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Tópico: Concurso Roleplay Telling - 2009

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  1. #1
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    Padrão Sem título - Raito Shiroi

    Sem título - Raito Shiroi
    Raito Shiroi



    Raito Shiroi nasceu em Chiba, ele usa técnica baseada em Hyoho Niten Ichi Ryu e kenjutsu que precisa do controle da mente e do corpo.

    Raito Shiroi é bem rápido, shiroi não tem família; pai dele foi morto em campo de batalha e a mãe dele foi morta por seqüestradores. Shiroi geralmente vive sozinho e obedecendo as ordens de seu mestre, mas não se importa em trabalhar em equipe, msm ele sabendo que trabalhando em equipe ele terá mais risco de morrer, pq o maior defeito dele é proteger os mais fracos. Shiroi geralmente é neutro, mas sempre protege os mais fracos msm que custe a vida dele, e de vez enquando ele poupa a vida de seu oponente por acredita q um dia ele será mais forte e eles se enfrentaram um dia...

    Mas não ousem abusar da sorte Shiroi tbm ama mandar as almas de seus oponentes pro outro mundo e economiza o Maximo possível de atacar, sempre tentando acabar com os oponentes com o mínimo de ataque possível, mas sempre ataques certeiros e sempre q possível Shiroi leva a cabeça de seus oponentes como troféu para seu mestre.

    Mas não se engane ele tbm é uma pessoa boa, mas prefere não demonstrar isso, principalmente em campo de combate. Aos 18 anos depois de oito anos das mortes de seus pais Shiroi foi seqüestrado pelo msm grupo que seqüestrou sua mãe, La ele descobriu que o seqüestro de sua mãe não foi exatamente para matá-la e sim para um ritual (coitado já tinha pensando coisas e mais coisas) aplicaram o msm ritual que usaram em sua mãe, mas em Shiroi, Shiroi sobreviveu ao ritual, tal ritual era pra misturar o DNA de humano com de monstro, sendo assim um “semi-demônio”.

    Apos esse ritual ele se dirigiu a procura de um mestre que poderia ensiná-lo a controlar seus poderes de demônio,colocar todos seus poderes oculto pra fora e ajuda ele e seu fenrir a usar seus poderes em conjunto.A família Shiroi é especialista em controle de monstro principalmente em fenrir ou qualquer monstro q seja rápido e forte,o fenrir de Shiroi se chama ShiroiKiba,Shiroi e Kiba cresceram juntos o garoto é apenas 1 ano mais velho que seu fenrir. Depois de 2 anos de treinamento intensivo ele conseguiu a se controlar e liberar seus poderes mais oculto e habilidade que seu pai ainda não tinha trabalhado com ele e usar sua habilidade em conjunto com seu fenrir.

    Depois de conseguir passar de seus treinamento com seu velho mestre, Shiroi foi dispensado por seu mestre fazendo dois pedido para Shiroi, os pedidos era:conquistar uma das 13 laminas e achar um dojo que pudesse ser do nível dele,o garoto não quis obedecer as ordem do velho mestre e ficou mais 2 anos treinando com o mestre msm já tendo aprendido tudo que o mestre poderia ensiná-lo menos uma coisa: lealdade,honestidade,caráter e habilidade de inverter o luxo da correnteza,msm assim o garoto ficou La.

    Passou-se os 2 anos e o garoto já tava com 22 anos já tava na hora de obedecer seu velho mestre,logo que ele saiu pra procurar as tais laminas que seu mestre não tinha conseguido conquistar quando era mais jovem,recebeu a noticia que seu mestre havia sido assassinado...o garoto foi atrás das pistas que tinha recebido e conseguiu chegar nos assassinos,com um pouco de facilitar conseguiu vingar a morte de seu mestre e jurou realizar os pedidos de seu mestre,sendo assim foi logo procurar o dojo,depois de 2 semana de procura o garoto encontrou e foi aceito,La viveu com seu fenrir dos seus 22 anos ate agora com seus 28 anos e seu fenrir com 27 anos.La o garoto obteve mais informações das 13 laminas lendária,agora o garoto foca seu objetivo em conquistar
    informações das 13 laminas lendária,agora o garoto foca seu objetivo em conquistar uma dessas 13 laminas que seu mestre não conseguiu conquistar.

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  2. #2
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    Padrão Todos os Nossos Pecados - Emanoel

    Todos os Nossos Pecados
    Emanoel



    O homem de meia-idade encontrava-se sentado displicentemente na janela de um prédio residencial, sentindo a brisa acariciar sua face descolorada. A perna direita estava em contato com o carpete do apartamento e a outra balançava perigosamente do lado de fora – muitos metros acima da calçada.

    Já fazia alguns minutos que segurava uma garrafa de vinho com a mão trêmula e a observava com os olhos semicerrados, como se estivesse com raiva da bebida que balançava dentro do recipiente. Cansado das lembranças que o atormentavam, grunhiu brevemente e atirou o objeto na avenida. A garrafa sumiu na noite e espatifou-se estridentemente ao encontrar o chão.

    – Fez muito bem, Vitor – comentou uma voz doce e melodiosa. – Causaria um terrível mal-estar.

    A garota que falara aproximava-se morosamente, envolta em mistério, trazendo um largo sorriso estampado no rosto pálido e ossudo. Enquanto observava suas pernas longas e finas desfilando hipnoticamente em sua direção, lembrou-se do dia em que se conheceram – o terrível encontro que mudou sua vida.



    Ela não tocou a campainha. Quando o proprietário abriu a porta com a única intenção de levar o lixo para fora, encontrou-a em frente à residência, sob a chuva, esfregando as mãos e tremendo levemente.

    – Meu Deus! – exclamou, largando os sacos de lixo no tapete de entrada.

    A garota sorriu pelo canto da boca, mas permaneceu na mesma posição. Estava completamente nua e encharcada, sua pele imaculadamente branca contrastava com os cabelos lisos e escuros que desciam até seus ombros.

    – Convide-me para entrar – pediu, enquanto caminhava em direção a porta.

    – Entre, entre – disse o homem, ao mesmo tempo em que a puxava.

    O interior do aposento era iluminado por um antigo candelabro de seis braços, preso ao teto por uma grossa corrente prateada. No centro da sala, ocupando grande parte do espaço, encontrava-se uma mesa redonda de madeira escura e quatro cadeiras feitas do mesmo material.

