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Tópico: A Cadeira de Cristal

  1. #71
    Avatar de Drasty
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    Desculpa a demora, finalmente vou comentar.

    Esse capítulo me lembrou as partes do "Senhor Dos Anéis" onde a história é explicada, só que quando isso acontece o interlocutor não sabe de nada. No caso desse capítulo, todos já a conheciam, ficou algo extremamente estranho. Era necessário, mas você deveria ter feito de outra forma...

    Os personagens foram arremessados na gente, pouco conhecemo-os e tivemos que logo entender seus argumentos e idéias. Faluae continua a ser apenas mais um e os outros também me pareceram estereotipados. Você ainda precisa trabalhar muito em cima disso.

    A história finalmente toma rumo, estou esperando por mais...

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  2. #72
    Avatar de Manteiga
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    Um mês e um dia depois... Lembram-se de Zoroast?

    Capítulo Onze
    A Missão de Zoroast

    Dois meses, pensou Zoroast enquanto admirava o inferno de areias no qual havia de metido. Tudo que se via pelo horizonte era o árido e interminável Devourer, dourado e enganador como de costume. A única coisa perceptível em seu seio era um emaranhado cinzento alguns quilômetros ao sudeste dali. Darashia. A cidade controlada pela Unie quase desaparecia em meio à tempestade de areia que se erguia nas redondezas. O grande mar reluzente misturava-se ao céu alaranjado criando o que parecia ser um plano de uma cor só. Estar em inferno, pensou ele, desconcertado, e não ter amigos aqui. Mas isso não era exatamente uma verdade. Alguns minotauros membros da Unie o estavam tratando de certo modo como um amigo distante. Mas Zoroast sentia falta de alguém.

    Angela. Gostaria de ter tratado-a melhor na última vez em que se viram. Lembrava-se com tristeza do momento em que saíra de sua fúria ao constatar que não ouvia a falante bruxa do pântano na multidão. Chamara a atenção de Faluae e quando ambos repararam, ela já havia desaparecido. Vasculharam a noite toda as proximidades de Ab’Dendriel e tudo que encontraram foram penas negras manchadas de sangue. Faluae olhara tristemente para o nada e deixara a verdade absoluta pairar entre os dois. Ele a levou, dissera ele. E no começo, parecia mentira. Mas agora estava óbvio que era verdade. Dois meses sem notícias. Zoroast queria muito poder falar com ela de novo. Queria se redimir.

    Mas era impossível. Ela estava presa em algum lugar distante, se é que ainda estava viva. E ele estava acorrentado ao trabalho que Ahamed, o líder da Unie, lhe designara: obter a ajuda dos minotauros. Era de conhecimento público que todos estavam refugiados no Devourer, e que, apesar de sua clara inimizade com Yöer, não estavam interessados em aliança com os humanos. Ahamed enviara todos os minotauros aliados na tentativa de fazer o rei Markwin mudar de idéia. E até agora os avanços eram ínfimos. Zoroast encarava o horizonte e imaginava se um dia aquela guerra teria um fim, se todos aqueles esforços seriam compensados algum dia. Talvez. Ele não queria admitir, mas tudo era mais difícil sem os comentários satíricos de Angela. Querer destruir Raven, pensou ele.

