Capítulo V
Esforços em Vão
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Sob que acusação? - Berrou Chronus, com a voz abafada, ainda prensada contra a mesa. Tentava se desvencilhar do guarda, mas apesar de baixo, ele era estrondosamente forte. Esperneava, agitava-se, tentava de tudo para se ver livre daquilo tão surreal. Mas nada adiantava. Perguntou-se por que seus amigos nada faziam.
- Solte-a! - Bradou Henry, notavelmente furioso. Puxara a espada e estava parado, em posição de ataque, com os olhos em chamas e o corpo tremendo de tanta raiva. Sua pele estava avermelhada e as veias do pescoço bem em evidência - ESTOU AVISANDO!
- E vai fazer o que a respeito seu idiota? - Gritou em resposta o anão, com a voz firme, sem recuar. Puxou Chronus para perto de si e colocou-a em sua frente. - Quer ser preso também?
- VOCÊ NÃO TEM COMO ME ENFRENTAR! - Gritou ele, quase explodindo.
- EU NÃO, MAS ELES TÊM.
Henry se virou e largou a espada. Um esquadrão de cerca de doze anões estava parado no corredor, todos preparados para uma batalha de emergência. Aquela era uma operação séria. Mas ele não ia abaixar as armas e deixar que levassem sua melhor amiga, não mesmo! Empunhou a arma novamente, com uma expressão ameaçadora na face. Cerrou os punhos em volta do cabo da arma e preparou-se para uma investida contra os doze. Sequer parou pra pensar em desvantagens ou algo relativo a isso, apenas queria mata-los e salvar Chronus. Era sua única opção.
- Henry calma - Disse Ava, baixo o suficiente para que ninguém mais na sala ouvisse. Este virou-se para o amigo. O druida permanecia com os olhos fixos no guarda que segurava Chronus. Não se mexia, apenas pensava. Seu forte era o planejamento, então Henry esperou que ele tivesse uma brilhante idéia para resgatar a paladina e fazer com que os três saíssem vivos dali. Ava suspirava fundo, pensando rápido. Precisava resgatar Chronus e fugir com ela e Henry pro lugar mais distante dali possível. Mas e o ferido? Não podia simplesmente deixa-lo pra trás. Tinha quase certeza que Isimov não saberia agir corretamente, não confiava nele. Na verdade, eram poucas as pessoas nas quais ele depositava sua confiança. Se bem que não confiava nem nele mesmo...
- Quando eu mandar, pega o corpo e desce as escadas - Disse se referindo a uma escadaria de mármore perfeitamente lapidada escondida em uma salinha a leste do templo. Ela levava ao Túmulo dos Heróis, uma sala cheia de estátuas, placas de mármore com lendas e ossos podres e fedorentos de pessoas que ninguém conhecia. Ava já estivera lá antes, e sabia da existência de uma escada oculta para a base do templo. Se pudessem atrair os guardas até lá teriam uma chance de escapar.
- Não - Respondeu prontamente o cavaleiro - Não vou deixar Chronus.
- Precisamos - sibilou o druida, sem tirar os olhos do guarda - Não temos opção.
- Porque devo favorecer um desconhecido?
- Porque estou mandando! - Ele disse essas palavras já irritado dos intermináveis questionamentos de Henry - Esse cara corre risco de vida. Chronus não. Pelo menos na teoria...
- O que tanto murmuram? - Disse com a voz grave o guarda, em tom de desafio. Puxou Chronus mais perto de si. Ela fez um gesto com a cabeça que indicava claramente que eles deviam correr. Henry olho os doze pelo canto do olho e viu um deles empunhando uma besta.
- Não temos tempo - Cochichou Henry, finalmente se rendendo.
- Não adianta fugirem, ela é procurada pelo mundo todo! - Gritou o guarda, como se vangloriasse sua habilidade de captura por pegar uma foragida. Mas porque estavam a prendendo? Havia algo oculto no passado de Chronus que eles não conheciam? Uma ponta de desconfiança se erguia na mente de Ava.
- AGORA! - Gritou o druida sem mais nem menos. Era hora de agir. Henry jogou a espada cegamente para trás e atirou-se na direção da mesa. Ouviu um grito agudo de dor vindo do lado dos doze e teve certeza que a arma fizera o que tinha de fazer. Jogou-se sobre o pobre e confuso Isimov, que funcionou como escudo. Era um pecado tremendo aquilo que ele estava fazendo. Escondeu-se ao lado da mesa enquanto Avalanche escondia-se atrás de um dos pilares, tirando um bastão verde enfeitado com pedras brilhosas da mochila.
Henry empurrou Isimov na direção de Ava. Um soldado, logo na aparição do vulto, disparou um dardo vermelho munido de uma ponta cortante como uma faca na direção do clérigo, que por sorte errou. Ava o segurou por trás e pegou o bastão disparando uma das pedras que giravam nele na direção do guarda que segurava Chronus. Esse esquivou-se e atirou a paladina na direção dos doze. Um soldado a pegou e correu na direção da escada que ligava o terceiro e quarto andar.
- CHRONUS! - Urrou do fundo de sua alma Henry. Ele fez menção de se erguer para seguir o guarda,mas Avalanche o encarou firmemente, de uma forma que jamais fizera.
- MANTENHA O PLANO! - Se ia dar certo ele não sabia, aliás tinha certeza que algo daria errado. Nenhum de seus planos funcionava. Mas aquele era uma questão de vida ou morte. Jogou Isimov na direção do guarda que acabara de soltar Chronus e atacou-o com sua varinha, atingindo-o na face. Ele cambaleou, pondo a mão no olho que se esvaía em sangue e berrando. Tropeçou em uma elevação no piso e caiu de costas sobre um lampadário incandescente, entrando em chamas e gritando em desespero. Os demais guardas se alarmaram para salvar o amigo.
- CORRE! - Gritou Avalanche correndo para uma porta no fundo do templo. Henry pulou sobre a mesa e pegou o corpo sem muita dificuldade. Os guardas notaram o rápido movimento e prepararam-se para contra atacar, mas um disparo negro vindo de Ava conjurou uma enorme parede de energia na frente deles, impedindo sua passagem. Henry virou-se e viu o amigo com uma pedra amarelada em mãos, fazendo sinal para que ele o seguisse.
Os dois correram ao fundo da sala, escondendo-se atrás dos últimos pilares paralelos. Os guardas tentavam destruir a parede mágica e gritavam para que Isimov corresse chamar reforços. Ava pôde ouvir a voz de Chronus clamando por ajuda, e sentiu uma angústia profunda. Estava impotente, não tinha como salva-la. Não ainda. Mas se algo ocorresse com ela, ele jamais se perdoaria. Precisava sair logo dali.
- AVA! - Henry berrou, trazendo o druida de volta a realidade. A parede sumira e os guardas avançavam rapidamente contra Henry, que defendia-se com seu escudo vermelho-sangue com a face de um demônio. Ava chutou a porta de madeira, arrombando-a. Pulou para dentro da salinha e puxou o cavaleiro para perto da escada. Sacou outra daquelas pedras amarelas da mochila e disparou-a na porta, conjurando mais uma parede que bloqueou a passagem.
- Temos pouco tempo.
Mas ele mal sabia que o tempo deles já havia se esgotado.