    A menina foi conduzida até uma das cadeiras – molhando o assoalho durante o percurso –, mas não sentou. O dono da casa resmungou qualquer coisa, ausentou-se durante alguns segundos e retornou trazendo uma toalha azul e uma camisa social listrada.

    – Qual é o seu nome? Onde estão seus pais? – perguntou, enquanto a enxugava dos pés à cabeça.

    – Lílian. Mortos.

    Ele estava tão preocupado em vesti-la que não reparou a rigidez de sua voz ou a forma agressiva como seus olhos castanhos claros o fitavam.

    – O que aconteceu? Onde você mora? – prosseguiu com o interrogatório.

    – Tire as mãos de mim, seu pedófilo desgraçado – murmurou a garota.

    O homem recuou alguns passos, coçando o cavanhaque mal feito e tentando compreender o motivo da acusação. Ela não demorou a desfilar em sua direção com um sorriso perverso.

    – Você me acha atraente? – perguntou em tom libidinoso, fazendo menção de desabotoar a camisa que lhe cobria até os joelhos.

    – Deus! Você é uma criança... eu tenho filhos... – protestou o homem, verdadeiramente estupefato.

    – E eu tenho 286 anos – interpelou com certo desprezo na voz.

    Ela saltou sobre o seu interlocutor, derrubando-o facilmente. Enquanto segurava os braços da vítima, seus dentes caninos projetaram-se ameaçadoramente para fora.

    – Você acredita em Deus? – sua voz soava pesada. – Comece a rezar – intimou.

    O homem tentou levantar, mas aquele corpo aparentemente frágil e delicado exercia forte pressão sobre seu tórax. Estavam a pouquíssimos centímetros de distância, porém seu nervosismo impediu que percebesse um detalhe assustador: ela não respirava.

    – REZE! – ordenou a garota, que agora portava aparência animalesca.

    Iniciou uma oração ensaiada durante a infância em colégio católico. O desespero falou mais alto, acabou atropelando as próprias palavras e chorando convulsivamente enquanto gritava por socorro.

    – Você é patético – sussurrou em seu ouvido.

    Lílian ignorou os brados da vítima, mordeu seu pescoço com os dentes afiados e deliciou-se com o sangue que escorria das perfurações. Os últimos sons que ele ouviu, pouco antes de desmaiar, foram os baques surdos de suas pernas debatendo-se no assoalho.



    Vitor retornou do breve devaneio e, instintivamente, coçou a região onde fora mordido. Tentando ignorar a presença da garota, fingiu estar interessado por um carro que cruzava a longa e escura avenida. Alguns segundos depois, projetou seu corpo para frente, deixando claro qual era o seu desejo.

    – Você morreria na queda – afirmou Lílian, agora muito próxima, também observando a cidade adormecida pela janela.

    – Novamente? – resmungou. – Tudo que quero é me livrar dessa maldição...

    Lílian riu. É o que costumava fazer para afogar seus problemas ou desprezar os infortúnios alheios, independente da gravidade da situação.

    – O que fiz para merecer isso? – perguntou o homem, sem conseguir conter as lágrimas de sangue que vertiam dos olhos e manchavam seu rosto macilento.

    – Você não cansa dessa pergunta?

    Vitor pigarreou e ficou pensativo durante alguns segundos. Logo depois, mirando o teto iluminado por lâmpadas fluorescentes, desatou a falar:

    – Eu passei muitos anos te culpando. No momento, só consigo pensar que, de alguma maneira estranha, o rumo que tomei em minha vida me levou até os seus braços... essa nossa condição... seria algum tipo de castigo imputado à humanidade? – perguntou, aparentemente para si mesmo, enquanto torcia as mãos raivosamente.

    – Pois a culpa é minha. Foi minha decisão egoísta – respondeu Lílian, incomumente séria. – Arrependo-me profundamente, pois só me trouxe desgraças – completou, deixando escapar um sorriso contraditório.

    Vitor finalmente a fitou. Apesar dela não demonstrar remorso, o olhar do homem era condescendente, como se a estivesse desculpando pelos anos de sofrimento.

    – Você é uma boa pessoa. Todos os seus pecados serão perdoados – afirmou a garota com o sarcasmo habitual, ao perceber a intenção daquele olhar complacente.

    O homem levantou e enxugou o rosto com as mangas da camisa.

    – Todos os nossos pecados serão perdoados – recitou, sorrindo melancolicamente.

    Em consenso silencioso, deixaram o apartamento. Não trocaram olhares ou palavras, apenas caminharam pelo corredor deserto e mal iluminado, desceram as escadas em direção ao térreo, atravessaram o saguão de entrada e saíram rua afora.

    Após alguns passos pela calçada, avistaram a garrafa de vinho espatifada. A substância escura e proibida – que manchava o chão – acentuou o apetite íntimo e imoral de Lílian e Vitor; naquele momento, ambos tiveram certeza de que nunca conseguiriam controlar seus instintos. A noite só possuía uma cor: vermelho sangue.

  3. #3
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    Padrão Um jogo de pôquer - Lord Sauron

    Um jogo de pôquer
    Lord Sauron


    Não era supersticioso, mas pela manhã já percebera que aquele dia não seria bom. Chovia desde a noite. Era realmente um dia ruim, sonolento, daqueles que se deveria apagar do calendário e murrinhar empijamado, pés descalços, cabelos em desalinho e barba por fazer... morrer temporariamente. Dias atrás perdera um amigo, companheiro do trabalho e parceiro da mesa semanal de pôquer. As notícias dos jornais não colaboravam a encontrar o otimismo perdido. Guerras, assaltos, tráfico, enchentes, gripe suína, etc. Para aumentar o tédio, um vento frio e irritante insistia em penetrar no ambiente, não obstante os esforços para vedar as frestas das janelas.

