dos territórios além dela, e Dallheim, guarda da ponte, percebeu a tensão em sua face.

    - Está tudo bem, jovem cavaleiro? – perguntou ele, colocando sua grande lança em seu caminho.

    - Melhor impossível, Dal. Agora, deixe-me passar, que depois eu te conto tudo. – empurrou a lança para o lado e começou a correr.

    Passou por um pouco de floresta, não muito densa, e entrou em uma caverna de corredores estreitos e escuros. Retirou de sua mochila uma tocha para iluminar o local, e segurou com a outra mão sua espada.

    Aqueles eram momentos de tensão. Sandro chutou para os lados alguns ratos e aranhas que habitavam a entrada do lugar e se deparou com um trasgo – medonho para a maioria dos aventureiros – mas fraco para ele. Com apenas dois movimentos, cortou o monstro ao meio, que tombou ao chão como uma pedra gigante, ecoando por toda a caverna.

    Conforme descia para os andares mais inóspitos e profundos, encontrava monstros cada vez mais fortes e horripilantes, mas sempre matava-os com certa facilidade. Chegou a um labirinto repleto de lobos e ogres, e teve a certeza de que o momento se aproximava.

    Levou algum tempo para encontrar a saída, e avistou uma desgastada escada de madeira. Desceu-a e o que viu foram mais lobos e ogros, mas agora haviam também minotauros.

    Depois de, com um pouco mais de dificuldade, liquidar todos, chegava a derradeira hora.
    Uma escada de mármore manchada de sangue levava ao que chamavam de “Inferno dos Minotauros”. Desnecessário explicar a razão.

    Sandro respirou fundo e uma golfada de coragem encheu seu coração. Desceu a escada brandindo sua espada, com um grito de guerra monumental.

    Logo num primeiro momento, se viu cercado por inúmeros minotauros, todos enfurecidos. Jogou sua tocha em um deles, que queimou e tombou ao chão, mas ainda havia muitos. Foi aí que sentiu uma rajada azul de energia o atingindo em seu peito, e pôde perceber Sheng vindo em sua direção. Em um único golpe, cortou superficialmente três minotauros, e conseguiu se desvencilhar para ver a fera.

    Tinha mais de dois metros e meio de altura, sendo um pouco maior que os demais minotauros. Possuía uma pelugem vermelha sobre a cabeça, que se assemelhava a um cabelo humano e descia até sua lombar. Segurava um imponente cajado mágico e tinha o corpo todo tatuado, com inscrições e símbolos que Sandro não conseguia decifrar.

    Seu momento de contemplação foi interrompido quando dois minotauros o ergueram e o arremessaram contra a parede, o que o fez deixar sua mochila com mantimentos e poções de cura cair no chão. Arrastou-se para tentar pegá-la, mas um bando de hienas apareceu não se sabe de onde e devorou-a. A batalha estava muito mais dura do que se imaginava.

    Sandro, contudo, não desistiu. Com alguns movimentos de espada, conseguiu facilmente feri-los e faze-los bater em retirada. Agora, só restava ele e Sheng. A fera manteve distância, e atacava com rápidas rajadas de energia e de fogo. Algumas eram absorvidas pela cota de malha que o aventureiro usava; outras acertavam-no em cheio. Mas o Aprendiz era fraco, de pouca resistência, e sem a proteção dos minotauros logo caiu ao chão, com um urro de dor.

    Sandro ajoelhou-se, fincando a espada no chão como forma de apoio, e contemplou o chão ensangüentado da caverna. Pensou que sua aventura havia chegado finalmente ao fim, e que a partir daquele momento poderia considerar-se um verdadeiro rooker.

    Mas o que aconteceu a seguir foi inacreditável.

    Ainda de guarda baixa, ajoelhado, ouviu um som que parecia o de uma porta destrancando. Espiou sobre os ombros, mas tudo o que via era uma escuridão profunda. No entanto, um novo barulho surgiu, rítmico e crescente.

    Quando Sandro percebeu que eram passos já era tarde demais. Até hoje não sabe se o que o apunhalou pelas costas foi uma porrada ou uma nova rajada de energia. O fato é que, depois disso, uma ofuscante luz surgiu e ele não se lembrou de mais nada.
    ***

    Alguns dias haviam se passado desde o misterioso ocorrido. Sandro havia acordado em sua casa, com as feridas completamente saradas e como se nada tivesse acontecido. Contou sua aventura para todos os seus amigos, que acreditaram e o apoiaram (talvez por causa do vinho, mas isso não vem ao caso).

    Naquele exato momento, contudo, ele estava solitário na orla de Rookgaard, em frente ao túmulo de Khone.

    Sandro era seu melhor amigo, e o viu morrer em seus braços, há exatos oito anos, por uma doença desconhecida. E ainda não havia conseguido superar essa dor. Jogava flores em seu túmulo, quando sentiu alguém aproximando-se.

    Era Hyacinth.

    - Lembro-me dele como se fosse ontem – disse o eremita, com sua voz rouca e impactante, apoiado em uma rústica bengala.

    - Eu também... – ratificou Sandro, ainda olhando para o mar, com a vista sobre o túmulo – Está vendo aquela ilha? – apontou para uma ilha envolta por fogo – Khone dizia que um dia chegaria até lá, e que encontraria os mistérios mais profundos de Rookgaard.

    - Era um sonhador...

    - Eu acreditava nele.

    Eles não trocaram mais nenhuma palavra. Hyacinth apenas repousou flores em seu túmulo, e ficou a fitar o horizonte ao lado de Sandro. Os dois viram o pôr-do-sol juntos, em uma tarde em memória de Khone. E, de alguma forma, o jovem rooker entendia que aquele encontro estava intimamente relacionado com sua misteriosa sobrevivência na cripta do minotauro.

