Capítulo IV - O perigo se aproxima
Bom dia a todos!
Mais um capítulo terminado. Demorei bem mais para fazer esse do que os anteriores, mas gostei do resultado.
Lembrem-se de comentar o que acharam, me ajuda bastante xD
Espero que gostem, boa leitura!
Capítulo IV – O perigo se aproxima
MARKWIN
Em Venore...
A taverna de Venore era, a meu ver, a definição perfeita da palavra baderna. Uma confusão de pratos e garrafas quebrados cobria o chão de pedra do amplo salão, onde muitas mesas e cadeiras eram ocupadas pelos humanos — quase todos caindo de bêbados — que gritavam e cantavam suas canções bárbaras e grotescas; sem dúvida aquilo não era um ambiente adequado para mim, o Rei dos Minotauros. Desde que fui feito prisioneiro de alguns humanos muitos anos atrás, consigo usar a fala e escrita dessas criaturas; porém, também aprendi a odiá-los e desprezá-los, como seres inferiores que são.
Mas, hoje, deveria — mais uma vez — engolir meu orgulho de Minotauro. A pessoa que me encontraria naquele lugar era a última esperança de salvação da minha querida terra de Mintwallin, o lar dos meus irmãos, a qual eu construí com tanto esforço... Se a ameaça dos humanos, cuja principal cidade se localizava bem próxima, já não fosse o bastante para preocupar-me, ainda surgiu o grupo dos rebeldes para me atazanar... Somente o dinheiro desse venoriano poderia me dar uma luz para resistir a essa crise.
O homem que me servia como guia apontou para uma mesa afastada, bem no canto da taverna, onde estava a pessoa com quem vim falar. Afastei o capuz da capa que vestia — a fim de esconder minha aparência dos humanos — para conseguir vê-lo melhor; não conseguia estimar muito bem a idade dos humanos baseado apenas na aparência, mas aquele com certeza não era um velho. O jovem homem vestia-se como qualquer um dos outros bêbados do lugar, e sua aparência comum não dava pistas de que ele era um dos mais ricos comerciantes de todo o Tibia; quando notou minha aproximação, o rapaz — cujo nome eu nunca soube — fitou-me com seus olhos escuros, demonstrando o mesmo desprezo com que me olhou da primeira vez que nos encontramos.
— Ora, se não é Vossa Majestade, Markwin — Disse o homem, em tom de deboche — Espero que tenha trazido boas notícias em sua companhia.
Vinha me preparando durante toda a viagem desde Mintwallin, mas ainda não encontrara as palavras certas para fazer meu relatório. Percebendo que minha demora em responder já o estava irritando, tive que dizer algo.
— Temo não poder corresponder às suas expectativas, garoto — Respondi, finalmente.
— Já estou farto de dizer para me chamar de SENHOR! — Retrucou o rapaz, enquanto seus capangas desembainhavam suas espadas — Parece que se esqueceu de que sou a última esperança do seu precioso país. Diga logo, o que houve?
— Agora mesmo, S-Senhor — Disse, engolindo o último resquício de orgulho que ainda possuía, enquanto os guardas guardavam suas armas novamente — O portal místico em Rookgaard continua instável; mal conseguimos mandar reforços para lá. Conseguimos, com muito custo, enviar um Mago Real para coordenar as ações, mas o último relatório que recebemos não foi muito animador... Os humanos da ilha continuam não muito fortes, porém... O número deles ainda é um problema.
— COMO ISSO PODE SER POSSÍVEL??? — Gritou o homem, deixando de lado a discrição — Eu gastei uma fortuna com subornos para conseguir a construção de Dawnport, era para aquela ilhota desprezível estar deserta hoje em dia!!! Espero que você tenha uma ótima explicação, touro maldito!
— De fato a população deles diminuiu muito nos últimos meses — Respondi, procurando manter-me calmo — Mas ainda há guerreiros fortes por lá, por algum motivo eles se recusam a escolher uma vocação e sair da ilha. E como não conseguimos repor muito bem nosso estoque de leite reforçado, meus companheiros têm enfrentado problemas.
— Sinceramente, não imaginei que vocês seriam tão incompetentes — Disse o rapaz, enquanto se levantava — Minha paciência está quase no fim, Markwin. Espero ouvir nos próximos dias que a vila de Rookgaard está destruída, e que AQUELA pessoa está a caminho daqui, VIVA! Não honrarei minha parte do acordo se vocês matarem-na! Fui claro?
— Sim, senhor — Respondi, sem olhá-lo nos olhos, enquanto o jovem e seus guardas saíam da taverna.