    Uma cerveja... Pensou, sempre acalma e faz esquecer as chatices das mesmas tarefas, de movimentos monótonos e de enfadonha repetição. Ligou a tevê e logo lembrou de um bordão da mídia: “É isso que o povo gosta... vai começar o jogo”, como se o espetáculo realmente estivesse começando, justo naquele instante. Não estava. Era um vídeo-tape de sua memória. Hoje é terça-feira. Dia da reunião de amigos fissurados numa partida de pôquer. Marcos, Lima, Ody, Freitas e Dorinha. Continuou na introspecção. De repente, sentiu uma tonteira e tudo girando em sua volta, uma luz intensa emergiu esplendida. Parecia vindo de um poderoso refletor. Fechou os olhos e ao abri-los, paradoxalmente, viu-se cego. Naquele exato momento Mathias percebeu que não via, não ouvia nem sentia sabor. Perdera, também, os sentidos do olfato e do tato. Jamais em sua vida fora partícipe de uma cena tão aterrorizante. A situação era, realmente, de desespero. Sem tempo para raciocinar. Queria gritar, e pensava estar a gritar com plenos pulmões, mas não ouvia a sua voz.

    Seguiu-se um instante não precisado e, embora lentamente, seus sentidos voltaram ao normal. Sua sala de 30 metros quadrados, talvez mais, talvez menos, transformara-se em uma grande área circular, uma espécie de anfiteatro. Uma arena a céu aberto, como se fora uma enorme concha. Ali bem no centro estava sozinho. Não estava nem sentado nem deitado. Não levitava, mas fazia um leve movimento de lado a lado, como um manômetro. Pressentia-se em tempo infinitésimo e, igualmente, de incalculável infinitude. Parecia-lhe estar num espaço onde não cabia nada, mas era ocupado por tudo ao mesmo instante. Do alto descia uma espécie de chuva que não molhava, seca também de cores e provida de luzes até então desconhecidas. Fenômenos indescritíveis por Mathias que, aparvalhado, testemunhava aquele cromatismo em tempo e espaço não convencionais. Tão irreal e assustosa que era essa vivência, que ocorreu ser personagem de um pesadelo. Sentia uma profunda tristeza, além de total ausência de pensamento e coordenação de idéias. Mas outras reações de seu corpo, muito instigantes induziam-no do contrário, de vez que, perplexo, numa astasia desconfortável, verificava estar plenamente consciente.

    Numa sucessão rápida dos acontecimentos, encontrou-se rodeado por seis pessoas amigas, duas já falecidas e quatro ainda vivas. Tudo isto acontecendo com tal rapidez, que o p assado, aquele instante e o porvir eram um só tempo. Ah, o tempo... uma fantasia de matemáticos e astrônomos, sugeriu a mente confusa. Todos os personagens estavam nus, envoltos em névoa transparentes. Translúcidos, os corpos físicos tinham uma visualização imaterial dos sentimentos, do caráter de cada um, exposição de suas próprias vidas, um curriculum vitae inusitado. Todos, sem exceção, gostariam de esconder algo, Mathias inclusive. Despidos das roupagens da mentira, todos portavam os trajes da verdade. O alardeado princípio ético passa a ser mera presunção na vida de mentira. Não cabia explicação de qualquer dos personagens. Nada de espanto, protesto, defesa ou acusação. Estavam todos no paraíso e no inferno a um só tempo. Não há atenuantes no mundo da verdade. O entendimento real dentro do universo irreal da verdade dava a todos esquisita sensação de alívio, como se traição, desamor, egoísmo, inveja, enfim todos os seus males tivessem sido anistiados, já que elas eram práticas comuns. Se ninguém estava isento de males, a praxe redimia a todos.

    Passado o constrangimento inicial, um dos presentes propôs um jogo de pôquer. Como? Se ninguém pode blefar. Aqui todos vêem as cartas de todos. Realmente, sem a mentira não se vive, disse o outro. A mentira seria como o oxigênio. Se aqui não existe mentira, a conclusão é de que estamos todos mortos, disse outro alarmado partícipe. Estas observações alteraram o cenário da estranha assembléia, como se um comando mágico assim tivesse ordenado. Os personagens já falecidos desapareceram, e os participantes vivos se reconheceram desprovidos das visões metafísicas. A magia multicolorida havia desaparecido. O espaço ficou opaco. Uma cor fria de tempo fechado, igual a que precede às tempestades. O clima era era tenso e todos procuravam esconder o medo e a ansiedade que os assaltavam. Havia uma aparente cordialidade, constrangimento que não podia ser oculto.

    Mathias não se considerava um exemplo de virtudes, mas depois da exposição sem elas, sem amarras e limitações da consciência ética e repressora, participar daquele jogo dava-lhe uma alegria perturbadora e de incitante cumplicidade. Vamos ao jogo, falou. Um jogo jogado dentro das regras, ou seja, um jogo de blefe, de astúcia e artimanhas, porém sem fiscelas. A fiscelagem é comum no jogo da vida, principalmente quando entre políticos. Noite adentro, entrando pela madrugada, a reunião transcorreu animada. Algumas discussões dos parceiros mais rabugentos, sem maiores consequências Em um dado momento, Mathias recebeu suas cartas e, surpreso, verificou: Estavam em suas mãos Ás, Rei, Dama, Valete e Dez em sequência de ouro, o famoso “estrite-flexe” tão sonhado pelas aficionados. Apostas e repiques se sucederam. Mathias se esforçava para dissimular a emoção daquele momento sublime. Nisto algo perturbador aconteceu. Voltou ao jogo o fenômeno da translucidez. Não podia ser melhor, mas nem precisava, pensou. Estou com o jogo invencível, e ainda por cima enho o perfeito conhecimento do jogo do adversário. Restaram dois jogadores em sua oposição. Um com um “flexe” e outro, sem nada, blefando, replicou: Seus 32 mais 32, disse, pondo na mesa R$ 640,00.

    À sua frente, impassível, lá estava novamente a mentira como adversária, sem armas a apresentar, que não a dissimulação, sua razão de ser. Ansioso, Mathias esperou como nunca por este lance. Dizer ao antagonista que estava vendo suas cartas, e que ele não tinha jogo para tamanha aposta, certamente ele sorriria, aparentando muita tranquilidade. “Se acha que é blefe, paga para ver” seria sua resposta, um lugar-comum em jogos de pôquer. O certo é que a verdade nua e crua não é aceita. De outra forma, poderia repicar mais uma vez. A consciência justa, vestígios de honradez diziam-lhe: não é correto. Você está vendo o jogo dele, isto é roubo. Tossiu, sentiu a cabeça doer. Vou explodir, pensou.

    Como é que é? É pra hoje? Paga ou não paga para ver? Com este atraso, devemos prorrogar o jogo por mais meia hora.

