Capítulo Nove
Ensaio sobre o Pentágono de Yöer
Com origens demasiadamente enigmáticas, que remontam antigos tempos de paz entre os humanos e de considerável “respeito” pelos poderes da Coroa de Thais, o Pentágono de Yöer, por vezes intitulado Pentágono das Sombras ou Espalhador do Pesadelo, é uma entidade cruel com longos tentáculos negros, que estendem-se atualmente por todas as instituições de poder que existem em Tibia.
Érbio leu e releu a pequena passagem de poucas linhas que rabiscara displicentemente em um pergaminho cinzento e assentiu brevemente com a cabeça. Estava bom. Seria uma introdução suficientemente boa para situar os mais iluminados nos acontecimentos, quando aquele documento fosse lido, no futuro. Não sabia dizer se sairiam ou não daquela crise histórica, mas sabia dizer com perícia impecável que não faltariam registros sobre as crueldades realizadas por aqueles cinco que se intitulavam “Filhos dos Saberes”. Ficou examinando o primeiro parágrafo de
Ensaio sobre o Pentágono de Yöer e sorriu internamente, apesar da hora ser pouco propícia. Pigarreou e buscou um copo de vidro repleto de um líquido cristalino, que bebeu sem hesitar. Sentiu a água limpar sua garganta por inteiro. Pousou o copo então no mesmo lugar de onde acabar de sair: sobre um paninho imundo dobrado cuidadosamente e localizado diretamente ao lado do tinteiro azulado.
Examinou o resto de sua mesa, apreciando a pequena coleção de raridades ali presentes. Havia folhas de pergaminho enroladas cuidadosamente dentro de uma cesta de palha, o tinteiro e o copo, e alguns pertences pessoais irrelevantes. Mas o que de fato chamava sua atenção era a caveira dourada e meio rachada sobre um pequeno pedestal de mármore; a pena negra e alongada, já gasta pelo tempo, que provavelmente pertencera a um corvo gigante; o livro de capa de couro duro em que se lia
Os Segredos dos Saberes; e por último, mas não menos importante, um longo cabo totalmente negro e encouraçado, que terminava abruptamente em um retângulo pesado de um material misterioso. Incrustado no meio daquele retângulo perfeitamente plano estava um olho de jade brilhante, que parecia despi-lo por inteiro. Dispostas pelo cabo em forma estranha estavam algumas frases douradas de uma língua perdida. Érbio pegou o martelo para si e girou-o nas mãos, lembrando-se do dia em que o líder da Unie, Ahamed, entregara-o sob sua responsabilidade.
Quero que decifre a inscrição no cabo, dissera ele na ocasião.
A relíquia foi encontrada em Darashia, e isso me dá esperanças de ter relação com o Pentágono.
O escrivão largou calmamente a arma sobre a mesa e deixou seu olhar morrer sobre ela. Era um pesquisador excepcional, uma lenda viva da literatura thaiense. Todos na cidade conheciam suas grandes obras
Lendo runas antigas e
Passos na Areia de Devourer. Era um historiador renomado e grande conhecedor das artes da lingüística. Talvez tivesse sido chamado a se unir ao movimento revolucionário por aquelas qualidades, ou talvez porque suas pesquisas o levaram a grandes informações a respeito do Pentágono de Yöer. Repentinamente, pareceu lembrar-se de alguma coisa. Agarrou uma bela pena branca e curta que descansava sobre o papel, mergulhou sua ponta no tinteiro e voltou a escrever, com rabiscos negros quase ininteligíveis.
O nome do movimento demoníaco originado nas profundas catacumbas da cordilheira de Kha’Zeel deriva da palavra antiga “Iaor”, cuja significa “nosso pai”, caso fosse traduzida para os dias atuais. O Pentágono do nome é uma clara alusão ao símbolo satânico de cinco pontas, o pentagrama, e ao fato de o movimento ser liderado por cinco lordes mortos-vivos em questão, cada um dominando uma das cinco áreas da magia negra, de acordo com as tradições: maldições, pragas, necromancia, magia negra propriamente dita e conhecimento perverso.