    A chama rookgaardiana ainda estava acesa, e a ilha ainda veria inúmeras aventuras que seriam contadas nas próximas gerações por bardos e falariam de amizades, minotauros e espadas. Como a que acaba de ser contada.

    E uma estrela cadente cruzou o céu...

  7. #7
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    Padrão O Relógio - Drasty

    O Relógio
    Drasty



    O sol brilhava estranhamente forte naquela manhã de Rookgaard. Os raios penetravam facilmente os frágeis telhados dos estabelecimentos da ilha. No entanto, não fazia tanto calor. O ar estava úmido e uma leve brisa vinda do oceano soprava. A bela manhã ensolarada não era esperada, ventos frios e chuva ao fim da tarde eram mais prováveis. Nem sempre se acertava tudo. Por isso mesmo que já não se acreditava em bolas de cristal e nem em bruxas sabe-tudo, o mundo não funcionava com previsões. Um surto qualquer podia mudar tudo, finalizar um ciclo, dando início a outro totalmente diferente.
    O clima favorecia o mercado daquela cidade, sem a chuva, mais pessoas saiam nas ruas a passeio e sempre acabavam se deparando com vendinhas. Negócio bom, de qualquer tipo de coisas, desde armas até utensílios velhos. A grande verdade é que nada ali tinha muito valor. Aquela ilha era limitada em tudo, em recursos e até em pessoas. Volta e meia um alguém novo aparecia por aquelas bandas, se fazia um estardalhaço e logo depois tudo voltava ao normal.
    Um daqueles adereços chamara a atenção de um homem muito alto que se postara a observá-lo. Ostentava um belo circulo de ouro com uma pulseira arredondada que encaixava com perfeição no pulso. Dentro dele, protegido por um vidro arredondado, duas setas, uma longa e outra mais curta giravam proporcionalmente.
    — O que é isso? — perguntou enfim.
    — Isso? —a vendedora segurava o objeto em suas mãos. — Isso aqui é um relógio.
    Ele ficou admirado.
    O objeto havia lhe trazido uma curiosidade tamanha que ele seria capaz de tudo para saber seus segredos. Seu barulho ritmado dava o tom das idéias daquele senhor. Há muito tempo não sentia tanto prazer, tanta ânsia em descobrir algo. Seu coração ganhara um novo motivo para bombear o sangue para seu corpo, havia sentido em seus esforços em bater e bater.
    Visceral fora sua inspiração que este se divertia até mesmo com o tic-tac infernal do objeto. Será que servia para descobrir novos tesouros? Ou seria um místico talismã?
    Um sonho distante relampeava bravamente em seu eu interior, algo incrível emanava dali. Uma coisa tão magnífica e ao mesmo tempo tão simples. Jamais havia visto movimento assim antes, nem mesmo nos mais incríveis utensílios que havia coletado em suas empreitadas.
    Sua vida nunca tivera grandes aspirações. Os anos que passava contavam os passos para um fim sem grande vislumbro. Uma existência inútil. Sempre com um vazio tão lamuriante. Vazio este que tinha sido preenchido por aquele objeto. Tão bizarro a seus olhos, totalmente diferente dos outros comuns objetos, estáticos e igualmente vazios. Aquele ali nas mãos da vendedora tinha vida, vibrava e podia morrer, como ele.
    A morte naquele momento parecia algo singular, coisa de gente. Coisa de relógio.
    De súbito ele pergunta.
    — Pra que serve?
    A moça entretida com os vários clientes que se interessavam veemente por outras coisas, bobas demais para chamar a atenção daquele senhor. Finalmente ela conseguiu responder:
    — Serve pra você ver as horas.
    Um sorriso desenhou-se em seu rosto. Ele ficou estático, assim como o sangue que corria por suas veias. Seu coração desacelerara rapidamente. Sentiu um calafrio estranho subir por sua espinha. Seu corpo suava, mas ele não sentia calor, na verdade estava frio como uma pedra.
    Por mais simbólico que pudesse ser a expressão em sua face, ela havia sido falsa. Tão falsa quanto os ponteiros, que giravam e giravam sem mostrar nada. As horas não passavam de meras marcações inválidas e incorretas. Logo o tempo, o seu maior inimigo! Aquele objeto tão perfeito era comparsa do seu maior rival, da única coisa que derrubaria aquele velho guerreiro.
    — O senhor vai querer comprar? — indagou impaciente a vendedora.
    — Não, porque eu iria querer uma coisa tão inútil como essa.
    Ouviu a moça gritar-lhe nomes horríveis, mas pouco ligou.
    Caminhou rapidamente pela cidade e viu os corredores se multiplicando. As horas o aprisionaram. Olhava ao seu redor e via mortos caminhando. Pois se afinal todos morreriam, então porque não dizer que todos já estariam mortos. Era como uma sentença, uma prisão perpétua.
    A vida tinha sido repleta de batalhas. Havia viajado para outros continentes, matado dragões gigantescos, demônios e até outros homens, tudo que havia cruzado seu caminho e o desafiado tinham morrido. Achava que seu vigor era eterno. Mas enfim, havia concluído que nunca poderia vencer seu maior inimigo.
    Depois de alguns meses a cidade de Rookgaard ficou sabendo do velho homem que morrera só, num casebre longe do centro. Naquele ser de porte alto e de bela fisionomia sempre existira um relógio. Com ponteiros mais velozes do que os vistos na vendinha. Nele, o tic-tac era eterno, ao menos eterno enquanto durou. Ele não passava de um objeto.



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