    As perguntas irônicas, perturbadores, retiraram Mathias deste mundo imaginário, recompondo seus sentidos. Tudo neste mundo pode ser tão verdadeiro e falso ao mesmo tempo.

    Não, respondeu firme e sereno, jogando sobre a mesa as cartas de suas fantasias.

    Recebeu uma sonora gargalhada em resposta. Aquilo não estava em jogo. Ou melhor, ele é que não estava em jogo. Sentiu um choque, um calafrio. Estava sentado em frente a uma televisão. O telefone tocava.

    “Alô Mathias... Estava dormindo? Vai jogar? Me parece que você está meio sonolento. Passo por aí daqui a meia hora para apanhá-lo. O jogo de hoje é na casa do Marcos.”

    Mathias, diria o poeta, “acordou para a mesma vida para que tinha adormecido”.

  4. #4
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    Padrão Uma surpresa diferente - Meltoh

    Uma surpresa diferente
    Meltoh


    Mais um dia de colheita para os fazendeiros de Kronan. O sol nascia e os muitos empregados chegavam nas plantações com ferramentas em punho, prontos para mais uma manhã suada de trabalho. O dono da fazenda, Joel, havia percebido que faltava um funcionário. Apenas um. Vestiu-se com seu habitual casaco. Não faria isso por ninguém, mas abriu uma exceção, tinha seus motivos. Não havia ninguém mais divertido e trabalhador como ele naquelas terras próximas.
    Joel entrou no seu velho carrinho e pôs-se a seguir a estrada de terra rumo à cidade grande. Encontrou no caminho seu empregado, Marcos, que estava com outros dois homens. Apressou-se a sair do veículo e a falar com ele:
    -O que está acontecendo aqui? Quem são esses homens, Marcos?
    Marcos tentou fazer um sinal para Joel, mas um dos homens percebeu e o cutucou.
    -Tarde demais - Joel escutou a voz grossa de um dos homens. Eram dois. O maior tinha dois metros de altura e uma cara de poucos amigos. O outro tinha somente um metro e setenta, porém estava armado com uma espada curvada, presa nas costas - Você vem conosco - disse o menor agarrando-o pelo braço e arrastando-o pelo matagal em direção à um outro carro. Logo o veículo saiu em disparada pela estrada de terra
    Marcos se sentiu inútil, porque aquela pessoa estava fazendo aquilo tudo? Viu o carro de Joel parado no meio da pista. Pensou em avisar alguém, mas estava distante da civilização. Revistou o carro do chefe e encontrou um kit de primeiros socorros no porta-malas. Também encontrou uma pistola.
    Sentou no banco do motorista e pisou fundo no acelerador. Conhecia o chefe daqueles homens melhor do que ninguém. Correu por dois quilômetros até entrar numa trilha de terra que ia pela esquerda. Diminuiu a velocidade e desligou o carro. Apanhou a pistola e foi avançando pela vegetação seca. Logo encontrou uma cabana aparentemente abandonada. Na porta o gigante de dois metros apoiado num imenso tacape de madeira, olhava para o vazio. Marcos olhou para a pistola, não pretendia atirar em ninguém. Estava ali para emergências. Deu à volta pelo perímetro da cabana e por uma de suas janelas viu Joel amarrado e outra pessoa muito conhecida de Marcos, que brincava com uma moeda por entre os dedos.
    Enquanto circulava o perímetro à procura de uma passagem alternativa, encontrou um galho seco, apanhou umas quatro pedras e se aproximou de uma janela lateral. Essa janela dava de frente para Joel e mostrava as costas do líder do grupo. Porém sentia a falta do homem da espada. Essa era a preocupação de Marcos. Enquanto estava na parede, olhou de fininho pelo canto da janela e seus olhos encontraram o de Joel. Este soube disfarçar bem e imediatamente olhou novamente para uma velha mesa.
    Marcos interpretou aquilo como um sinal e sacou duas pedras. Quando tirou a segunda do bolso foi surpreendido por um toque no braço esquerdo. Segurou o grito de surpresa e virou-se para ver o grandalhão de dois metros de altura brandir o tacape. Marcos esquivou-se e começou a correr em direção à vegetação seca. A porta da cabana se abriu e o líder do bando, Onin, apareceu com uma pistola em punho. Marcos rolou pelo chão e sacou a pistola apontando para Onin. O grandalhão parou de correr e olhou de Marcos para o líder.
    -O que você acha que está fazendo, garoto? - perguntou Onin sem tirar os olhos de Marcos.
    -Não sabia até que ponto você chegaria - respondeu ele - não sabia que era tão ganancioso assim.
    -Haha, e o que você sabe sobre isso? Bom... Não importa. Eu sei que você não teria coragem de atirar no seu velho amigo, teria?
    -Não me chame de amigo - disse Marcos com os dentes cerrados. Seus joelhos tremiam. Estava esquecendo de algo. Estava, até sentir uma pancada leve nas costas. Era o homem da espada. Marcos pegou o velho pedaço de madeira e desarmou ele. Depois chutou a sua barriga. Apanhou a espada com a mão esquerda e apontou novamente a pistola para Onin - Menos um - provocou ele.
    Sem demoras, Onin tentou disparar mas a pistola falhou. Marcos correu ao seu encontro e usou o cabo da espada, derrubando ele. O grandalhão veio correndo com tacape em punho. Marcos esquivou-se e também golpeou-o. Apressou-se a libertar Joel com a espada e lhe entregou a pistola. Joel conferiu a arma e depois apontou-a para Marcos.
    -O que está fazendo? - perguntou ele incrédulo.
    -O que você poderia ter feito - disse Joel e depois apertou o gatilho - um pedaço de papel apareceu na ponta da arma. Estava escrito "Feliz aniversário".
    Marcos coçou a cabeça e tudo começou a fazer sentido. Onin entrou cambaleante na cabana e deu um longo abraço no amigo - Todos esperavam que você usaria a arma - comentou ele.
    -Mas isso só mostrou que você não queria machucar a ninguém - disse Joel.
    Marcos se desvencilhou do abraço e com lágrimas nos olhos abraçou o chefe.
    -Aquela arma lá fora é de brinquedo, assim como a espada de papelão de Kojiro - comentou Joel - Você sempre comentou que queria ser um ator de filme de ação. Pois aí está.
    Um outro homem entrou na cabana e se anunciou como diretor profissional e que havia visto a perfomance de Marcos. E que ele participaria do seu próximo filme.
    -Gostou do seu presente? - perguntou Joel.
    -Muito obrigado - disse Marcos abraçando novamente o seu bom e velho chefe, depois apertou a mão de Onin - desculpe por isso, você sabe que eu nunca ia atirar em você. Nem em Kojiro ou Lorak.
    -Claro que sei. Todos esperavam que você usaria a arma. Mas eu sabia que não - dito isso os dois se abraçaram e saíram da cabana, com Joel prometendo que nunca mais daria um susto desses no velho Marcos.
    FIM