Suas origens, como já foi citado nesta introdução, deram-se nas montanhas afastadas de Kha’Zeel, em uma depressão conhecida por eles como Katelchetroff, termo que significa basicamente “Terra dos Mortos”. Tal depressão atualmente é um pequeno deserto de areia de onde ergue-se a vila destruída de Drefia do Oeste, chamada no passado por um nome mais apropriado aos ideais yoereanos: Saberon (significa basicamente “Cidade da Sabedoria”). Ao contrário do que muitos estudiosos pensam, o Pentágono não surgiu inicialmente como uma espécie de culto aos demônios ou um antro de reunião daqueles que já morreram. Seus objetivos primários na realidade eram a incansável busca pelo conhecimento absoluto.
Ele parou para descansar a mão e olhou pela sala. Era oval, pequena, composta pela mesinha tosca de madeira, por um tapete de cores vinho e alaranjado tecido em Ankrahmun e por um pequeno sofá verde e aparentemente muito convidativo. Existiam ainda cerca de quarenta lampiões rubros que prendiam chamas dançantes e quentes, espalhados vinte de cada lado da mesa presos no teto por correntes finas. Sua iluminação era eficaz para a escrita, mas criava sombras assustadoras que de vez em quando faziam o escrivão tremer no meio das noites de tempestade enquanto dedicava-se ao seu trabalho. Já havia terminado quase tudo: só faltava a introdução e as considerações finais.
Longe, ao sul, houve uma grande explosão. Manifestou-se brevemente pelo estrondo fascinante, mas logo perdeu-se numa infinidade de gritos. Uma variedade anormal de passos ecoaram pelas ruas de mármore branco da cidade. Alguém bradou que eram caveiras, e que as Tropas das Sombras haviam chegado. Outro alguém urrou dizendo que finalmente as trevas venceriam o bem, e, pela movimentação que se seguiu, Érbio imaginava que o homem fora espancado e estava provavelmente inconsciente a essa altura, se é que estava vivo.
Estou na cova dos leões, pensou ele, calmamente,
a diferença é que estou em uma torrezinha um pouco mais elevada da morada dos felinos.
Não agradava-lhe a idéia de estar tão distante de casa. Yalahar era um lugar estranhamente pouco acolhedor aos forasteiros, apesar de praticamente todas as raças existentes no mundo se manifestarem por seus quarteirões selvagens e monstruosos. Érbio não podia negar que a cidade possuía uma expressão cultural exemplar, fosse pelas lendas impressionantes que cercavam sua origem e decadência, fosse pela brilhante arquitetura inenarrável que tornava o coração de Yalahar um lugar perturbadora e inapropriadamente belo.
Um ótimo lugar para uma guerra entre homens e mortos-vivos. Já fazia pelo menos dois meses que estava morando ali. Ahamed enviara-o juntamente com um pequeno grupo de soldados e alguns agentes pouco conhecidos da Unie. O líder do grupo dissera-lhe que estava os enviando com a missão mais nobre de todas: salvar o Império dos Anões.
Ele suspirou. Virou-se para a esquerda e puxou uma caixinha de madeira totalmente quadrada de baixo de sua cadeira. Abriu o fecho cuidadosamente e pegou o considerável número de pergaminhos enrolados que dormiam alegremente ali dentro. Buscou atentamente pelas anotações no rodapé e logo encontrou a folha que estava procurando.
Preciso de mais inspiração. Abriu-a com o carinho de um pai por um filho e começou a ler em silêncio o que escrevera até agora. Demorou-se um pouco mais em determinado trecho do capítulo inicial, como se revivesse a aventura que fora obter tais informações.
[...] o Pentágono de Yöer inicia basicamente com a ascensão dos saberes nas terras do Devourer, o quente e curto deserto que envolve a cidade de Darashia. Muitos acreditam que a palavra “saberes” seja o simples plural do verbo “saber”, mas na realidade a palavra distingue um antigo grupo de humanos que migrou de Carlin em direção ao deserto antes mesmo de sua descoberta. Este grupo passou a ser denominado pelos moradores de Carlin como saberes (cuja sílaba tônica na realidade é o “sa”), um termo que significava “aqueles que vivem de pensar”. De fato, os saberes eram caracterizados como homens e mulheres brilhantes, que abandonaram a sociedade humana após constatarem que jamais seriam aceitos. Eram muito questionadores, buscando compreender tudo que pudessem sobre qualquer coisa. Suas buscas inquisitivas pelo conhecimento absoluto levaram-no a conhecer a existência de um deserto a sudoeste do continente, deserto este que só seria descoberto pelos demais humanos muitos anos depois.
