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Tópico: As Crônicas do Mundo Antigo – A lenda do Cavaleiro Negro.

Visão do Encadeamento

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  1. #12
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    Sem tempo para dizer algo legal aki... espero q curtam










    Cap. IV

    Meu rosto estava colado a mesa de madeira e minhas narinas inalavam o forte cheiro da pequena poça de vinho, que se formara perto do copo tombado, quando a dor de cabeça acordou-me do sono profundo.

    Recuperando-me da sonolência, levantei a cabeça e me deparei com as mesmas pessoas das lembranças borradas de horas atrás. Porém, em vez de pessoas cantantes e ativas se embebedando; vi homens caídos banhados pela lama e mulheres nuas dormindo graciosamente nos lugares mais improváveis. A orgia tomara conta do lugar e derrubara até os guerreiros mais fortes.

    Ainda cambaleante, levantei da cadeira e caminhei ao balcão da taverna. Atrás deste, Frodo jazia caído e inconsciente, como todos os outros do bar, e com uma mulher, com a boca semi-aberta, agarrada em suas pernas, babando nos pêlos de seu membro flácido.

    Lembrando de um lema antigo da taverna que dizia: “Se estás de ressaca. Cure-a bebendo.”, peguei uma garrafa e a levei a boca sem hesitar, derrubando o líquido escuro e quente na garganta, acabando com a secura e, posteriormente, com a dor que apertava meu crânio.

    Minutos se passaram e meus braços já levantavam a terceira garrafa. As pálpebras pesadas, que embaçavam a visão e aumentavam o sono, lutavam para se manterem abertas; e os olhos avermelhados procuravam o meu novo amigo pelo bar. Não o encontrei.

    Por um momento, lembrei da expressão de ódio que flamejava em suas pupilas quando Tibianus I pronunciava suas palavras, mas logo apaguei isso de minha mente. Ele, como eu, estava muito bêbado e, além do mais, ninguém era louco o suficiente para desafiar o rei.

    - Por Tibianus! – bradei para os moribundos da taverna, levantando a garrafa de cerveja.

    Ele não era louco... Foi o que eu achei.

    * * *

    Os passos pesados ecoavam pelas ruas escuras da cidade de Thais e a lâmina branca do machado de duas mãos sonorizava de forma estridente com o chão aquela marcha. A boca abria-se e fechava-se constantemente produzindo uma cantiga baixíssima, quase um sopro:

    Cavaleiros, que mataram
    Com corte alvo do machado
    Majestosa espada, perfurado
    Os inimigos q’odiaram

    O homem caminhou pelas ruas da cidade durante alguns minutos, fazendo com que todos os guardas de plantão ignorassem sua presença. O olhar vago, o cantarolar baixo e o caminhar lento era típico de um bêbado qualquer.

    De repente, o homem se calou e os ruídos produzidos pelo machado cessaram. Com uma expressão de raiva, ele admirou as trêmulas bandeiras, iluminadas por piras de fogo, localizadas nas muralhas que cercavam o castelo real. Este, ficava localizado em uma ilha ligada por uma ponte ao resto da cidade e possuía torres em cada vértice do grande muro. Abrindo um pequeno sorriso, continuou sua caminhada em direção àquela fortaleza, passando pela pequena ponte e deparando-se com o segurança daquela noite.

    - Aon... Aonde pensa que vai? O rei está... Dormindo agora. – falou o soldado em meio a bocejos, levando sua mão ao peito do homem supostamente ébrio.

    - Você também deveria estar...

    A resposta seca só fez sentido quando o olhar fundo do cavaleiro se tornou lívido e maléfico. Num movimento indefensável, o homem segurou e torceu o braço do soldado, fazendo-o gemer de dor e girar sobre os próprios calcanhares, parando de costas para seu agressor. Desesperado, a vítima correu sua mão livre a bainha, mas não encontrou o que desejava.

    Com uma força inimaginável, o cavaleiro de machado alvo acertou a nuca do guarda com o cabo da espada, fazendo-o cair lentamente e inconsciente.

    - ... Durma bem. – falou o homem com um sorriso no rosto. – Depois lhe devolvo a espada.

    Sem perder tempo, pegou seu grande machado e encaixou a espada roubada em uma das frestas de sua armadura. Ele sabia que não tinha muito tempo e, por isso, saiu em disparada ao encontro do rei.

    Subiu escadas, percorreu corredores e escondeu-se de outros guardas até chegar no quarto real. Sem cerimônias, arrombou a porta violentamente e deparou-se com o lugar mais bonito que já vira: O quarto possuía quadros espalhados por todas as paredes; uma grande e bonita pele de urso branco no centro; as janelas estavam espalhadas harmoniosamente com a mobília e deixavam penetrar os raios graciosos da bela lua; e dezenas de tesouros, como espadas, elmos e dinheiro, jaziam largados pelas mesas e guardados dentro de baús abertos. Ao penetrar no quarto, parou no pé da cama; esta era de madeira, com figuras celestiais talhadas em todo sua extensão e possuía um colchão de algodão e palha coberto por uma colcha vermelha.

    - Quem é você?

    A voz inconfundível saiu de suas costas e o assustou. Surpreender ao invés de ser surpreendido... Seu plano inicial havia falhado.

    - O que você quer? – perguntou novamente de forma impaciente.

    - Respostas....

    - Vire-se, cumprimente-me e pergunte. Faça como todos os outros fazem. Mostre respeito pelo seu rei.

    - Rei... – falou o cavaleiro num tom de desdém, virando-se para seu interlocutor logo em seguida. Este, estava a dois metros de distância e vestia trajes de dormir, seus cabelos estavam desgrenhados e sua aparência era de alguém que não dormia há séculos. – Que respeito eu mostraria para um rei que nem o próprio povo ele respeita? Que respeito eu mostraria a alguém que vendeu a própria honra, juntamente com a de todos nós?