  5. #5
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    Padrão Vertigo - O Bardo Sortudo

    Vertigo
    O Bardo Sortudo



    É preciso ver a cidade de cima. Esta é a única maneira de se ter uma noção do que de fato acontece, perceber cada prédio constituindo o horizonte de concreto. As ruas não parecem tão sinuosas e sujas quando vistas de baixo, os outdoors de néon são apenas vaga-lumes piscando incessantemente. Bares, hotéis, casas, mercados, todos parecem a mesma coisa quando vistos de cima, não passam de cópias.
    E no meio disso tudo – os humanos passeavam pelas avenidas em busca da “diversão”, se achavam o máximo, donos de si. Mas daquela minha posição do vigésimo primeiro andar eu os via com olhos diferentes: pareciam nada mais que ratos de laboratório, percorrendo apenas uma pequena parte do labirinto, mas ainda achando que são superiores a todos, bando de ratos. Não conseguiam enxergar as ruas laterais das avenidas, apenas uma grande visão reta, uma visão de bebidas, drogas, prédios e ainda mais outdoors. A avenida era peculiar, no começo haviam apenas lojas de brinquedos e alguns playgrounds, um lugar até agradável. Mas depois tudo desandava, era no meio que estava a sujeira nauseante: bares, lojas de roupa, perfumarias, igrejas, escolas, faculdades, traficantes, boates, “12x sem juros” mostrava um anúncio. Eu tinha nojo daquele lugar e de lá de cima eu sabia bem o porquê dessa posição agressiva: eu não conseguia distinguir uns dos outros. Se vestiam igual, cheiravam igual e o pior de tudo, pensavam igual. Não tinham personalidade fixa, tudo era orquestrado pelas opiniões das celebridades, malditas sejam. Em alguns momentos eu poderia jurar por tudo que me é mais importante que eu podia ver em seus ombros cordas, cordas estas que se estendiam até o topo do mais alto arranha-céu, e era lá que o show de marionetes era controlado. Um homem invisível para a platéia, porém este era o verdadeiro show. Os sussurros e conselhos do bonequeiro eram irresistíveis, quase que impossível de não se seguir à risca as sugestões dadas por ele. E a culpa é de quem você pode se perguntar. E eu te digo: dos próprios jovens que estão lá embaixo. Se recusam a olhar para o alto das construções, para os becos escuros que são transversais à avenida e até mesmo para trás, não ligam para o passado, só para a próxima sugestão do Mestre dos Bonecos.
    De uma das boates, o som da chamada “música moderna” se elevava até aonde eu estava, sufocava as suaves notas do jazz que cantava pela minha vitrola. Era impressionante que até eu que estava tão longe de tudo aquilo ainda conseguia ser alcançado pela influência da avenida. E eu já estava puto com isso. Tentei ser mais um rosto na multidão do nível do solo. Fui gentilmente convidado a me retirar “você não é legal o suficiente para andar conosco, vá embora” disseram eles. E foi justamente isso que me fez pensar à respeito da necessidade de ser aceito por eles, e eu não precisava. Tudo o que eu queria era ficar sossegado, brindar à noite e sentir o vento batendo no meu rosto. Aquela ocasião me fez lembrar de uma frase: “Por favor aceite a minha desistência, não quero fazer parte de um grupo que aceite eu como membro.”
    Essas pessoas me davam pena, sua visão era reta como a avenida, pré-decidida do jeito que o bonequeiro queriam. E depois de tudo isto vem a terceira parte da estrada de concreto. O lugar onde os malditos ficam, eles são os verdadeiros culpados por tudo. Educam suas crianças à maneira como foram criados, não tem expressão, temem qualquer mudança de hábito ou pensamento. Foram criado do mesmo modo que seus pais, e não vai ser agora que vão mudar isto. A maioria tenta mostrar seus modos conservadores e comemoram com aparente alegria o natal, dia das mães, dia dos pais. Mas no fundo sentem remorso, porque sentem que desperdiçaram cada segundo de suas vidas como estão desperdiçando os seus filhos. E eles se sentem mal por isso.
    Minhas elucubrações chegaram a um ponto crítico. Me equilibrei de pé no parapeito da varanda, quando olhei para baixo uma sensação de vertigem me tomou de assalto. Lembrei do meu passado e minhas realizações. Não eram mais que ganchos frágeis que se serviriam para eu me equilibrar na vida, até que ele se quebrasse e eu caísse sem ter o poder de decisão. Se ia acontecer isto comigo, era melhor que eu decidisse quando e como fazer. O jazz começava a tocar suas notas finais, o saxofonista perdia seu fôlego.
    Pulei.




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  6. #6
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    Padrão A Banshee - O Bardo Frustrado

    A Banshee
    O Bardo Frustrado


    “A juventude é plena, repleta de alegria serena,
    Mesmo que venha a trazer tempo,
    Oro aos pés do anjo que me trás sofrimento”.


    Num período antes de nós ou eles que aqui vivem, antes do antes do que conhecemos e sabemos, a família burguesa denominada filha de Thais pregava as estacas do regimento ao rei, a majestade soberana das terras do continente.

    Uma composta árvore de ramificações entrelaçadas que se cruzavam num bosque de sombras – o céu negro de Thais – e pingos d’ouro prateado, morta, vivia em frente da casa de uma família nobre cujo nome não importa.

    Tão entrelaçada era a árvore dos genes da nobreza de Thais quanto à própria árvore que vivia no espelho a sua frente. Havia um pai que zelava em diálogo diplomático, havia uma mãe que cantava os instrumentos com as mãos, e havia um filho que apreciava o nós do espelho da frente de sua família. Numa noite mais escura que empoeirada no cotidiano ascendente dos ferreiros da cidade dos reinos, cantarolava a árvore morta no espelho perplexo da janela do garoto. Ele fitava os troncos que balançavam sem soltar-se e gemiam num canto sombrio, sem som. Era o som das árvores, aquele fervor que sentia quando o vento corria.