Antes de começar a viagem de volta para Mintwallin, dei mais uma olhada no relatório enviado pelos irmãos em Rookgaard, o qual eu trouxe escondido em minhas vestes; informei todo o conteúdo dele para o venoriano, exceto a última parte; seria um grande problema se ele soubesse disso... Reli a passagem pela centésima vez nos últimos dias:
“(...) na verdade, o pior aconteceu na última semana... Cinco de nossos irmãos se distanciaram muito da base subterrânea enquanto caçavam veados, e acabaram encontrando alguns humanos perto da entrada da vila. Um dos nossos acabou ferindo os humanos, e agora as defesas da vila estão mais reforçadas do que nunca... Os guardas deles também estão atentos, mal conseguimos sair do subsolo para coletar recursos e caçar; dessa forma não vamos conseguir nos manter por muito mais tempo escondidos, precisamos atacar logo, antes que nossas baixas sejam ainda maiores (...)”
Precisava tomar uma decisão urgentemente; já começara a me questionar se não estaria pagando um preço alto demais pela ajuda de um humano... Mas agora não dava para voltar atrás, precisava autorizar o ataque, mesmo sem ter certeza que estavam prontos... Que os deuses sejam piedosos conosco.
...
LEON
Em Rookgaard...
Duas semanas haviam se passado desde o incidente com os Minotauros. Kyos teve uma recuperação inacreditável, em poucos dias já estava quase completamente curado; foi difícil para Marlon convencê-lo a não ir atrás das criaturas, mas o bruto jovem acabou se conformando que era algo perigoso demais para se fazer.
Depois de saber que eu ajudei a salvar sua vida, Kyos fez questão de ir até a loja do meu pai para agradecer, e trouxe uma linda espada de cabo dourado de presente para mim.
— Eu e Marlon “axamo” ela “nu” corpo “dum” cara perto da “sidade” — Disse o rapaz, orgulhoso — É a “ispada” do Carlos.
— Espada de Carlin, seu animal! — Consertou Marlon, dando um leve tapa na cabeça do amigo — Pretendíamos vendê-la na vila, mas acho que é justo dá-la a você, já que nos ajudou...
— Fico muito contente! — Agradeci, tentando segurar o riso. Mesmo que uma espada não tivesse utilidade para mim, a intenção dos garotos foi boa; sem contar que aquele era o primeiro presente que eu ganhei de alguém da minha idade, então estava bem feliz.
— Bom, a gente vai tentar te tratar melhor de agora para frente — Disse Marlon, com uma voz envergonhada — Dê uma passada depois na cabana do Kyos... Por incrível que pareça ele sabe cozinhar muito bem, então... Apareça por lá, se quiser. Até mais.
— Vai lá “mermo”, Leon! “Vô” te “isperar”! — Exclamou Kyos, com um largo sorriso.
— Pode deixar, eu passo por lá qualquer dia desses — Respondi, enquanto eles saíam da loja — Obrigado pelo presente, gostei bastante!
Subi para o meu quarto depois que os rapazes saíram. A loja não estava funcionando hoje, pois os moradores mais velhos da cidade — incluindo meu pai — se reuniam no templo da vila para discutir sobre os Minotauros; desde o incidente com Kyos, a vigilância nos arredores do vilarejo foi dobrada, e reforços para a guarda local chegariam de Thais a qualquer momento. Mesmo assim, ninguém conseguia esconder a tensão causada pela ameaça dos Minotauros, e alguns dos poucos guerreiros aprendizes resolveram abandonar a cidade, com medo; além de Kyos e Marlon, havia apenas mais quinze ou vinte jovens que poderiam defender a vila — sem contar algumas dezenas de lutadores mais experientes que viviam na ilha —, e não fazíamos ideia da quantidade de Minotauros que poderiam nos ameaçar, sem dúvidas era uma situação complicada.
O sol não tardaria muito para se pôr. Resolvi, antes disso, ir à praia para me refrescar um pouco — o tempo estava quente e seco nos últimos dias, e raramente eu tinha tempo livre como hoje —, mas, quando estava saindo da loja, ouvi gritos na saída norte da vila.
— ESTAMOS SENDO ATACADOS! — Ouvi um dos guardas gritar — SÃO MINOTAUROS! DEUSES, DEZENAS DELES!!!
Nesse momento, todo o vilarejo foi tomado por sons de gritos desesperados dos moradores, e eu não soube o que fazer, além de fechar os olhos e torcer para que aquilo fosse um pesadelo.
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