Os saberes rumaram imediatamente rumo ao tal deserto, e desembarcaram após uma longa e tortuosa viagem, na qual seguiram um mapa desenhado pelos próprios, baseando-se em informações de alguns orcs viventes no sul das Planícies do Caos. Evidências históricas indicam que eles chegaram exatamente em uma pequena parcela do deserto cercada por Kha’Zeel, onde atualmente fica Drefia do Oeste. Por isso não tomaram conhecimento da existência de outros desertos por muitos anos. Apesar disso, acredita-se que no apogeu de sua civilização brilhante, os saberes tenham mantido conversações diplomáticas com os lagartos, em Tiquanda, e com os mortos-vivos, em Ankrahmun. [...]
Érbio assentiu com um breve aceno da cabeça e rabiscou alguma coisa na folha onde escrevia a introdução de seu livro. Então, coçou a barba longa e espessa, de cor cinza, deliberadamente. Pigarreou alto e bebeu o resto da água existente em seu copo. Antes de voltar à sua leitura, deu uma olhadela no martelo negro.
[...] passados alguns anos, os moradores do continente esqueceram-se de quem eram os saberes e de como eles podiam ser inconvenientes. Alguns testemunhos de historiadores como Tael Moureau dizem que os saberes chegaram a questionar a existência dos deuses, e que provavelmente isso significou sua derrota na terra de Carlin. “Os moradores não estavam dispostos a se soltar de suas crenças por meia dúzia de fatos lógicos divulgados pelos saberes, então os expulsaram”, diz Moureau. Os saberes haviam constituído um duradouro império em Drefia, que na época chamavam de Saberon. Saberon possuía grandes vias para o trânsito de carroças avançadas para a época, um pequeno porto, grandes áreas residenciais e comerciais, pomares e hortas criados nas montanhas, regados pela água represada de um riozinho que cortava a cidade. Lá, os saberes tiveram sua liberdade de pensar e de se desenvolver. Representaram grande influência na formação da cidade de Ankrahmun, na época já uma cidade-morta (suas origens misteriosas não precisam ser discutidas neste volume).
Mas os moradores do continente também eram ambiciosos. Mesmo décadas depois, ouviram falar da existência de um deserto e foram logo averiguar. Sem saber o que encontrariam, os venorianos desembarcaram onde atualmente fica a cidade de Darashia. Fundaram ali um pequeno vilarejo, e começaram a explorar e mapear as terras ao redor. Inesperadamente, porém, todos os homens enviados para a direção oeste de Darashia não retornavam. Exércitos foram enviados para a região, como se para enfrentar uma guerra, e surpreenderam-se ao encontrar Saberon e seus ilustres moradores. Aparentemente, nos anos que permaneceram isolados, os saberes desenvolveram fantástica habilidade para a magia negra. Com suas habilidades, os saberes combateram e venceram os venorianos facilmente. Mas logo foram atacados em massa por tropas vindas de todas as demais cidades, e assim, em um rápido e inesperado movimento, Saberon foi tomada e convertida em ruínas. [...]
Ele fez uma pausa, rabiscou mais alguma coisa, e continuou a ler. O capítulo estava quase no fim.
[...] Naquele tempo, os saberes eram regidos por um único senhor, chamado de Zeed. O Zeed era o iluminado maior, aquele que realmente tinha todas as respostas. Os saberes viam Zeed como uma espécie de deus, mas um deus que tudo sabia e tudo podia. Assim, fundaram sua própria religião, na qual passaram a adorar uma entidade chamada de Noor, termo sinônimo de Yöer. Eles defendiam que este era uma espécie de irmão de Zathroth, mas bondoso e que só deseja obter o conhecimento. Os venorianos porém, ao ficarem sabendo do culto ao “Deus do Saber”, que na terra era representado pelo líder espiritual dos saberes, enfureceram-se e invadiram a cidade em massa, que foi justamente o que de fato causou sua ruptura.