    Cantava. Cantava a árvore do outro lado da casa. Dormiam. Dormiam os pais da criança que escutava com os olhos aquela canção do silêncio. Ele olhou com as orelhas, e sentiu o cheiro do vento que corria. Desceu. Desceu até a porta que levava ao espelho do lado de fora. O pijama azulado escorava em seu corpo como garras em carne, como o vento que entrava aos muitos na casa dos nobres de Thais – depois que abrira a porta.

    O som parecia mais intenso para o garoto, os galhos pareciam cantar a melodia que escutava com os olhos quando olhava para o vento, sentia as cores em suas pequenas orelhas e cabelos. Sem mais sonhar ou estar acordado, escutara o chamado cantarolado da árvore que gemia na voz de uma velha janela. Opinou sem pensar pelos passos gelados que passavam por sobre as pedras escamosas das ruas, aproximando-se do curvo tronco acinzentado.

    Ali, seus cabelos de cor castanha já vinham a assumir a cor do preto das sombras – a árvore chamava –, ali, seus olhos de cor do fruto das abelhas já semeava o escuro de um abismo – a árvore chamava –, ali, seus dedos gordos de fartura que já não desejavam tocar já sentiam o prazer da áspera árvore que roncava – o ronronar gélido da voz do silêncio enfim chamava. Sua face não mais se ocultava.

    Antes que a consciência voltasse a tocar a mente desabilitada do garoto, a voz do frio dos ventos tomara forma, atrás da árvore que cantava todas as noites havia uma janela que roncava, era uma janela morta de cabelos de crepúsculo e olhos de alvorada, um mar rasgado que descia por seus ombros num vestido em cortinas era negro de sujo. O som cessou e a árvore estremeceu. A janela que tinha aparência medonha abaixava a lira que escorria por todo o braço esquerdo – esbranquiçado como sem veias –, mostrava o sorriso em torno de um beijo violeta. Não roncava. A lira não roncava, não tinha cordas ou entranhas. A lira não cantava.

    Sem pés a criatura era, suas vestes que recobriam as pernas não apresentavam volume ou o movimento. A aparência monstruosa aproximou-se do garoto flutuando como sua própria canção vazia. Um beijo dera ao garoto, um toque violento de suave nos lábios já congelados da criança. Dois gritos de desespero em ecos profundos tomaram conta dos ares durante alguns segundos. Ela adormeceu durante a noite estrelada – mesmo não estando acordada –, abaixo do manto corrente do negro que borbulha o prateado das estrelas.

    Um suspiro em forma de bocejo descera pela garganta do garoto e permaneceu preso durante algum tempo até que pudesse abrir os olhos para que um mar de cores invadisse seus pensamentos entrevistos. Levantara-se da cama em sentado, ficando apoiado usando o braço como coluna numa ligação das pernas à cabeça. Bocejara tremendo as mãos. A alvorada reluzia trêmulo pelo vitral da janela como orvalho em laranja. A preocupação tapara seus ouvidos por alguns segundos enquanto lembrava-se da canção das árvores tortas e o que se escondiam atrás delas – as fadas negras, as banshees.

    Um frio desalmado correra por toda a extensão de sua espinha quando levantara os braços lentamente tentando apanhar algo que não estava lá. Uma melodia invadira seus pensamentos assim que a sensação do silêncio dolorido escapara. Era sua mãe cantando com as mãos, puxando as cordas de um alaúde para que a canção soasse divina como o próprio canto do rouxinol. Descera o garoto pelas escadas soando velhas e estalando com a poeira formada acima de sua extensão escura de madeira, quanto mais descia, maior era a sombra da falta de janelas e mais relevante era a canção das mãos de sua mãe.

    Lá estavam – ao lado do par de mesas e cadeiras feitas pelas mãos de um exímio carpinteiro – três malas cor-de-musgo, surradas como o próprio mar abatido. A portadora das mãos cantantes estava escorada na mesa redonda pela parte da cintura, sem se importar com a sujeira invadindo a parte posterior de seu vestido verde como a própria floresta. Carregava o instrumento velho de cordas tortas em frente aos seios, usando as mãos lentamente para escolher cada uma das notas. Sorriu. Lá estavam as malas, lá estava sua mãe. Logo atrás da imagem melódica haviam duas portas adornadas pela sujeira dos tempos por onde a alvorada laranja podia passar e tocar o piso gélido, refletindo para as paredes escuras de encardidas, e lá estava seu pai, carregando livros e papel.

    Onde iremos? Perguntara o garoto apoiando-se com os cotovelos em uma das mesas, prestando atenção aos movimentos exatos de sua mãe. Ao novo mundo. Iremos em nome de nosso senhor. Os finos lábios da mulher se abriram lentamente como imãs de um mesmo pólo, revelando os dentes esbranquiçados como a própria neve. Ao novo mundo? A cidade dos pântanos? Reformulara a pergunta enquanto passava lentamente a mão pela nuca. Sim, Venore.

    Diplomatas era a família, estudiosos pelo rei – corrupto ou não, certo ou errado –, estavam no grupo definido pelas ramificações da escala real. Iriam eles para Venore – a terra recém descoberta de rei Tibianus – em uma missão como qualificados eram, definir os acordos da diplomacia entre os dois povos. Até a embarcação recém limpa caminharam, cães vagavam como perdidos apanhando com os dentes pardos a carne suja das aves que decaiam os céus, alimentando-se dos restos de lixo daqueles que o ateavam no decorrer das ruas, imploravam por comida, rastejando as pernas com uma imensa vontade de desistir da vida enquanto as moscas rodeavam seus olhos. O garoto se estremeceu enquanto subia a bordo da embarcação, ele olhou para o horizonte tentando entrever sua casa mais alta que a maioria. Lá estava a banshee, observando por aqueles que iriam consigo.

    “A morte sempre é bem vinda aos cantos do poeta,
    Mas é cruel quando se pode ver na ponta de uma flecha”.

