Thorson estava em uma das tendas. Tinha uma bigorna sendo aquecida por uma fogueira a sua frente. Thorson pôs todos os diamantes que havia dentro daquele maldito baú encima da bigorna e esperou eles ficarem mais moles. Começou a moldá-los.
***
Araell acordou encima do colchão de palha. Sua pele pinicava por causa da palha. Se levantou e coçou-se um pouco e então saiu da tenda. Viu Fardons lendo um livro de feitiços perto da grade de diamantes. Glóin e Ulrich estavam jogando baralho.
- Como podem jogar baralho, estando presos aqui? – perguntou Araell que ainda levava na consciência ter prendido todos.
- Fardons está executando um feitiço para nos tirar daqui faz uma hora... – respondeu Glóin – Se ele não conseguir, não há nada que possamos fazer...
Araell caminhou até Fardons. Ele estava com a mão esquerda apontada para a grade, murmurando palavras que lia no livro.
- E aí? Como está? – perguntou Araell
- Agora que você me atrapalhou... – respondeu Fardons – Acho que essa grade é protegida contra magia. Não há nada que eu possa fazer...
- Tem que ter! – exclamou Araell. Pegou o livro de feitiços da mão de Fardons e começou a falar alto o que estava escrito.
- Araell não! – exclamou Fardons tomando o livro das mãos de Araell – Esse livro pode ser mortal nas mãos de um não-feiticeiro!
- MAS EU TENHO QUE TENTAR ALGO! – gritou Araell. Glóin e Ulrich se viraram para olhar. Fardons ergueu as sobrancelhas – Eu nos meti nessa merda, e agora tenho que tirar!
Dito isto saiu pisando os pés.
Fardons baixou a cabeça e passou os dedos entre as sobrancelhas.
-
É! – ouviu-se vindo de uma das tendas
Ulrich e Glóin se levantaram e puxaram suas armas.
- Calma! – disse Fardons – É só o Thorson...
- Como sabe? – perguntou Glóin
- Depois de ficar cego, você começa a usar os outros sentidos. Eu decoro o timbre de voz de cada pessoa por quem eu passo.
- Legal...!
Thorson saiu correndo de uma das cabanas mais escondidas do acampamento. Embaixo do braço direito havia algo enrolado num pano beje.
- Cadê o Araell?- perguntou quando chegou perto do grupo
- Saiu pisando duro por aí – respondeu seu irmão
- O que aconteceu?!? – perguntou Araell saindo da “grande tenda”
- Como assim o que aconteceu? – perguntou Glóin
- Ouvi um grito!
- Ah! – falou Thorson – Fui eu! Chegue mais perto Araell.
Araell andou até Thorson ainda com a cara fechada. Thorson tirou o embrulho de baixo do braço e estendeu para Araell.
- O que é isso? – perguntou Araell pegando o embrulho e o olhando ainda embrulhado.
- Abra.
Araell arrancou os panos e ficou surpreso e feliz com o que viu.
Era a sua querida espada Houter, mas com modificações. A parte onde ficava a lâmina, agora era feita de diamante. O punho era o mesmo da antiga. A espada brilhava nas mãos do guerreiro.
- Meus Deus! – exclamou Araell
- Olhe o lado da lâmina. – disse Thorson
Araell examinou o lado da lâmina, e lá estava, esculpido pelo próprio Thorson:
Araell
I
II
- Como na outra! – exclamou Araell
Thorson concordou. Araell largou a espada e abraçou Thorson. Thorson ficou surpreso um momento, mas logo em seguida, começou a afastar Araell dizendo:
- Ei, ei! Eu e você somos homens! Me largue!
Deu uma piscadela para Araell.
- Mas por que você fez isso meu irmão? – perguntou Ulrich
Thorson não respondeu. Puxou do bolso o papel onde dizia as propriedades do diamante, e passou para Ulrich, que leu e foi passando de mão em mão. Fardons pegou o papel e “olhou”.
- Quer dizer que agora minha querida Houter poderá nos tirar daqui? – perguntou Araell
- Só tentando mesmo. – respondeu Thorson
Todos correram para a grade. Araell empunhou a “Houter II” com as duas mãos e subiu-a acima de sua cabeça. Então desceu ela em uma parte da grade. Ela cortou como papel.