    - Do... Do que você está falando? – indagou com um ar de surpresa nos olhos.

    - Você sabe do que estou falando... Sabe até mais do que eu.

    - Juro pelos deuses que não sei do que se trata esta conversa... – falou, ainda mais surpreendido. – Aliás, não sei nem o que o senhor está fazendo em meu quart...

    - Jura? – perguntou arrogantemente, interrompendo o rei e sentando em sua cama logo em seguida. – Tibianus, você acha que eu vou acreditar que esse seu cérebro calculista não sabe do que estou falando?

    Não houve respostas. Durante segundos, o barulho dos dois pares de olhos que se encaravam e brigavam a distância foi o único som que ecoou no local.

    - Me diga, porque obrigou-nos a lutar? Porque convenceu-nos a odiar outro povo e fez com que derrubássemos a um outro exército? – continuou o cavaleiro, deitando o resto de seu corpo na cama.

    O rei sorriu com a audácia daquele homem, mas logo fechou as expressões, falando em seguida:

    - Seu rosto realmente faz diferença no meio da multidão, sabia?

    - O que? – a pergunta surpreendeu o cavaleiro, fazendo-o levantar a cabeça para contemplar o rei. Este, estava caminhando para o outro lado do quarto.

    - Seu rosto. – continuo o rei, parando em uma escrivaninha, abrindo a gaveta e retirando uma espécie de fumo de dentro. - Ele é... Impactante. – falou sentando numa cadeira que estava próximo. Em seguida, levou o fumo aos lábios e, com um cochicho pelo canto da boca, uma pequena chama de fogo saiu da ponta de um de seus dedos, acendendo o narcótico. - Desde a hora em que te vi bradando aquelas palavras pelos seus amigos que morreram; eu sabia que você se tornaria um problema.

    - Ah! Então, finalmente, vai deixar de se fingir de bobo. – falou o homem levantando o seu tronco, sentando na cama de novo. A conversa estava tomando o rumo que ele queria.

    - Ai, ai... Você não entenderia se eu te explicasse o por quê de tudo que te incomoda.

    - Não entenderia? Eles nos atacaram, pegaram nossas mulheres e riquezas e depois fugiram. Nós perseguimo-los, matamos a muitos, ganhamos a batalha e, a vitória total seria o próximo passo! ... Então, você, num ato de heroísmo, acaba com isso tudo! – a raiva estava começando a aflorar. Sua cabeça se movimentava negando constantemente e seus dedos batiam ritmados seus joelhos. - Que droga de rei é você que larga um espólio quando ele está em mãos e que usa seu povo como peças de algum jogo?!

    - Sou um rei como qualquer outro. Faço o que todos fazem. – falou num tom de desapontamento.

    - É isso que gostaria de entender... Sua covardia, seu medo de conquistar.

    - Às vezes, acordos são melhores que qualquer espólio de guerra. – falou o rei, confiante.

    - Mesmo se o espólio for uma cidade inteira?! Venore estava debaixo de nossos pés! Na palma da sua mão! – o tom de voz saiu alto, surpreendendo o homem.

    A nuvem de silêncio tomou conta do lugar, aumentando a tensão do cavaleiro e amenizando os pensamentos do rei.

    - Sir... Seja lá qual for seu nome, - começou indiferente em relação aos gritos. - política não se resume em batalhas. O domínio está muito além da posse e...

    - Mas que droga! – interrompeu aos gritos, levantando da cama. – Para que dominar se você pode ter!?

    - Qual o seu problema?! Por acaso sua mãe morreu num dos ataques deles?! – interpelou o rei no mesmo tom, sem levantar da cadeira.

    As palavras surtiram efeito na sanidade do cavaleiro. Num acesso de fúria, sacou a espada que estava em uma das frestas de sua armadura e voou para cima do homem. Parou a lâmina brilhante a poucos centímetros da aorta dele e colou seus olhos negros nos olhos azuis dele.

    - Se você não domina-los, eu mesmo farei com que o próximo rei faça.

    As palavras ameaçadoras, o metal frio da arma branca e o olhar furioso do homem não o assustaram. Sua boca estava abrindo-se para falar algo quando gritos saíram da porta aberta e penetraram o lugar.

    - LARGUE A ESPADA AGORA!

    Sem olhar para os soldados, o cavaleiro continuou parado, olhando fixamente nos olhos dele. Sua boca estava começando a sibilar uma nova frase, mas, desta vez, ele foi o interrompido.

    - JÁ DISSE! LARGUE A ESPADA!

    O cavaleiro, então, cochichou algumas palavras para o rei em meio aos gritos do soldado, se afastando lentamente com um sorriso de felicidade e um olhar extremamente psicótico no rosto. Aquele, por sua vez, estava com uma expressão de extrema dúvida e sua boca se preparava para dizer algo. Mas não houve tempo.

    Em poucos segundos, o homem já havia sido retirado, os soldados haviam arrumado a bagunça que fizeram e tudo havia voltado ao normal.

    - Desculpe o incomodo, Vossa Majestade. – falou um dos homens que permanecera no local. – Foi uma falha minha e eu me responsabilizo por tudo.

    - Não se preocupe. – falou pacientemente o rei, levantando-se da cadeira e colocando a mão no ombro do soldado. – Apenas faça com que esse homem não pise mais nesta cidade. Ele não a ama e, também, ele é perigoso... Não quero sujar minhas mãos de sangue.

    - Sim, senhor. Tomarei as providências.

    O guerreiro saiu rapidamente do quarto, fechando a porta suavemente e deixando o rei num turbilhão de pensamentos.
    Última edição por Pernalonga; 10-06-2007 às 14:40.



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