    Um som estrondoso ecoou em conjunto de uma corneta quando a embarcação fora parando contra a areia escura das terras de Venore. Estavam no porto das pedras mal posicionadas onde o calor era quase insuportável. Comerciantes estavam por todas as partes vendendo objetos de todos os tipos. Ainda era possível prestar atenção aos ruídos de armas atrás da grande cortina de sons da multidão, os guardas de Thais estavam presentes na tentativa de conter um ataque dos comerciantes que apenas entregariam seu reino de moedas depois de mortos.

    A mão pesada do pai da criança ocupava seu ombro direito enquanto passava apressado em meio das diversas faces que ali estavam presentes. Foi quando quase involuntariamente, um grito assustador atravessou todos os outros sons como um machado, cortando tudo num decadente silêncio até que um homem de longa barba marrom se deixara cair pelas pernas curvas. Uma flecha atravessava suas costas como uma bandeira da morte. O garoto lembrou-se do grito da banshee no mesmo instante. Dois dias, dois gritos. Talvez a lenda surtisse efeito.

    Três homens de aparência jovem e rugosa saltaram de trás do gigante abatido, caminhando por sobre mesas improvisadas e bancadas quebradas apanhando adagas e machados feitos de madeira molhada, quase quebradiços. Vão embora, homens de Thais! Esta terra é nossa, e nunca venderemos nossos costumes! Foram as palavras do rapaz que estava à frente dos outros, tinha o nariz longo como as orelhas, enquanto seus olhos amendoados eram menores que um morango. Os nobres soldados do povo dos reinos sacaram espadas, lanças e escudos um a um lentamente, preocupados visivelmente. Grande parte dos homens era jovem e tinham medo de lutar num combate fechado como o que estava se armando aos poucos enquanto a multidão reagia com passos curtos.

    Não havia muito que decidir após a manifestação. A defesa fora inevitável. Correram os pais e a criança que buscavam por uma planície sem corpos ou flechas cravadas na terra amontoada. Correram e correram em meio das cores cinzentas e avermelhadas que rabiscavam os giros de imagem da criança. Não chorava, mas não podia deixar de sentir um temor terrível. Jogado então contra a parede fora, seu pai o obrigara a sentar-se ao lado de uma casa de tijolos esverdeados, tapando seus olhos com as mãos grandes que tinha. Não via. Não veja nada, meu filho. Não veja. As palavras de seu pai com o tempo foram se apagando, o som dos gritos foram sendo trocados por grunhidos de aves e gotas caíam sobre sua cabeça o tempo todo. O som todo cessou, mas não sua respiração redundante.

    Os olhos do garoto já formigavam e causavam uma sensação de desconforto em torno da face quando ele resolveu retirar as grandes vendas que cobriam seu ponto de visão. Ao voltar a cabeça para entrever o pai, notara que o toque gelado que tocava constantemente sua cabeça era sangue. Sangue que corria pela flecha atravessada no pescoço de seu pai. Ficara pasmo, fitando a cena durante minutos a fim, até que um pássaro voasse atrás de si ecoando o som do alaúde de sua mãe. Fora com os quatro membros de suporte do corpo até o instrumento ateado no chão ao lado de vários cadáveres degolados ou mutilados. Ele o apanhou com as lágrimas presas no brilho de seus olhos e caminhou. Caminhou com o alaúde entre as mãos em busca de algo que não imaginava. As pessoas não estavam em lugar nenhum, as poucas que surgiam estavam correndo para suas casas com itens roubados em mãos. Fora um verdadeiro massacre.

    Horas depois, sentado aos pés de uma estátua angelical de mármore forrado com pedras negras, implorara. Oh, estátua do anjo, oráculo. Imploro-lhe! Não permita que o som do silêncio venha a me matar. Afaste-me da banshee, oh, oráculo. E durante horas ele seguiu ajoelhado diante da figura esculpida, até que por sonho ou não, a estátua respondera. Pobre, pobre criança. Posso impedir que morra, mas não posso impedir que o matem. Dá-me tua morte como tributo, e nunca terá direito ao descanso eterno. Desesperado, aceitara. Entregar a morte e não a vida parecia ser um trato que o favoreceria. Parecia.

    Depois do segundo grito, a banshee nunca cessou a procura por aquele que marcara com um beijo, e o garoto nunca pôde entregar sua vida aos deuses que o amaldiçoaram com a vida eterna, perseguida pela dor da janela que gemia. Pobre garoto, todas as noites podia escutar o chamado da fada por trás das árvores, escorado em quartos de taverna por mundo a fora em busca de algo que o livrasse da maldição da banshe. O que fazer?

    Hoje, já velho de imortal, o homem ainda procura por alguém que o livrasse da maldição, matando-o ou arrancando o beijo da fada, procurando por uma cura nas florestas de Ab’Dendriel ou na ilha de Rookgaard.

    Seria alguém capaz de ajudar um amaldiçoado?

  7. #7
    Avatar de Wu Cheng
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    Padrão A sociedade de Rookgaard - Professor Girafales

    A sociedade de Rookgaard
    Professor Girafales


    Olá leitores! Meu nome é Ananias e eu vou contar para vocês uma história. Espero que gostem, pois os fatos que narrarei mudaram os rumos de minha vida.

    Antes de começar com a história, devo introduzir um personagem muito importante. Trata-se do "mendigo". Chamo-o assim por não saber seu nome. Apesar de eu ter descoberto que ele não era realmente um mendigo, no início eu achava que ele era um. Sempre o via no centro de Rookgaard, onde ficava pedindo esmolas aos passantes. Ele andava com vestimentas maltrapilhas, estava sempre sujo e tinha um cabelo grande e desgrenhado. A sua enorme barba parecia mais uma continuação de seu cabelo. Eu nem conversava com ele, o conhecia apenas de vista, por ser uma figura muito peculiar.

    Agora finalmente posso começar...

    O início de tudo foi em um dia ensolarado e tranquilo - pelo menos aparentemente. Eu estava com vontade de explorar e resolvi ir à casa abandonada ao norte da cidade. As ruínas logo depois da ponte sempre foram um lugar amedrontador para qualquer explorador. Vez ou outra, alguns tolos se aventuravam nas partes mais profundas, e nesse dia eu fui um deles.

    Os primeiros andares eram um lugar mais úmido e até aquecido. Seria tomado pela escuridão não fossem as inúmeras tochas de aventureiros que lá ficavam, enfrentando os trasgos numa guerra infinita. Parecia haver um fluxo infinito de monstros, e os humanos mortos eram prontamente ressuscitados pelos deuses em troca de um pequeno sacrifício. Já aconteceu comigo e é uma experiência difícil de explicar então não entrarei no assunto.