    Suspirou demoradamente enquanto fitava seus cascos suspensos no ar. Estava sentado na beirada de um pedaço negro de chão que avançava pelo ar. Oito metros separavam-no do solo quente. As memórias do dia em que chegara à Venore afloravam de forma descontrolada em sua mente. Recordava-se com clareza da confusão que fora, como fora mal recebido por alguns guardas e como tivera impasses desagradáveis até convencer Ahamed a aceitá-lo na Unie. Pensara até mesmo em desistir. Mas lembrara-se de imediato que precisava vingar sua tribo e Angela, e isso deu-lhe forças para continuar adiante. Logo no dia seguinte, Ahamed apresentou três indivíduos aparentemente importantes dentro da revolução para ele: Laila, uma espiã hábil e talentosa assassina; Drago, o chefe dos paladinos e grande informante; e Vernac, um dos grandes generais, um homem confiável e braço direito de Ahamed. O último provocara sensações adversas em Zoroast: parecia ser um bom homem, mas transpirava um mistério incômodo. Mas nem pudera trocar qualquer idéia – não que quisesse, claro – com ele. Logo foram separados. Os três, Faluae e alguns soldados foram mandados para a recém-conquistada Yalahar, enquanto ele e os demais minotauros, chefiados por Asrak, seguiram até Darashia. De lá fizeram uma longa caminhada até a Pirâmide Negra, onde estavam refugiados os minotauros. E até então eles estavam ali.

    Ele olhou para o horizonte, desejando estar de volta às planícies onde nascera. Tão longe. Darashia ficava no grande continente de Darama, localizado ao sul-sudeste do Continente Principal. Darama era cortado pela vasta cadeia montanhosa de Kha’Zeel, que o dividia em deserto e em uma densa floresta tropical denominada Tiquanda. Toda a área verde estava sob o domínio de alguém que Zoroast não sabia dizer quem era. Porém, ele sabia muito bem que quem dominava o deserto de Darama era o necromante chamado Razan. Naquele momento ele devia estar planejando como tomar Darashia. Zoroast imaginava se os minotauros o apoiariam. Precisar convencer Markwin. Mas o imperador de sua raça era inflexível em suas decisões. Ninguém conseguiria fazê-lo mudar de idéia a menos que o próprio quisesse. E talvez ele só fosse querer quando a guerra já estivesse perdida.

    Sua audição apurada captou o som de cascos próximos, ecoando no chão de mármore negro que refletia à luz do sol. Havia um grande buraco naquela parte da pirâmide, por isso Zoroast gostava de se sentar ali, onde acreditava ser mais reservado, para poder pensar melhor. Mas aparentemente não era só ele que gostava de ir até aquele lugar desolado. Virou a cabeça para trás e sentiu um alívio inesperado quando viu que era seu chefe, Asrak, que se aproximava. Estranho, pensou ele. Durante muito tempo quisera conviver com outros minotauros, mas desde que dividia um espaço com seus semelhantes, Zoroast cada vez mais sentia-se excluído. Não sabia explicar por quê. Asrak sentou-se ao seu lado, colocando os cascos do lado de fora da pirâmide. Estava com uma alegria perturbadora na face bovina.

    - Pensando na vida, meu bom amigo? – Indagou ele na língua-mãe dos minotauros. Zoroast examinou-o bem: era mais alto do que ele, com pelagem mais escura e firme, possuindo olhinhos apurados e orelhas esticadas. Seus chifres eram amarelados e um deles estava rachado na base. Trajava uma armadura azul de batalha, aparentemente muito resistente, que lhe cobria todo o peito e os ombros. Trazia um machado preso às costas. Seus cascos estavam gastos e ele parecia transpirar uma autoridade cômoda. Zoroast o admirava.
    - Sim. – Admitiu ele. Não precisava falar nada para saber que Asrak sabia exatamente sobre que parte da sua vida ele estava refletindo. Era como se ele tivesse vivido momentos iguais aos seus.
    - Compreendo. Todos precisamos fugir um pouco da realidade às vezes, não é mesmo? Principalmente se você não estiver devidamente incluindo em seu meio. – Asrak olhou de soslaio para o ainda distraído Zoroast e sorriu de leve, revelando presas amareladas e incomuns. – Ainda bem que não está lá embaixo. – O minotauro indicou o subsolo da pirâmide com o chifre. Era lá que viviam as maiores autoridades, incluindo Markwin. – Está um caos completo. Uns dos nossos estão tentando convencer os líderes das forças armadas à se revoltarem ao regime imperial, e Markwin ficou sabendo. Está uma gritaria absurda. Quase enlouqueci.

