Citação:
Nunca me mantive tanto tempo conectado à Seola. Dias e dias sem sair daquela máquina, por momentos achei estar preso ou que aquela fosse uma punição devido à interrupção da conexão anterior. Acho que estou próximo da prova do Estágio 2.
Estou descobrindo muitas coisas sobre meu passado. Bem, digamos assim, sobre um passado muito antes do meu nascimento. Viajei milênios atrás. Na terra em que eu estava a magia era verdade, Merlin, o tão famoso mago, poderia existir. Não entendo o porque de estar lá. Ainda não tenho certeza se aquilo realmente é o passado ou se é o futuro. Deduzo que fosse o passado, pois a tecnologia atual é milhares de vezes superior ao uso tecnológico daquele tempo. Percebi que estava começando a enlouquecer.
Ao acordar, de manhã, na esperança de estar de volta à vida real, eu ficava transtornado e não sabia mais difundir a realidade da fantasia e do sonho. Acreditava estar conectado à máquina, mas não sabia se aquilo não passava de um sonho de uma longa noite. O momento de acordar era o mais ruim. Você ficava na expectativa, ancioso, esperando algo acontecer, mas nunca acontecia. Não tenho noção da diferença de tempo na vida real e no mundo fantasia da Seola.
Naquele mundo louco descobri como caçar, como atacar com espadas, como sobreviver sem equipamentos de luta, etc. Tudo à moda antiga, bem antiga. Também pensei estar em um teste, testando meus limites de noção, interpretação, etc. Às vezes um grito de mamãe ficava preso em minha garganta, pois conforme os dias passavam mais certeza eu tinha de que minha amiga no mundo fantasia era minha mãe. Espero que não tenha sido.
Numa manhã, quando acordei, fui encontrá-la no pequeno centro da cidade, onde nos encontrávamos todos os dias. Percebi que ela não tinha ido e estranhei sua falta, uma vez que ela desmarcava todos os seus compromissos para me ver. Procurei-a por todos os cantos, e, descobri, por meio dos seus pais, que ela havia sido assassinada e não se tinha a menor idéia de quem era o assassino. Será isto uma premonição? Uma conexão futurística relacionada à morte da minha mãe? Continuo confuso, tirando minhas conclusões muitas vezes precipitadas.
Acredito que já façam uns dois anos que estou aqui. Sempre apago misteriosamente à noite, e acordo no mesmo lugar todos os dias. Alguma coisa latejando na minha cabeça me diz para não investigar quanto a isso, e como já me dei mal outra vez por tentar saber mais do que devia, decidi deixar como está. Mas confesso, não estou mais aguentando. Espero que me tirem logo daqui, tudo está ficando um tédio. É como perder todo o seu conhecimento quanto ao futuro.
Finalmente descobri o que tinha que fazer para sair dali. Preciso descobrir quem assassinou minha "amiga", uma tarefa difícil e tanto. Procurando por vestígios em sua casa, percebi que uma pequena tira de malha de lã havia caído no chão. Pela análise quanto aos ferimentos, aquilo havia sido feito por alguém muito experiente.
Soube que um grupo de caçadores profissionais estavam pela cidade. Eles denominavam-se Caçadores da Elite Suprema, um nome tanto quanto clichê, quem sabe dali surgiu essa história de clichê. Depois de encontrá-los, ví também que um dos homens do grupo sempre andava com uma roupa de lã negra com desenhos vermelhos. Juntando os fatos, tive quase certeza de que aquele homem havia assassinado minha "amiga". Decidi conversar com ele, mas já estava tarde e sabia que a qualquer momento iria apagar. Deixei então para o dia seguinte.
Mais um dia iniciou-se e lá vinha eu a acordar com uma irritante dor de cabeça, que as vezes me atacava. Passei a manhã toda procurando o grupo pela cidade. Finalmente, após encontrá-los, abordei o tal sujeito para um canto e comecei a fazer uma série de perguntas:
-Olá, eu sou um fazendeiro da região e gostaria de saber o seu nome. Antes disso, deixe-me apresentar, me chamo Renan.
-Bom dia Renan, eu sou um membro dos Caçadores da Elite Suprema, e meu nome é Addanton. Em que poderia ajudar-lhe?
-Sabe, a cidade anda meia assustada. Uma menina fora assassinada a poucos dias atrás e ninguém sabe de nada. Gostaria de saber se o senhor, que perambula por todo o país, sabe de algo.
-Não, desculpe-me.
-Ok, moço. Tenho que lhe revelar. Eu tenho quase certeza que foi você. Observei bem a cena do assassinato e encontrei uma tira de lã preta igualzinha à da sua roupa. Encontrei muitas outras coisas que provam que foi o senhor que fez isso. Juro não contar a ninguém e gostaria de satisfazer minha curiosidade, pois tem gente falando que uma invasão demoníaca está por vir e que ela poderia ter sido assassinada por um demônio. Ficaria grato também em saber que o senhor não é um demônio.
-Isso é informação demais para você, garoto. Sei que não és fazendeiro e que também não viveste nessa época. Não sei como vieste parar aqui, mas tenho certeza que seria importante lhe informar sobre o que está acontecendo. Uma invasão de demônios está por vir, e aquela moça era a principal informante dos demônios que viriam a atacar. Ela estava possuída. Aquela moça, um dia fora minha mulher, caro jovem! Tive que assassiná-la também pois esperava um filho meu, do qual temia virar um demônio. Nunca desejaria ser pai de um demônio!
Fiquei pasmo e encerrei a conversa por ali. O homem prosseguiu e eu passei a tarde refletindo à respeito do assunto. Sabia qual era o objetivo do teste e que no meu próximo "apagão" acordaria na vida real. Pronto, quando acordar na vida real, sei que já estarei no estágio nível 3.