    Bem... voltando a história... como eu havia dito, nesse dia resolvi ir aos andares inferiores. Rumores diziam que minotauros haviam estabelecido uma base nas profundezas da caverna e o local sempre foi evitado pelos guerreiros. Eu tinha muitos elixires de cura e estava bem equipado. Ao contrário do andar dos trasgos, o ar era um pouco mais seco, e o frio era cortante. Eu acendi uma de minhas tochas e fui explorando o sistema de cavernas, sempre alerta para qualquer movimentação estranha.

    Foi quando vi o mendigo. Ele vinha do local para onde eu ia, e se dirigia para o andar dos trasgos. Eu não estranharia se tivesse visto um guerreiro com armaduras apropriadas, que estivesse preparado para um local tão perigoso. No entanto, o mendigo estava vestido exatamente como usual, maltrapilho, sujo, e um tanto quanto fedorento. Percebendo que eu olhava em sua direção com uma expressão de surpresa, ele apenas retornou um sorriso, e continuou seu caminho.

    Após o ocorrido, continuei meu caminho por alguns minutos. Andava por algo que parecia ser um labirinto, e estava com a impressão de andar em círculos, minha caminhada não dava em lugar nenhum! Foi quando vi um corredor curto. Em seu fim havia um alçapão iluminado por uma chama trepidante que estava no andar inferior. Eu andava em direção ao alçapão quando fui surpreendido!

    Um minotauro e um lobo começaram a me atacar. Com sua maça o minutauro desferiu um golpe em meu braço esquerdo. O lobo veio correndo e saltou em minha direção, mas eu consegui me esquivar. Saquei minha espada, protegi meu corpo com o escudo, e me virei em direção aos inimigos. O minotauro apenas observava enquanto o lobo veio novamente correndo. Esperei o animal pular e consegui golpeá-lo. Ele latiu esganiçadamente, um grito sofrido de dor. Ficou caído ali mesmo. Uma poça de sangue se formou envolta de seu corpo, ele estava fora de combate. O minotauro então gritou em uma língua estranha. O som estranho parecia algo como "kaplar".

    Após o grito ele veio em minha direção, balançando a maça em golpes poderosos. Eu me desviei duas vezes, e da terceira usei o escudo. O monstro ficou desestabilizado, e foi quando aproveitei para golpeá-lo. Ao contrário do que eu esperava, o golpe não foi tão efetivo quanto contra o lobo. A batalha se seguiu, equilibrada, "lá e cá". Após alguns minutos, consegui furar a defesa e golpeá-lo. Dessa vez sim de forma efetiva. O minotauro agonizante gritou o estranho som mais uma vez, caiu de joelhos no chão e morreu.

    Cansado pela batalha, com todo o corpo dolorido, tomei um elixir de cura. Eles dão uma ótima sensação de alívio. Todas as dores cessaram e eu me sentia como novo. Ainda assim, vacilei um pouco. Seguiria em frente ou voltava para a segurança da cidade?

    Resolvi seguir em frente, e desci o alçapão. Ele dava numa sala ampla, iluminada por vários focos de fogo em sua parte central, ela era mais aconchegante que o labirinto na sala anterior. O fogo ajudava também a ver que o local era seguro, sem minotauros, lobos, ou qualquer outro ser hostil. O alívio foi grande. Vi uma escada de mármore no final da sala e fui em sua direção. Desci a escada com pouco cuidado e fui novamente surpreendido, dessa vez por uma emboscada de muitos minotauros. Sem tempo para reagir, fui fortemente golpeado inúmeras vezes, por golpes de maça e machado. Caí no chão e por lá fiquei. Por sorte não morri, apesar dos minotauros acharem que eu tinha de fato morrido. Muita gente preferiria a morte, para poderem experimentar a estranha sensação de sair do corpo e ir ao encontro dos deuses. Mas o que se seguiu valeu mais a pena... Achando que eu estava morto, os minotauros começaram a conversar em sua estranha língua nativa.

    Um deles deu um grito estranho, e, de uma porta ao fundo, saiu um minotauro diferente. Esse tinha cabelo, meio ruivo. Usava um robe azul e segurava um cajado mágico. Certamente era o líder dos minotauros. Eles seguiram conversando, até que, pela escada veio outro humano. Não era um humano qualquer, mas o mendigo. Observei atentamente esperando que ele fosse atacado, para que eu pudesse ajudar. Mas, estranhamente, ele não foi... pelo contrário... ele e o minotauro líder começaram a conversar, em língua humana!

    Fiquei completamente perplexo. Pensei em me levantar e sair dali o mais rápido possível, mas preferi ficar deitado e que todos achassem que eu estava morto. A conversa dos dois foi realmente reveladora... Havia uma associação chamada de "Sociedade de Rookgaard". Unidos aos minotauros essa associação visava a proteger inúmeros segredos da ilha, eles citaram a espada da fúria, como os minotauros tinham chegado ali, de quem eram os túmulos estranhos espalhados pela ilha, e porque havia um dragão morto em um túnel desmoronado.

    Para proteger todos esses segredos, a associação plantava pistas falsas, desviando a atenção dos exploradores. Aprendi que o "labirinto da fúria" e a placa falando da humildade eram apenas distrações que desviavam os exploradores do verdadeiro caminho para a espada da fúria.

    Após discutirem longamente, os minotauros e o mendigo entraram na porta de onde o minotauro líder saiu. Aproveitei a deixa e saí dali, correndo, o mais rápido que podia, voltando pela caverna. Pouco a pouco foram ficando para trás os andares mais profundos do calabouço, fui me aproximando da superfície. Ao perceber que eu estava novamente no andar dos tragos, senti uma sensação de alívio. Estive frente a frente com a morte e escapei. De quebra descobri muitas coisas novas, e nunca mais iria ver os segredos de Rookgaard, bem como seus habitantes, com os mesmos olhos.

    Voltei para a cidade. Já estava anoitecendo, e, logo, os animais selvagens sairiam para a caça. O dia havia sido muito longo, cansativo. O melhor seria descansar... Fui para a taverna da Norma, pedi uma caneca da melhor cerveja e me sentei perto do balcão. Uma cerveja nunca havia sido tão gostosa.



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