    Zoroast deu uma bufada expressando suas risadas contidas.
    - Posso imaginar. – Ele virou a face para o companheiro e sentiu-se confortado de repente. – Esse incidente pode prejudicar nossa missão? Ahamed vai nos matar se não conseguirmos o apoio deles.
    - Nah, pode ficar tranqüilo. Markwin já está acostumado com rebeldias. Ele é duro na queda, mas se cair, vai se quebrar. Só precisamos usar os argumentos certos. E não podemos deixar de lado a parte em que citamos os benefícios que Mintwallin teria.
    Zoroast riu alto. Asrak riu junto e eles compartilharam um momento de descontração há muito esperado. Ele pareceu notar e logo calou-se. Quando o silêncio reinou, declarou:
    - É estranho.
    - O que é estranho? – Indagou Asrak sem tirar os olhos dele.
    - Eu sempre me imaginei vivendo entre outros minotauros. Não que não tenha vivido – acrescentou rapidamente – mas é que... Minha tribo parecia se incluir tão bem comigo... Não havia brigas entre nós. Éramos livres e vivíamos muito bem com todos.
    Asrak concordou lentamente.
    - Você nunca viveu sob as garras de Markwin. – O general virou a cabeça para trás como se esperasse que um grupinho de espiões saltasse das sombras e o matasse. – Ele é louco. Vive atacando verbalmente todas as outras raças, oprime a todos e incentiva conflitos internos. Parece ter uma sede incontrolável de guerras. Deve estar amando o que está acontecendo no mundo agora. – Ele fez uma pausa demorada. – Todos os minotauros que crescem em Mintwallin parecem ser infectados pela mesma doença que ele tem. Por isso os nativos de lá são muito mais violentos, burros e fechados às diferenças. Não são como nós que crescemos em campos abertos, convivendo com trasgos, orcs e até mesmo humanos. Não é de se surpreender que esteja sendo tão difícil.

    Alguma coisa caiu alguns metros atrás dele, chamando a atenção de ambos. Passos ecoaram e alguma coisa de moveu nas sombras rapidamente. Asrak resmungou.
    - Melhor conversarmos na língua dos humanos. – Declarou ele, habilmente mudando de idioma. Zoroast assentiu meio contrariado, mas não pôde deixar de admitir mentalmente que o companheiro era muito fluente naquele idioma. Asrak continuou. – Eles nos vêem como criaturas mais fracas e submissas. Estão cegos ao fato de que precisamos nos unir.
    - É.
    - Por isso estamos aqui Zoroast, e por isso temos que nos manter calmos. Temos de convencer os anciãos. Eles são os únicos que conseguem controlar até certo ponto as ações de Markwin. Se os doze estiverem apoiando o ideal da Unie, já podemos enviar um pombo-correio a Ahamed passando as boas-novas. Mas devemos tomar muito cuidado com o braço direito do imperador, aquele que chamam de Murius. Ele defende com força a tese de que minotauros devem viver isolados. E poderá ser uma pedra das grandes no nosso sapato.

    Zoroast concordou mais uma vez e voltou a olhar para o além, na direção de Darashia. Pode observar que uma longa e negra coluna de fumaça rodopiava pelo céu nascendo justamente na cidade.
    - Tropas das Sombras atacar Darashia. – Disse ele, sentindo-se levemente envergonhado pelo pouco conhecimento daquele idioma. Asrak pareceu relevar esse detalhe.
    - Sim. Infelizmente não há nada que possamos fazer agora. Se pormos os pés pra fora da Pirâmide, Markwin nos come vivos. E depois do que aconteceu lá embaixo, tenho certeza que ele está realmente com vontade de fazer isso.
    - Raven estar lá? – Indagou Zoroast inocentemente. Asrak levantou-se e o encarou de modo complacente.
    - Talvez, meu amigo... Talvez.