Todos uivaram de felicidade, enquanto Araell golpeava com selvageria a grade até abrir um caminho onde todos pudessem passar.
- ISSO! – gritou Glóin
Todos apertaram as mãos de Araell.
Então, finalmente, saíram do acampamento.
***
Voltaram pelo corredor onde Fardons havia incendiado os goblins, até chegarem perto do corredor mal trabalhado.
- E agora? – perguntou Ulrich – Voltamos por onde viemos, ou vamos por esse corredor?
- Melhor irmos por este corredor. – disse Glóin apontando para o corredor mal trabalhado e seguindo por ele.
Ninguém querendo discutir com o dwarf, depois do “caso” que ele criou, quando iam decidir por qual porta começar.
Andaram pelo corredor durante um tempo. Thorson já cansado pegou seu cantil, enfiou na boca e derramou um gole garganta adentro. Foi passando o cantil de mão em mão.
Chegaram então novamente perto de um portal igual a todos outro, só que um pouco menor. Glóin foi à frente e percebeu que era uma escada que descia. Era feita de mármore, mas bem sujo com o tempo.
- É uma escada – disse e num passo falso, um pedaço da escada cedeu e o dwarf começou a cair. Thorson que vinha logo atrás dele, o segurou com uma mão e o trouxe de volta com esforço.
- Você está bem? – perguntou
- Sim, sim. – respondeu agitado o pequeno – É um precipício. Ambos os lados.
Thorson se voltou para o grupo e disse:
- Vai ser difícil descer isso sem iluminação adequada.
- Utevo Lux – disse Fardons e iluminou os dois lados da escada, dando para todos verem onde estão pisando.
Começaram a descida. Conforme iam descendo, ia ficando mais quente e cansativo. O ouvido de todos começou a doer por causa da pressão do ar.
- Ai meu Deus! – disse Glóin – Eu não agüento mais!
- Calma! – disse Araell – Para descer os anjos ajudam!
Fardons bufou. Todos sabiam que ele odiava os anjos, e principalmente os demônios.
- Anjos não ajudam em nada! – disse
- Ajudam sim. – disse Araell – Eles nos dão proteção nos momentos mais difíceis.
- Dizem que os anjos deram os mesmos poderes de cura deles, aos druidas e curandeiros... – disse Ulrich
- Você pode ter amargura com anjos. – disse Thorson – Sei disso Fardons. Mas você sabe que não é culpa dos anjos coisas ruins acontecerem.
Fardons continuou calado, até uma flecha atingir sua perna, fazendo com que ele gritasse.
Flechas continuaram vindo de todos os cantos.
- O que é isso?!? – disse Araell se agachando na escada com as mãos na cabeça se protegendo – Goblins?
- Urlk! Urlk! – ouvia-se vindo de todos os cantos. E então uma massa verde escuro começou as subir a escada gritando. Algumas delas caíam no precipício, e algumas continuavam avançando. Thorson postou-se a frente do grupo que levava saraivadas de flechas, e começou a lutar contra os goblins que tentavam chegar até o grupo.
- O QUE VAMOS FAZER? – gritava enquanto cortava e chutava para o precipício, mais e mais goblins
- TIVE UMA IDÉIA! – gritou Ulrich – PROTEJAM OS OLHOS!!!
Todos cobriram os olhos e ouviram o urro:
- Utevo Vis Lux!
Com os olhos semi fechados, todos viram um grande clarão de luz se estender por toda a caverna.
Os goblins, que sempre viveram em cavernas escuras, ficaram cegos com o clarão repentino e começaram a cair aos montes no precipício. As flechas pararam de ser lançadas, e tudo ficou calmo (tirando os urros abafados de goblins no fundo do precipício).
Todos começaram a abrir os olhos lentamente e viram que não se avistava goblins atacando. Um ou outro, estava na escada gritando de dor com as mão nos olhos. Outros ainda estavam caindo no precipício, que continuava sem ser visto o fundo.
Araell esfregava os olhos dizendo:
- EI! Lembra-se quando eu tinha córneas?!?
- Eu disse para fechar os olhos... - disse Ulrich
- Vamos logo! – disse Thorson e todos o seguiram
Iam chutando os goblins que ainda estavam na escada, até pisarem em chão novamente. Então ouviram os barulhos do tambor.