Mas a história não termina ali. Alguns saberes sobreviveram ao ataque, e, cheios de ódio pelos tuquos (que era como eles chamavam os “não iluminados pela verdade absoluta”), os saberes se reorganizaram sob a liderança do Zeed mais famoso de toda a história: Teoth. Teoth dizia ser a personificação verdadeira de Noor em Tibia, e que apenas ele poderia levá-los ao saber verdadeiro. Não sabe-se exatamente como, mas Teoth aparentemente rompeu a fina camada que separa o nosso mundo do mundo dos demônios. Mago excepcional que era, Teoth conjurou as entidades diabólicas e supostamente teria deixado que cerca de cinco demônios incorporassem em seu espírito, transformando-o em uma hedionda entidade maligna com poderes equiparáveis aos de um deus de verdade. Teoth, que agora adotara o nome de Yöer, transformou os saberes originais (aqueles que resistiram ao ataque) em serem imortais pela ação do tempo e infiltrou-os nas instituições mais notáveis do mundo, como a TBI e a Sociedade Exploradora. Mas nada teria acabado ainda. Yöer reuniria em Saberon diversas criaturas inocentes, como peixes, pássaros e répteis, e transfiguraria tais criaturas em entidades monstruosas, meio humanas e meio feras, que também receberiam grandes dons e a incapacidade de morte pelo tempo. Estas criaturas bizarras passariam então a habitar a mente das pessoas como os verdadeiros saberes, razão esta responsável pelo equívoco comum de que os saberes seriam monstros, e não humanos. Na realidade, os saberes não todo e qualquer um que viveu em Saberon no seu tempo de glória.
Yöer iniciaria ali uma guerra inigualável, na qual confrontou milhões de exércitos no Devourer. Os líderes de estado da época, para evitar explicações complicadas, omitiram a informação básica de que a guerra se dava contra demônios e entidades nunca antes vistas, e declarou que os homens estavam lutando contra dragões que viviam em Kha’Zeel. A batalha duraria apenas um ano, no final do qual, Yöer teria sido morto. Com a morte do líder, suas criações ficaram desorientadas, e foram facilmente superadas. Porém, cerca de meia dúzia de saberes resistiram ao embate (segundo antigos depoimentos de soldados combatentes). Seu paradeiro é desconhecido até hoje, mas se de fato não foram mortos por agentes externos, com certeza não foi o tempo que os destruiu. Yöer foi enterrado em uma cripta nas profundezas de Saberon, e nunca mais se ouvir falar dele. [...]
Até agora, pensou Érbio, abandonando a leitura. Guardou o pergaminho junto com os demais na mesma caixinha e recolocou-a no local de origem, com o mesmo cuidado costumeiro. Não precisava ler mais nada para se lembrar com perfeição do que ocorria em seguida.
A Redenção. Cinco entidades misteriosas, provavelmente desprovidas de vida, surgiram do além, cada uma de uma região específica do Tibia. E como se acessassem uma biblioteca antiga, pareciam saber tudo sobre aquela história negra e há muito esquecida. Reergueram os ideais sanguinários da segunda geração de saberes liderados por Yöer, e, da noite para o dia, tomaram todo um planeta. Se não fosse ele mesmo, se não conhecesse a história, se não tivesse
visto o corpo mutilado de Tibianus III pendurado naquele poste desoladamente, Érbio provavelmente não acreditaria no que estava acontecendo. Os cinco repartiram o planeta entre si como crianças fariam com um punhado de amoras, e passaram a se intitular Pentágono de Yöer, em uma clara alusão ao símbolo máximo de Saberon, o pentagrama. Érbio perguntava-se se o nome traria a definição de Noor por acaso, ou se eles realmente idolatravam aquele deus fajuto.
O que era mais perturbador era que aqueles cinco, que nem usavam o título de saberes, simplesmente dominavam todos os campos das artes das trevas, e ao, contrário das gerações anteriores de sua laia, não eram puros ou invocavam demônios. Preferiram colocar todos os mortos-vivos do seu lado. Com um exército ilimitado, os Cinco Lordes das Sombras conseguiram o que nenhum outro Zeed conseguira: ter o Tibia nas mãos. Naturalmente, a Unie e tantos outros movimentos revolucionários já haviam retomado algumas cidades. Edron, Carlin, Venore, Darashia e Yalahar erma agora lugares seguros para se viver. Pelo menos por enquanto. Mas apesar de praticamente já terem assegurado seu triunfo sobre os humanos, Érbio tinha o péssimo palpite de que os cinco queriam algo além. E infelizmente, Érbio costumava acertar seus palpites.