    E foi embora deixando Zoroast a pensar em Angela.
    Os próximos três capítulos serão antigos, escritos mais ou menos junto com esse aqui e os demais. Depois disso passei por essa maré de falta de inspiração e até ontem não tava produzindo nada. Mas agora já recomecei a partir do capítulo quinze.

    Manteiga.
    Dezesseis anos depois, estamos em paz.

  3. #73
    Avatar de Meltoh
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    Gostei do capítulo, especialmente do final dele. Não acho que o Zoroast vai ficar ali parado enquanto sente a falta de Angela... Ação no próximo capítulo? Quem sabe... A história está ficando boa, parabéns Manteiga.
    Leia minha roleplay :Terras Distantes

  4. #74
    Avatar de Gabriellk~
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    Pensei que você não fosse mais escrever essa história, por isso nem me animei a ler.
    Mas agora que voltou, vou ler os capítulo feitos até agora e depois posto uma opinião. Só li o prólogo e parte do primeiro, mas parece ser uma grande história. =)
    “The big questions are really the only ones worth considering, and colossal nerve has always been a prerequisite for such consideration”.
    - Alfred W. Crosby

    Gosta de fics tibianas? Leia a minha aqui!

  5. #75
    Avatar de Drasty
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    Mais um capítulo transitório necessário, esse foi mais interessante do que o anterior. A conversa me pareceu bem natural. Outro fato interessante é a humanização que você vem fazendo capítulo a capítulo do Zoroast, ajuda os leitores a se interessarem pela relação dele com a Angela (personagem ainda muito mal elaborada).

    Tenho dois avisos para você. Cuidado com os extremos, ninguém é totalmente bom e nem totalmente mal, balanceie. E, tome cuidado com a forma de mostrar os pensamentos das personagens se usar esse recurso toda hora corre o risco de tornar a narrativa superficial.

    Aguardando os próximos.




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  6. #76
    Avatar de Thomazml
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    Ufa. Acabei a maratona....

    Como li seis capítulos seguidos, não posso especificar muito. Só que: a história ficou arrastada no capítulo nove e dez. No capítulo dez, também, surgem não sei quantos personagens, com características pouco explicadas e um pouco superficiais.

    Com o décimo primeiro capítulo, porém, acho que você retomou "o lado bom da força". Foi um capítulo descritivo, mas mesmo assim me prendeu até o final. Asrak foi melhor apresentado do que os outros personagens do capítulo anterior.
    Vou acompanhar =)



    PS: eu notei um "Nah"... ficou estranho o.o
    Quer participar de uma alta aventura com essa turma do barulho? Quer escrever sobre Tibia, ser enganado por um monge pra lá de pestinha? Achas que tens o que é preciso para esma... digo, para entrar no Hall da fama? Passa lá na Biblioteca-imensa-cheia-de-coisa-e-mundialmente-conhecida!

    Escritos no TebeaBeerre

    -=R.I.P =-
    Aqui já Lucius Cath
    Eterno troll

  7. #77
    Avatar de Emanoel
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    Duas ideias bastante contraditórias passam pela minha cabeça a cada capítulo que leio; 1) opa, isso irá ficar realmente interessante no próximo; 2) lenhou-se, o Manteiga se meteu em uma sinuca de bico.

    A história esteve bastante empolgante entre o prólogo e o quarto capítulo, derrapou feio no quinto e seguiu prometendo melhoras do sexto ao oitavo. E já foram três capítulos transitórios desde que começou o Livro Dois; não é exatamente ruim e eu nem estou criticando, mas é que existe muita expectativa em algo do tipo, cada frase soa como uma promessa de um grande enredo que está prestes a nascer.

    Eu ainda tenho dúvidas se utilizar tantos focos para contar essa história (que, de certa forma, aparenta ser construída por ideias muito simples) é uma boa ideia.

    Sobre esse último capítulo: achei legal, serviu como um explicativo funcional, leve e simpático. Só resta saber para onde tudo isso irá nos levar ou até quando dará certo.





    Também achei aquele "nah" meio "q". :o
    Última edição por Emanoel; 12-12-2009 às 08:32.

  8. #78
    Avatar de Manteiga
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    Uma longa demora, de novo. Explicações ao fim do capítulo.

    Capítulo Doze
    Apollo


    Carlin era frequentemente chamada de “A Cidade das Mulheres”. Quase todos os viajantes – e não eram poucos – que passavam por ali citavam a expressão pelo menos uma vez antes de partir. O curioso é que quase ninguém sabia exatamente o porquê daquilo. Quando indagados, os aventureiros desconversavam ou diziam que era porque quase todos os trabalhadores locais eram do sexo feminino. Na realidade, Carlin recebia aquele duvidoso título devido à antiga guerra que separou-a de vez de Thais. Quase todos os homens morreram naquele terrível episódio, e sobrou para as mulheres reconstruírem a cidade, que prosperaria tanto quanto a grande capital. A tradição de empregar apenas mulheres foi mantida em honra à memória das pioneiras da cidade, mas mesmo assim havia alguns homens trabalhando por ali.

    Grande centro econômico e um refúgio muito popular, Carlin vivia apinhada de gente todos os horários do dia. Era praticamente impossível passar pelas ruas de pedra da cidade e não encontrar um bolinho de amigos falando sobre dragões ou negociando penas de galinha. A cidade que nunca se cala, quem diria, seria a primeira a fechar a boca perante o que acontecera, um ano antes. Alguns amigos que estavam conversando no meio da rua avistaram um forasteiro estranho, totalmente encapuzado, como se tivesse vindo do deserto. Ele nada disse aos amigos, sequer se identificou. Em ocasiões normais eles teriam relevado aquilo. Mas decidiram reportar às autoridades no momento em que viram, marcado na capa vermelha que o indivíduo usava, um pentagrama amarelado.

    A Brigada Feminina de Carlin, responsável por manter a ordem na cidade, entrou em ação imediatamente. Revistaram todos os cantos da cidade buscando o misterioso homem. Ele nunca fora encontrado. Rumores disseram que ele teria passado pelo castelo, o que fez todas as guardas da cidade correrem até lá e erguerem uma vigília que duraria toda a noite. Quando amanheceu, as honrosas cavaleiras carlinenses viram sua cidade revirada, corpos inocentes atirados ao chão e fogo espalhando-se por todos os lados. Mas sua rainha estava salva. E ela, sábia como era, daria um jeito de resolver o que os supostos baderneiros fizeram. Foi só no dia seguinte que chegou à cidade a notícia de que o rei Tibianus III fora achado morto. E nos demais dias da semana, mais e mais notícias similares percorreram as ruas da Cidade das Mulheres. A brigada não precisou pensar muito para perceber o ocorrido. O maldito forasteiro fora enviado até lá para eliminar a rainha Eloise, mas falhara miseravelmente. A partir do dia em que aquela tenebrosa descoberta havia sido feita, Carlin nunca mais seria a mesma.

    Um ano e alguns meses depois, a cidade jazia deserta. Raramente se viam pessoas andando, mais raramente ainda se via pessoas conversando e em ocasiões de absurda raridade era possível ver sorrisos nas faces das mulheres. Mas quem podia culpá-las? Carlin sofrera mais do que qualquer outra cidade quando o Pentágono de Yöer florescera, estendendo seus braços nodosos por cada canto daquela terra desolada. Estava vivo na memória de todos os habitantes da cidade o momento em que um elemento baixo, extremamente branco e de expressão assombrosa invadira o castelo, mandara prender a rainha e sentara-se no trono, proclamando Carlin como a capital do Condado do Norte. E o homem que andava apressadamente pela parte baixa da cidade tinha nojo de se lembrar do modo sarcástico com que ele falava. Catura.