Agora estavam naquela guerra caótica, na esperança provavelmente em vão de lutar contra o Pentágono. Cada lorde parecia relevar o que se dava com os seus vizinhos, cuidando apenas de suas terras, seus exércitos e seus tesouros. Isso talvez facilitasse o trabalho deles. Mas se eles resolvessem se unir como já fizeram um ano antes, quando Thais caiu, eles teriam
sérios problemas.
Que os deuses nos ajudem. Olhou para uma pequena janelinha triangular que estava logo às suas costas, quase imperceptível. Através dela ele viu, distante, o continente. Uma nostalgia incomum invadiu seu peito. Era a primeira vez em mais de trinta anos que Érbio abandonava sua terra. E tudo culpa de cinco imbecis que mereciam morrer de novo.
Seus nomes não deviam em voz alta serem pronunciados. Transpiravam crueldade e espalhavam medo. Mas ele não tinha medo de gritá-los se fosse preciso. Cada um deles merecia um castigo pior do que o último, e Érbio esperava ansiosamente o dia em que seriam punidos. Ele suspirou, lembrando-se daquilo que ninguém deveria lembrar.
Konar, o senhor das trevas, rei absoluto do Condado do Sul. Catura, o grande sábio amaldiçoado, o grande rei do Condado do Norte. Razan, aquele que não possui corpo físico e que entende a morte melhor do que todos os outros juntos, sultão absoluto das terras da Parcela de Darama. Ternur, a mulher que era meio inseto e que era capaz de controlar todas as pragas, sendo ela a rainha do Reino de Tiquanda e Ilhas Próximas. E por fim, Ylana, a cruel feiticeira do gelo, que assassinara o lorde original – e seu marido, Azzard – e que representava a magia negra. Suas terras eram o distante Estado de Hrodmir e Ilhas de Gelo. Os Cinco Lordes.
Uma batida suave na portinha de madeira negra arrancou-o de seu devaneio. Já sabia que ele viria. Só esperava terminar o manuscrito antes para poder entregar a ele.
- Entre. – Disse com sua voz tristonha e baixa. Houve um momento de espera e a porta abriu-se, revelando um elfo extremamente alto e com uma expressão apática. Seu monóculo dourado estava sujo e levemente lascado. – Veio mais cedo Faluae, ou eu que me perdi demais em meus pensamentos, sem ver o tempo correr?
O elfo sorriu de leve, revelando rugas inexistentes alguns dias atrás.
- Provavelmente a segunda opção, meu bom amigo. – Ele observou o pergaminho rabiscado sobre a mesa. – Concluiu finalmente?
- Não, ainda não. Falta pouco. Quero dizer, com o que tenho até agora. Mas ainda falta muito para se pesquisar, para que eu enfim compreenda nosso inimigo por completo.
- Estamos contando com isso. Todos nós. – Disse ele, sério. Érbio guardou o manuscrito junto aos demais e mergulhou a pena no tinteiro, deixando-a lá. – Não posso me demorar... Vernac quer me ver. Parece que tem novidades sobre o Assassino de branco. Só vim avisá-lo que os guardas chegaram para o escoltar até Beregar. Os chefes anões estão ansiosos para ouvir suas palavras.
Érbio assentiu levemente, com o olhar perdido na janelinha triangular.
- Diga a eles que me aguardem no térreo. Logo descerei para irmos. Preciso trocar de sapatos, afinal, pelo que me disseram, o caminho até Beregar é muito acidentado.
O elfo sorriu em resposta, levantando-se de imediato e caminhado demoradamente rumo ao portal que ainda jazia aberto.
- Espero que consiga o que nenhum de nós conseguiu, Érbio.
- Um milagre?
Ele balançou a cabeça, perdido em devaneios antigos.
- Sim. Um milagre. – E dizendo isso, Faluae virou-se e rumou para a porta, saindo e fechando-a ao passar.
- Faluae! – Gritou Érbio repentinamente, como se lembrasse de alguma coisa. O elfo parou e enfiou a cabeça pela fresta ainda aberta da porta, esperando-o continuar. Érbio indicou o martelo negro sobre a mesa. – Diga a Ahamed que consegui traduzir uma linha. Está escrito Belzeebub.