    Apollo era alto, magro, com ombros largos e um corpo invejável. Possuía cabelos louros desgrenhados no alto da cabeça, que lhe davam uma expressão divertida. Andava com um porte impactante, arrancando o ar das pessoas ao seu redor. Em troca, Apollo lhes dava energia. Todos que o conheciam tinham de admitir que ele transmitia uma segurança impressionante. Além disso, Apollo era conhecido por sua alegria inabalável e esperança inesgotável. Não que ele gostasse de ser lembrado de tal forma, apenas orgulhava-se de seu trabalho, e era através dele que queria figurar os livros de história. Ele era o general das tropas da Unie que estavam em Carlin naquele momento. Em outras palavras, era a maior autoridade local depois da própria rainha.

    Ele não era um homem de poucas palavras. Falava o tempo todo, sobre tudo que pensava, e um de seus passatempos favoritos era ficar andando em círculos no pátio da sua casa recitando em voz alta suas incertezas e seus planos para o futuro. Geralmente quem passava pela rua nesses momentos o encarava com uma espécie de caridade pela sua aparente insanidade mental, mas Apollo simplesmente se divertia com isso. Ou eu rio, ou eu caio no choro, pensava ele todos os dias. A situação atual do planeta não permitia tanto otimismo, mas ele sabia que ficaria louco se não risse um pouco.

    Enquanto caminhava decidido pelas ruas da cidade, demorando-se ora ou outra para apreciar a já conhecida arquitetura local, Apollo notava ainda a depressão transmitida pelas ruas vazias. Era como arrancar o caroço de uma maçã. Carlin perdera toda a sua energia no momento em que Catura ascendera ao trono. Na época, Apollo era um soldado de Thais. Ele detestava lembrar de como fora frustrante descobrir que o rei havia sumido e que fora encontrado morto um dia depois. Ele, como soldado e como cidadão thaiense, estava destruído. Prometera jamais permitir que os responsáveis tomassem uma cidade. E com esse ideal foi um dos primeiros a se alistar ao movimento revolucionário que surgia na capital, a Unie. Em pouco tempo o movimento cresceu, mudara-se para Venore e se estabelecera como a maior esperança contra o Pentágono de Yöer. Atualmente, quase todas as raças do mundo eram aliadas da revolução.

    Apollo cumprira sua promessa quando Ahamed, que logo tornara-se seu melhor amigo, promovera-o ao cargo que atualmente ocupava. Ele e seus homens invadiram Carlin e combateram bravamente os mortos-vivos que haviam dominado a cidade. Expulsaram Catura num momento de tensão e foram louvados como os salvadores. Mas cerca de dois meses depois, Catura voltaria com mais aliados e iniciaria uma longa guerra apenas finalizada recentemente, com uma apertada vitória da Unie. Mas o Lorde-Que-Tudo-Sabe ainda não havia desistido. Estava escondido em algum lugar, provavelmente Folda, esperando a hora certa de atacar novamente. E o comunicado que recebera momentos atrás fazia Apollo acreditar veementemente que chegara a hora de uma nova batalha.

    Um dos seus homens, Perseu, procurara-o na taverna subterrânea da cidade, aonde ele desfrutava de um bom vinho e de um momento de paz. Dissera-lhe que haviam descoberto alguma coisa sobre o prisioneiro que haviam feito recentemente. Perseu correra apressado de volta ao local onde ele estava sendo mantido, e Apollo ia vagarosamente atrás. Pensava de seria algo sério. Será que finalmente descobriram seu nome ou a quem trabalha? A curiosidade invadia-o só de lembrar como o elemento era excêntrico. Fora achado quase morto perto do portão norte cerca de uma semana antes, com diversos ferimentos pelo corpo e implorando por comida. Fora recolhido, cuidado e alimentado, mas após estourar os miolos de um dos soldados, fora preso e estava sendo interrogado sem sucesso desde então. Apollo detestava admitir, mas a figura lhe transmitia um interesse mórbido. Devo estar ficando louco.

    Chegou ao grande prédio da Brigada. Era uma edificação simples, de tijolos, localizada diretamente ao lado do portão leste da cidade. Com um teto baixo de madeira apontando imponente para o alto, o prédio podia ser visto alguns quilômetros longe da muralhas, o que facilitava muito para os guardas recém-chegados. E também para ataques inesperados. Apollo não gostava da idéia de ter seus prisioneiros ali, afinal o prédio podia muito bem ser reconhecido e estourado à distância. Mas para não ser acusado de preconceito, resolvera permitir que a brigada mantivesse-os ali. Logo que chegou, dirigiu-se a um homem alto e de aparência forte, que usava uma armadura cinzenta e que tilintava alto quando ele se movia. O homem sorriu quando o reconheceu.

    - Ficou observando a beleza da cidade de novo, general? – Indagara Perseu, com uma vozinha pouco apropriada para seu porte ameaçador. Apollo concordou com um leve aceno de cabeça, passando os olhos pelo braço esquerdo do guarda até chegar a sua mão, que segurava um livro de capa negra de aparência duvidosa.
    - Gosto de pensar que está tudo inteiro apesar da guerra. Fizemos um trabalho bom em preservar as edificações e em levar os piores combates para fora das muralhas. – Dissera com sua voz sonora e segura, que parecia fazer o prédio gigantesco atrás dele diminuir de tamanho e tremer levemente. – Por que me chamou? O vinho estava bom.

    Perseu soltou uma risadinha involuntária. Logo se recompôs, escorando a longa lança de dois metros que trazia na outra mão à parede,
    - Bom, interrogamos mais um pouco aquilo – Apollo não gostava que se referissem ao prisioneiro com aquele termo, mas concordava que era de fato, uma entidade muito esquisita. – e... Bem, como era de se esperar, não nos disse nada que não soubéssemos. Mas não deu sequer uma pista a respeito do nome, idade, afiliação, cidade natal. Mas hoje... bem, aquilo falou de um modo que parecia que conhecia a Unie. Espantou-se quando lhe dissemos que Ahamed era nosso líder, mas espantou-se como se já o conhecesse. E falou alguma coisa sobre um corvo... Não fez sentido para mim.
    Mas Apollo tinha a péssima impressão de saber exatamente aonde tudo aquilo ia dar. Corvo... Será que está se referindo ao... Engoliu em seco e fitou Perseu com seus olhos castanhos faiscantes.
    - Quero ir até a cela. Eu mesmo farei o interrogatório. Se o que me disse é verdade... Meu interesse cresceu muito. Mas não quero causar movimentação... A cela está aberta?
    Perseu assentiu, relutante.
    - O último guarda que esteve lá deve estar saindo agorinha. Se correr talvez chegue antes que ele tranque a porta.

    Apollo concordou e virou-se, murmurando um adeus quase inaudível. Avançou para dentro do prédio, cuja porta estava aberta. Quando um de seus pés tocou o mármore que revestia o piso interior, sentiu que Perseu o havia segurado. Virou-se e viu-o estendendo o livro negro que segurava.
    - Senhor... Encontramos isso na mochila que apareceu junto com aquilo. – Seu tom de voz era baixo e ele parecia demasiadamente assustado com a idéia de revelar aquilo para alguém. Apollo pegou o livrinho e apenas leu o título, que fora escrito em vermelho. Quando o fez, sentiu um longo e tenebroso arrepio dançar pela sua espinha. Murmurou um xingamento e correu para dentro do prédio sem falar mais nada. Virou-se quando alcançou uma mesinha de madeira e correu para as celas que estavam no térreo. Passou por duas delas, normais, com grades enferrujadas, até chegar ao lugar que procurava. Uma salinha de ferro espesso com poucos metros quadrados. Não possuía grades, apenas uma porta azulada e do mesmo material que as paredes. Um guarda ia girando a chave na maçaneta quando Apollo chegou. Ele correu e impediu-o, o dispensando em seguida. Então, respirou fundo e destrancou a porta, entrando rapidamente e com uma expressão incomummente séria na face.

    - Quem, em nome de Banor, você pensa que é? – Disse isso indicando a capa do livro para o vulto que estava deitado em uma cama improvisada do outro lado da sala. Categoricamente ele ficou em pé, estalando os dedos. A porta atrás de Apollo bateu. Ele respirou fundo mais uma vez, tentando manter a calma que raramente perdia. Não havia luz na sala, mas mesmo assim ele podia ver claramente os sapatos de casca de coco e as vestes alaranjadas se mexerem quando a mulher de cabelos desgrenhados baixou os olhos para o livro. Soltou uma praga baixinho e então virou-se para Apollo. Tinha olhos cinzentos inquisitivos que pareciam o despir profundamente. Ela sorriu lentamente e estendeu a palma de uma das mãos na direção da porta.

    - Desista. A sala é isolada magicamente, bruxa. Não pode explodir a porta. – Ele disse, certo de que a colocara em uma situação complicada. Mas a bruxa se limitou a gargalhar.
    - E quem disse que é a porta o meu alvo? – Ela se adiantou, agarrou Apollo e o puxou para junto de si, apontando a palma da mão para a cabeça dele. Pegou a sua espada presa ao cinto e jogou-a longe. Apollo sentiu uma onda de terror inexplicável tomá-lo quando a mão dela começou a esquentar. – Vamos dar uma volta. Você e eu.
    Então vamos lá... A Espinha foi planejada previamente de um jeito simples: Cinco histórias, cinco lordes. Fácil entender certo? Mas passei por longas reflexões neste último mês, e a história sofrerá uma grande reviravolta iniciada pelo capítulo quinze. Com isso, teremos três, e não cinco histórias.

    Vocês queriam ação, não queriam? Foi uma capítulo transitório de novo, mas podemos dizer que a ação está sim voltando. Os próximos capítulos trazem a guinada que a história dará daqui pra frente.

    Manteiga.
    Última edição por Manteiga; 10-05-2010 às 13:06.
    Dezesseis anos depois, estamos em paz.

  9. #79
    Avatar de johnClown
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    Passei meus olhos pelos capitulos e achei muitos interesantes.

    Amanha postarei com um comentario decente, mas seu lado escritor é mto bom, claro que a cd capitulo fica melhor ainda.

    Continue assim, o acompanharei deste dia em diante tenha ctza

  10. #80
    Avatar de Emanoel
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    Eu nunca procurei ação nessa história, mas um enredo centrado, alguma ideia bem trabalhada no meio de tantos personagens, cenários e intrigas. O texto como um todo é super bem escrito, mas pouco atraente, primitivo, as partes ainda não se bateram de maneira harmoniosa.

    Esse último capítulo poderia se passar por um ótimo prólogo para qualquer história de fantasia medieval, mas acabou sendo um dos mais maçantes até agora. É chato estar em outro canto do mundo a todo momento quando nenhuma das situações são animadoras. Afinal, logo que a história começa a engrenar de um lado, você puxa para outro e voltamos a estaca zero. Perdoe-me pela comparação bizarra, mas as vezes penso que estou lendo uma mistura de The Silmarillion com Harry Potter.

    Falando sério e perdoando a possível pieguice, você prova a todo instante que sabe fazer o leitor imaginar, mas anda pecando em nos fazer sentir, realmente curtir a história. O que falta é um pingo de densidade; aquele enredo apaixonante com momentos inspirados que arrancam suspiros do leitor. Sinceramente, torço para que essa "guinada" seja mais do que espadas, bolas de fogo e orcs sedentos por sangue. Lembre-se que a parte dramática da história também está se perdendo por conta do efeito pingue-pongue.


    As histórias da seção andam meio esquecidas, hein? Creio que não estamos no clima para enredos longos...

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